sábado, 4 de maio de 2013

96 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (I)

AS MENSAGENS E OS SEGREDOS DE FÁTIMA

As aparições de Nossa Senhora em Fátima/Portugal, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917, a três humildes crianças, Jacinta e Francisco Marto (ambos falecidos ainda na infância, logo após as aparições, em 20/02/1920 e 04/04/1919, respectivamente) e Lúcia dos Santos (falecida em Coimbra, em 13/02/2005, com quase 98 anos de idade), à época com 7, 9 e 10 anos, respectivamente, constituem a síntese das aparições marianas, em que estes princípios apresentam-se entrelaçados de modo admirável numa mensagem de cunho universal, mundialmente conhecida como Segredo de Fátima. Com efeito, Fátima está inserida no contexto da Primeira Guerra Mundial (1914 -18) e da revolução marxista-leninista na Rússia (1917), frutos de um mundo em estado de pecado generalizado muito grave, em situação de impiedade (falta de fé) e impureza muito piores que àquelas vigentes à época das mensagens de La Salette. 

Falando aos pequenos pastores, a mensagem de Nossa Senhora constitui uma revisão ainda mais vigorosa que os apelos transmitidos aos homens por meio de Mélanie e Maximino em 1846, com uma forte exortação aos homens de todo o mundo pelo retorno à oração, à penitência, à conversão e uma indicação clara dos graves riscos a que se submetia a humanidade caso os homens não se convertessem de fato. Mas Fátima é essencialmente a promessa de uma conversão de almas e o triunfo do Imaculado Coração de Maria num mundo novo, uma nova Terra. Assim, Fátima é o grande marco da História da Igreja contemporânea, delineando de forma insofismável os eventos apocalípticos dos últimos tempos e a redenção da humanidade nos tempos novos do Reino de Maria. 

Do conjunto de mensagens que Nossa Senhora e Mãe de Deus revelou ao mundo em Fátima, algumas das revelações foram sistematizadas em três partes distintas, numa abordagem que ficou mundialmente conhecida como Segredo de Fátima. As duas primeiras partes do Segredo foram formalmente reveladas por Lúcia em 1941, nas suas Terceira e Quarta Memórias e são as seguintes: 

1. Visão do Inferno 

Na terceira aparição, a 17 de julho de 1917, Nossa Senhora, após ensinar às crianças uma oração pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos, abriu as mãos e o reflexo dos raios de luz, que delas emanavam, pareceu penetrar a terra, revelando a Visão do Inferno. Acompanhemos a descrição do inferno nas terríveis palavras de Lúcia: 

'... e vimos como que um mar de fogo: mergulhados neste fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas, que delas mesmo saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa...' 

2. Castigos Universais e os Meios para Evitá-los 

A Segunda parte do Segredo, revelada às crianças na seqüência imediata da Visão do Inferno, consiste no anúncio do advento de grandes castigos para a humanidade, caso os homens não se convertessem e, principalmente, os meios de salvação colocados à disposição de todos e capazes de reorientar e modificar completamente as perspectivas previstas para as futuras gerações: a oração do Rosário, a prática dos Cinco Primeiros Sábados e a Devoção ao Imaculado Coração de Maria. O pedido premente da Mãe de Deus não se restringe à geração do início do século XX, mas é um clamor incessante a todas as gerações futuras e o seu teor constitui uma realidade impressionante para todos os homens nestes primeiros anos do Século XXI: 

'Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para o impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito o que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, etc...' 

