terça-feira, 9 de abril de 2024

OITO MANEIRAS DE UM CATÓLICO PERDER A FÉ (II)

II - PELA NEGLIGÊNCIA DOS DEVERES RELIGIOSOS

Muitos se afastam da fé porque seus pais negligenciaram dar-lhes qualquer instrução na religião. Há uma certa classe de pais que instruem seus filhos em tudo, menos na religião. Há outros pais que permitem que seus filhos cresçam na ignorância de tudo, exceto na maneira pela qual podem ganhar algum dinheiro. Ora, quando se aproxima o momento dessas crianças fazerem a primeira comunhão, os pais levam-nas ao sacerdote para as preparar para esse ato sagrado, em um prazo tão curto quanto uma ou duas semanas. Ora, o que é que as crianças podem aprender num par de semanas? É certo que o que aprendem muito raramente lhes entra no coração. Os seus corações não estão preparados para a Palavra de Deus; são levianos e, em muitos casos, corrompidos, e o que aprendem é aprendido por constrangimento. Logo que se libertam do constrangimento, atiram a sua religião porta fora: tornam-se os piores inimigos da Igreja Católica. O jovem que incendiou a igreja de Santo Agostinho, em Filadélfia, Pensilvânia, era católico e glorificava-se de poder queimar o seu nome do registo de batismo. Por um justo castigo de Deus, essas crianças católicas negligenciadas tornar-se-ão nossos perseguidores. Assim se verifica nestas crianças o que Deus diz através do profeta Isaías: 'Por isso o meu povo foi levado cativo, porque não teve conhecimento' (Is 5,13).

Há outros que não querem ser instruídos nos seus deveres religiosos, a fim de se dispensarem mais facilmente da obrigação de cumprir esses deveres. Ora, é essa mesma classe de homens que facilmente dá ouvidos aos princípios da infidelidade, porque esses princípios agradam mais à sua natureza corrupta do que os da nossa santa religião. A classe desses homens é muito numerosa e seu número está aumentando a cada dia. Pois, não tendo eles próprios nenhuma religião, nem desejando tê-la, que admira que os seus filhos sigam o seu exemplo? Tal como é a árvore, tal será também o fruto. 

Há outros que se afastam gradualmente da fé e se tornam infiéis, porque negligenciam um dever cristão essencial, o da oração. 'Os ímpios' - diz Davi - 'corrompem-se e tornam-se abomináveis nos seus caminhos... Todos eles se desviaram, e juntamente se tornaram inúteis; não há quem faça o bem, nem um sequer... A destruição e a infelicidade estão nos seus caminhos'. ' A causa de toda esta maldade' -  continua Davi - 'é que não invocaram o Senhor'. Deus é a luz do nosso entendimento, a força da nossa vontade e a vida do nosso coração. Ora, quanto mais negligenciarmos a oração a Deus, mais experimentaremos trevas em nosso entendimento, fraqueza em nossa vontade e frieza mortal em nosso coração. Nossas paixões, as tentações do demônio e as seduções do mundo nos atrairão de cabeça para baixo de um abismo de maldade para outro, até cairmos no mais profundo de todos, na infidelidade e na indiferença a toda religião.

III - PELA LEITURA DE MAUS LIVROS

Há outra causa especial para a perda da fé: é a leitura de maus livros. Os maus livros são (i) livros fúteis que não fazem bem, mas distraem a mente do que é bom; (ii) novelas e romances que não parecem ser tão maus, mas são muito maus na verdade; (iii) livros que tratam declaradamente de assuntos maus; (iv) maus jornais, periódicos, miscelâneas, revistas sensacionalistas, semanários [atualmente, com desgraça ainda maior, internet, redes sociais e programas de televisão]; (v) livros sobre bruxarias e superstições, adivinhações; (vi) literatura protestante e de outras falsas religiões.

Há certos livros fúteis que, embora não sejam maus em si mesmos, são perniciosos, porque fazem o leitor perder o tempo que poderia e deveria empregar em ocupações mais benéficas para a sua alma. Aquele que gastou muito tempo na leitura de tais livros e depois vai à oração, à missa e à santa comunhão, em vez de pensar em Deus e de fazer atos de amor e confiança, será constantemente perturbado por distrações; porque as representações de todas as vaidades que leu estarão constantemente presentes na sua mente. O moinho mói o milho que recebe. Se o trigo é mau, como pode o moinho produzir boa farinha? Como é possível pensar em Deus com frequência e oferecer-lhe atos frequentes de amor, de oblação, de súplica e outros semelhantes, se a mente está constantemente cheia do lixo lido em livros ociosos e inúteis? 

