segunda-feira, 4 de setembro de 2017

POR QUE DEUS TOLERA OS HOMENS MAUS

Eu sou o Criador do Céu e da Terra. Perguntavas-te, esposa minha, porque sou tão paciente com os malvados. Isso se deve ao fato de que sou misericordioso. Minha justiça os aguenta e minha misericórdia os mantêm por uma tríplice razão. Em primeiro lugar, minha justiça os aguenta de forma que seu tempo se complete até o final. Poderias perguntar a um rei justo porque tem alguns prisioneiros aos quais não condena à morte e sua resposta seria: ‘Porque ainda não chegou o tempo da assembleia geral da corte na qual possam ser ouvidos e onde, aqueles que os ouvem, podem tomar maior consciência’. De forma parecida, eu tolero os malvados até que chegue seu tempo, de maneira que sua maldade possa ser conhecida por outros também. Já não previ a condenação de Saul muito antes que se desse a conhecer aos homens? O tolerei durante longo tempo para que sua maldade pudesse ser mostrada a outros. 

A segunda razão é que os malvados fazem alguns bons trabalhos pelos quais hão de ser compensados até o último centavo. Desta forma, nem o mínimo bem que tenham feito por mim ficará sem recompensa e, consequentemente, receberão seu salário na terra. Em terceiro lugar, os aguento para que se manifeste assim a glória e a paciência de Deus. É por isso que tolerei Pilatos, Herodes e Judas, apesar de que iam ser condenados. E se alguém perguntar por que tolero a tal ou qual pessoa que se lembrem de Judas e Pilatos. 

Minha misericórdia mantém os malvados também por uma tríplice razão. Primeiro, porque meu amor é enorme e o castigo é eterno e muito grande. Por isso, devido ao meu grande amor, os tolero até o último momento para retardar seu castigo o mais possível na extensa prolongação do tempo. Em segundo lugar, é para permitir que sua natureza seja consumida pelos vícios, pois experimentariam uma morte temporal mais amarga se tivessem uma constituição jovem. A juventude padece uma maior e mais amarga agonia na hora da morte. Em terceiro lugar, pela melhora das boas pessoas e a conversão de alguns dos maus. Quando as pessoas boas e retas são atormentadas pelos perversos, isso beneficia os bons e justos, pois lhes permite resistir ao pecado ou conseguir um maior mérito. 

Igualmente, os maus, às vezes, tem um efeito positivo nas outras pessoas perversas. Quando esses últimos refletem sobre a queda e maldade dos primeiros, dizem a si mesmos: ‘De que nos serve seguir seus passos?’ E: ‘Se o Senhor é tão paciente, será melhor que nos arrependamos’. Desta forma, às vezes voltam a mim porque temem fazer o que fazem os outros e, além disso, sua consciência lhes diz que não devem fazer esse tipo de coisas. Dizem que, se uma pessoa foi picada por um escorpião, pode-se curá-la quando se a unte com azeite no qual haja outro escorpião morto. De forma parecida, às vezes uma pessoa malvada que vê a outra cair pode ver-se atingida pelo remorso e curada, ao refletir sobre a maldade e vaidade do outro.

(Das Revelações de Santa Brígida)

domingo, 3 de setembro de 2017

'TOME A SUA CRUZ E ME SIGA'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus, a caminho da Cesareia de Felipe, vai fazer aos seu apóstolos neste dia, de forma explícita, o primeiro anúncio de sua Paixão e Ressurreição, que consubstanciarão os eventos culminantes de sua missão salvífica. Missão que Ele vai cumprir até o fim, até a plena consumação das grandes profecias, o Verbo encarnado entregue como cordeiro à morte de cruz, entre dois ladrões, para a redenção da humanidade pecadora.

