quinta-feira, 9 de março de 2017

CONTRIÇÃO E PENITÊNCIA

... O mais grave é que, encontrando-nos neste estado [de pecado], não pensamos na deformidade da nossa alma nem nos damos conta do seu aspecto horrível. Quando te sentas numa barbearia para cortar o cabelo, imediatamente tomas na mão um espelho e olhas e voltas a olhar como vai ficando o corte e perguntas aos presentes e ao próprio barbeiro se ficou bem o topete da frente. E, mesmo que já sejas um velho, muitas vezes não te envergonhas da mania de imitar a gente jovem. Mas de que a nossa alma esteja deformada, e até de que tenha assumido o aspecto de uma fera [...], nem sequer nos damos conta. 

No entanto, também aqui dispomos de um espelho espiritual, muito melhor e mais proveitoso que o outro material. Este espelho não somente põe diante de nós a nossa deformidade, mas até, se o quisermos, pode transformá-la em beleza incomparável. Este espelho é a memória dos homens santos, as histórias da sua vida bem-aventurada, a lição das Escrituras, as leis que por Deus nos foram dadas. Se alguma vez decidires olhar para as imagens desses santos, não somente verás a deformidade da tua própria alma, mas, assim que a vires, não precisarás de mais nada para libertar-te dessa fealdade. Tão proveitoso é para nós esse espelho e com tal facilidade realiza a transformação. (Homilias sobre São Mateus, 4, 9)

Não são somente as feridas do corpo que produzem a morte, se não forem tratadas, mas as da alma também. No entanto, chegamos a tal ponto de insensatez que cuidamos, sim, com todo o empenho, das feridas do corpo, mas não fazemos o menor caso das da alma. No corpo, é natural que nos sobrevenham muitas doenças incuráveis; no entanto, nem por isso desesperamos e, apesar de os médicos nos dizerem e repetirem que para tal doença não há remédio nem medicamento que a faça desaparecer, insistimos uma e outra vez e lhes pedimos que pelo menos pensem em alguma coisa que a alivie. 

No caso da alma, porém, para a qual não existe doença incurável, pois a alma não está submetida à necessidade ou fatalidade da natureza; no caso da alma, digo, descuidamos as doenças e desesperamos da sua cura, como se se tratasse de achaques alheios. Onde a natureza das doenças poderia levar-nos a desesperar, pomos todo o nosso cuidado, como se tivéssemos mil esperanças de saúde; onde não há motivo para o desalento, desistimos e nos descuidamos, como se estivéssemos desesperados. A tal ponto atribuímos mais importância ao corpo que à alma!

Na verdade, por este caminho, nem o corpo poderemos salvar. Aquele que descuida o principal e põe todo o seu empenho no secundário, destrói e perde um e outro. Aquele que guarda a devida ordem, ao salvar e cuidar do principal, mesmo que descuide o secundário, ao salvar o primeiro salva também o segundo. É o que Cristo nos quis dar a entender quando disse: 'Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode lançar a alma e o corpo no inferno' (Mt 10,28) (Exortação 1 a Teodoro, 15). Mais do que o próprio pecado, o que irrita e ofende a Deus é que os pecadores não sintam dor alguma dos seus pecados (Homilias sobre São Mateus, 14, 4).

Imaginemos alguém repleto de toda a maldade, que tenha cometido todos os crimes que o excluem do reino dos céus. Não o imaginemos entre aqueles que permanecem entre os infiéis a vida inteira, mas entre os fiéis, entre aqueles que primeiro agradaram a Deus, mas que depois se fizeram fornicadores, adúlteros, moles, ladrões, bêbados, invertidos, maldizentes ou blasfemos, ou cometeram outros pecados semelhantes a estes. Pois bem, nem mesmo a um pecador destes consentiria eu que desesperasse, mesmo que tivesse chegado à extrema velhice com toda essa carga de pecados. 

