sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!

Desejo a todos os nossos amigos e visitantes um Santo e Feliz Natal! 

IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL
(Luís Dufaur)


CÂNTICO DE NATAL


Ó meu Menino Jesus, 
sede a minha esperança!
Que na gruta da vossa Belém 
eu possa renascer também
como uma outra criança!  

Ó meu Menino Jesus,  
sede minha santa alegria!
Que o meu presépio se faça 
banhando minha alma na graça
de uma pobre estrebaria!

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha força e minha fé!
Que a mãe que me vela agora
seja a mesma Nossa Senhora 
da família de Nazaré!

Ó meu Menino Jesus, 
sede farol e minha luz!
Que este Natal de abraços,
se faça caminho de passos
que passam diante da Cruz! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede a alma do meu viver!
Que este Natal me converta
em dom, partilha e oferta
para os que vão renascer!
E em dom, oferta e partilha,
onde ainda hoje não brilha
a luz do vosso nascer! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha paz e todo bem!
Que eu viva a bem aventurança 
de adorar Deus feito criança
numa gruta de Belém!

(Arcos de Pilares)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O NASCIMENTO DE JESUS

Maria sentiu um leve estremecimento no ventre. Estremecimento e não dor. Percebera-o nitidamente em meio ao movimento harmônico do trote do burrico pela estrada poeirenta. No recolhimento de sua oração profunda, sua mão busca tocar levemente o ventre como uma resposta imediata da Mãe ao sinal enviado pelo Filho: a longa preparação do Tempo dos Profetas há de ser realidade em breve naquele tempo da história e Deus feito homem vai nascer no mundo. É o primeiro sinal. Suave estremecimento, perceptível apenas por Maria, naquele momento da longa travessia que perpassa agora os campos abertos que levam mais adiante à Belém de todas as profecias.


José, puxando o burrico, olha para trás e se preocupa. O vento começa a soprar mais forte e mais frio e a jornada agora é mais lenta e penosa, nos declives mais acentuados da estrada que serpenteia pelo vale e pelos contrafortes de formações rochosas. E há muitas pessoas e alarido em torno deles. De tempos em tempos, são obrigados a parar e dar passagem a outros viajantes em marcha mais apressada ou para superarem com extremo cuidado os trechos mais íngremes. Quase todos os peregrinos têm o mesmo destino e o mesmo objetivo: apresentarem-se às autoridades em Belém e cumprirem as normas do novo recenseamento imposto pelas autoridades romanas. 

Em meio a um acontecimento regional e específico da história humana, está prestes a ocorrer o mais extraordinário evento da humanidade. Em meio ao burburinho e à agitação de toda aquela gente, Maria recebeu o primeiro sinal da manifestação da vinda do Messias prometido. Um murmúrio de humanidade no sagrado ventre consubstancia em definitivo o Mistério da Anunciação. Um leve estremecimento acaba de prenunciar o nascimento de Deus. 


As ruas estreitas se consomem de tanta gente. Há um cenário de mercado livre por toda a Belém daqueles dias. Eles acabaram de cumprir os registros formais do recenseamento e agora buscam ansiosamente uma pousada para o pernoite. Não é apenas o albergue principal da cidade que está com a lotação esgotada; as casas se transformaram em emaranhados de pessoas e utensílios, num entra e sai sem fim de gente ruidosa e apressada. Há o burburinho comum das crianças e o festim grotesco das ofertas gritadas e dos negócios de ocasião. No vaivém das ruas apinhadas e confusas, Maria e José buscam refúgio fora da cidade, além das casas mais ermas e mais afastadas. Aqui e ali ainda se veem acampamentos rústicos, improvisados, à guisa de refúgio de grupos mais ou menos numerosos. Além, mais além, as formações calcárias formam reintrâncias e cavernas, que muitas vezes são utilizadas como estrebarias pelos mercadores das grandes rotas até Jerusalém.