3.  'O Terceiro Segredo' 

A última frase das mensagens reveladas é bastante singular: 'Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, etc...'. Este etc... sugere que o texto da terceira parte do Segredo estaria a seguir (lembrando que a segunda parte sucedeu imediatamente a revelação da primeira parte). Mas a própria frase parece desconectada do contexto anterior, pois a referência específica (situação em Portugal) confronta com o texto prévio (castigo das nações, dimensão universal dos castigos), de forma que pode se interpretar esta frase já no contexto da terceira parte do Segredo. Se em Portugal o dogma da fé será mantido (e se esta afirmativa assume um caráter de tal relevância que mereça uma menção especial na mensagem), é razoável deduzir que este fato – a perda da fé – atingirá dimensões inconcebíveis no âmbito da história humana e terá proporções mundiais. Nesta concepção, a terceira parte da mensagem referir-se-ia à questão de uma apostasia generalizada e sem paralelo na história da humanidade. Uma crise de fé de tal relevância deveria estar intimamente relacionada a uma gravíssima crise da própria Igreja de Cristo e isto explicaria a não divulgação pública desta terceira e última parte do Segredo. 

Tomemos, como referência, algumas mensagens ao Pe Gobbi, do Movimento Sacerdotal Mariano (MSM), em que Nossa Senhora explicita claramente estas concepções:

678/90 - Causas da apostasia (ver Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses - 2,3): 
- difusão de erros teológicos 
- mau exemplo de sacerdotes 
- rebeliões contra a Igreja / Papa 

688/90 - O meu terceiro segredo, que aqui dei a conhecer às três crianças a quem apareci, e que até agora ainda não vos foi revelado, tornar-se-á manifesto a todos pelo próprio desenrolar dos acontecimentos. A Igreja conhecerá a hora de sua maior apostasia, o homem iníquo introduzir-se-á no seu interior e sentar-se-á no próprio templo de Deus, enquanto o pequeno resto, que permanecerá fiel, será submetido às maiores provações e perseguições. 

832/93 - Viveis os anos sanguinolentos da batalha ... Está se realizando o que está contido na terceira parte da minha mensagem, que ainda não vos foi revelada ... 

Nossa Senhora faz uma correlação direta entre o terceiro segredo de Fátima e os sinais escatológicos; as mensagens de Nossa Senhora em Fátima não foram reveladas (a mensagem original é de 1993) e, assim, não propiciaram a reação adequada ao espantoso alerta dos nossos tempos: a humanidade, corrompida pelas potências do mal, será objeto de uma apostasia de cunho universal propiciando as condições para o surgimento do anticristo, ratificando, assim, as palavras de São Paulo na segunda carta aos tessalonicenses. 

762/92 - Entrais nos tempos decisivos ... o novo ano levará ao cumprimento o que Eu vos tenho revelado em alguns dos meus segredos ... Assim, aumentarão em toda parte o mal e o pecado ... as guerras se difundirão, envolvendo outros povos e nações ... 

816/93 - A grande prova chegou para toda a humanidade ... Quantos deverão sofrer o flagelo da fome, da carestia, da discórdia, das lutas fratricidas que espalharão tanto sangue pelos vossos caminhos. 

821/93 - A humanidade conhecerá a hora sangrenta do seu castigo: será golpeada pelo flagelo das epidemias, da fome e do fogo; muito sangue será derramado nas vossas estradas; a guerra se estenderá por toda parte, levando ao mundo uma incomensurável devastação. 

831/93 - (as potências do mal) conseguiram levar toda a humanidade a viver sem Deus; difundiram por toda a parte o erro do ateísmo teórico e prático; construíram novos ídolos, diante dos quais a humanidade se prosta em adoração: o prazer, o dinheiro, o orgulho, a impureza, o predomínio e a impiedade. 

832/93 - Viveis os anos sanguinolentos da batalha ... Está se realizando o que está contido na terceira parte da minha mensagem, que ainda não vos foi revelada ... 

Esta terceira parte do segredo, escrita por Lúcia em janeiro de 1944, seria formalmente revelada publicamente pelo Vaticano em 26 de junho de 2000, em termos tão abrangentes e eivados de naturalismo, que não justificam, de forma alguma, os cuidados extremos e o silêncio pontifício imposto à exposição pública das mensagens durante décadas, pelas consequências e impactos decorrentes de revelações particularmente graves e universais. Assim, a revelação divulgada oficialmente como 'terceiro segredo' não se enquadra absolutamente nestas graves e definitivas mensagens de Nossa Senhora ao MSM e muito menos na gravíssima realidade atual de perda da fé e de uma apostasia geral da humanidade. 