... Quanto aos romances, são, em geral, quadros, e normalmente quadros muito bem elaborados das paixões humanas. A paixão é representada como tendo sucesso no seu fim e atingindo os seus objetivos, mesmo com o sacrifício do dever. Esses livros, como uma classe, apresentam visões falsas da vida; e como é o erro dos jovens confundi-las com realidades, eles se tornam os enganos de suas próprias imaginações ardentes e entusiastas, que, em vez de tentar controlar, eles realmente nutrem com o alimento venenoso de fantasias e quimeras... Quanto mais fortemente as obras de ficção apelam à imaginação, e quanto mais amplo é o campo que proporcionam para o seu exercício, maiores são, em geral, as suas perigosas atrações; e é demasiado verdade que elas lançam, por fim, uma espécie de feitiço sobre a mente, fascinando tão completamente a atenção, que o dever é esquecido e a obrigação positiva posta de lado para gratificar o desejo de desvendar, até à sua última complexidade, a teia finamente tecida de alguma criação aérea da fantasia. Sentimentos fictícios são excitados, simpatias irreais são despertadas, sensibilidades sem sentido são evocadas. A mente está enfraquecida; perdeu aquela louvável sede de verdade que Deus imprimiu nela; cheia de um amor banal por ninharias, vaidades e tolices, não tem gosto por leituras sérias e ocupações proveitosas; todo o gosto pela oração, pela Palavra de Deus, pela receção dos sacramentos, está perdido; e, finalmente, a consciência e o bom senso dão lugar ao domínio da imaginação descontrolada. 

Tal leitura, em vez de formar o coração, degrada-o. Envenena a moral e excita o espírito. Envenena a moral e excita as paixões; muda todas as boas inclinações que uma pessoa recebeu da natureza e de uma educação virtuosa; arrefece, pouco a pouco, os desejos piedosos, e em pouco tempo expulsa da alma tudo o que havia de solidez e virtude. Por essa leitura, as jovens perdem de repente o hábito da reserva e da modéstia, tomam um ar de vaidade e frivolidade, e não demonstram outro ardor senão por aquelas coisas que o mundo estima, e que Deus abomina. Adotam as máximas, o espírito, a conduta e a linguagem das paixões, que estão ali sob vários disfarces artisticamente incutidos nas suas mentes e, o que é mais perigoso, cobrem toda esta irregularidade com as aparências de civilidade e um humor e disposição fáceis, complacentes e alegres.

Além de seus outros perigos, muitos desses livros infelizmente estão repletos de máximas subversivas da fé nas verdades da religião. A literatura popular atual, em nossos dias, está penetrada pelo espírito da licenciosidade, desde revistas periódicas até o arrogante e irreverente jornal diário; e as publicações semanais e mensais são, em sua maioria, pagãs ou anti-católicas. Expressam e inculcam, por um lado, o orgulho estoico, frio e polido do mero intelecto, ou, por outro, o sentimentalismo vazio e miserável. Alguns empregam a habilidade para caricaturar as instituições e ofícios da religião cristã, e outros, para exibir as formas mais grosseiras de vício e as cenas mais angustiantes de crime e sofrimento. A imprensa ilustrada tornou-se para nós o que o anfiteatro era para os romanos, quando homens eram mortos, mulheres eram ultrajadas e cristãos eram entregues aos leões, para agradar a uma população degenerada: 'O lodo da serpente está sobre tudo isso'.

