Senhor! Ontem ou talvez não
tenha sido ontem, parei por uns momentos minhas atividades de estudo em minha
casa e me transportei para um outro lugar e um outro tempo, em uma região
qualquer da Galiléia, há quase 2000 anos atrás... E, na minha mente, reconstruí
aquela paisagem: a estrada, os vales, as montanhas, a vegetação, as pessoas...
E havia ali, uma grande, uma esplêndida multidão! E todos se empurravam, se
acotovelavam, na ânsia de buscar uma posição melhor para divisar ao longe a
figura do Mestre que se encaminhava para dentro daquela enorme massa humana
que, então, ia se fechando às suas costas para o seguir. Estavam ali a mulher
“imunda”, o jovem rico, o paralítico, a cananéia... E eu estava ali! Na ânsia
de vê-lo, Senhor, buscava um lugar mais alto: subir a uma árvore, a uma pedra,
a um monte... Mas, mesmo assim, não era ainda possível contemplá-lo... Era
preciso galgar mais alto e mais alto ainda, subir até o cimo da colina... Até
que, enfim, pude reconciliar a minha alma com a visão do meu Deus, uma imagem
ainda distorcida, efêmera, esmaecida, escultura de luz feita no caleidoscópio
da distância... E eu já tinha os meus olhos resumindo todo o meu ser! E, à
medida que Tu te aproximavas de mim, com quanto espanto vi que te olhavas nos
olhos... E compreendi, Senhor, que Tu já olhavas para mim muito antes de eu
estar ali...