sexta-feira, 23 de agosto de 2013

CONCÍLIOS DA IGREJA (II)


 9. LATRÃO I - 1123
(18 de março a 06 de abril de 1123)


O primeiro concílio geral realizado após o Grande Cisma do Oriente foi realizado pela primeira vez em Roma, na Basílica de Latrão, em 1123, convocado pelo Papa Calisto II. Dirimiu a questão da Investidura (controvérsia entre o poder secular e o poder eclesial) e ratificou a Concordata de Worms, que tinha sido assinada no ano anterior entre o imperador Henrique V e Papa Calisto II que garantia plena liberdade à Igreja quanto a escolha e ordenação dos seus bispos. O concílio confirmou também o celibato dos sacerdotes no rito latino.

10. LATRÃO II - 1139
(02 a 17 de abril de 1139)

Impôs-se a necessidade de um segundo concílio geral apenas 16 anos mais tarde, na Quaresma do ano 1139, por causa da divisão à época da Igreja Romana sob o Papa Inocêncio II (1130 - 1143) e o antipapa Anacleto II (1130 - 1138). Nesta ocasião, o papa Inocêncio II declarou nulos e sem efeito todos os atos e decretos promulgados pelo falecido antipapa. O concílio aprovou uma reforma canônica nos termos do Papa Gregório VII e condenou a simonia (tráfico de coisas sagradas e espirituais como sacramentos ou benefícios eclesiásticos), bem como os movimentos heréticos liderados por Peter Bruys e Arnold de Brescia.

11. LATRÃO III - 1179
(05 a 19 de março de 1179)

O Papa Alexandre III convocou um novo concílio na Basílica de Latrão para combater os danos de ações promovidas pelo antipapa Victor IV. Este concílio determinou a regra da eleição do Romano Pontífice com base na maioria de dois terços dos cardeais reunidos em conclave e condenou as heresias dos albigenses e dos valdenses, herdeiros do maniqueísmo.

 12. LATRÃO IV - 1215
(11 a 30 de novembro de 1215)

Em 1215, o Papa Inocêncio III convocou o IV Concílio de Latrão, 36 anos depois do concílio de Latrão III, que se constituiu numa referência para a história da Igreja. Com a participação de cerca de 500 prelados, incluindo São Domingos e os Patriarcas de Constantinopla e Jerusalém, o concílio estabeleceu para os fiéis a obrigatoriedade da comunhão ao menos uma vez por ano, por ocasião da páscoa, sob pena de excomunhão. Neste concílio utilizou-se pela primeira vez o termo transubstanciação, para significar que, na Eucaristia, o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Jesus Cristo. Incluiu a declaração da existência dos demônios como sendo anjos bons que pecaram por abusar do seu livre arbítrio e a sentença de que 'Há apenas uma Igreja Universal, fora da qual não há salvação'. Fixou diversas normas sobre a disciplina e a liturgia da Igreja e condenou as heresias dos albigenses e valdenses, bem como os erros de Joaquim de Fiore, que pregava um fim próximo para o mundo com base em uma falsa exegese bíblica.


13. LYON I - 1245
(28 de junho a 17 de julho de 1245)

Trinta anos depois, o Papa Inocêncio IV (1243 - 1254) convocou o Concílio de Lyon em 1245, depois de ter sido forçado a fugir de Roma para se refugiar em Lyon, na França, devido às ameaças do Imperador do Sacro Império Romano - Germânico, Frederico II. O concílio contou com a participação dos Patriarcas latinos de Antioquia, Constantinopla, Veneza e do Imperador do Oriente Balduíno II, que promulgou a excomunhão e a deposição do imperador Frederico II. Promoveu ainda a Sétima Cruzada, sob o comando de Luís IX da França, para reconquistar a Terra Santa invadida pelos sarracenos.

14. LYON II - 1274
(07 de maio a 17 de julho de 1274)

Em 1274, o Papa Gregório X convocou um segundo concílio em Lyon. A pauta das discussões incluíram a possibilidade de dar um fim ao Grande Cisma do oriente que dividiu a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. O aparente sucesso inicial das tratativas acabou não resultando em nada. Também foram abordados novos regulamentos para a eleição papal e medidas para a libertação da Terra Santa dos turcos. São Boaventura morreu logo após participar das primeiras sessões deste concílio e São Tomás de Aquino faleceu a caminho do mesmo.