... Consultar esses livros para obter um conhecimento do mundo é outra desculpa comum para a sua leitura. Bem, onde encontraremos um exemplo de alguém que se tornou um pensador mais profundo, um orador mais eloquente, um homem de negócios mais experiente, lendo maus romances e livros ruins? Eles apenas ensinam a pecar, como Satanás ensinou Adão e Eva a comerem da árvore proibida, sob o pretexto de obterem conhecimento real; e o resultado foi a perda da inocência, da paz e do paraíso, e o castigo da raça humana para sempre...Há uma classe de leitores que se lisonjeia com o fato de que os maus livros poderem magoar os outros, mas não a eles; não lhes causam qualquer impressão. Felizes e superiores mortais! São dotados de corações de pedra ou de carne e osso? Não têm paixões? Porque é que esses livros magoam os outros e não a eles? Será porque são mais virtuosos do que os outros? Não é verdade que as partes más e obscenas da história permanecem mais vivas e profundamente impressas nas suas mentes do que aquelas que são mais ou menos inofensivas? ...Ide aos hospitais e aos bordéis: perguntai ao jovem que está a morrer de uma doença vergonhosa; perguntai à jovem que perdeu a sua honra e a sua felicidade; ide ao túmulo escuro do suicida, perguntai-lhes qual foi o primeiro passo da sua carreira descendente, e eles responderão: a leitura de maus livros.

... Certamente, se somos obrigados por todos os princípios da nossa religião a evitar as más companhias, somos igualmente obrigados a evitar os maus livros; porque, de todas as más companhias corruptoras, a pior é um mau livro. Não há dúvida de que as influências mais perniciosas em ação no mundo, neste momento, provêm dos maus livros e dos maus jornais... Evita não só os livros e jornais notoriamente imorais, mas evita também todas essas miseráveis revistas sensacionalistas, romances e jornais ilustrados que estão profusamente espalhados por todo o lado. A procura que existe de tal lixo diz mal do sentido moral e da formação intelectual de quem os lê. Se quiserdes conservar a vossa mente pura e a vossa alma na graça de Deus, deveis fazer disso um princípio firme e constante de conduta para nunca mais abandonar. Estaríeis dispostos a pagar a um homem por envenenar a vossa comida? E por que deveríeis ser suficientemente tolos para pagar aos autores e editores de maus livros, panfletos e revistas, e aos editores de jornais irreligiosos, para envenenarem a vossa alma com os seus princípios ímpios e as suas histórias e imagens vergonhosas?

(Excertos da obra 'Apostles' Creed', do Pe. Muller, 1889, tradução do autor do blog)

segunda-feira, 8 de abril de 2024

OITO MANEIRAS DE UM CATÓLICO PERDER A FÉ (I)

I - Frequentando Escolas Não Católicas

Há diferentes causas que levam à apostasia da fé - à infidelidade. O meio mais bem sucedido empregado por Satanás para provocar gradualmente um afastamento universal de Cristo e de sua religião, é a inplantação do atual sistema de educação pública ou sistema estatal. Nessas escolas, nenhuma menção a Deus e à religião deve ser feita, pois a melhor maneira de abolir a religião é não ensinar nenhuma

Nelas, as crianças devem ser educadas como infieis. Mas há alguns que afirmam que 'não há ensino sectário nas escolas públicas e, consequentemente, um católico pode enviar seus filhos para elas sem expô-los a qualquer perigo'. Agora, mesmo supondo que realmente não houvesse ensino sectário nas escolas comuns, mesmo assim um pai católico não deveria enviar seus filhos para tal escola sem expô-los ao maior perigo. Aqueles que aprovam a escola pública, porque nada sectário é ensinado nela, agem como um certo lavrador que desejava transplantar uma bela árvore jovem para uma certa parte de seu jardim. Ao examinar o novo lugar, porém, descobre que o solo está cheio de espécies venenosos, que colocariam em grande perigo a vida da árvore. Transplanta-a, então, para uma colina arenosa, onde não há, de fato, tais espécies venenosas, mas onde também não há suprimentos adequados para a árvore. Alguém poderá afirmar que a jovem árvore não correrá o risco de perecer nesse novo lugar? E alguém dirá que a fé e a alma de uma criança não correm o risco de serem arruinadas nessas escolas sem Deus? 