Se a ira de Deus fosse uma paixão, o pecador teria razão para desesperar de poder apagar um incêndio alimentado por ele próprio com pecados tão grandes. Mas não! A divindade é alheia à paixão e, quando castiga e se vinga, não o faz por ira, mas por sua imensa solicitude e amor. Portanto, é preciso ter bom ânimo e confiar no poder da penitência. Não basta retirar a flecha do corpo; também é preciso curar a chaga produzida pela flecha. Coisa semelhante acontece na alma: depois de ter recebido o perdão dos pecados, tem de curar por meio da penitência a chaga que ficou (Homilias sobre São Mateus, 3, 5).

(Da antologia de São João Crisóstomo)

quarta-feira, 8 de março de 2017

CAMPANHAS DA FRATERNIDADE NO BRASIL (I)

A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa anual da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desenvolvida durante o período da Quaresma e que teve início em 1964. De uma maneira geral, os objetivos permanentes das campanhas da fraternidade seriam os seguintes, conforme exposto num artigo de Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) em 2015, no site do CNBB (cópia do português fiel ao texto explicativo):

(i) despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em primeiro lugar, os cristãos na busca do bem comum;

(ii) educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor; exigência central do Evangelho;

(iii)  renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária.

Em mais de 50 anos da campanha, a abordagem dos temas pode ser dividida genericamente em três fases: a primeira, entre 1964 e 1972, considerando especificamente questões internas da própria Igreja; a segunda fase, entre 1973 e 1984, adotando como temas as grandes questões sociais do Brasil e a última fase, iniciada em 1985 e ainda enfatizada nas campanhas atuais, incorporando temas específicos das grandes questões sociais, ecológicas e ambientais voltadas ao povo brasileiro.

A partir de 2000, foram introduzidas adicionalmente as chamadas 'campanhas da fraternidade ecumênicas', em parceria com as denominações afiliadas ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), normalmente a cada cinco anos (foram realizadas 4 campanhas ecumênicas, nos anos de 2000, 2005, 2010 e 2016). Cada campanha é caracterizada por um tema geral (podendo ter outros objetivos específicos), um lema (comumente um versículo das Sagradas Escrituras), um cartaz e um hino. 

PRIMEIRA FASE: 1964 - 1972

A primeira fase da Campanha da Fraternidade pode ser dividida em dois períodos, o primeiro voltado à renovação da Igreja (campanhas de 1964 e 1965) e o segundo destinado à renovação do cristão (campanhas de 1966 a 1972), sempre de acordo com as prescrições firmadas previamente nos chamados Plano de Emergência e Plano da Pastoral de Conjunto, elaborados em 1962 pela CNBB. A CF pioneira foi regida pelos princípios de arrecadação de fundos para as atividades sociais da Igreja, conversão quaresmal e divulgação e aplicação das então recentes deliberações do Concílio Vaticano II, este efetivamente o evento de referência para a implementação das CF no Brasil . 

1. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1964


Tema: Igreja em Renovação


Lema: Lembre-se: você também é Igreja

Objetivo Geral: Lembrar todos os fiéis que eles são Igreja (fazer entender de modo prático e definitivo o erro de imaginar que a Igreja são só os Bispos e os Padres. Levar os fiéis a serem responsáveis pelas obras de apostolado e pelas obras sociais mantidas pela Igreja).


2. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1965


Tema: Paróquia em Renovação

Lema: Faça da sua paróquia uma comunidade de fé. Culto e Amor

Objetivo Geral: A Paróquia deve alimentar nossa fé. E, graças a Deus, alimenta: Pelo anúncio da Palavra de Deus (catequese, pregação, conferências). Pelo testemunho (há cristãos que nos fazem bem pelo esforço de caminhada na fé, na esperança e na caridade; pela aceitação da vontade divina, mesmo em horas terríveis da vida; por uma virtude simples, amável e larga).

3. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1966


Tema: Fraternidade

Lema: Somos responsáveis uns pelos outros.