Diante dos desígnios da Providência, irrompe as emoções e julgamentos humanos. Pedro, a mesma pedra que antes recebera a proclamação como fundamento da Igreja, vacila agora diante da incompreensão dos tributos extraordinários de Deus feito homem. Vacila e se confunde na fé, moldada apenas pelos rudimentos de sua vontade humana e que se recusa a aceitar as reverberações das palavras de Jesus, que acabara de revelar aos discípulos que iria 'sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Mt 16, 21).

Jesus vai repreendê-lo duramente em seguida, nomeando-o como 'satanás' e como 'pedra de tropeço', designações que o tornam adversário das coisas do Alto, por limitar aos ditames da lógica humana os inescrutáveis desígnios da mente divina, por não pensar 'as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!' (Mt 16, 23). De agora em diante, e com singular devoção, Jesus vai preparar os seus discípulos, e especialmente a Pedro, para os tempos já tão próximos de sua Paixão, Morte de Cruz e Ressurreição e também para o chamamento ao sacrifício e martírio de tantos.

No caminho da santidade, Deus não nos pede um pouco, ou quase tudo, pois cumprir a Vontade de Deus exige de nós a completa e absoluta disposição da alma. Não há meios termos, nem concessões de menos. Deus quer e espera tudo de nós, toda a nossa vida, todo o nosso tempo, toda palavra, pensamento e ação: 'Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? ' (Mt 16, 24 - 26). E ao perguntar: 'O que poderá alguém dar em troca de sua vida?' (Mt 16, 26), responde com a promessa da verdadeira vida e da verdadeira felicidade no Céu, que hão de nos acompanhar como eleitos da graça nas planuras eternas da Casa do Pai.

sábado, 2 de setembro de 2017

EXERCÍCIOS DO AMOR DIVINO A JESUS (Parte I)

34 exercícios de amor a Jesus, propostos por São João Eudes, em honra e devoção aos 34 anos de sua vida; um ano no ventre de Maria e 33 de sua vida nesta terra.


Entre os deveres e os exercícios de um verdadeiro cristão, o mais nobre e santo, que Deus nos pede antes de todos os demais, é o exercício do amor divino. É por isso que, ao fazer seus exercícios de piedade e outras ações, você deve declarar ao Nosso Senhor que não deseja fazê-los por temor do inferno, nem pelos prêmios do paraíso, nem para obter méritos, nem para buscar satisfação e consolo, mas tão somente para agradá-lO por sua glória e por seu puro amor.

E como você deve exercitar-se muitas vezes nas considerações e atos deste amor divino, proponho aqui trinta e quatro exercícios em honra aos trinta e quatro anos da vida cheia de amor de Jesus na Terra. Você pode servir-se deles a qualquer tempo, mas especialmente no dia do retiro mensal ou em qualquer outro momento especialmente escolhido para dedicar-se, com plena consciência, a essa divina ocupação. Ela é a mais digna e santa atividade dos anjos e dos santos e do próprio Deus, que nela consome os infinitos espaços da eternidade.

PARTE I

1. Jesus, meu Senhor! Me basta saber que Vós sois infinitamente digno de amor. Por que precisaria eu de mais ciência, luzes e quaisquer outras considerações? Para mim basta saber que Vós sois digno de todo amor e que não há nada em Vós que não mereça amor infinito. Que meu espírito se alegre com este conhecimento, e que meu coração nunca fique saciado de amar Aquele que jamais poderia ser suficientemente amado.

2. Eu sei muito bem, meu Salvador, que meu coração mesquinho e imperfeito não é digno de Vos amar. Mas Vós sois digno de ser amado em plenitude e criastes esse pobre coração apenas para Vos amar. Mais ainda, Vós o assim ordenais, sob pena de morte eterna, que ele Vos ame. Mas isso não é necessário, meu Deus, que me mandes amar-Vos porque é isso precisamente o que eu quero, o que eu busco e pelo que aspira o meu coração. Desejo ardentemente amar-Vos e não anseio nenhum outro anelo. Longe de mim ter outro pensamento, outra inclinação, outra vontade. Uma coisa somente eu quero: amar a Jesus, que é o amor e as bem aventuranças do céu e da terra.