A terceira parte do segredo constitui essencialmente, portanto, a revelação de uma profunda crise de fé e crise da Igreja, com a perda substancial da Verdade revelada, substituída por um sem número de doutrinas heréticas no campo dogmático e da moral e implementação de falsas liturgias, com profundo impacto nos valores do cristianismo autêntico e concessões crescentes ao permissivismo moral, ao agnosticismo e ao ateísmo. Nas demolidoras palavras de Paulo VI: '... por alguma fissura entrou a fumaça de Satanás no templo de Deus...

Na própria mensagem de Fátima, o Segredo aparece como três partes distintas de um todo, ou seja, existe uma relação direta e comum interligando as três partes do Segredo em uma única mensagem: a crise de fé e a apostasia universal (terceira parte do Segredo) seriam os fatores de condenação ao Inferno de um grande número de almas (primeira parte) e a causa fundamental para a sucessão de castigos que se abateriam sobre o mundo (segunda parte). Desta forma, a terceira parte constituiria, na verdade, a causa dos eventos descritos nas primeiras duas partes reveladas (perda das almas, representada nas aparições pela Visão do Inferno e os castigos universais, caso não se concretizassem a conversão dos homens). Os meios disponibilizados por Nossa Senhora para evitar estes castigos seriam, então, o Santo Rosário, a Consagração dos Cinco Primeiros Sábados e a Devoção ao Imaculado Coração de Maria.

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).

PRIMEIRO SÁBADO DE MAIO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DE MAIO

Oitava 'Sexta-Feira' da Devoção

Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu coração, que meu amor onipotente concederá a todos os que comunguem nas primeiras sextas-feiras de mês, durante nove meses consecutivos, a graça da penitência final, e que não morram em minha desgraça, nem sem receber os Santos Sacramentos, assegurando-lhes minha assistência na hora final. 

Ó bom Jesus, que prometestes assistir em vida, e especialmente na hora da morte, a quem invoque com confiança vosso Divino Coração! Eu vos ofereço a comunhão do presente dia, a fim de obter, por intercessão de Maria Santíssima, vossa Mãe, a graça de poder fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras, de modo a alcançar uma santa morte e a merecer a glória do céu. Amém.


Oração Final

Meu Jesus, eu vos dou meu coração, consagro-vos toda minha vida e em vossas mãos ponho a eterna sorte de minha alma. Eu vos peço a graça especial de fazer as minhas nove primeiras sextas-feiras com todas as disposições necessárias para ser participante da maior de vossas promessas, a fim de, um dia, estar convosco por toda a eternidade no céu. Amém.

DEVOÇÃO DA HORA SANTA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
                                                                                                                   (Pe Mateo Crawley - Boevey)

Adoramo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união com os nove coros de Vossos anjos, que Vos engrandecem no Paraíso.

Bendizemo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união com as legiões de serafins e de santos que Vos adoram em Vosso solitário Tabernáculo.

Glorificamo-Vos, Coração de Jesus Sacramentado, em união de amor e de reparação fervorosa com Maria Imaculada e Rainha do céu nas alturas, e a Soberana do céu terreno de Vossos Sacrários...

Oh, sim, em união com Ela, sobretudo, viemos cantar, Jesus, Vossas misericórdias infinitas e a chorar Vossas agonias místicas, os pecados de ingratidão do mundo e Vossas solidões na Hóstia! Em união com Ela, queremos nesta Hora Santa percorrer a Via Dolorosa, para convertê-la, com as glórias da Imaculada e com nossos consolos, no caminho de Vossas vitórias, e para fazer de Vosso Calvário o Tabor de triunfo de Vosso adorável Coração. 

Jesus amado, depois de vinte séculos, não Vos conhecemos ainda o bastante em Vossa Santa Eucaristia; perdoai e aceitai em desagravo a visão amorosa de Maria Santíssima, as adorações de Seu Coração de Mãe... Jesus benditíssimo, não obstante Vossas liberalidades e as maravilhosas invenções de Vossa ternura, não Vos amamos ainda com a generosidade sem limites com que devêssemos corresponder-Vos... 