15. VIENNE - 1311/12
(16 de outubro de 1311 a 06 de maio de 1312)

Convocado pelo papa Clemente V, sob forte influência e injunções do Rei Felipe IV da França, este concílio foi realizado na cidade de Vienne, ao sul de Lyon. O conclave foi realizado praticamente para se votar a condenação e a supressão da Ordem dos Cavaleiros Templários e algumas outras heresias.


16. CONSTANÇA - 1414/18
(5 de novembro de 1414 a 22 de abril de 1418)

Pouco mais de um século após o Concílio de Vienne, novo concílio ecumênico foi convocado pelo papa João XXIII (1410-1415) e realizado na Catedral de Constança, ao sul da atual Alemanha, a partir de 1414. Neste período, três papas sustentavam suas legitimidades e postulavam igualmente a supremacia hierárquica da Igreja. O concílio determinou a resignação do papa romano Gregório XII (1405-1415) e a deposição dos antipapas João XXIII (1410-1415) e Benedito XIII (1394-1415), em nome da extinção do Grande Cisma do Ocidente (1305-1378), ação que culminou com a eleição do papa Martinho V em 11/11/1417. Outras deliberações incluíram a rejeição ao conciliarismo (prevalência da autoridade dos concílios sobre o papa) e uma dura condenação às doutrinas heréticas de João Hus, Jerônimo de Praga e John Wyclif, precursores de Lutero. 

Parte III

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

QUANDO O INFERNO É AQUI...

No Egito, a minoria copta cristã está sendo massacrada pelas milícias islâmicas. A chamada revolução da Primavera Islâmica, tão decantada pela 'moderada' Irmandade Muçulmana ao ascender ao poder, converteu-se na verdade em uma ditadura religiosa moldada pelo ódio, perseguição e intolerância a quaisquer crenças cristãs. Igrejas são queimadas, lojas são saqueadas, cristãos estão sendo assassinados. Os cristãos estão sendo perseguidos e mortos no Egito, em verdadeira guerra civil, pura e simplesmente porque professam a fé cristã, mas este fato tem sido ostensivamente declinado pela imprensa em geral, que concentra seu foco distorcido na condenação ao massacre dos partidários das facções islâmicas do país pelo exército do governo de transição. Não é nada fácil ser cristão em países como Nigéria, Somália, Mali ou Paquistão dentre outros; mas, mais do que nunca atualmente, para os cristãos do Egito, o inferno é aqui... 






terça-feira, 20 de agosto de 2013

CONCÍLIOS DA IGREJA (I)

O primeiro concilio da Igreja Católica consistiu numa reunião dos Apóstolos e presbíteros como narrado em Atos 15 e Gálatas 2, o chamado Concilio de Jerusalém realizado em torno do Ano 50 da nossa era. A Tradição da Igreja nos diz que, neste tempo, São Tiago teria sido o primeiro bispo de Jerusalém. 

Entretanto, os chamado Concílios Ecumênicos (ou seja, gerais, universais ou plenários) da Igreja são contados a partir do evento realizado em Nicéia, no ano 325. São 21 no total e constituem a formalização da estrutura geral doutrinária e teológica da Santa Igreja, mediante a definição de dogmas e a condenação de heresias, e proclamação das verdades inabaláveis da autêntica fé cristã, envolvendo questões e verdades relacionadas à divindade e humanidade de Jesus, o mistério da Santíssima Trindade, o papel de Nossa Senhora no processo de redenção e salvação da humanidade a relação de Maria e Jesus. Uma série de documentos (constituições dogmáticas, declarações, decretos, cânones, etc) formalizam as deliberações tomadas e constituem o registro histórico da própria formação da civilização cristã. Os primeiros oito concílios foram realizado no Oriente e se estenderam ao longo do primeiro milênio da nossa era, sendo os seguintes: 

