segunda-feira, 13 de novembro de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XV)

71. Qual foi o fator primordial da santificação de Francisco Marto?

O ponto central da espiritualidade do Francisco Marto foi o sentido de reparação, a compreensão intuitiva de que a prática do bem pode consolar os pecados cometidos contra Deus. Os pastorinhos receberam de Deus uma luz extraordinária sobre o mistério do pecado e o castigo eterno do inferno; eles viram as almas que se condenam, e foram convidados a rezar e a fazer penitência reparadora. Esta visão marcou-os profundamente; daí por diante a sua grande preocupação era a visão do inferno, não por medo pessoal de lá caírem, mas por caridade para com os muitos incautos que ofendem a Deus e se condenam. 


Francisco foi ainda mais longe: todo o seu empenho passou a ser primariamente destinado a consolar Nosso Senhor. Este carisma da graça o absorveu por completo no pouco tempo de vida que lhe restou após as aparições da Virgem. Francisco Marto tinha apenas 10 anos de idade quando se afastou da rotina do mundo e passou a viver fazendo oração e penitência pela salvação dos pecadores, por causa das almas que ofendem a Deus, sentindo-se especialmente atraído pelo amor divino e na entrega completa e definitiva à sua missão na terra: esta foi a missão de Francisco, o Consolador: consolar Nosso Senhor dos nossos pecados!

72. Como e quando ocorreu a morte de Francisco?

Nossa Senhora havia prometido que levaria Francisco e Jacinta 'em breve' para o Céu [Segunda Aparição]. Assim, quando Francisco ficou doente em outubro de 1918, vítima da epidemia da gripe pneumônica que assolava Portugal inteiro, teve certeza de que Nossa Senhora estava a cumprir fielmente a sua promessa e, longe de se penalizar, enfrentou com nobreza e mortificação completa a enfermidade que foi longa e penosa.

(quarto onde faleceu Francisco Marto)

O quadro clínico da doença avançou rapidamente para um estágio grave de broncopneumonia, que fez o pequeno jazer prostrado por longo tempo na cama. Pela época do Natal e da passagem do Ano Novo, apresentou uma sensível melhora apenas para, em seguida, cair novamente doente, condição esta que então se agravou continuamente até a sua morte, ocorrida no dia 04 de abril de 1919, por volta das dez horas da noite. No dia anterior, havia recebido a comunhão por deferimento especial do Padre Manuel Bento Moreira, pároco de Fátima, uma vez que ainda não tinha feito a Primeira Comunhão. E, nesta ocasião, vai revelar à Lúcia um testamento de graças: 'hoje sou mais feliz que tu, porque tenho dentro do meu peito Jesus escondido'.

Foi sepultado no cemitério de Fátima, em campa rasa e num funeral sem quaisquer pompas, com o seu terço entre as mãos. Em 17 de fevereiro de 1952, seus restos mortais foram exumados e reconhecidos pelo pai pelo terço que colocara em suas mãos e posteriormente transladados para a o transepto direito da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em 13 de março de 1952. A lápide contém a seguinte inscrição: 'Francisco Marto, a quem Nossa Senhora apareceu'.

(túmulo de Francisco Marto)

73. Quais foram os fatores primordiais da santificação de Jacinta Marto?

Os fatores essenciais da espiritualidade de Jacinta Marto eram a compaixão, especialmente pelos que sofriam e pelos que viviam afastados de Deus, e um amor extremado a Jesus e Maria, que a levou a se impor, mesmo criança, como uma cópia fiel das virtudes da Virgem Santíssima. Mais que os outros videntes, ela ficou profundamente impressionada pela visão do inferno e pelo mistério da eternidade e, desde então, estabeleceu uma senda de sacrifícios e mortificações pela conversão dos pecadores.


No enfrentamento de sua dolorosa doença, manteve inabalável estas crenças e esse propósito de santificação plena, numa atitude de fortaleza e perseverança extremas, marcadas pela paciência, aceitação compassiva de suas dores e pela alegria de servir-se delas para a conversão dos pecadores. Esse conhecimento íntimo da noção do pecado como ofensa ao Senhor e a necessidade imperiosa de salvação das almas são os postulados fundamentais da espiritualidade elevada de Jacinta, de quem a própria Lúcia escreveu: 'Jacinta era também aquela a quem, me parece, a Santíssima Virgem deu a maior plenitude de graças, conhecimento de Deus e da virtude. Ela parecia refletir em tudo a presença de Deus'.