Perdoai e aceitai, em compensação de nossa frieza, os fogos divinos que abrasaram as entranhas e a alma de Maria Santíssima no dia da anunciação venturosa. 

Jesus - Hóstia, amor de nossos amores, vida de nossa vida, apartai vossos olhos formosíssimos de nossos culpados desvios, de tantas indiferenças, de tantos desmaios em nossos propósitos de virtude, em nossas promessas de santidade... E perdoai em obséquio à Mãe, cujo Coração Imaculado vos oferecemos em reparação de caridade e em homenagem da mais fervorosa adoração. 

Jesus Divino, em honra, pois, da Imaculada, em agradecimento aos cuidados da Virgem, em obséquio à encantadora Nazarena, rogamo-Vos, Senhor, que esqueçais os incontáveis esquecimentos de Vossa lei em que incorreram estes filhos Vossos, que vêm chorar suas faltas e as de tantos irmãos culpados no cálice de ouro do Coração de Maria Santíssima. 

Recolhe nele nosso pranto de arrependimento e prometei-nos reinar, Jesus, com mais intensidade de fé, de amor, de humildade e de pureza em nossas almas, em nossas famílias, na sociedade inteira, pelo amor e os martírios da Virgem Mãe.

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque  durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (III)


A misericórdia de Deus é exercida, em relação ao Purgatório, de uma tríplice maneira: 1 – consolando as almas que nele estão; 2 – mitigando seus sofrimentos; 3 – dando-nos mil meios de evitar esse fogo punitivo. [...] As almas do Purgatório também recebem grande consolação da Santíssima Virgem. Não é Ela a Consoladora dos Aflitos? E qual aflição pode ser comparada à das pobres almas do Purgatório? Não é Ela Mãe de Misericórdia? E não é com relação a essas santas almas padecentes que Ela mostra toda a misericórdia de seu coração? Não nos devemos, pois, espantar de que, nas Revelações de Santa Brígida, a Rainha do Céu atribua a si o nome de Mãe das Almas do Purgatório. 'Eu sou – disse Ela à santa – a Mãe de todos aqueles que estão no lugar de expiação; minhas preces mitigam os castigos que lhes são infligidos por suas faltas'. [...]

Além do consolo que as almas recebem da Santíssima Virgem, elas são também assistidas e consoladas pelos santos Anjos, e especialmente por seus Anjos-da-Guarda. Os Doutores da Igreja ensinam que a missão tutelar dos Anjos-da-Guarda termina somente na entrada de seus protegidos no Paraíso. [...] O Anjo guardião conduz a alma ao seu lugar de expiação e lá permanece com ela para proporcionar-lhe toda a assistência e consolações em seu poder. [...]

Se Deus consola as almas com tanta bondade, sua misericórdia brilha ainda mais claramente no poder que dá à sua Igreja de encurtar a duração de seus sofrimentos. Desejando executar com clemência a severa sentença de sua justiça, Ele concede diminuição e mitigação da pena. Mas faz isso de maneira indireta, através da intervenção dos vivos. A nós Ele concede todo o poder para socorrer nossos aflitos falecidos, por meio do sufrágio, isto é, através dos meios da impetração e da satisfação.

A palavra sufrágio, em linguagem eclesiástica, é sinônimo de prece; contudo, quando o Concílio de Trento declara que as almas do Purgatório são assistidas pelos sufrágios dos fiéis, o sentido da palavra é mais abrangente. Inclui, em geral, tudo o que se pode oferecer a Deus pelos falecidos. Podemos assim oferecer a Deus não somente nossas preces, mas também nossas boas obras, tanto quanto elas sejam impetratórias ou satisfatórias.