José leva o burrico na direção destas cavernas. Ele não sente no rosto o vento frio da tarde que se desvanece, nem o cansaço da longa jornada. Seu pensamento é todo, totalmente por Maria. A preocupação em encontrar um lugar digno para ela o consome por completo. A ânsia de dar descanso e refúgio a Maria tolhe todos os seus sentidos e atividades. A dimensão do mistério insondável o atordoa e o aniquila: a humanidade de José sente o peso incomensurável dos desígnios da Providência.

Passa adiante da primeira entrada, que não passa de um buraco estreito e irregular na rocha. A seguinte é pouco melhor do que isso. As demais mostram-se maiores e limpas, mas já estão todas ocupadas. As pessoas amontoam-se nos espaços exíguos em silêncio, homens na sua grande maioria, cercados por animais, feno e capim. São estrebarias que agora acomodam pessoas. José se inquieta ainda mais. Não há possibilidade aparente de privacidade para o nascimento de Jesus, não há lugar nenhum para um abrigo ainda que provisório. 

Avançado o paredão rochoso, José agora se depara com um cinturão de amendoeiras que margeiam o caminho adiante, que se abre, então, para campos e vales ao longe. Bem distante, na encosta suave do outro lado do vale, consegue divisar um pastor empurrando o seu rebanho. Nesse momento, sente os ombros dolorosamente pesados e seu andar vacilante. Seu olhar havia percorrido cada entrada rochosa e cada rosto humano em busca de recepção e de um gesto de boa vontade. E nada. Agora volve o seu olhar para Maria, como que pedindo perdão pela sua incapacidade e incerteza daquele momento. A humanidade inteira geme as suas ânsias pelo olhar desconsolado de José. 

Ao passar pela terceira gruta, Maria sentiu, como uma vibração percorrendo todo o seu corpo, o sopro do Espírito de Deus. Desde o primeiro sinal, recolhera-se, ainda com maior devoção, à oração de dar glórias ao Pai pelo que estava prestes a acontecer. Como serva da Anunciação, era agora a mesma serva como Mãe de Deus. E, nesse momento, pressentira o segundo sinal. A Divina Promessa iria dispensar a Redenção em breve à humanidade pecadora. Ao olhar para José, compreendendo a sua aflição e seu desapontamento, fitou-o com os olhos da perseverança e da fé inquebrantáveis e o brilho deste olhar emanava a própria luz de Deus.

Diante do olhar de Maria, a humanidade de José se detém e suas dúvidas se dissipam. Então, ele avança mais vinte, mais cinquenta metros, contorna as árvores e avista a gruta que emerge da continuação do maciço rochoso à esquerda. É e será sempre a visão do paraíso. Não é exatamente uma gruta, mas uma escavação que avança em profundidade na rocha e é protegida por uma murada frontal de pedras mal alinhadas, trançadas com restos de vigas de madeira, espalhados em desordenada profusão, que fecham de maneira irregular a entrada do lugar, protegendo-o dos ventos e das intempéries. Escondida, erma, isolada, bendita seja a gruta de Belém! 

Ela está suja, úmida, mal cuidada, mas não de todo desconhecida ou abandonada, porque um boi ali se encontra, com bastante feno e água. Há sujeira e palha solta em todos os lugares. Num canto, um arranjo de pedras enegrecidas indica o lugar de costume de se acender o fogo. Aliviado e feliz, José se consome nos arranjos práticos do refúgio improvisado. Ajuda Maria a entrar na gruta e se apressa a alimentá-la e a acomodá-la o melhor possível; dá feno e água ao burrico que é levado para junto do boi, monta um tablado de feno no chão, dispondo cuidadosamente os fardos; com paus e pedras, faz um arremedo de cercado em torno de Maria e o cobre com a sua manta grossa de viagem; empilha num canto os troncos e os pedaços de madeira espalhados; limpa as pedras e o chão com feixes de palhas e, com gravetos e pedaços de madeira seca, acende o fogo. A pequena luz se espalha pela escondida, erma, isolada, bendita gruta de Belém! 