Objetivo Geral: Reavivar nos fiéis a consciência de que são membros do Povo de Deus, co-responsáveis por toda a comunidade da Igreja local, diocesana, nacional e universal, e chamados a servir todos os homens, especialmente os pobres.


4. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1967



Tema: Corresponsabilidade

Lema: Somos todos irmãos – somos todos iguais

Objetivo Geral: reavivar nos fieis a consciência de que são membros do Povo de Deus, co-responsáveis por toda a comunidade da Igreja local, diocesana, nacional e universal. Todos são chamados a servir todos os homens, especialmente os pobres.


5. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1968


Tema: Doação

Lema: Crer com as mãos

Objetivo Geral: Conscientizar o maior número possível de pessoas para os ideais da campanha: o político, que compreenda que política é favorecer o Bem Comum; o sindicato, que assuma a promoção de sua classe; o patrão, que pague com alegria o justo salário; a família: que haja diálogo entre pais e filhos; a dona de casa, que trate a empregada como pessoa humana…

6. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1969



Tema: Descoberta

Lema: Para o outro o próximo é você!


Objetivo Geral: A promoção humana, a evangelização no sentido de explicitação da salvação em ato, a ação ecumênica, o aprofundamento catequético e teológico, a vivencia litúrgica, a unidade visível do Povo de Deus.

7. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1970



Tema: Participação


Lema: Ser Cristão é participar

Objetivo Geral: Fazer da CF uma prática extraordinária de pastoral de conjunto nos moldes propostos pelo Plano de Pastoral de Conjunto.




8. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1971




Tema: Reconciliação

Lema: Reconciliar

Objetivo Geral: Realizar um intenso movimento nacional de promoção humana, visitando a educação de base dos adultos analfabetos, a iniciar pela sua alfabetização.




9. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 1972




Tema: Serviço e vocação

Lema: Descubra a felicidade de servir

Objetivo Geral: Motivar fortemente o povo a descobrir, na mentalidade de serviço, a mensagem da fraternidade como fonte de felicidade.

terça-feira, 7 de março de 2017

VERSUS: CONVERSÃO X CONVERSÃO

Com o tema 'Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida' e o lema 'Cultivar e guardar a criação' (Gn 2.15), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) proclamou a sua Campanha da Fraternidade para o ano de 2017. A proposta é enfatizar os diferentes biomas brasileiros e estabelecer relações amistosas entre estes espaços e a vida e a cultura dos povos que neles habitam, especialmente à luz do Evangelho. Nas palavras do bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Ulrich Steiner: 'ao meditarmos e rezarmos os biomas e as pessoas que neles vivem sejamos conduzidos à vida nova' e ainda 'tocados pela magnanimidade e bondade dos biomas, seremos conduzidos à conversão, isto é, cultivar e a guardar'.


(CNBB, 2017)

Sinceramente, alguém com um mínimo de percepção intelectual seria contra a manutenção e a preservação dos biomas, em defesa da vida e do bem estar das futuras gerações? Mas alguém, em sã consciência, acha mesmo que, ao defender os biomas, tocados pela sua 'magnanimidade e bondade', 'seremos conduzidos à conversão?' É essa realmente a resposta de conversão que a Igreja nos apresenta, a nós católicos, nestes tristes e dramáticos tempos da história do homem?


'Agora reinam os maus costumes, a política, o respeito humano, a simulação. Há um escândalo geral por toda parte. Este é o maior e mais forte castigo que caiu sobre todo o mundo: a confusão das ideias. Muitas vezes te disse que antes do fim passaríamos pela Torre de Babel'.

(8 de junho de 1829)

A paz esteja convosco, meus filhos, por toda parte deveis dizer que não só não há paz, mas que os diabos dançam dia e noite, e tecem grandes tramas, apanham em suas redes muitos peixes, cordeiros e ovelhas e as levam à perdição em grandes quantidades, eles se abeberaram com o fel e com o sangue humano ... Eu te falei para não seguir os santos modernos, mas aferrar-te aos antigos, porque os santos modernos, sendo todos ou quase todos falsos, te teriam estragado.'

