quinta-feira, 30 de novembro de 2017

GALERIA DE ARTE SACRA (XXV)

'Na sala do Vaticano onde os papas assinavam os atos de importância capital para a sorte da humanidade – stanza delle segnature – o papa Júlio II mandou pintar, por Rafael, quatro quadros famosos. Representam eles a teologia, a filosofia, a poesia e o direito, isto é, a verdade enquanto revelação, enquanto trabalho da razão, enquanto beleza e enquanto ordem cristã. Essas quatro pinturas são um magnifico símbolo; exprimem que a humanidade só achará a felicidade, a satisfação, a ordem e a civilização, se as diversas formas da única Verdade trabalharem em harmonia, auxiliando-se mutuamente. É assim que age e trabalha a Igreja de Cristo já há dezenove séculos. E eis aí porque me ufano dessa Igreja'.
(Mons. Tihamer Toth - A Igreja Católica)

(Stanza della Segnatura)
Parede I - Teologia: 'A Disputa do Sacramento' (Rafael Sanzio, 1509)


Na primeira parede, a tela 'A Disputa do Sacramento' representa a Teologia em termos da relação entre a Igreja Triunfante no Céu e a Igreja Militante na terra. No plano superior, a Igreja Triunfante é representada por Deus acima de todos e Jesus Cristo entre a Virgem e São José rodeados de anjos, santos, profetas e apóstolos. No plano inferior, a Igreja Militante é representada por teólogos, médicos, papas e estudiosos (entre eles o Papa Júlio II, seu tio Papa Sisto VI, Dante e Bramante, entre outros). No centro do plano inferior há uma hóstia logo abaixo do Espírito Santo, indicando a real presença do Corpo de Cristo.

Parede II - Filosofia: 'A Escola de Atenas' (Rafael Sanzio, 1509/1510)


'A Escola de Atenas' exalta o culto da razão. No afresco estão representados os mais célebres filósofos e matemáticos da antiguidade, conformando um mesmo conjunto de sábios discutindo as grandes questões da filosofia. No centro da imagem, estão Platão (1) e Aristóteles (2) (imagem de detalhe à direita), os dois principais filósofos da antiguidade. Platão, o filósofo do idealismo, aponta o dedo pra cima para para indicar a natureza transcendental da sua filosofia, ao passo que Aristóteles, como filósofo do realismo, tem o braço esquerdo esticado com a palma da mão virada para o chão. 

Outros filósofos identificáveis são: Pitágoras (segurando um livro, canto esquerdo), Heráclito (escrevendo numa folha, centro inferior); Diógenes (deitado nas escadas); Euclides (inclinado até o chão, canto direito), Zoroastro (de frente) e Ptolomeu (de costas), segurando esferas celestes (canto direito); ao lado de ambos e atrás do homem de branco (área do círculo vermelho), está um personagem que representa o autorretrato do pintor (imagem em detalhe inferior). Nos nichos laterais, encontram-se as estátuas de Apolo (deus das ciências e da música na mitologia grega) e de Minerva (deusa das ciências e das artes na mitologia romana). 

Parede III - Poesia: 'O Parnaso' (Rafael Sanzio, 1510/1511)


A cena representa o Monte Parnaso, o monte sagrado situado no centro da Grécia e que, segundo a mitologia grega, era o local onde viviam o Deus Apolo (visto no plano central do arranjo, tocando um instrumento) e suas nove musas. À esquerda de Apolo (possivelmente representado com o rosto do Papa Júlio II), estão quatro musas: Melpomene, Terpsícore, Polimnia e Calíope enquanto, à sua direita, encontram-se outras cinco musas: Euterpe, Clio, Talia, Urania e Erato. Um conjunto de nove poetas contemporâneos e outros nove poetas da antiguidade estão figurados na cena, no entorno de Apolo. Embora muitos sejam de caracterização duvidosa, alguns deles são passíveis de serem identificados como Petrarca, Ovídio, Homero, Dante, Ariosto e Bocaccio, por exemplo.

Parede IV - Direito: 'A Virtude e a Lei' (Rafael Sanzio, 1511)


O afresco representa as quatro virtudes cardinais: Força, Prudência, Temperança e Justiça. Na parte superior, acima da janela, estão representadas (da esquerda para a direita) a Força, a Prudência e a Temperança como figuras femininas, rodeadas de pequenos anjos, que representam as virtudes teologais (da esquerda para a direita): caridade, fé e esperança. Ao longo das laterais do afresco, a Justiça é representada duas vezes: na lateral esquerda, pelas imagens do jurista bizantino Triboniano entregando o Pandectae (um conjunto de livros contendo normas e leis romanas) ao imperador bizantino Justiniano e, na lateral direita do afresco, pelo Papa Gregório IX (representado com o rosto de Júlio II) aprovando as Decretais que contêm disposições jurídicas de natureza geral.

Há ainda o afresco do teto que, na verdade, foi o primeiro a ser realizado, apresentando no centro o brasão da família Della Rovere (família do Papa Júlio II) e as imagens com a personificação da Teologia, Justiça, Filosofia e Poesia.