3. Com certeza, Jesus, eu quero Vos amar, mas não apenas com todo o poder da minha vontade, frágil vontade, mas com as infinitas forças da Vossa divina vontade, que também é minha, posto que me foi dada por Vós. Quero Vos amar também com as vontades de todos os homens e também dos anjos, as quais também me pertencem, pois, ao Vos entregar por mim, Vós me legastes tudo. Quisera Deus me permitir sentir vontade, aspirar, buscar e ansiar ardorosamente o desejo de Vos amar sempre e cada vez mais.

4. Escutai a minha súplica, ó Jesus, anseio da minha alma: ouvi as aspirações do meu coração e tende piedade de mim. Sabeis bem, Senhor, o que eu Vos quero pedir pois Vos tenho manifestado isso muitas vezes! Somente Vos peço a perfeição em Vosso santo amor. Nada mais quero a não ser Vos amar e crescer sempre neste propósito que me pedes de Vos amar; que o meu amor seja tão fervoroso e perseverante que viva somente da ânsia de Vos amar sempre mais.

5. Incensai em mim, Jesus Amabilíssimo, uma sede tão ardente e uma fome tão extrema do Vosso santo amor, que me pareça um martírio permanente não Vos amar o suficiente e que nada me prostre mais nesse mundo do que me parecer que Vos amo demasiado pouco.

6. Quem não gostaria de Vos amar, ó bom Jesus? Quem não gostaria de amar cada dia mais tal Bondade tão digna de amor? Meu Deus, minha vida e meu tudo: nunca me cansarei de Vos dizer que eu Vos desejo amar de modo tão perfeito e com tanta ânsia que, se fosse possível, eu gostaria que o meu espírito se convertesse todo em anelo, minha alma em desejo, meu coração em vontade e toda a minha vida na ânsia de Vos amar.

7. Senhor do meu coração, tende piedade da minha miséria. Vós sabeis o quanto Vos queria amar, mas há tantas coisas em mim que se opõem ao meu amor por Vós: a legião dos meus pecados, minha própria vontade, minha auto estima, meu orgulho e outros tantos vícios e imperfeições que me impedem de Vos amar com perfeição! Eu quero dispor todas estas coisas que comprometem o meu desejo de Vos amar! Quero me colocar de prontidão para sofrer tudo para eliminá-las. Senhor, se eu pudesse me reduzir em pedaços, poeira e cinzas e me aniquilar completamente para destruir em mim tudo o que é contrário ao Vosso amor, eu o faria com prazer, por Vossa graça. Mas preciso de Vossa intervenção, meu Salvador. Manifestai o poder do Vosso braço e destruí em mim todos os inimigos do Vosso amor.

8. Não há nada em Vós, ó meu Jesus, que não seja amor, e todo amor por mim. Também eu deveria ser todo amor por Vós. Porém, nada há em mim, que seja meu, no meu corpo e no meu espírito, que não esteja contra o Vosso amor. O que eu posso fazer para me sustentar? Onde estais, amor divino? Onde está o Vosso poder? Onde está a força do Vosso braço? Se sois um fogo devorador, onde estão Vossas chamas celestiais? Por que não me consumis, se tudo que sou é contrário a Vós? Por que não aniquilais completamente em mim esta vida má e pecaminosa e estabelece em seu lugar a Vossa vida santa e divina?

(versão para o português do autor do blog)

PRIMEIRO SÁBADO DE SETEMBRO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A CONVERSÃO QUE NÃO VAI CHEGAR NUNCA

I. Não morre como justo senão quem vive como justo

Preciosa é a morte do justo! Morre Estêvão, primeiro dos mártires, cheio do Espírito Santo; e vê os Céus abertos e Jesus sentado à direita de Deus. Morre com a alegria mais serena no espírito: 'Senhor Jesus, recebei o meu espírito'. 