(14 de abril de 1830)

'Não se pode medir quanto tenham avançado as iniquidades, tanto do homem quanto da mulher. Os demônios, soezes, riem e festejam, porque não têm necessidade de tentações... Não, porque de modo suficiente a malícia e a iniquidade, tanto do homem quanto da mulher, superam em muitos graus a do demônio, pelas obscenidades que se cometem, de todos os gêneros, pelos dois sexos'.

(13 de setembro de 1831)

'Assim dirás a teu confidente que diga a esta gente que chove almas no inferno como a neve. E [almas] de quem? De batizados'.

(10 de setembro de 1820)

(Mensagens de Deus à Beata Anna Maria Taigi (1769 - 1837), transcritas pelo Pe. Gabriel Bouffier na obra 'La Vénérable Servante de Dieu Anna-Maria Taigi d'après les documents authentiques du procès de sa béatification', Ambroise Bray, libraire-éditeur, Paris, 1865).

Estas mensagens divinas, tão duras e impositivas, já têm quase 200 anos! Se há 200 anos, choviam almas como a neve no inferno, o que se pode imaginar nestes nossos tempos? Sinceramente, de que conversão realmente precisamos, senão aquela que leva essencialmente à salvação das almas?

domingo, 5 de março de 2017

JESUS E AS TENTAÇÕES

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo da Quaresma


Neste domingo do Senhor, nos deparamos com uma das páginas mais intrigantes dos Evangelhos: a existência do demônio, sua natureza maligna convertida integralmente às tentações e ao infortúnio eterno da humanidade; a necessidade do homem, no seu encontro com Deus, de superar estas tentações, domar os seus instintos e não acolher ou se submeter às rédeas do pecado.

Homem do infortúnio pela fraqueza dos nossos primeiros pais, reféns da primeira tentação do demônio, iludidos pela serpente 'o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito' (Gn 3,1). Homem da redenção, transformado pelo exemplo de Cristo, que aceita as tentações na sua condição humana para mostrar que as tentações devem ser combatidas pelos frutos da mortificação interior e pela oração intensa e persistente: 'Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites...' (Mt 4, 2). A ação do demônio é-nos dirigida sempre nos momentos de maior fragilidade, visando a perda ou o descaminho da santificação pessoal, sempre moldada nos apelos à sensibilidade e aos instintos mais expostos do homem. E, ao se deixar tentar pelo demônio, Jesus nos mostra que a superação das tentações é o caminho que faz os santos e diverge os tíbios e os pecadores.

Três tentações serão impostas por satanás, no intuito desgraçado de obter alguma certeza sobre a verdadeira natureza de Jesus. Exposto ao ridículo nas suas tolas intenções de tentar confundir o próprio Criador, o demônio suscita que o Filho de Deus converta pedras em pães, que aflore o prodígio da proteção dos anjos ao se atirar da parte mais elevada do templo e, na podridão máxima da soberba diabólica, lhe preste culto e adoração, como penhor das riquezas e glórias do mundo. 

O Filho de Deus Vivo submete o demônio à sua natureza degradada, confirmada tantas e tantas vezes pelas Sagradas Escrituras:  'Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’ (Mt 4,4); 'Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!' (Mt 4, 7) e 'Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto' (Mt 4, 10). Três respostas taxativas, categóricas, definitivas, de fim de conversa. Na última expressão, após confirmar a identidade do anjo do mal como 'satanás', Jesus ordena  peremptoriamente que ele se afaste em definitivo. Neste início de Quaresma, que seja esta nossa reflexão: como nos comportar diante às tentações, permitidas por Deus para a nossa santificação, ou seja, nunca ceder ao diálogo e às manipulações do mal, mas, implorando a graça divina, ordenar peremptoriamente ao diabo ir rugir nas hostes infernais.  