O silêncio da gruta é quebrado apenas pelo crepitar das últimas chamas. O fogo aqueceu o espaço limitado e agora existe mais penumbra do que claridade. O fogo emoldura em repentes luminosos o rosto de José enquanto, pelas aberturas das muradas de pedras, o luar desenha feixes de luzes prateadas que cortam a escuridão que envolve toda a gruta. De repente, Maria põe-se de joelhos em contrita oração. Prostra-se com o rosto no chão e José percebe, apesar de toda a escuridão, o que está para acontecer. Coloca-se também de joelhos, também em fervorosa oração, louvando a Deus por ser testemunha e personagem de mistério tão extraordinário. Em muda expectativa, contempla o perfil de Maria apenas esboçado na escuridão da gruta.

A princípio, supõe ver os feixes de luar convergirem para o rosto de Maria ou auréolas de luz provenientes do fogo a envolverem completamente. Mas sabe que é muito mais que isso: uma luz, de claridade e brilho espantosos, nasce, emana e flui dela, enchendo a gruta de uma tal iridescência, que todas as coisas perdem a forma, o volume e a natureza material. Maria não se transfigura em luz, ela é a própria luz! O rosto de Maria é luz, as vestes de Maria são luz, as mãos de Maria são luz. Mas não é uma luz deste mundo, nem o brilho do cristal mais polido, nem o resplendor do diamante mais lapidado, nem a etérea luminosidade dos átomos em fissão; tudo isso seria uma mera pátina de luz. Maria torna-se um espelho do próprio Deus, da qual emana a luz do Céu!

José se transfigura neste redemoinho de luz sem ser a luz. Seus olhos puderam contemplar o terceiro e definitivo sinal da Natividade de Deus. E trêmulo, mudo, pasmado, contempla o recém-nascido acolhido entre os braços de Maria, recebendo o primeiro carinho e o primeiro beijo da Mãe Imaculada. Pressuroso e em êxtase, prepara a humilde manjedoura, o primeiro altar de Jesus na terra. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós!

(Adaptação livre do autor do blog sobre os eventos prévios ao nascimento de Jesus)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

'E O VERBO SE FEZ CARNE!'


O nascimento do Menino Jesus em Belém foi descrito detalhadamente pelos evangelistas São Mateus e São Lucas. E o que estes evangelistas nos falam sobre a origem de Jesus? São Mateus registra a longa genealogia do Salvador, começando por Abraão e terminando com Jacó, que 'gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo (Mt 1,16), e complementa que Maria, então desposada com José, 'concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1, 18). 

São Lucas não trata o nascimento de Jesus com uma genealogia, mas com a narrativa da Anunciação: 'No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria' (Lc 1, 26-27). O Anjo explica então a Maria a concepção do Salvador: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus' (Lc 1, 35).

São Marcos, por outro lado, não evoca este período da vida de Jesus, e começa o seu Evangelho com a pregação de João Batista. Por outro lado, se São João também não menciona os eventos relacionados ao nascimento do Salvador, ele inicia o seu Evangelho com o prólogo: Et Verbum caro factum est [e o Verbo se fez carne]São João, em vez de contemplar a geração terrena do Menino Jesus, convida-nos a contemplar a Trindade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus' (Jo 1,1). 

Desde toda a eternidade, o Pai que é Deus gera o Filho que é Deus. Ambos são, junto com o Espírito Santo, um único Deus. E São João traz os mistérios insondáveis à encarnação do Verbo: 'E o Verbo se fez carne e habitou entre nós' (Jo 1,14). O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Trindade, recebe em sua encarnação a natureza humana, unida e indissociável à sua natureza divina, que Ele retém do Pai desde toda a eternidade. 