74. Como e quando ocorreu a morte de Jacinta?

Jacinta adoeceu no mesmo período que Francisco, cerca de um ano depois das aparições da Cova da Iria. Depois de um longo tempo aparentemente estagnada, a doença evoluíra para uma pneumonia bronquial e depois para um abcesso nos pulmões, efeitos que lhe causaram muito sofrimento. Em julho de 1919, foi transferida para um hospital de Ourém, retornando a Aljustrel em agosto, bastante magra e debilitada. Novamente em Fátima, tal como Francisco, pareceu ter uma melhora súbita para, em seguida, recair na gravidade da doença. Teve visões particulares de Nossa Senhora nesta ápoca, a última delas em dezembro de 1919, que revelou a Lúcia as palavras ditas pela Virgem nos seguintes termos: 'Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital... que, depois de sofrer muito, morro sozinha, mas que não tenha medo que Ela vai lá me buscar para o Céu.' Isso era algo praticamente inimaginável pois os Marto de Aljustrel estavam longe de ter os recursos necessários para viabilizar o tratamento longo e demorado da filha em um hospital de Lisboa.


(quarto onde ficou doente Jacinta Marto)

Contudo, foi exatamente isso que ocorreu por iniciativa do Cônego Manuel Formigão, com o auxílio financeiro do Dr. Eurico Lisboa, do Barão de Alvaiázere e de outras pessoas abastadas da capital. A menina  foi acolhida temporariamente no Orfanato de Nossa Senhora dos Milagres (atual Mosteiro do Imaculado Coração de Maria, junto ao Jardim da Estrela), o qual foi fundado e dirigido pela Madre Maria da Purificação Godinho. Constatada a gravidade do caso (Jacinta padecia de pleurisia, inflamação avançada das membranas pulmonares), foi transferida para o Hospital de Dona Estefânia em 2 de fevereiro de 1920, para se submeter à delicada cirurgia de drenagem do pus e das inflamações, apenas com anestesia local, sob coordenação do Dr. Castro Freire, sem sucesso. Padeceu dores violentas nos dias subsequentes e, sob uma nova visão da Virgem que lhe anunciou a morte iminente, pediu e recebeu os sacramentos da confissão do Padre Pereira dos Reis, da Igreja dos Anjos, que lhe prometeu trazer a comunhão na manhã seguinte. Mas não houve tempo pois naquela mesma noite, em torno das 10:30h, Jacinta faleceu.


(Dr. Eurico Lisboa e enfermeiras Leonor da Assunção e Aurora Gomes que cuidaram de Jacinta)

Coberta com um vestido branco e um manto azul, como as cores de Nossa Senhora, o sepultamento foi previsto inicialmente para Lisboa, ficando o corpo disponível para visitação pública para um enorme contingente de pessoas entre os dias 21 até a manhã de 24 de fevereiro, onde todos testemunharam o odor agradável exalado do corpo, mesmo após três dias de sua morte. Com a intervenção do Barão de Alvaiázere, que ofereceu um jazigo de sua propriedade em Vila Nova de Ourém, o local do sepultamento foi alterado para aquele local, sendo realizado em 24 de fevereiro de 1920. Em 12 de setembro de 1935, os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério de Fátima, data em que a urna foi aberta e revelado o seu rosto incorrupto. Em 01 de maio de 1951, os restos mortais de Jacinta foram depositados no transepto esquerdo da Basílica de Nossa Senhora do Rosário em Fátima.

(rosto incorrupto e túmulo de Jacinta, ao lado do túmulo de Lúcia)


75. Como e quando se deram os processos de canonização de Francisco e Jacinta Marto?

Embora a fama de santidade dos dois pastorinhos fosse reconhecida por muitos logo após as suas mortes, somente muitos anos depois, com a descoberta do corpo incorrupto de Jacinta em setembro de 1935 e a posterior publicação das chamadas 'Memórias de Lúcia', tornou-se possível estabelecer a dimensão da fé heroica dos videntes de Fátima e dar início aos pedidos para investigação da santidade das duas crianças. 