Para entender esses termos, lembremo-nos de que cada uma de nossas boas obras, feitas em estado de graça, ordinariamente possui um tríplice valor aos olhos de Deus: (i) a obra é meritória, quer dizer, aumenta nosso mérito; dá-nos direito a um novo grau de glória no Céu; (ii) é impetratória (impetrar, obter), pois, como a prece, ela tem a virtude de nos obter algumas graças de Deus; (iii) é satisfatória, tendo, por assim dizer, um valor pecuniário e podendo satisfazer à divina justiça e pagar nossas dívidas de punição temporal diante de Deus.

O mérito é inalienável, e permanece propriedade da pessoa que pratica a ação. Pelo contrário, os valores impetratórios ou satisfatórios podem beneficiar outros, em virtude da Comunhão dos Santos. [...] Quais são os sufrágios pelos quais, de acordo com a doutrina da Igreja, podemos ajudar as almas do Purgatório? Respondemos: consistem nas orações, esmolas, jejuns e penitências de qualquer gênero, indulgências, e sobretudo no santo Sacrifício da Missa. Nosso Senhor Jesus Cristo permite-nos oferecer à Divina Majestade todas as obras, feitas em estado de graça, para alívio de nossos falecidos no Purgatório, e Deus as aplica a essas almas, de acordo com sua Justiça e Misericórdia.

Depois do Santo Sacrifício da Missa, temos uma multidão de meios muito eficientes para aliviar as santas almas, se os empregamos com espírito de fé e fervor (e estando em estado de graça) [...]. Sabemos que o Santo Rosário mantém o primeiro lugar entre todas as orações que a Igreja recomenda aos fiéis. Essa excelente prece, fonte de tantas graças para os vivos, é também singularmente eficaz no alívio dos falecidos. [...]

Se as boas obras ordinárias obtêm tanto alívio para as almas, qual não será o efeito da obra mais santa que um católico pode fazer, ou seja, a sagrada comunhão? [...] Depois da santa comunhão, falaremos da Via Sacra. Esse santo exercício pode ser considerado em si mesmo e nas indulgências com que é enriquecido. Em si, é uma solene e muito excelente maneira de meditar na Paixão de nosso Salvador, e, consequentemente, o mais salutar exercício de nossa santa Religião. [...] Assim, essa devoção, tanto pelas muitas excelências de que é objeto, quanto em razão de suas indulgências, constitui um sufrágio de grande valor em favor das santas almas. [...]

As indulgências são, na Igreja, um verdadeiro tesouro que permanece aberto aos fiéis. A todos é permitido dele se servir para pagar as próprias dívidas e as dos outros. [...] As almas do Purgatório, que se encontram em tão extrema necessidade, suplicam-nos com lágrimas em meio aos seus tormentos; temos os meios de pagar suas dívidas por meio das indulgências, mas não nos empenhamos em fazê-lo. [...]

O Doutor Angélico dá preferência às esmolas em relação ao jejum e à oração, quando se trata da expiação das faltas. Diz ele: 'Esmolas possuem mais completamente a virtude da satisfação do que a prece, e esta mais completamente que o jejum'. Esta é a razão por que grandes servos de Deus e grandes santos a escolheram como um principal meio de assistir aos falecidos. [...] A esmola cristã, essa misericórdia que Jesus Cristo tanto recomenda em seu Evangelho, compreende não só a assistência corporal aos necessitados, mas também todo bem que fazemos ao nosso próximo, trabalhando para sua salvação, suportando seus defeitos e perdoando suas ofensas. Todas essas obras de caridade podem ser oferecidas a Deus pelos falecidos, e contêm grande virtude satisfatória. [...]