 1. NICEIA I - 325
(20 de maio a 25 de julho de 325)


O primeiro Concílio Ecumênico (Universal) da Igreja Católica foi convocado pelo imperador romano Constantino, o Grande (285-337), sendo Papa São Silvestre I, 33/ sucessor de São Pedro, que não participou do evento, mas enviou uma representação. O local do evento foi a cidade de Nicéia, situada ao sul de Constantinopla, na Ásia Menor. A maior expressão desse concílio foi o Bispo de Alexandria, Santo Atanásio que argumentou duramente na condenação às heresias de Ário (sacerdote de Alexandria) e seus seguidores (arianismo) que negavam a natureza divina de Jesus Cristo e também a Sua condição de Filho de Deus. Renegando tais heresias, o concílio aprovou a profissão de fé (Credo Niceno) apresentada por Eusébio, bispo de Cesárea, reconhecendo Jesus como 'Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai'. Outras deliberações importantes foram a fixação da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma, Alexandria, Antioquia e Jerusalém e a fixação da data para celebração da Páscoa do Senhor (esta última decisão consta apenas do texto grego do documento final do concílio, impresso em latim e grego).

2. CONSTANTINOPLA I - 381
(Maio a junho de 381)


Cinquenta e seis anos após o concílio de Nicéia, o imperador romano do Oriente, Teodósio I, convocou um segundo concílio geral. Em função dos conflitos do imperador com o então Papa São Dâmaso I, este evento não teve nem a presença do papa e nem de uma representação de Roma. A participação efetiva dos doutores da Igreja São Gregório Nazianzeno e São Cirilo de Jerusalém foi decisiva pra reafirmar as decisões do Concílio de Nicéia, ratificando por completo a consubstancialidade do Espírito Santo com o Pai e o Filho (promulgação do credo niceno-constantinopolitano) condenando, assim, as heresias do Donatismo e do Macedonismo, variante do Arianismo que negava a Natureza Divina do Espírito-Santo.

Sínodos Intermediários: Roma (382): estabeleceu o Canon do Novo Testamento; Hipona (393): trabalhos iniciais do Novo Testamento; Cartago (397): finalização dos trabalhos do Novo Testamento e dos Deuterocanônicos.

3.  ÉFESO - 431
(22 de junho a 17 de julho de 431)


Cinquenta anos após o Primeiro Concílio de Constantinopla, Teodósio II (filho de Teodósio) era imperador. Com relações muito próximas com a  Igreja (sua irmã foi Santa Pulquéria) e em harmonia com o Papa São Celestino I, foi convocado o terceiro concílio geral em Éfeso, na ponta sul da Ásia Menor. Mais de 200 bispos participaram, declarando o Dogma da Maternidade Divina da Santíssima Virgem Maria como a Mãe de Deus ('Theotokos'). Além disso, sob inspiração de São Cirilo de Alexandria, o concílio proclamou a dupla natureza de Cristo - divina e humana na pessoa única do Filho de Deus (união hipostática). Esta afirmação condenou Nestório, Patriarca de Constantinopla (que, convocado a dar seu testemunho no concílio, não compareceu ao mesmo), que foi então deposto e banido para os desertos da Líbia, onde morreu.

4. CALCEDÔNIA - 451
(8 de outubro a 1 de novembro de 451)


Vinte anos após Éfeso, Santa Pulquéria influenciou o seu marido Marciano, então o imperador romano do Oriente, a se unir ao Papa São Leão Magno para a convocação de um novo concílio em Calcedônia, região da Tessalônica situada a noroeste de Constantinopla. Uma vez mais, uma grande heresia dominou o cenário do concílio; no caso, o chamado monofisismo, que afirmava que, a partir da sua encarnação, em Jesus Cristo fixou-se somente a Natureza Divina, com absoluta exclusão da natureza humana. Essa corrente herética era defendida pelo abade Eutiques (por isso chamada também de eutiquianismo) que queria também colocar Constantinopla em igualdade com Roma em termos da hierarquia eclesiástica. Em sua epístola dogmática de 10 de Outubro de 451, o Papa Leão Magno ratificou a primazia da Igreja de Roma e condenou Eutiques e os monofisistas como hereges.