... E mesmo que às crianças católicas nem sempre sejam expressamente ensinadas doutrinas opostas à sua religião, os livros escolares que elas usam estão frequentemente contaminados com preconceitos e deturpações anti-católicas... Conhecimento sólido, uma cabeça sã, fé forte e grande graça, tudo isso combinado pode, de fato, preservar alguém que a necessidade de sua posição pode levar a escolas não-católicas; mas ninguém negará que essa literatura anti-católica deve exercer uma influência muitíssima perniciosa sobre todos aqueles que, sem preparação suficiente da natureza ou da graça, mergulham nela, na busca de diversão ou conhecimento. As ideias protestantes não farão com que o católico se torne protestante, não há muito perigo disso, mas tenderão a torná-lo um infiel; destruirão os seus princípios sem colocar outros no seu lugar; relaxarão e amortecerão todo o homem espiritual.

Nessas escolas, as crianças católicas são ensinadas que a Igreja Católica é o berçário da ignorância e do vício; elas são ensinadas que todo o conhecimento, civilização e virtude que o mundo agora possui, são descendentes da chamada 'Reforma'. Não aprendem nada sobre a verdadeira história de Espanha, Portugal, Itália, França, Irlanda, Áustria e outros países católicos da Europa; não aprendem nada sobre a verdadeira história do México e dos vários países católicos da América do Norte e do Sul. Nunca ouvem falar das vastas bibliotecas de conhecimento católico, das ricas dotações da educação católica, em todo o mundo, durante séculos; nunca ouvem falar das inúmeras universidades, faculdades, academias e escolas livres estabelecidas pela Igreja Católica e pelos governos católicos, em toda a cristandade. Onde está o livro da escola comum cujo autor tem honestidade suficiente para reconhecer que mesmo as famosas universidades de Oxford e Cambridge foram fundadas por católicos e saqueadas de seus legítimos possuidores por um governo apóstata?

... Ora, pretendemos que os nossos filhos sejam ensinados a amar e a reverenciar a sua santa Igreja. Queremos ensinar-lhes que essa Igreja tem sido, por mais de mil e oitocentos anos, a fiel guardiã daquela mesma Bíblia da qual os protestantes se gabam tanto, e que eles tanto desonram. Desejamos que os nossos filhos aprendam que a Igreja Católica tem sido, em todas as épocas, a amiga e fiel servidora da verdadeira liberdade, isto é, a liberdade unida à ordem e à justiça. Queremos que eles saibam que a Igreja Católica tem sido sempre a zelosa guardiã da santidade do matrimônio; que ela sempre o defendeu contra a luxúria brutal e os tribunais pagãos de divórcio. Desejamos que os nossos filhos, em suma, considerem a Igreja como a única esperança da sociedade, a única salvação do seu país, o único meio de preservar intactas todas as bênçãos da liberdade.

... Um certo amigo meu, homem de grande saber e experiência, escreveu-me, um dia, que ele próprio tinha sido, na sua juventude, submetido a uma formação universitária; que, seja por natureza ou por graça, ou ambas combinadas, a ela resistiu e escapou. 'Mas' - acrescenta ele - 'pela minha observação e experiência, eu diria que foi necessário um milagre para a minha juventude católica escapar dos efeitos condenáveis de uma educação não-católica'... Afirmo que um menino católico de tenra idade, e talvez de formação descuidada, pode ser preservado da contaminação moral, em escolas públicas e mistas por nada menos que um milagre. Não vou discutir lógica com ninguém sobre isso. É uma questão de fato. Por conseguinte afirmo-o, como um resultado comprovado que, na maioria dos casos, uma escola sem religião levará a maioria dos alunos católicos a uma total negligência da sua religião.

(Excertos da obra 'Apostles' Creed', do Pe. Muller, 1889, tradução do autor do blog)

domingo, 7 de abril de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Dai graças ao Senhor porque Ele é bom: eterna é a sua misericórdia!' (Sl 117)

Primeira Leitura (At 4,32-35) - Segunda Leitura (1Jo 5,1-6) -  Evangelho (Jo 20,19-31)

  07/04/2024 - SEGUNDO DOMINGO DA PÁSCOA

19. 'MEU SENHOR E  MEU DEUS!'


O segundo domingo do tempo pascal é consagrado como sendo o 'Domingo da Divina Misericórdia', com base no decreto promulgado pelo Papa João Paulo II na Páscoa do ano 2000. No Domingo da Divina Misericórdia daquele ano, o Santo Padre canonizou Santa Maria Faustina Kowalska, instrumento pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo fez conhecer aos homens Seu amor misericordioso: 'Causam-me prazer as almas que recorrem à minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à minha compaixão, mas justifico-o na minha insondável e inescrutável misericórdia'.