Deus encarnado nos é dado como criança como graça de redenção e de salvação da humanidade, mistério de amor que, tendo por medida a Divina Vontade, é inconcebível e sem medida pela ótica humana. Aquele olhar de Jesus e de Maria, expressão absoluta da perplexidade humana diante os infinitos mistérios de Deus, perpassa a cada Natal diante os homens de todos os tempos: estamos prestes, mais uma vez, a contemplar Deus feito Homem no meio de nós!

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

'ONDE ESTÁ O PALÁCIO REAL?'


Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, a fim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do Céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo, uns pobres paninhos; para cama, um pouco de palha e para o colocar, uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repelidos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal, deparasse-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. 'Mas como?' responde São José; 'não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estrebaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz?' – 'Contudo é verdade', tornou Maria, 'que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus'.

Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do Céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? [Onde está o palácio (corte real), onde está o trono?]. 'Meu Deus', assim pergunta São Bernardo, 'onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do Céu, porquanto não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto'?

Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do Céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que, tenra e fervorosamente, amam esse amabilíssimo Senhor e que, abrasados em amor, o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!

II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo confunde o nosso orgulho e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: 'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração'. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.

É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso que sou!

Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que, para o futuro, aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó meu Jesus, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as gemas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. 

Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; daqui por diante, não quero buscar senão a vossa vontade e, por isso, Vos dou todo o meu coração. Possuí-o, e possuí-o para sempre, a fim de que eu seja sempre vosso e todo vosso. E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegrais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que, com confiança, possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano' - Tomo I, de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

'VOCÊ ME DEIXOU NO PURGATÓRIO!'

Nesta vida mortal, somos tangidos pelos julgamentos humanos, eivados de sentimentalismo e escapismos morais, e com uma tendência absurda de analisar, com especial condescendência, a vida de alguma pessoa falecida que amamos ou que conhecemos muito. Temos um julgamento profundamente equivocado da misericórdia e da justiça de Deus, como se uma pudesse excluir a outra. Criatura alguma que não esteja completamente imaculada de qualquer mísero pecado pode ficar de pé diante de Deus e, assim, somente as almas purificadas e livres de quaisquer pecados podem subir diretamente ao Céu. Em outras palavras, o Purgatório é uma realidade tremenda como fronteira final de nossas vidas no caminho da santidade. 

O trecho abaixo, compilado da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' do Pe. Giuseppe Tomaselli (1902 - 1989) é um eloquente testemunho destas verdades cristãs tão esquecidas. Antes de causar espanto e incredulidade - ou desânimo espiritual - pois não conhecemos (como o sacerdote achava conhecer) o que somente Deus sabia sobre os pecados de toda uma vida de uma velha senhora, estes fatos nos devem fazer zelosos e perseverantes na busca de uma santidade pessoal que, usando em abundância dos tesouros e indulgências da Santa Igreja, nos permita obter o perdão de todos os nossos pecados e, ao mesmo tempo, rezar em intenção dos nossos queridos irmãos falecidos, para que eles e nós possamos alcançar a glória eterna sem conhecer o Purgatório. Temos a certeza plena de que os nossos pecados (e as penas devido aos nossos pecados) foram perdoados? As nossas confissões foram boas ou más confissões? 

Neste sentido, lembrem-se de valorizar com especial devoção os tempos santos que estamos vivendo: esta semana é a semana mais santa de todas as semanas do ano. Revelações de vários santos asseguram que, mais do que em qualquer outra data, incluindo o próprio Dia de Todos os Santos, é na Noite de Natal que mais almas são libertas do Purgatório para a glória das moradas eternas! Na Noite de Natal, não esqueça das almas do Purgatório em suas orações.


'Em 3 de fevereiro de 1944, uma senhora muito idosa, com quase oitenta anos, morreu. Ela era a minha mãe. Pude contemplar o seu corpo na capela do cemitério, antes do enterro. Como sacerdote, pensei: 'Você, ó mulher, pelo que posso julgar, nunca violou gravemente um único mandamento de Deus'! E, em minha mente, revisei a vida dela.