5. CONSTANTINOPLA II - 553
(05 de maio a 02 de julho de 553)


Pouco mais de um século depois de Calcedônia, novas seitas heréticas buscavam minar a fé cristã, levando o então imperador romano em Constantinopla, Justiniano I, a convocar novo concílio. O papa Virgílio recusou-se a participar e o evento foi coordenado por Eutychius, patriarca de Constantinopla. O concílio condenou os chamados 'Três Capítulos', obra de compilação das ideias heréticas de três discípulos do falecido Nestório: Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas de Edessa. O papa ratificou esta condenação do concílio apenas cerca de seis meses depois.

6. CONSTANTINOPLA III - 680
(7 de novembro de 680 a 16 setembro de 681)


117 anos após o Concílio de Constantinopla, o imperador Constantino IV decidiu, juntamente com o papa São Ágato (678-681), que era o momento de convocar um novo concílio, especialmente à luz da crescente ameaça do islamismo. A heresia da época era o monotelismo, que pregava apenas a vontade divina na pessoa de Jesus, que era então defendida pelo Patriarca Sergio de Constantinopla. Com a morte do papa, os trabalhos continuaram sob a coordenação do novo papa São Leão II (662 - 663). O concílio condenou esta heresia e reafirmou a natureza cooperante das vontades humana e divina em Jesus: 'A vontade humana de Cristo segue a vontade divina, sem estar em resistência nem em oposição em relação a ela, mas antes sendo subordinada a esta vontade todo-poderosa'.

7. NICEIA II - 787
(24 de setembro a 23 de outubro de 787)


Pouco mais de um século após o Terceiro Concílio de Constantinopla, um novo concílio foi proposto para se pronunciar sobre a  heresia iconoclasta. O concílio foi convocado pela imperatriz Irene - a viúva do falecido imperador Leão IV e foi coordenado pelo papa Adriano I. Este concílio abordou uma questão de natureza essencialmente litúrgica: a contraposição à veneração de ícones e de imagens religiosas, chamada Iconoclastia. O concílio condenou os iconoclastas e ratificou o uso de imagens como elementos de pura devoção cristã, aprovando também a veneração de relíquias nas Igrejas.

8. CONSTANTINOPLA IV - 869
(5 de outubro de 869 a 28 de fevereiro de 870)

Convocado conjuntamente pelo imperador Basílio e pelo Papa Adriano II em 869, o IV Concílio de Constantinopla condenou o cisma implantado por Fócio, Patriarca de Constantinopla, separando a Igreja Grega da Igreja de Roma. Quase 200 anos depois, o Grande Cisma do Oriente tornou-se oficial quando Miguel Cerulário ordenou o fechamento das igrejas latinas em Constantinopla, pelo que foi excomungado pelo Papa São Leão IV em 1054. O concílio ocupou-se também da crescente ameaça sarracena à época. 

PARTE II

domingo, 18 de agosto de 2013

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA

Páginas do Evangelho - Vigésimo Domingo do Tempo Comum 
Assunção de Nossa Senhora
 'O Todo-Poderoso fez grandes coisas a meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem de tornou Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção. 

SALMO 44



(Cheia de graça, a rainha está, 
à vossa direita, ó Senhor!)//

1. À vossa direita se encontra a rainha,
Com veste esplendente de ouro de Ofir*.
As filhas de reis vêm ao vosso encontro,
Com veste esplendente de ouro de Ofir.
(Cheia de graça, a rainha está, 
à vossa direita, ó Senhor!)

2. Escutai, minha filha, olhai, ouvi isto:
'Esquecei vosso povo e a casa paterna!
Que o Rei se encante com vossa beleza!
Prestai-lhe homenagem: é vosso Senhor!
(Cheia de graça, a rainha está, 
à vossa direita, ó Senhor!)

3. Entre cantos de festa e com grande alegria,
Ingressam, então, no palácio real'. 
(Cheia de graça, a rainha está, 
à vossa direita, ó Senhor!)