No Evangelho deste domingo, Jesus já havia se revelado às santas mulheres, a Pedro e aos discípulos de Emaús. Agora, apresenta-se diante os Apóstolos reunidos em local fechado e, uma vez 'estando fechadas as portas' (Jo 20, 19), manifesta, assim, a glória da sua ressurreição aos discípulos amados. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 19) foi a saudação inicial do Mestre aos apóstolos mergulhados em tristeza e desamparo profundos. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 21) vai dizer ainda uma segunda vez e, em seguida, infunde sobre eles o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23), manifestação preceptora da infusão dos demais dons do Espírito Santo por ocasião de Pentecostes. A paz de Cristo e o Sacramento da Reconciliação são reflexos incomensuráveis do amor e da misericórdia de Deus.

E eis que se manifesta, então, o apóstolo da incredulidade, Tomé, tomado pela obstinação à graça: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei' (Jo 20, 25). E o Deus de Infinita Misericórdia se submete à presunção do apóstolo incrédulo ao lhe oferecer as chagas e o lado, numa segunda aparição oito dias depois, quando estão todos novamente reunidos, agora com a presença de Tomé, chamado Dídimo. 'Meu Senhor e meu Deus!' (Jo 20, 28) é a confissão extremada de fé do apóstolo arrependido, expressando, nesta curta expressão, todo o tesouro teológico das duas naturezas - humana e divina - imanentes na pessoa do Cristo.

'Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' (Jo 20, 29) é a exclamação final de Jesus Ressuscitado pronunciada neste Evangelho. Benditos somos nós, que cremos sem termos vistos, que colocamos toda a nossa vida nas mãos do Pai, que nos consolamos no tesouro de graças da Santa Igreja. E bem aventurados somos nós que podemos chegar ao Cristo Ressuscitado com Maria, espelho da eternidade de Deus na consumação infinita da Misericórdia do Pai.

sábado, 6 de abril de 2024

SERMÕES DO CURA D'ARS (XVIII)

SOBRE A ALEGRIA PASCAL - JESUS RESSUSCITOU!

 'Procurais Jesus que foi crucificado; Ele não está mais aqui, Ele ressuscitou!' 
(Mt 28, 5-6)

Caríssimos no Senhor! Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e com Ele triunfemos! A Igreja nos exorta nesse dia com este anúncio jubiloso, adornada como uma noiva. A aurora do dia trouxe-nos um belo, um grande dia de alegria. Quando chegamos ao sepulcro com as santas mulheres, os anjos saudaram-nos com esta mensagem de alegria: 'Procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado: Ele ressuscitou, não está mais aqui'. É esta a alegre mensagem do Céu, que ressoa com alegria de norte a sul, até aos confins da terra. Como esta alegre mensagem deveria ressoar em cânticos de triunfo e inundar o coração de alegria indizível. Os céus contemplam o glorioso ressuscitado e o céu cobre-se do mais belo azul; o sol no firmamento contempla-o e brilha com a mais brilhante e perfeita luz, a terra favorecida e os seus habitantes contemplam a glória do Salvador ressuscitado, e também eles se regozijam. O mundo inteiro junta-se hoje a este glorioso hino de louvor de Santo Ambrósio: 'Deus Todo-Poderoso, nós te louvamos; Senhor, nós louvamos as tuas obras; porque este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e com Ele triunfemos!'. Vamos meditar juntos:

I. Por que este dia é tão alegre
II. Como devemos exprimir corretamente o nosso júbilo, unidos às palavras do Evangelho da festa, que diz: 'Procurais Jesus de Nazaré, que foi crucificado: Ele ressuscitou, não está mais aqui'

Que o Salvador ressuscitado abençoe a nossa meditação.