Os processos de canonização de Francisco e Jacinta Marto foram introduzidos pelo Bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, em 1952, sendo nomeado Postulador o Cônego João Pereira Venâncio em ambos os processos. Os processos foram concluídos em 2 de julho de 1979 e em 3 de agosto de 1979, para a Jacinta e Francisco respectivamente. Como o Cônego João Pereira Venâncio fora nomeado bispo em 1954 e assumira a Diocese de Leiria em 1958, ele nomeou para novo Postulador das Causas dos dois pastorinhos o sacerdote húngaro Luís Kondor, que ocupará esta função desde 1960 até 2009, ano do seu falecimento.

Em 1979, os processos foram encaminhados à Roma e, depois de um longo debate sobre a possibilidade da espiritualidade de uma criança alcançar maturidade de fé – já que, até então, apenas se canonizara crianças cristãs martirizadas – a Congregação para a Causa dos Santos emite um parecer sobre a 'idoneidade dos adolescentes para o exercício heroico das virtudes e do martírio', no qual se mostra favorável à possibilidade da canonização de crianças no uso da razão. Com esse parecer favorável, as Positio sobre as virtudes do Francisco e da Jacinta foram redigidas e apresentadas à Congregação para a Causa dos Santos em 1988. A 13 de Maio de 1989, o Santo Padre João Paulo II decretou solenemente a Heroicidade de Virtudes dos Servos de Deus Francisco e Jacinta Marto, concedendo-lhes o título de Veneráveis.

A 22 de junho de 1999, foi aprovado um milagre de cura pela intercessão de Francisco e de Jacinta, abrindo-se, assim, o caminho da beatificação de ambos por meio de um único processo que culminou com a beatificação dos videntes em Fátima, em 13 de maio de 2000, ano jubilar, pelo Papa João Paulo II. Com a confirmação de um segundo milagre em março de 1917, considerado como resultado da intercessão direta dos videntes de Fátima e que envolveu a cura inexplicável de uma criança brasileira vítima de grave acidente com traumatismo crânio-encefálico (evento ocorrido em 2013), cumpriu-se a exigência complementar para a canonização das duas crianças, evento que ocorreu finalmente na data do centenário das aparições, em 13 de maio de 2017.

(missa da canonização dos videntes em 13/05/2017)

Francisco e Jacinta Marto foram canonizados numa missa presidida pelo Papa Francisco, em Fátima, com o recinto do santuário tomado por uma multidão de fiéis. A canonização teve lugar logo no início da missa. O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, começou por fazer ao papa a petição nos seguintes termos:  'inscreva os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto no catálogo dos santos e, como tais, sejam invocados por todos os cristãos'. Em seguida, D. António Marto apresentou uma biografia sucinta de cada um dos novos santos. 

Seguiu-se a litania dos santos, em que a Igreja pede a intercessão de uma longa lista de santos e santas e a leitura, pelo papa, da fórmula tradicional de canonização:  'Para honra da Santa e Indivisível Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, depois de termos longamente refletido, implorado várias vezes o auxílio divino e ouvido o parecer de muitos irmãos nossos no Episcopado, declaramos e definimos como santos os beatos Francisco Marto e Jacinta Marto e inscrevemo-los no Catálogo dos Santos, estabelecendo que, em toda a Igreja, sejam devotamente honrados entre os santos. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo'. Eram 10h26 do dia 13/05/2017 quando Francisco e Jacinta foram declarados os santos não-mártires mais jovens da Igreja Católica.


As imagens oficiais dos dois santos são da pintora Sílvia Patrício e são baseadas em fotografias das crianças feitas em 1917, incluindo-se cores às vestes da época e atributos adicionais como o terço nas mãos, a candeia e os detalhes nas auréolas em formato de peças de ourivesaria; na de Francisco, aparecem a silhueta do Anjo de Fátima e as espécies eucarísticas; na de Jacinta, as figuras do Papa e da Virgem Maria, representada pelo seu Imaculado Coração.