sábado, 4 de março de 2017

DOCUMENTOS DE FÁTIMA (I)


[Documentação Crítica de Fátima - Seleção de documentos (1917-1930)]

PRIMEIRO SÁBADO DE MARÇO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
 DEVOÇÃO PARA O TERCEIRO SÁBADO 


ATO DE DESAGRAVO
AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA

 em reparação contra as blasfêmias cometidas contra a maternidade divina de Nossa Senhora

Ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, transpassado de dor pelas injúrias com que os pecadores ultrajam vosso santo nome e vossas excelsas prerrogativas; eis prostrado aos vossos pés vosso indigno filho, que, oprimido pelo peso das próprias culpas, vem arrependido vos oferecer este ato de reparação contra as injúrias, blasfêmias, indiferenças e injustiças cometidas contra vós pela impiedade dos homens que não vos conhecem.

Neste Terceiro Sábado, ó Coração Doloroso e Imaculado de Maria, desejo reparar particularmente as blasfêmias contra a vossa Maternidade Divina. Virgem Maria, mãe de Deus e mãe dos homens, que trouxestes em vosso sagrado seio virginal Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo; por vós, exultam os céus, alegram-se os anjos e os arcanjos e a terra inteira. E contra este tesouro de graças, homens ímpios ousam vos blasfemar... Feliz, porém, aquele que Vos ama, ó Maria, Mãe Santíssima, e possa proclamar as bem-aventuranças do vosso Santo Nome nos confins de toda a terra. Que este meu pequeno ato de puro amor e devoção seja depositado no repositório de graças da Santa Igreja em desagravo e reparação às blasfêmias e ofensas cometidas contra a vossa Maternidade Divina. 

E que meu ato de amor seja também um ato de esperança e de súplica à vossa misericordiosa mediação: concedei-me, ó Imaculado e Doloroso Coração de Maria, o firme propósito de vos ser fiel todos os dias de minha vida, de defender a vossa honra de todos os ultrajes, de propagar com entusiasmo vosso culto e vossas glórias a todos os homens, de amar Vosso Filho de todo o meu coração  e a graça suprema de estar convosco e com Jesus no Céu por toda a eternidade. Amém. 

(rezar 3 Ave Marias em desagravo ao Imaculado Coração de Maria pelas blasfêmias cometidas contra a maternidade divina de Nossa Senhora)

Orações e Práticas da Devoção neste Terceiro Primeiro Sábado de 2017:

Confissão*
Sagrada Comunhão
Rezar o Terço
Meditação dos Mistérios do Rosário (15 minutos)

* A confissão pode não ser realizada neste sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte. Caso não tenha sido realizada, fazê-la com esta intenção explícita numa próxima confissão.

sexta-feira, 3 de março de 2017

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (I)

MEDITAÇÃO PARA A PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA

DAS TENTAÇÕES


PRIMEIRO PONTO - A TENTAÇÃO, LONGE DE SER UM MAL, PODE NOS TRAZER UMA GRANDE VANTAGEM

Nenhum mal moral é possível sem que a vontade não o queira: ainda que a porta da vontade esteja cerrada, o demônio e a imaginação podem fazer alarido em torno do coração, mas não podem alterar a sua pureza. Eis aí porque Jesus Cristo e todos os santos suportaram a prova da tentação, sem que a provação causasse o menor ferimento a suas almas. Vede como toda desolação nas tentações se dá sem razão. O ato de se desolar é um desafio do amor-próprio, descontente em se ver miserável, ou uma desconfiança da bondade de Deus, que jamais falta aos que O invocam, ou a pusilanimidade de uma alma, que se vê só na sua fragilidade, e longe dos socorros de Deus. 