Quem é que não deseja ter a morte dos justos? 'Que eu morra da morte dos justos' (Nm 23, 10), disse até aquele que depois morreu como ímpio. E, todavia dizem, e desejam incessantemente morrer como justos aqueles que porém querem viver como ímpios. Mas é vão este seu desejo: 'o desejo dos ímpios perecerá' (Sl 111, 10). Não morre como justo senão quem vive como justo. Não morre como santo senão quem vive como santo. Quem vive mal, morre mal; quem vive em pecado morre em pecado.

Sei o que me quererei opor, ó pecadores: que espereis morrer bem embora agora vivais mal, porque quereis converter-vos no momento da morte. Vãs esperanças; na morte vós não vos convertereis. Vós podeis morrer repentinamente, como em nossos dias muitos morrem. Mas eu quero que vós tenhais todo o tempo. E não obstante, vos provo que não vos convertereis. Tenhais toda a oportunidade de sacerdotes entendidos que vos ajudam; vós não vos convertereis.

II. Quem não quer converter-se agora não se converterá nem mesmo nas últimas

E por primeiro vós não vos convertereis, porque não quereis converter-vos. Parecerá talvez a vós que desde o princípio eu saia do caminho tendo de falar com tais pecadores que querem converter-se na hora da morte. Sei muito bem que vós quereis converter-vos então; mas sei ainda que vós não quereis converter-vos agora. Portanto eu deduzo: não quereis usar bem do tempo nem mesmo nos extremos.

Quem não conhece a força prodigiosa dos hábitos, radicados profundamente para inclinar e arrastar irreversivelmente a vontade aos atos convenientes a ele? Vós, resistindo agora aos convites da graça tão frequentes, aliás, contínuos, habituais o vosso coração a uma dureza, que multiplicada por alguns dias, e agravada incomensuravelmente por tantos anos, no momento da morte se encontrará ter chegado a um grau de aumento realmente monstruoso; de modo que se agora o vosso coração é duro, então será duríssimo. Como pois o quereis romper, como dobrar, como amolecer?

Não é esta simples conjectura, quando o Espírito Santo ajuntar sua sentença. É verdade irrefutável: 'O coração empedernido acabará por ser infeliz' (Eclo 3, 27). Um coração duro, como usa mal do tempo agora, assim o usará mal também. Continuará na sua obstinação, na sua dureza: 'acabará por ser infeliz'. Atingido por tantas dores, por tantas angústias, por tantas tribulações, poderá sim blasfemar; humilhar-se, compungir-se, converter-se, não. 'Acabará por ser infeliz': fará mal até o último instante.

Quantos não morreram em nossos dias como cães! Não são conjecturas estas, são fatos. Não são fatos acontecidos somente no passado; neste tempo tão depravado, veem-se acontecer quase diariamente. Batidos, afligidos, angustiados pelos males - diz a Escritura - estrebucham, retorcem-se horrivelmente mais que mares agitados; e longe de fazer penitência para dar glória a Deus, blasfemam o Altíssimo que com tanto poder os flagela. 'E blasfemaram o nome do Deus Todo-Poderoso sobre estas pragas, e não fizeram penitência para dar-lhe glória e 'E comem sua língua pelas dores'. E tornam a blasfemar o Deus do céu. 'E blasfemaram o Deus do céu pelas suas dores e feridas'. Não se convencem nem mesmo nas últimas, de arrepender-se de tanta iniquidade; 'e não fizeram penitência pelas suas obras' (Ap 16, 9-11).