Falamos da gratidão das santas almas. Isso elas podem algumas vezes manifestar de maneira clara, mas frequentemente o fazem invisivelmente, por suas preces. As almas rezam por nós não somente depois de sua libertação (do Purgatório), quando estão com Deus no Céu, mas mesmo em seu lugar de exílio e em meio a seus sofrimentos. Se bem que não podem rezar por si mesmas, no entanto, pelas suas súplicas, elas obtêm grandes graças para nós. [...] Se as almas são tão gratas a seus benfeitores, Nosso Senhor Jesus Cristo, que ama essas almas, que recebe como feito a si todo o bem que empreendemos em relação a elas, conceder-nos-á abundante recompensa, muitas vezes nesta vida, e sempre na próxima. Ele olha para aqueles que praticam essa misericórdia, e pune os que se esquecem de fazê-la para as almas do Purgatório.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (II)


A opinião mais comum, que está mais de acordo com a linguagem da Escritura e é geralmente mais aceita entre os teólogos, coloca o Purgatório nas entranhas da Terra, não longe do Inferno dos réprobos. [...] Lá não reina horror, desordem, desespero nem trevas eternas. A esperança divina difunde sua luz, e esse lugar de purificação é chamado também “estadia da esperança”. [A venerável Cônega Matteotti] viu lá almas que sofriam cruelmente, mas anjos as visitavam e assistiam em seus sofrimentos. [...]

No Purgatório as almas estão confirmadas em graça, marcadas com o selo dos eleitos, e, desse modo, isentas de todo vício. [...] Há no Purgatório, como no Inferno, uma dupla pena: a da privação da visão de Deus (temporária) [...]. E a dos sentidos, ou sofrimento sensível. [...] Consiste no fogo e em outras espécies de sofrimento.

Com relação à severidade desses sofrimentos, uma vez que são infligidos pela infinita justiça, são eles proporcionados à natureza, gravidade e número dos pecados cometidos. Cada um recebe de acordo com suas obras, cada um tem que saldar os débitos de que se vê culpado diante de Deus. Esses débitos diferem enormemente em qualidade. [...] As almas sofrem vários tipos de sofrimentos, uma vez que há inumeráveis graus de expiação no Purgatório, e que alguns são incomparavelmente mais severos que outros. No entanto, falando em geral, os Doutores concordam em dizer que as dores do Purgatório são as mais dilacerantes. 'O mesmo fogo, diz São Gregório, atormenta os réprobos e purifica os eleitos'. [...]

Santa Catarina de Gênova, em seu tratado sobre o Purgatório, diz: 'As almas sofrem um tormento tão extremo, que a língua não pode descrever, nem pode o entendimento ter dele a menor noção, se Deus não o torna conhecido por uma graça particular'. [...]  Santo Tomás vai ainda além; ele afirma que a menor dor do Purgatório ultrapassa todos os sofrimentos desta vida, quaisquer que sejam. [...] Para provar essa doutrina, afirma-se que as almas do Purgatório sofrem a dor da perda da visão de Deus. Ora, essa dor ultrapassa os mais agudos sofrimentos. [...]

Entretanto as almas do Purgatório estão em contínua união com Deus e perfeitamente resignadas com sua vontade; ou melhor, sua vontade está tão transformada na de Deus, que elas não podem querer senão o que Deus quer. [...]  O Purgatório é uma espécie de Inferno no que diz respeito aos sofrimentos; é um Paraíso no que diz respeito ao deleite infundido nos corações pela caridade — caridade maior que a morte e mais poderosa que o Inferno.

A fé não nos fala sobre a duração precisa das dores do Purgatório. Sabemos em geral que elas são medidas pela Justiça Divina, e que cada uma delas é proporcionada ao número e à gravidade das faltas ainda não expiadas. Deus pode, no entanto, sem prejuízo de sua Justiça, abreviar esses sofrimentos aumentando sua intensidade; a Igreja Militante pode também obter sua remissão pelo Santo Sacrifício da Missa [principalmente pela chamada 'Missa Gregoriana', isto é, uma série ininterrupta de 30 Missas] e outros sufrágios oferecidos pelos falecidos.

De acordo com a comum opinião dos Doutores, as penas expiatórias são de longa duração. 'Não há dúvida, diz São Roberto Bellarmino, de que as penas do Purgatório não são limitadas a dez ou vinte anos, e de que elas duram, em muitos casos, séculos'. [...] Por que as almas devem sofrer antes de serem admitidas a ver a face de Deus? Qual é a matéria, qual o objeto dessas expiações? O que tem o fogo do Purgatório que purificar, que consumir? Dizem os Doutores que são as manchas deixadas pelos pecados.