(Cheia de graça, a rainha está, 
à vossa direita, ó Senhor!)//

* região cuja localização exata permanece ainda desconhecida e que era muito famosa à época pela excelência e raridade do ouro ali produzido (ouro de Ofir seria, então, algo expressivo de grande raridade e excelso valor).

sábado, 17 de agosto de 2013

ÓDIO ÀS HERESIAS

A deslealdade suprema para com Deus é a heresia.
É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus reprova neste mundo enfermo.
No entanto, quão pouco entendemos de sua odiosidade excessiva!
É a poluição da verdade de Deus, o que é a pior de todas as impurezas.
Porém, como somos quase indiferentes a ela!
Nós a fitamos e permanecemos calmos.
Encostamos nela e não trememos.
Misturamo-nos com seus fautores e não temos medo.
Nós a vemos tocar as coisas santas e não percebemos o sacrilégio.
Inalamos seu odor e não mostramos qualquer sinal de detestação ou desgosto.
Alguns de nós afetamos ter sua amizade; e alguns até buscam atenuar as culpas dela.
Nós não amamos a Deus o bastante para termos raiva pela glória d'Ele.
Não amamos os homens o bastante para sermos caridosamente sinceros pelas almas deles.

Tendo perdido o tato, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de armar tenda no meio dessa praga odienta, em tranquilidade imperturbável, reconciliados com sua repulsividade, e não sem declarações em que nos gabamos de admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatias tolerantes.
Por que estamos tão, tão abaixo dos santos antigos, e mesmo dos apóstolos modernos destes últimos tempos, na abundância de nossas conversões?
Porque não temos a antiga firmeza!
Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho gênio eclesiástico.

Nossa caridade é insincera, pois não é severa; e não é persuasiva, pois é insincera.
Carecemos de devoção pela verdade como verdade, como verdade de Deus.
Nosso zelo pelas almas é débil, pois não temos zelo pela honra de Deus.
Agimos como se Deus ficasse lisonjeado com conversões, ao invés de serem almas que tremem, resgatadas por um excesso de misericórdia.

Dizemos aos homens meias-verdades, a metade que calha melhor à nossa própria pusilanimidade e aos preconceitos deles; e depois nos admiramos de tão poucos se converterem, e que, desses poucos, tantos apostatem.
Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos de que nossa meia-verdade não teve tanto sucesso quanto a verdade inteira de Deus.
Onde não há ódio à heresia, não há santidade.
Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de justa indignação.

(Excertos da obra O Preciosíssimo Sangue ou o Preço de Nossa Salvação, Pe. Frederick William Faber, 1860, p. 314-316).

LÁGRIMAS DAS ALMAS

Em função das contestações impostas pela Reforma, o Concílio de Trento ratificou formalmente a existência do Purgatório como dogma de fé por meio de um decreto promulgado em 1580. A partir de então, teve início na Igreja uma intensa propagação pelas práticas de oração destinadas ao sufrágio das almas do Purgatório. Uma destas devoções, de uso bastante generalizado, eram os folhetos volantes, impressos e afixados às paredes das igrejas, para devoção pública e divulgação de jaculatórias, orações e indulgências pelas almas do Purgatório. 

O exemplar abaixo é um folheto do século XVIII, de 25 cm x 35cm, impresso em Coimbra em 1740, na oficina de Luis Seco Ferreyra. Com o título: 'Lágrimas das Almas', apresenta uma imagem do Purgatório e a transcrição latina do Livro de Jó. Seguem-se o assunto do folheto 'alegre e bem divertida Irmandade, erigida e novamente levantada' e o texto propriamente dito, com os objetivos e proposições da citada irmandade.


É interessante destacar as duas proposições constantes da introdução do texto. Na primeira, fala-se em transladar as almas do Purgatório para o Céu, 'que não custa mais do que bolir com os beiços'.  A segunda refere-se à dupla vantagem àqueles que praticarem estas devoções: prémio no Tribunal Divino e intercessores no Paraíso para as súplicas temporaes e espirituaes. E esta segunda proposição é complementada pela seguinte informação: 'como consta de hum pequeno Livrinho de pouco custo com o titulo Grito das Almas, que faz compungir o mais duro coração, ainda que seja de bronze'. 