Parte I 

1. Amados irmãos, se quereis conhecer a verdadeira razão da nossa alegria pascal, remontemos aos últimos dias da Semana Santa e representemos, para nós mesmos e de maneira viva, o que aconteceu a Jesus de Nazaré naqueles dias em Jerusalém. Todos estes acontecimentos estão frescos na nossa memória; fomos levados, durante a Quaresma, pelas palavras do pregador, a seguir o nosso Salvador na sua paixão. Vimo-lo ser pisado como um verme; vimo-o arrastar a sua cruz até ao local da execução; ouvimos as pancadas do martelo que lhe prendiam as mãos e os pés à cruz; vimos a cruz erguida com o seu precioso fardo; em suma, fomos testemunhas em espírito da terrível morte agonizante do nosso Salvador, de quem até Pilatos disse: 'Que farei de Jesus, chamado justo?' A Igreja quer exprimir a sua justa e profunda dor por meio de sinais exteriores de luto; por isso, a casa de Deus e o seu santuário, o Altar, estavam rodeados de uma quietude mortal, os sons do órgão e o som do sino foram silenciados, apenas a cruz nua atraía para si todos os olhares e enchia os nossos corações de tristeza. Mas, queridos irmãos, o nosso luto transformou-se agora em alegria. O selo da sepultura foi quebrado; Aquele que nela repousava está vivo; Aquele que vimos morrer sobre o madeiro da cruz, como o pária da humanidade, proclamou a sua dignidade divina; nem selo, nem sepultura, nem pedra, nem fechadura poderiam resistir a Ele - Ele ressuscitou! Assim como a vida recém-despertada na primavera se desdobra em mil botões e flores, tocando poderosamente os nossos corações, do mesmo modo toda a alma cristã se sente estranhamente comovida e tocada quando, na manhã de Páscoa, ouvimos os sinos da Páscoa a tocar, para a casa de campo como para o palácio, as boas novas que o anjo trouxe do céu: 'Ele ressuscitou, não está mais aqui! Aleluia, Jesus vive!'

2. Jesus vive! Perante este anúncio, a terra rejubila e abre o túmulo daquele cuja morte no Gólgota a fez estremecer e tremer na sua base: Jesus vive! Perante esta mensagem, o Céu agita-se com alegria e envia um dos seus anjos para quebrar o selo que o ódio dos seus inimigos tinha colocado sobre a sua vítima, mesmo depois da sua morte, para fazer rolar a pesada pedra e anunciar às santas mulheres: 'Procurais Jesus de Nazaré: Ele ressuscitou, não está mais aqui - Resurrexit sicut dixit. Que alegria para os pobres discípulos, que tinham fugido em todas as direções quando ele foi feito prisioneiro! Jesus vive! Que alegria para nós, amados irmãos; que alegria e que prazer para nós, que somos batizados em nome de Jesus, que acreditamos nos ensinamentos de Jesus; para nós, que podemos viver na esperança abençoada de que também nós poderemos ressuscitar um dia para uma vida melhor! Quando o Homem das Dores, terminada a sua luta e os seus sofrimentos, gritou ao mundo, em alta voz, aquelas poderosas palavras: 'Está consumado', quando inclinou a cabeça e entregou o espírito, o sol obscureceu-se e não quis contemplar aquele terrível espetáculo; a terra foi fortemente abalada, os seus túmulos abriram-se e os mortos ressuscitaram. Hoje, porém, abriu-se um túmulo e dele nasceu um sol que nunca se obscurecerá, que nunca se porá; um sol que, como o sol da primavera, cria vida nova. Este novo sol é o Crucificado, o Filho de Deus, o próprio Deus, abençoado por toda a eternidade. Ele é aquele em quem se cumprem as palavras do Apóstolo: 'Porque se humilhou a si mesmo e foi obediente até à morte na cruz, por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todos os outros nomes'.