Mas, o que se entende por manchas? De acordo com a maioria dos teólogos, não é a culpa do pecado, mas a dor ou débito de dor vindo do pecado. Para entender bem isso, devemos nos lembrar de que o pecado produz um duplo efeito na alma, a que chamamos débito (reatus) de culpa e débito de sofrimento. O pecado torna a alma não somente culpada, mas merecedora da dor ou castigo. Ora, depois que a culpa é perdoada [pela confissão], geralmente acontece que a dor permanece para ser sofrida, inteiramente ou em parte, e isso tem que ser sofrido na presente vida ou na vida futura. [...]

O débito vem de todas as faltas cometidas durante a vida, especialmente de pecados mortais [perdoados] não expiados quanto à culpa, e que se negligenciou em expiar com frutos meritórios ou penitência exterior. [...] Toda mancha de culpa desapareceu então, mas a dor permanece para ser sofrida em todo seu rigor e longa duração, pelo menos pelas almas que não são assistidas pelos vivos. Elas não podem obter o menor alívio por si próprias, porque o tempo do mérito passou; não podem merecer mais, não podem senão sofrer, e desse modo pagar à terrível justiça de Deus tudo o que devem, até o último ceitil.

Esses débitos de sofrimento são os remanescentes do pecado e uma espécie de mancha, que intercepta a visão de Deus e coloca um obstáculo na união da alma com seu fim último. Uma vez que as almas do Purgatório fiquem livres da culpa do pecado – escreve Santa Catarina de Gênova – não há outra barreira entre elas e sua união com Deus, salvo os remanescentes do pecado, dos quais têm que ser purificadas. [...]

Almas que se permitem ser ofuscadas pelas vaidades do mundo, mesmo que tenham a boa fortuna de escapar à danação, terão que sofrer terrível punição. [...]  Aqueles que tiveram o infortúnio de dar mau exemplo, ferir ou causar a perda das almas pelo escândalo, devem ter o empenho em reparar tudo neste mundo, se não querem ser sujeitos à mais terrível expiação no outro.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (I)


Está muito esquecido pela maioria dos fiéis o dogma do purgatório. A Igreja Padecente, onde eles têm tantos parentes para socorrer, e para onde eles sabem que um dia poderão ir, parece-lhes uma terra estranha. Esse esquecimento verdadeiramente deplorável era um grande sofrimento para São Francisco de Sales. Observa o pio Doutor da Igreja: 'Nós não nos lembramos suficientemente de nossos queridos falecidos; sua memória parece terminar com o som dos sinos do funeral'.

As principais causas disso são a ignorância e a falta de fé; nossas noções sobre o purgatório são muito vagas, e nossa fé muito fraca. A fim de que nossas idéias se tornem mais claras e nossa fé mais viva, devemos lançar um olhar para essa vida de além-túmulo, para esse estado intermediário das almas justas, não ainda dignas de entrar na Jerusalém Celeste. [...]

Não nos propomos provar para as mentes céticas a existência do purgatório, mas torná-lo melhor conhecido pelos fiéis piedosos, que acreditam com fé divina nesse dogma revelado por Deus. Este livro está endereçado propriamente a eles, para dar-lhes uma ideia mais clara do purgatório. Eu disse propositadamente 'uma ideia mais clara' em relação à que em geral o povo tem, colocando essa grande verdade sob a luz mais forte possível.

Para produzir esse efeito, dispomos de três fontes de luz muito distintas: primeiro o ensino dogmático da Igreja; depois a doutrina, como vem explicada pelos Doutores da Igreja; e, em terceiro lugar, as revelações e aparições aos santos, que servem para confirmar os ensinamentos dos Doutores. [...]