III. No momento da morte não podereis converter-vos porque não estais em condições de fazê-lo.

Mas vamos! Quero a todo custo o vosso bem. Tendes não só todo o tempo e toda oportunidade, mas mais ainda, todo o desejo de converter-se, como desejais tê-lo então? Será vã a vossa vontade, porque então não podereis. Como? Oh! Deus! Você então nos desespera? Não; antes quero que previnais o perigo de desesperar-vos não deixando para aquele momento a vossa conversão, mas fazendo logo, aquilo que não podereis então.

De fato, dizei-me, por favor: se uma dor de cabeça, uma dor de dentes, que depois de alguns dias passa, vos abate e vos ocupa a mente que não podeis pensar em outra coisa, nem fazer algo senão sentir vosso desgosto e padecer; que farão as dores e os espasmos da morte? Com as forças exauridas, nada, com o corpo arruinado, se não podeis ser aptos à menos ação, como o sereis à maior cheia de enormes dificuldades que é converter-se num momento de uma vida má e acostumada durante tantos anos ao mal? Se os próprios bons, quando a doença se agrava, se encontram incapazes, e são acostumados sempre a orar, a fazer atos de contrição, de esperança, de amor; e apesar disso sentem então grande dificuldade; como não a sentirão maior e insuperáveis os pecadores, habituados sempre ao mal e sem nenhum exercício ao bem?

A fantasia agitada, escurecida, estranhamente alterada, não apresentará ao intelecto senão imagens de terror, fantasmas de confusão, visões medrosas de objetos estragados e desfigurados. A apreensão do juízo iminente e da eternidade próxima, os atrocíssimos remorsos de consciência que farão ver o pecado muito diferente daquele que parecia durante a vida; porque aqui se via quase como um cãozinho festivo que se acaricia nos braços, e lá aparecerá como uma enorme serpente ou como um dragão poderosíssimo e venenoso.

O demônio que andará à roda com grandíssima raiva para devorar, como diz São Pedro (1Pd 5, 8-9), duplicará suas tentações, apertará o cerco, se esforçará com os assaltos para fazer desesperar; farão chegar aos últimos degraus o temor, o espanto, a consternação. O temor, quando é moderado - diz São Tomás - torna os homens solícitos para consultar e agir; mas quando se torna excessivo, tolhe de fato não só a ação, mas também o pensamento (São Tomás, I - II, q. 44, a. 4 c.). Imaginai o que fará então aquele temor que é levado ao mais alto grau, isto é, à agonia.

IV. Exemplo

Ouvi da própria boca do Pontífice São Gregório Magno um fato horrível de ser ouvido, acontecido na sua época, não só, mas em Roma, debaixo dos seus olhos, no seu próprio mosteiro, poucos anos antes que ele o narrasse ao povo romano em uma homilia, e o tornasse conhecido a todo o mundo cristão registrando-o nos seus Diálogos. Assim diz o Santo: 

'Houve um certo Teodoro, jovem muito inquieto, que mais por necessidade que por vontade veio seguindo um seu irmão ao meu mosteiro. Ele afirmava com juramento, com raiva, com escárnio que por si não chegaria jamais ao hábito da santa conversação. Agora no meio daquela pestilência que logo consumiu uma grande parte da população desta cidade, atingido pelo mal ele mesmo, chegou à morte. E estando para dar o último suspiro, reuniram-se os irmãos para proteger com a oração o seu pensamento. Nas extremidades do corpo já estava morto; somente no peito ainda continuava o desejo de calor vital. Começaram, portanto, os irmãos a reforçar as preces, quando já o viam partir a qualquer momento. 

De repente começou ele a gritar aos confrades assistentes e a interromper com grandes gritos suas orações dizendo: 'ide embora, ide embora daqui. Eis que eu fui dado para ser devorado por um dragão, que não acaba de devorar-me. Já absorveu minha cabeça na sua boca. Que se faça logo, para que eu não sofra mais aquilo que se é para fazer. Se fui entregue a ele, que me devore; porque vós me fazeis sofrer demora tão amarga?'