Esse 'pequeno livrinho' refere-se à obra 'Gritos das Almas no Purgatório e os Meios para os Aplacar' (publicado em 1689) do sacerdote e teólogo espanhol Jose Boneta y Laplana (1638 - 1714). A tradução portuguesa do livro foi feita pelo Pe. Manuel de Coimbra (primeira edição em 1702). O excerto abaixo constitui uma tradução adaptada pelo autor do blog relativo às penas que levam ao Purgatório, no caso a profanação do silêncio nas igrejas católicas:

EXCERTO: A PROFANAÇÃO DO SILÊNCIO NAS IGREJAS 

'Uma vez conhecidos os meios devidos para interceder pelas almas do Purgatório, é preciso cuidar agora das culpas que conduzem a ele. E falarei somente de dois deles, por serem os que mais se cometem nessa vida e os que mais se lamentam naquele lugar. 

A primeira é a irreverência nas Igrejas: há que se admirar que um santo bispo como São Severino tenha ficado retido por um ano no Purgatório por ouvir na Igreja as respostas que lhe traziam os que o serviam; mais digno de assombro ainda é o testemunho de uma alma que aparecia frequentemente a uma Serva de Deus e que, ao ser indagada sobre alguma coisa dentro da Igreja, a alma lhe respondeu: 'Não se pode falar na Igreja, depois vos tornarei a ver, e então vos direi'. Sobre isso, o Pe. Joseph Pavía escreve (pag. 61): 'Confesso que me confundiu esta noticia, considerando que quem falava era uma alma e por ordem de Deus, sobre algo que havia de ser bom e santo e da forma como se falava, não por meio de vozes que soassem como as nossas, mas por locução interna, linguagem velada do coração, e ainda assim, a alma se absteve de responder pela reverência devida ao templo'. 

Veja-se que eco farão na outra vida as desentoadas vozes e inquietações com que os cristãos se movem na Igreja. Se um bispo e santo, só por dar-se ouvir nela esteve um ano ardendo no Purgatório; que tempos não esperam ou teme estar aqueles que não só falam, mas falam alto ou que não só falam, mas se movem e escandalizam? Até quando se pode chegar a temeridade humana e a paciência divina?

Dois infiéis, conta o Padre Almenara, vieram à Espanha com o propósito de explorar nossa Lei e ver se lhes agradava admiti-la. Entraram em uma Igreja, viram o que faziam os cristãos dentro dela, falavam uns e riam outros, e todos estavam divertidos que retornaram à sua seita, dizendo: 'Que fiéis são estes que, com tal desatenção, assistem na casa de seu Deus? Que Deus é este, que se padece ao ver os que o adoram virem à sua própria casa  fazer-lhe pouco caso e diante dele? Isto é sinal de que nem nele há justiça, nem neles fé; vamo-nos daqui, e tornemos aos nossos cultos, onde Deus é mais venerado que o deles'. 

A quem não atemorizam as grandes consequências deste abuso? Para sua correção, não basta apenas não só ferir a Deus, mas também a sua fé, afrontando-a diante de estranhos. E ainda que a Espanha se jacte de ser a mais fiel dentre as nações, é nisto a mais delinquente, causa sem dúvida de seus poucos progressos, e de suas muitas ruínas. 

Contudo, há quem não se atreva a parar na rua e falar com uma mulher estranha, por temer que o vejam, e não se perturba em falar em uma Igreja, sem temer a Deus que o está vendo. Oh cegueira sacrílega! Não se lê, nem se sabe, que a mais perdida mulher do mundo tenha-se atrevido a cometer adultério à vista e em presença de seu esposo; e a alma de um cristão atreve-se a ofender ao seu Esposo Cristo na Igreja à sua vista: Fecerunt (queixa-se por Zacarias). Oh queira sua Divina Majestade dar-nos luz, para que avivemos a fé de sua presença na Igreja, e nela estejamos como no Céu; pois é de fé, que não tem o Céu, nem mais Cristo, nem mais de Cristo, o que mais se deve ter em qualquer templo com a Presença do Sacrário'. 

(Excertos da obra Gritos del Purgatorio y Medios para Acallarlos, Pe. Jose Boneta y Laplana , Saragoça, 1689; Cap.VII, p.214 - 216)