Longe de ser um mal, a tentação pode, pelo contrário, trazer-nos uma grande vantagem. Pois: (i) ela nos dá a oportunidade de glorificar a Deus, porque, ao resistirmos generosamente, provamos a nossa fidelidade, derrotamos os seus inimigos e triunfamos; (ii)  leva-nos à humildade, ensinando-nos o lado ruim que existe em nós; ao espírito de oração, fazendo-nos ver a necessidade de recorrer a Deus; à vigilância, advertindo-nos a desconfiar de nossa força e evitarmos a ocasião do mal; ao amor divino, fazendo ressaltar a bondade de Deus. 

Além disso, evita o desânimo, desperta o fervor, dá a virtude de um caráter mais firme e mais rígido; ensina-nos a nos conhecer; e dá mais graça à alma nesta vida e mais glória na outra, na proporção dos méritos que a adornam e a faz mais digna de Deus, como está escrito dos santos: 'Deus os tem provado e os encontrado dignos de Si'.  Eis porque Deus disse ao povo de Israel: 'Eu não queria destruir os cananeus para que tenhais inimigos para combater' e o Papa Leão disse da mesma forma: 'É bom para a alma o temor de cair e de ter constantemente uma luta para sustentar'. 

A alma fiel retira da tentação ao mal o mesmo fruto que da inspiração pelo bem. É esta a oportunidade para ela alcançar a perfeição da virtude com toda a boa vontade de que é capaz. Na tentação dos sentidos, [a alma] se eleva à infinita grandeza de Deus e se levanta. Elevada tão alto, mantém-se acima dos olhares baixos e sensuais; na tentação do espírito, mergulha até o nada; nas tentações do prazer, ama e abraça a cruz. É assim que temos tirado proveito de nossas tentações?

SEGUNDO PONTO - EM QUE CONDIÇÕES A TENTAÇÃO TORNA-SE UM BEM?

Existem certas condições que são necessárias antes, durante e depois da tentação: (i) Antes da tentação, é necessário evitar tudo que conduza ou incline para o mal, por exemplo: lidar com pessoas perigosas, olhares imodestos, modismos e leituras livres, os prazeres de uma vida fútil e e sensual: 'Quem ama o perigo nele perecerá e o que conta com as suas próprias forças será confundido'. A desconfiança é a mãe da segurança e expor-se voluntariamente ao perigo é tentar a Deus, é se fazer indigno do Seu auxílio. Além disso, é necessário não temer a tentação; temê-la a faz nascer; o melhor é não pensar nela e se concentrar apenas no que se tem a fazer. 

(ii) Durante a tentação, é necessário não se envolver por ela, com o pretexto de que será ligeira; de outra forma, ela se apoderaria de nós; antes deve-se descartá-la de pronto, firme e tranquilamente, rechaçando-a com desprezo, sem sequer se dignar a entreolhá-la; e, caso produza algumas impressões, basta desaprová-las suavemente e dedicarmos integralmente à ação presente. Aqueles que a enfrentam, correm o risco de manchar-se e os que a rejeitam com esforço excessivo perderiam a paz do coração, o recolhimento do espírito e a unção da piedade. Se não for possível  ter sucesso assim, é necessário se recorrer humildemente a Deus e dizer: 'Ó Senhor, quão profunda é a minha miséria! Quanto mal ainda tenho com o meu amor próprio! Quão bom sois Vós em amar um pecador como eu! Ó Jesus! Ó Maria! Ó todos os Santos e Anjos de Deus, bendizei ao Senhor, que quer se humilhar no Seu amor até a minha baixeza'. 

(iii) Depois, é necessário esquecer a tentação; a reflexão a faria reviver. É melhor tomar dela o valor de forma pacífica e reparar o mal passado, se este é conhecido, fazendo perfeitamente a ação presente; dirigir o olhar para Deus e envolver-se nos Seus braços com confiança e amor, dizendo como o filho pródigo: 'Pai, pequei contra o Céu e contra Vós', ou como o publicano: 'Meu Deus, tende misericórdia de mim, que sou pecador'. Examinemos, pois, se temos observado estas regras durante e depois das tentações.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).