sábado, 30 de junho de 2012

POEMAS PARA REZAR - I

LA VIERGE À MIDI - A VIRGEM AO MEIO DIA
                                                                                       (Paul Claudel)


(Paul Claudel, 1868 - 1955)

Paul Louis Charles Claudel (* 6 de agosto de 1868, em Villeneuve-sur-Fère, França - † 23 de fevereiro de 1955, em Paris, França) foi um diplomata francês e grande pensador católico, cuja poesia profundamente cristã, numa época em que o cientificismo e o positivismo dominavam os espíritos, foi profundamente marcada pela sua repentina conversão ao catolicismo, assim narrada por ele mesmo: 'Eu era indiferente e, depois de nossa chegada a Paris', escreveu o poeta em 'Ma Conversion' (1913), 'tornei-me nitidamente estranho às coisas da Fé'.

'Assim era a infeliz criança que, a 25 de dezembro de 1886, foi a Notre-Dame de Paris para assistir aos ofícios de Natal. Tinha começado a escrever, e parecia-me que, nas cerimônias católicas, consideradas em um diletantismo superior, encontraria um excitante apropriado e a matéria de alguns exercícios decadentes.

Foi com estas disposições que, conduzido e apertado pela multidão, assisti, com um prazer medíocre, à grande missa. Depois, não tendo nada melhor a fazer, voltei para assistir às vésperas. As crianças do coro, vestidos de branco, e os alunos do seminário-menor de Saint-Nicolas-du-Chardonnet, que os ajudavam, estavam se aprontando para iniciar o canto que mais tarde soube ser o 
Magnificat
. 

Estava misturado ao povo, junto do segundo pilar à entrada do coro, à direita da sacristia. E foi então que se produziu o acontecimento que domina toda a minha vida. Em um instante, meu coração foi tocado e acreditei. Acreditei com tal força, com tal adesão de todo o meu ser, com tão poderosa convicção, com tal certeza sem deixar lugar a qualquer espécie de dúvida que, depois, todos os livros, todos os raciocínios, todos os acasos de uma vida agitada, não puderam abalar-me a fé, nem mesmo, para ser mais preciso, tocá-la de leve que fosse.

Tive de súbito o forte sentimento da inocência, da eterna juventude de Deus, uma revelação inefável. Tentando, como o fiz várias vezes, reconstituir os minutos que se seguiram a este instante extraordinário, encontro os elementos seguintes que, entretanto, não formam senão um clarão, uma única arma de que a Providência Divina se servia para atingir e abrir, enfim, o coração de uma pobre criança desesperada: “Como aqueles que crêem são felizes! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe, Ele está em toda parte, É alguém, é um Ser tão pessoal como eu. Ele me ama, Ele me chama!'


A Virgem ao Meio-dia
                                                                                                                                  (tradução livre de Dom Marcos Barbosa)

Vejo a igreja aberta e entro.
Mas não é para rezar,ó Mãe, que estou aqui dentro.
Não tenho nada a pedir,nada para te dar.Venho somente, Mãe, para te olhar...
Olhar-te, chorar de alegria, sabendo apenas isto:
eu sou teu filho e tu estás aqui, Mãe de Jesus Cristo!
Ao menos por um momento, enquanto tudo pára,
quero estar neste lugar em que estás, Maria.
Nada dizer, olhar simplesmente teu rosto,
e deixar o coração cantar a seu gosto.
Nada dizer, somente cantar,
porque o coração está transbordando...
Porque és bela, porque és imaculada,
a mulher na Graça enfim restituída,
a criatura na sua hora primeira e em seu desabrochar final,
como saiu das mãos de Deus na manhã de seu esplendor original.
Intata inefavelmente porque és a Mãe de Jesus Cristo,
que é a verdade em teus braços,
e a única esperança e o único fruto.
Porque é meio-dia, porque estás aí,
simplesmente porque és Maria,
simplesmente porque existes.


La Vierge à Midi

Je vois l'église ouverte. Il faut entrer.
Mère de Jésus-Christ, je ne viens pas prier.
Je n'ai rien à offrir et rien à demander.
Je viens seulement, Mère, pour vous regarder.
Vous regarder, pleurer de bonheur, savoir cela
Que je suis votre fils et que vous êtes là.
Rien que pour un moment pendant que tout s'arrête.
lÊtre avec vous, Marie, en ce lieu où vous êtes.
Ne rien dire, regarder votre visage,
Laisser le cœur chanter dans son propre langage.
Ne rien dire, mais seulement chanter parce qu'on a le cœur trop plein,
Comme le merle qui suit son idée en ces espèces de couplets soudains.
Parce que vous êtes belle, parce que vous êtes immaculée,
La femme dans la Grâce enfin restituée,
La créature dans son honneur premier et dans son épanouissement,
Telle qu'elle est sortie de Dieu au matin de sa splendeur originale.
Intacte ineffablement parce que vous êtes la Mère de Jésus-Christ,
Qui est la vérité entre vos bras, et la seule espérance et le seul fruit.
Parce que vous êtes la femme, l'Eden de l'ancienne tendresse oubliée,
Dont le regard trouve le cœur tout à coup et fait jaillir les larmes accumulées,
Parce que vous m'avez sauvé, parce que vous avez sauvé la France,
Parce qu'elle aussi, comme moi, pour vous fut cette chose à laquelle on pense,
Parce qu'à l'heure où tout craquait, c'est alors que vous êtes intervenue,
Parce que vous avez sauvé la France une fois de plus,
Parce qu'il est midi, parce que nous sommes en ce jour d'aujourd'hui,
parce que vous êtes là pour toujours, simplement parce que vous êtes Marie, simplement parce que vous existez,
Mère de Jésus-Christ, soyez remerciée !


(No vídeo, a versão original da poesia em francês)