Na realidade minha mãe foi um modelo de virtudes e devo a ela, em grande parte, a minha vocação sacerdotal. Todos os dias ia à missa, mesmo na velhice, e sua comunhão era diária. Nunca deixou de rezar o Rosário. Foi sempre caridosa ao extremo, principalmente com os mais pobres e profundamente conformada à vontade de Deus. Assim, quando diante do cadáver do meu pai exposto na nossa casa, perguntei: 'O que posso dizer a Jesus neste momento para agradá-lo?' Ela respondeu: 'Senhor, seja feita a Vossa Vontade!'

Em seu leito de morte, ela recebeu os últimos sacramentos com viva fé. Poucas horas antes de expirar, sofrendo demais, repetiu: 'Ó Jesus, gostaria de pedir-Vos que diminuísse os meus sofrimentos. Mas não quero me opor aos Vossos desejos; que se faça a Vossa Vontade!'... Foi assim que morreu aquela mulher que me trouxe ao mundo.

Baseando-me no conceito da realidade da Justiça Divina, prestando pouca atenção aos elogios que podiam fazer os conhecidos e os próprios sacerdotes, intensifiquei os sufrágios por sua alma. Ofereci a ela um grande número de Santas Missas e atos de caridade e, onde quer que pregasse, exortei os fieis a oferecerem comunhões, orações e boas obras no sufrágio da alma da minha mãe.

Pois bem, Deus permitiu que a minha mãe aparecesse para mim. Analisei a aparição e compartilhei a mesma com bons teólogos, e igualmente concluímos: 'Foi uma verdadeira aparição'! Minha mãe estava morta há dois anos e meio e, de repente, lá estava ela diante de mim, em forma humana. Ela aparentava estar muito triste e então me disse: 'Você me deixou no Purgatório!'

 - Quanto tempo você ficou no Purgatório?
 - Eu ainda estou aqui! Minha alma está rodeada de trevas e não consigo ver a Luz, que é Deus! Estou no limiar do Paraíso, perto das bem aventuranças eternas e anseio de agonia em entrar lá, mas não posso! Quantas vezes eu disse: 'Ah se meus filhos conhecessem o meu terrível tormento, como viriam em meu socorro'!
- E por que você não veio me avisar disso antes?
- Não estava em meu poder.
- Você ainda não viu o Senhor?
- Assim que morri, eu vi Deus, mas não em toda a sua luz.
- O que podemos fazer para libertá-la imediatamente?
- Eu só preciso de uma missa. Deus me permitiu vir aqui e lhe pedir isso a você.
- Assim que você entrar no Paraíso, volte aqui para me contar!
- Se o Senhor o permitir! Que Luz... Que esplendor!... e, em seguida, a visão desapareceu.

Foram celebradas então duas missas na intenção da sua alma e, um dia depois, ela reapareceu me dizendo: 'Entrei no Céu'! Diante destes fatos, me peguei dizendo a mim mesmo: 'Uma vida cristã exemplar, muitos sufrágios por sua alma... e dois anos e meio de Purgatório! Não é isso algo muito além do julgamento dos homens?'

(Excertos da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' [Nossos Mortos - Todos em Casa] de Dom Giuseppe Tomaselli).

domingo, 20 de dezembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor!' (Sl 88)

 20/12/2020 - Quarto Domingo do Advento

4. A ANUNCIAÇÃO

'Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!' (Lc 1, 28). A saudação do Anjo Gabriel é dirigida àquela que levou à perfeição nesta terra o amor de Deus. Cheia de graça Maria está desde a sua concepção, cheia de graça Maria passou cada momento de sua vida, cheia de graça Maria praticou cada ação ou pensamento nesta terra. Cheia de graça está Maria, portanto, diante a saudação do Anjo, como templo de santidade e da ciência infusa de todas as virtudes, dons e graças possíveis e imagináveis à natureza humana.