Então os irmãos começaram a dizer-lhe: 'Irmão, o que é isto? Faça o sinal da Santa Cruz. Mas ele respondia com gritos agudos: 'Sim eu quero persignar-me, mas não posso. As escamas deste dragão me oprime, não posso, não posso'. Oh! Deus! Pecador, pecadora, que estais aqui para ouvir estas coisas e outras acontecidas, cuidai, cuidai. Que não aconteçam para vós, que tenhais que gritar por desespero: 'Não posso, não posso!' E certamente vos acontecerá não poder então, se agora, quando podeis, não quereis.

V. Aquele que não quis fazer bem quando podia, não encontrará possibilidade de fazê-lo quando quiser

Mas concedamos por último que vós, tendo todos os sentidos livres, possais também valer-vos dos auxílios que Deus possa dar-vos naqueles extremos instantes para converter-vos. O mais terrível, será se vós não o tiverdes; e se os tiverdes suficientes, não os tereis eficazes, porque Deus não vo-los fará; e por isso não vos convertereis.

Deus mesmo protesta não querer dá-los a vós. 'Eu vos chamei' - diz Ele - 'tantas vezes nesta vida e vós não me quisestes responder' (Jr 7, 13). Eu vos procuro e vos persigo amorosamente com a minha graça; e vós fugis sempre mais longe. Pois bem virá o tempo, virá a morte. 'Procurar-me-eis; naquele momento procurareis a mim; e não me encontrareis' (Jo 7 34, 36), 'morrereis no vosso pecado' (Id 8, 21). 'Levantem-se para dar-vos auxílio e defender-vos aqueles amigos que para agradá-los não duvidastes ofender-me. Levantem-se para proteger-vos aquelas criaturas em que colocastes o vosso afeto, vossas esperanças, vosso coração, tirando-o ingratamente de mim que o pedia: Levantem-se para vos socorrer (Dt 32, 38). Eu fecharei meus ouvidos aos vossos clamores; não mais me deixarei encontrar naquele dia; encherei o meu templo de fumaça pela majestade e pelo poder da minha justiça, a fim de que nenhum santo possa ir e interceder por vós até que não seja consumada a minha vingança' (Ap 15, 8).

Mas então o senhor não é misericordioso? Sim, irmãos, mas Ele é também justo. Como misericordioso vos procura, vos espera, vos promete perdão agora; como justo fugirá de vós, vos repelirá, vingar-se-á até a morte de um abuso tão longo que vós fizestes das suas misericórdias. Como misericordioso vos faz exortar agora: 'porque não se alegra com a perdição dos ímpios, nem quer a morte do pecador, mas que se converta e viva' (Ez 33, 11).

Como justo vos deixará abandonados ao vosso desespero, ou endurecidos na vossa cegueira ir até a perdição e morrer eternamente, porque se compraz da sua justiça: 'Porque o Senhor é justo e ama a justiça' (Sl 10, 18). Como antes pela sua misericórdia, alegrou-se o Senhor sobre vós fazendo-vos o bem e multiplicando sobre vós suas graças; assim pela sua justiça se alegrará em perder-vos, em destruir-vos para tirar-vos de fato da posse daquela terra feliz de alegria e de repouso eterno, em que, estando com os pés na soleira, vos confiareis em vão colocar os pés. Concluo com Santo Agostinho: 'Esta pena é justíssima com aquele que não quis fazer o bem quando podia, não encontre mais possibilidade de fazê-lo quando quiser'.

VI. Apressar a conversão

Se vã é a ilusão de morrer bem para o pecador que não quer converter-se logo enquanto está são e tem todos os meios oportunos, daí segue que vós não deveis deixar escapar da mão a ocasião favorável destes dias de graça e de reconciliação, para colocar vossa alma na amizade com Deus, e assegurar a vossa salvação. Portanto entendereis porque eu quis entristecer-vos com um arrazoado sobre a morte; porque eu olhei mais ao útil, antes à necessidade de alguns, que ao agrado, embora santo, de muitos e à minha própria inclinação. 

