Do Livro das Cintilações*- V
XXXI - A correção
142. Disse Isidoro: Os justos aceitam de modo salutar a repreensão pelos seus desvios (Sent., III, 32; PL 83, 704).
143. Disse Isidoro: Aquele que não se emenda com palavras brandas deve ser repreendido com severidade. Deve-se amputar com dor os membros que não se curam com tratamento suave (Sent., III, 46, 11; PL 83, 716).
XXXII - Os que governam e ensinam
144. Disse Agostinho: Quem manda não se julgue investido do poder para dominar, mas, do amor, para servir (Regula ad servos Dei 7; PL 32, 1381).
145. Disse Jerônimo: Ao falar de Deus, deves adequar o discurso de modo a nutrir ouvintes diversos: que cada um receba o alimento de modo proporcionado ao seu estômago (In Mt. 13,31).
146. Disse Jerônimo: O dever dos doutores é estender a mão a quem caiu e mostrar o caminho a quem se desviou (In Io. 4, 10; PL 25, 1151).
147. Disse Jerônimo: O orador sábio procura, em seus discursos, atingir a muitos com poucas palavras (Cod. Paris, B. N., Nouv. acq. lat. 446, f. 16).
148. Disse Jerônimo: O discurso do sacerdote deve estar temperado com o sal das Sagradas Escrituras (Ep. 52, 8, 1; PL 22, 534).
149. Disse Jerônimo: Quando se prega na igreja, deve-se despertar não o clamor, mas a contrição: que as lágrimas dos ouvintes sejam seu louvor (Hilberg I, 428, 16).
150. Disse Jerônimo: A alma da arte de ensinar é o exemplo (Ep. 69, 8, 7; PL 22, 662).
151. Disse Gregório: Quem não tem amor pelos outros não deve, de modo algum, dedicar-se ao ensino (Hom. Ev., 17, 1; PL 76, 1139).
152. Disse Gregório: Maior o cargo, maior o perigo.
153. Disse Isidoro: Não deve ser promovido a cargos de governo na Igreja quem ainda está sujeito aos vícios (Sent., III, 34; PL 83, 706).
XXXIII - A fé
154. Disse Agostinho: Para aqueles que creem, a noite torna-se dia; para os que não têm fé, a própria luz torna-se treva. A fé tem tal poder que faz os homens andarem a pé sobre as águas.
155. Disse Agostinho: Grande é a fé, mas de nada serve se não tiver amor (In Ioh. Ev. Vi, 21).
156. Disse Gregório: De que vale estarmos unidos a nosso Redentor pela fé, se nossa conduta nos afasta dele? (Hom. Ev. 26, 9; PL 76, 1202)
XXXIV - A esperança
157. Disse Tiago Apóstolo: Aquele que duvida é semelhante à onda do mar que o vento agita e leva para lá e para cá (Tg 1,6).
XXXV - Os dons
158. Disse Gregório: O bem que recebemos na tranquilidade manifesta-se na tribulação (Moral. Praefatio; PL 75, 519).
159. Disse Gregório: Há alguns que receberam o dom da inteligência, mas têm sensibilidade somente para as coisas da carne (Hom. Ev., 9, 1; PL 76, 1107).
160. Disse Isidoro: Embora pequemos, Deus não nos retira seus dons, a fim de que o espírito humano se alce à esperança do perdão divino (Sent., II, 5, 1; PL 83, 604).
161. Disse Isidoro: DEle procedem, junto com a graça, todos os bens (Sent., II, 5, 2).
XXXVI - A discórdia
162. Disse Gregório: Deus é a unidade e merecem a sua graça os que não se separam uns dos outros por seitas escandalosas (Hom. Ev., 22, 4; PL 76, 1176).
163. Disse Gregório: Que sacrifício de misericórdia pode oferecer quem está em discórdia com seu próximo?
XXXVII - O juramento
164. Disse o Senhor no Evangelho: Ouvistes o que foi dito aos antigos: 'Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor'; eu, porém, vos digo: 'Não jureis em absoluto, nem pelo céu, nem pela terra' (Mt 5,33-34).
165. Disse Isidoro: Jurar não é contrário à ordem de Deus, mas, jurando, corremos o risco do perjúrio. E assim, não jure nunca aquele que teme o perjúrio (Sent., II, 31, 2; PL 83, 633).
166. Disse Isidoro: Na maior parte das vezes, dispomo-nos a falar sem recorrer a juramento, mas a incredulidade dos que não creem no que dizemos leva-nos a jurar (Sent., II, 31, 6).
XXXVIII - O pensamento
167. Disse Gregório: A vontade não disciplinada nos pensamentos passa a imperar, também, na ação.
168. Disse Gregório: Tudo o que um tanto inadvertidamente cogitamos está, por assim dizer, sendo cozinhado no espírito (Hom. Ev., 22, 8; PL 76, 1179).
169. Disse Isidoro: Dupla é a causa do pecado: de ação e de pensamento; a que se chama iniquidade realiza-se pela ação; a outra, a injustiça, pelo pensamento (Sent., II, 25, 1).
XXXIX - A mentira
170. Disse Isidoro: O mentiroso começa sempre por dizer a verdade para, uma vez adquirida a confiança, tornar seus ouvintes propensos a acreditar em suas mentiras (Sent., II, 30, 2).
171. Disse Isidoro: Para muitos, o que é falso parece verdade porque falam, não a partir de Deus, mas de seu falso ponto de vista (Sent., II, 30, 3; PL 83, 632).
XL - Os monges
172. Disse Paulo Apóstolo: Todos aqueles que se dedicam à luta, de tudo se abstém: eles, para alcançar uma coroa perecível; nós, imperecível (I Cor 9,25).
173. Disse Jerônimo: O monge deve desejar especialmente a solidão e fugir das cidades (Ep. 46, 12, 2).
174. Disse Gregório: Monge que busca haveres não é monge (Dialog., 3, 14).
* (Liber Scintillarum, escrito por volta do ano 700, constitui uma coletânea de máximas e sentenças compiladas das Sagradas Escrituras ou proclamadas pelos Pais da Igreja, organizadas por um monge - que se autodenomina 'Defensor' - do Mosteiro de São Martinho de Ligugé; tradução de Jean Lauand)