E Maria de todas as graças perturbou-se. As revelações do Anjo, provavelmente muito mais detalhadas que as palavras transcritas nos textos bíblicos, colocava Maria no centro de todas as profecias messiânicas que ela tanto conhecia e em nome das quais tantas orações e súplicas já teria feito a Deus. Num relance, percebeu a extraordinária manifestação daquela revelação angélica, que descortinava séculos de profecias, que inseria naquele lugar e naquele tempo a Natividade de Deus, que a tornava a co-redentora da humanidade, a bendita entre todas as mulheres, a Mãe de Deus: 'Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi' (Lc 1, 31 - 32).

E Maria de todas as graças perturbou-se. Diante do extraordinário mistério da graça e dos desígnios extremos da Providência, a Virgem de toda pureza e castidade e obra prima do Espírito Santo, se inquieta: 'Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?' (Lc 1, 34). A virgindade de Maria é o relicário de Deus. No imaculado corpo de Maria, o Espírito de Deus há de projetar a sua luz, cuja sombra faz nascer o Verbo encarnado. E o Anjo, mensageiro das coisas impossíveis e triviais para Deus, revela ainda a Maria a graça da gravidez tardia de Isabel, no 'sexto mês daquela que era considerada estéril' (Lc 1, 36).

E a Virgem de Nazaré, antes de ser a Mãe, oferece-se como serva e escrava do seu Senhor e do seu Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!' (Lc 1, 38). O Céu e a terra, as miríades dos anjos e dos homens de todos os tempos, hão de bendizer e louvar a glória daquele dia e a consumação daquele 'Fiat!' Sim, porque naquele momento, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro se fez, então, carne na carne de Maria e se fez carne a Nossa Salvação.

sábado, 19 de dezembro de 2020

ORAÇÃO: VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus, um dos mais belos hinos da Igreja, tem autoria atribuída a Rabanus Maurus (776-856), e é cantado especialmente na Festa de Pentecostes, bem como outras festividades solenes como Confirmação, ordenações sacerdotais, dedicação de uma Igreja ou na profissão de fé de Ordens Sagradas. Uma indulgência parcial é sempre concedida aos fieis que a recitam. A indulgência plenária é concedida ao fiel se o hino for recitado com devoção e publicamente no dia 1º de janeiro ou na festa de Pentecostes.


VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus,
mentes tuorum visita,
imple superna gratia,
quae tu creasti pectora.

Vinde, Espírito Criador,
tomai posse das almas vossas
infundi de graça celestial,
os corações que criastes.

Qui diceris Paraclitus,
altissimi donum Dei,
fons vivus, ignis, caritas,
et spiritalis unctio.

Vós que sois chamado Paráclito
o dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, fogo, caridade,
e unção espiritual.

Tu septiformis munere,
digitus paternae dexterae,
tu rite promissum Patris,
sermone ditans guttura.

Vós, presente dos sete dons,
o dedo da mão direita de Deus,
promessa solene do Pai,
para inspirar nossas palavras. 

Accende lumen sensibus;
infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis
virtute firmans perpeti.

Acendei a luz dos sentidos;
derramai o amor nos corações,
a fragilidade do nosso corpo
fortalecei com virtude perene.

Hostem repellas longius,
pacemque dones protinus;
ductore sic te praevio
vitemus omne noxium.

Repeli para longe o inimigo,
dai-nos a paz sem demoras;
que, assim guiados por Vós,
possamos evitar todo o mal.

Per te sciamus da Patrem,
noscamus atque Filium;
teque utriusque Spiritum
credamus omni tempore. Amen.

Por Vós, conhecendo o Pai,
nos é revelado o Filho;
e por ambos, e no mesmo espírito,
dai-nos acreditar sempre em Vós. Amém.