O que adianta, irmãos caríssimos, que vos digamos coisas bonitas se muitos de vós permaneçam em pecado mortal? E perseverem nas suas práticas? Nas suas dissoluções? Nas suas iniquidades? Vêm à igreja e à pregação pecadores, e depois voltam a pecar. Vêm às santas solenidades com pecado na alma e com ele continuam depois. Oh! Deus! E depois querem fazer uma boa morte? Engano, presunção, audácia detestável.

Ah! irmãos, acolhei esta luz que vos deram minhas palavras, e que eu por vós implore do nosso Pai que está nos céus com toda a instância do meu coração. Levantai-vos das trevas! 'Levantai-vos do sono agora que está próxima a vossa salvação' (Rm 13, 11). Não percais tempo. Chorai, parti o vosso coração endurecido com uma salutar contrição. Resolvei mudar estavelmente de vida, mas logo, neste mesmo instante. Confessai vosso pecado; mas o mais depressa! Empreendei, fugi da má morte, já próxima de vós de modo que começa a cobrir-vos com a sua sombra; assegurai-vos antes que consiga colocar sobre vós suas gélidas mãos. Pois então não tereis mais salvação; mas perecerão eternamente convosco todos os vossos bons desejos jamais conseguidos, por vossa culpa, com efeito.

(Excertos da obra 'Páginas de Vida Cristã', do Pe. Gaspar Bertoni)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

TESTEMUNHAS DE FÁTIMA: A DATA DA REVELAÇÃO

O SEGREDO DEVE SER REVELADO EM 1960!

Cônego Galamba: 'Quando o bispo recusou-se a abrir a carta, Lúcia fê-lo prometer que seria aberta definitivamente e lida ao mundo após a sua morte ou em 1960, o que ocorresse primeiro' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46-47).

John Haffert: 'Na casa do bispo (em Leiria), à mesa, sentei-me à sua direita, com os quatro cônegos. Durante essa primeira cena, o cônego José Galamba de Oliveira dirigiu-se a mim quando o bispo saiu do quarto por um momento e me perguntou: ‘Por que não dizes ao bispo para abrir o Segredo?’ Cuidando de não mostrar minha ignorância acerca de Fátima ― que naquela época era quase completa ― simplesmente olhei para ele sem expressão. Ele continuou: ‘O bispo pode abrir o Segredo. Ele não necessita esperar até 1960’ (Dear Bishop!, John Haffer, AMI 1981, p. 3-4).

Cardeal Cerejeira: Em fevereiro de 1960, o patriarca de Lisboa relatou as instruções que o bispo de Leiria 'lhe havia dado' sobre o assunto do Terceiro Segredo: 'O bispo da Silva fechou (o envelope lacrado por Lúcia) dentro de outro envelope sobre o qual indicava que a carta teria de ser aberta em 1960 pelo mesmo bispo José Correia da Silva, caso ele ainda estivesse vivo, e em caso contrário, pelo patriarca cardeal de Lisboa' (Novidades, 24 de fevereiro de 1960, citado por La Documentation Catholique, 19 de Junho de 1960, col. 751).

Cônego Barthas: Durante a sua conversa com a Irmã Lúcia entre 17 e 18 de outubro de 1946, ele teve a oportunidade de perguntar-lhe sobre o Terceiro Segredo. Ele escreve: 'Quando nos será revelada a terceira parte do segredo?' Já em 1946, responderam-me de maneira uniforme ― Lúcia e o bispo de Leiria ― a esta pergunta, sem duvidar e sem comentário: 'Em 1960'. E quando levei a minha audácia tão longe ao ponto de perguntar sobre o porquê de ser necessário esperar até lá, a única resposta que recebi de ambos foi: 'Porque a Santíssima Virgem deseja que assim o seja'. (Barthas - Fátima, merveille du XXe siecle, p. 83, Fatima-editions, 1952).

