quinta-feira, 14 de novembro de 2013

SACERDÓCIO ETERNO

Lê-se no Concílio de Trento: Devemos reconhecer que entre todas as obras, ao alcance dos fiéis, nenhuma há mais santa que este mistério terrível [a celebração da Santa Missa]. Nem o próprio Deus pode fazer que haja no mundo uma ação maior e mais santa que a celebração duma missa. Ó, quanto mais excelente que todos os sacrifícios antigos o sacrifício dos nossos altares, em que a vítima oferecida não é já um touro ou um cordeiro, mas o próprio Filho de Deus!

Para a vítima, o judeu tinha um boi, escreve São Pedro de Cluny; o cristão tem Jesus Cristo; tanto este último sacrifício excede o primeiro, como Jesus Cristo excede a um boi. Depois ajunta que uma vítima servil era a única que convinha a servos, ao passo que aos amigos e aos filhos estava reservado o próprio Jesus Cristo, como vítima que nos libertou do pecado e da morte eterna. Tem pois razão São Lourenço Justiniano em dizer que não há oferenda nem maior em si mesma, nem mais útil aos homens, nem mais agradável a Deus, que a que se faz no sacrifício da missa.

Assim, São João Crisóstomo assegura que, durante a celebração da missa, está o altar cercado de anjos, reunidos para honrarem a Jesus Cristo, que é a Vítima oferecida neste augusto sacrifício. Que fiel poderá duvidar, pergunta por sua vez São Gregório, que no momento do sacrifício o Céu se não abra à voz do padre e numerosos coros de anjos não estejam presentes a este mistério em que Jesus Cristo se imola? E Santo Agostinho acrescenta que os anjos se aconchegam a rodear o sacerdote como servos, para o ajudarem nas suas funções.

Falando deste grande sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, o Concílio de Trento nos ensina que é o próprio Salvador que aí se oferece a seu Pai, mas pelas mãos do sacerdote, que escolheu para seu ministro, encarregado de o representar ao altar. E São Cipriano tinha dito antes: 'O padre ao altar ocupa o lugar de Jesus Cristo'. É por isso que, ao consagrar, o padre se exprime assim: 'Isto é o meu corpo; este é o cálice do meu sangue'. E o próprio Jesus Cristo disse a seus discípulos: 'Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza'.

Ora, mesmo aos antigos levitas exigia o Senhor que fossem puros, só porque tinham por dever transportar os vasos sagrados: 'Purificai-vos, vós que levais os vasos do Senhor'. Sobre o que Pedro de Blois faz esta reflexão: 'Quanto mais puros devem ser os que trazem Jesus Cristo nas suas mãos e nos seus corações? E com quanta mais razão exigirá o Senhor a pureza dos padres da Nova Lei, encarregados de representar ao altar a pessoa de Jesus Cristo, para oferecerem ao Padre eterno o seu próprio Filho!' Tem pois justo motivo o Concílio de Trento, para querer que os padres celebrem este augusto sacrifício com a máxima pureza de consciência possível.

E é o que significa, nota o abade Rupert, a brancura da alba, de que a Igreja quer que o sacerdote se revista e cubra da cabeça aos pés, quando celebrar os divinos mistérios. É muito justo que o sacerdote honre a Deus com a inocência da sua vida, visto que Deus tanto o há honrado, elevando-o acima de todos os outros homens, e fazendo-o ministro seu, neste mistério sublime, como dizia São Francisco de Assis. Mas como deve o padre honrar a Deus? Será porventura trajando ricos vestidos, anafando a cabeleira com arte, ostentando punhos elegantes? Não, responde São Bernardo, é por uma vida irrepreensível, pelo estudo das ciências sagradas, e pelos trabalhos que empreender para glória de Deus.

(Excertos da obra 'A Selva' de Santo Afonso Maria de Ligório)