Acrescentemos que os católicos devem precaver-se contra uma incredulidade excessiva em fatos sobrenaturais ligados aos dogmas de Fé. São Paulo nos diz que a Caridade tudo crê (Cor. 13,7); quer dizer, acredita como os intérpretes o explicam, em tudo o que se pode prudentemente crer, e cuja crença não nos será prejudicial.

Se é verdade que a prudência rejeita uma cega e supersticiosa credulidade, também é verdade que devemos evitar outro extremo, que nosso Salvador censurou no Apóstolo São Tomé: 'Tu creste porque viste e tocaste'. Era melhor ter crido no testemunho de teus irmãos. Sendo mais exato, tu foste culpado de incredulidade; esta é uma falta que meus discípulos devem evitar. 'Bem-aventurados aqueles que não viram e acreditaram. Não sejas incrédulo, mas fiel' (Jo. 20, 27).

O Purgatório ocupa um importante papel em nossa santa Religião; forma uma das principais partes da obra de Jesus Cristo, e tem uma função essencial na economia da salvação das almas. Preces pelos falecidos, sacrifícios e sufrágios pelos mortos formam uma parte do culto cristão. Lembremo-nos de que a Santa Igreja de Deus, considerada como um todo, está composta de três segmentos: a Igreja Militante (na Terra), a Igreja Triunfante (no Céu) e a Igreja Padecente (no Purgatório). Essa tríplice Igreja constitui o Corpo Místico de Jesus Cristo, e as almas do Purgatório não são menos seus membros do que os fiéis na Terra e os eleitos no Céu. No Evangelho, a Igreja é ordinariamente chamada Reino do Céu; o Purgatório, tanto quanto as Igrejas celestial e terrena, é uma província desse vasto reino.

As três Igrejas irmãs mantêm incessantes relações entre si, uma contínua comunicação a que chamamos de Comunhão dos Santos. Essas relações não têm outro objetivo senão conduzir almas para a eterna glória, o termo final para o qual todos os eleitos tendem. [...] Preces pelos falecidos, sacrifícios e sufrágios pelos mortos formam uma parte do culto cristão, e a devoção pelas almas do Purgatório é uma devoção que o Espírito Santo infunde com a caridade nos corações dos fiéis. É um pensamento santo e salutar fazer um sacrifício expiatório pelos mortos, para que eles sejam livres de suas faltas, diz a Sagrada Escritura.

Para ser perfeita, a devoção às almas do Purgatório deve ser animada por um espírito tanto de temor quanto de confiança. De um lado, a santidade de Deus e sua justiça inspira-nos um salutar temor. De outro, sua infinita misericórdia dá-nos uma confiança sem limites. [...]

A justiça de Deus é terrível, e pune com extremo rigor até as faltas mais triviais. Isso porque essas faltas, leves a nossos olhos, não o são de nenhum modo aos de Deus. O menor pecado desagrada a Deus infinitamente. Em relação à infinita santidade que é ofendida, a mais ligeira transgressão toma proporções enormes e pede enorme reparação. Isso explica a terrível severidade das penas da outra vida, e deveria penetrar-nos de um santo temor.

O temor do Purgatório é um temor salutar; seu efeito é não só nos inclinar a uma caridosa compaixão para com as pobres almas sofredoras [do Purgatório], mas também ter um zelo vigilante por nosso próprio interesse espiritual. Pensa no fogo do Purgatório, e empenhar-te-ás em evitar as mais leves faltas; pensa no fogo do Purgatório e farás penitência de modo a satisfazer a divina justiça neste mundo, em vez de reparares [teus pecados] no outro.

Guardemo-nos, entretanto, do temor excessivo, e não percamos a confiança. [...] Caso estejamos animados desse duplo sentimento, se nossa confiança na misericórdia de Deus é igual ao temor que sua justiça nos inspira, teremos o verdadeiro espírito de devoção às almas do purgatório. Esse duplo sentimento surge naturalmente do dogma do Purgatório retamente entendido — um dogma que contém o duplo mistério da justiça e da misericórdia: da justiça que pune, da misericórdia que perdoa.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).