Armstrongs: Em 14 de maio de 1953, Lúcia recebeu uma visita dos Armstrongs, que puderam fazer-lhe perguntas sobre o Terceiro Segredo. No seu relato, publicado em 1955, eles confirmaram que o Terceiro Segredo 'teria de ser aberto e divulgado em 1960' (A. O. Armstrong, Fátima, peregrinação à paz, Ed. inglesa, The World’s Work, Kingswood, Surrey, 1955).

Cardeal Ottaviani: Em 17 de maio de 1955, o cardeal Ottaviani, pró-prefeito do Santo Ofício, visitou as carmelitas de Santa Teresa em Coimbra. Ele interrogou a Irmã Lúcia sobre o Terceiro Segredo; e em sua conferência de 1967 recordou: 'A mensagem não deveria ser aberta antes de 1960. Eu perguntei à Irmã Lúcia: Por que esta data? Ela respondeu: Porque será mais claro nessa altura' (La Documentation Catholique, 19 de março de 1967, col. 542).

Padre Joaquim Alonso, arquivista oficial de Fátima: 'Outros bispos também falaram ― e com autoridade ― sobre o ano 1960 como sendo a data indicada para abrir a famosa carta. Assim que, quando então o bispo titular de Tiava e bispo auxiliar de Lisboa perguntou a Lúcia quando deveria ser aberto o Segredo, foi-lhe dada sempre a mesma resposta: em 1960' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46).

Padre Joaquim Alonso: 'Quando Dom José, o primeiro bispo de Leiria, e a Irmã Lúcia acordaram que a carta deveria ser aberta em 1960, eles quiseram obviamente dizer que o seu conteúdo deveria ser tornado público para o bem da Igreja e do mundo' (ibid., p. 54).

Bispo Venâncio: 'Eu penso que a carta não será aberta antes de 1960. A Irmã Lúcia pediu que não fosse aberta antes da sua morte, ou antes de 1960. Estamos já em 1959 e a Irmã Lúcia goza de boa saúde' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46).

Padre Fuentes: Em 26 de dezembro de 1957, o Padre Fuentes entrevistou a Irmã Lúcia, que lhe disse: 'Padre, a Santíssima Virgem está muito triste, porque ninguém faz caso da sua Mensagem, nem os bons nem os maus. Os bons continuam os seus caminhos, mas sem dar importância alguma à sua Mensagem… Não posso detalhar mais, uma vez que é ainda um segredo. Por vontade da Santíssima Virgem, só pode ser conhecido pelo Santo Padre e pelo Senhor Bispo de Fátima – mas nem um nem outro o quiseram ler, para não se deixarem influenciar. Esta é a parte da mensagem [do Terceiro Segredo] da Nossa Senhora que irá permanecer em segredo até 1960'. (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 103-104).

F. Stein: 'Os testemunhos que têm anunciado a revelação do Segredo para 1960 são de peso tal e tão numerosos que, em nossa opinião, mesmo que as autoridades eclesiásticas de Fátima [em 1959, os próprios estudiosos do assunto estavam ainda na ignorância de que Roma havia pedido ao bispo de Leiria que lhes enviasse o segredo] não se resolvam a publicar o segredo em 1960, eles ver-se-ão forçados a fazê-lo pelas circunstâncias'. (Mensagem de Fátima, julho - agosto, 1959).

Padre Dias Coelho: '… nós podemos servirmo-nos, como um fato inquestionável, desta afirmação do Dr. Galamba de Oliveira (em 1953) em Fátima, Altar do Mundo: A terceira parte do Segredo foi lacrada nas mãos de Sua Excelência, o bispo de Leiria, e será aberta, ou depois da morte da vidente, ou no mais tardar em 1960' (L'Homme Nouveau, no. 269, 22 de novembro de 1959).