3. Quando a estrela de Jacó surgiu, quando o Verbo se fez carne, o reino da falsidade e das trevas estava condenado à derrota. Já o cântico de berço que os anjos entoaram ao Salvador encarnado: 'Glória a Deus nas alturas!' era um solene hino de louvor que anunciava antecipadamente a glória desse dia. O Gloria in Excelsis daquela noite tão amada é completado de forma gloriosa pelas boas novas do mensageiro celeste na manhã de Páscoa, que disse: 'Vós procurais Jesus de Nazaré: Ele ressuscitou, não está mais aqui'. Mas a verdade que o Filho de Deus trouxe do céu o seu ensinamento divino que não era para ser proclamado sem luta; a luz iluminava as trevas, mas as trevas não podiam compreender. O Filho Unigênito do Pai foi caluniado como o pobre filho do carpinteiro, o Messias enviado do céu foi escarnecido como o galileu, as suas palavras de caridade foram tachadas como obra do inferno. Quando disse que tinha vindo para fundar um reino que não era deste mundo, foi denunciado como sedutor do povo e inimigo de César. Assim, meus irmãos, a falsidade lutou contra a verdade, e parecia que os seus inimigos estavam realmente triunfantes na vitória quando Jesus pendia sangrando na cruz. Seus inimigos pareciam seguros da vitória, quando diziam ao Salvador crucificado em escárnio: 'Se tu és o Cristo, desce da cruz. Tu ajudaste os outros, agora ajuda-te a ti mesmo', e Ele não respondeu a essas palavras, mas inclinou a cabeça e morreu. E ainda mais, Ele foi colocado numa sepultura como um mortal comum, sendo a própria sepultura guardada e selada.

Agora, de acordo com as previsões humanas, tudo estava terminado, o mundo parecia conquistado. De onde, queridos irmãos, aquele grão de mostarda que esse Deus encarnado, agora deitado no túmulo, havia plantado, teria obtido a força para crescer e se expandir numa grande árvore, cujos frutos deveriam abençoar todas as raças da Terra? De onde teriam os tímidos discípulos obtido a coragem de proclamar ao mundo que este Crucificado é o verdadeiro Deus, e de pregar o seu Evangelho a toda criatura? Não tremais, pequeno grupo de discípulos, porque o milagre já se realizou! A terra exulta de alegria, o céu envia os seus mensageiros, o túmulo está vazio, o herói despertou, o Salvador ressuscitou! Porque ressuscitou do túmulo pela sua própria força, porque reedificou o templo do seu corpo em três dias, provou a glória da sua divindade e colocou o selo da plenitude na obra da redenção. Se Cristo não tivesse ressuscitado, diz o Apóstolo, a nossa fé seria vã! Na Sexta-Feira Santa, quando a terra tremeu e as rochas se fenderam, batemos no peito como o centurião e dissemos: 'Em verdade, Ele era o Filho de Deus!', podemos, portanto, gritar ainda mais alegremente ao lado do túmulo vazio na manhã de Páscoa: 'Aquele que ressuscitou é o Filho de Deus, Ele é o Messias, Ele é o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo'. Não é este o dia que o Senhor fez para nós? Não deveríamos regozijar-nos nEle e alegrar-nos? Que os acordes do órgão repiquem na mais doce harmonia, que os sinos toquem em tons emocionantes, que a canção de triunfo ressoe, O Salvador ressuscitou! Aleluia, Jesus vive! Nem selo, nem sepultura, nem pedra, nem rocha, podem resistir-lhe: 'Vós procurais Jesus de Nazaré: Ele ressuscitou, não está mais aqui'.

Parte II 

1. Ouvimos dizer que temos todas as razões para nos alegrarmos do fundo do coração neste dia memorável, e para nos aproximarmos do nosso Redentor ressuscitado com alegres Aleluias. Mas isto não é tudo, devemos também ser ativos e fazer um uso prático da celebração de hoje. Cristo morreu por nós e deu-nos o exemplo para seguirmoso seu exemplo. Tal como Cristo ressuscitou, também nós nos devemos levantar e entrar numa vida nova. Convido-vos, pois, pais cristãos, com as palavras do Apóstolo: 'Levanta-te e anda no caminho em que deves andar'. Prometestes perante o santo altar de Deus fidelidade e ajuda mútuas, que carregaríeis os fardos uns dos outros em paz e que educaríeis os vossos filhos no temor do Senhor. Como cumpristes esta promessa? O trono da harmonia está erguido em vosso lar e distribui bênçãos sobre vós? Sois um bom pai e uma boa mãe para os vossos filhos, apascentais o rebanho que vos foi confiado em pastos verdejantes e o conduzis, como deve fazer um bom pastor, à fonte das águas vivas? Ou sois vós, pais, maus exemplos para os vossos filhos, e vós, mães, mães antinaturais para as vossas filhas? Levantai-vos da vossa morte espiritual, fortificai de novo o trono da paz, aproximai-vos do Altar de Deus e renovai os vossos votos conjugais. Educai os vossos filhos como devem fazer os bons pais católicos, ajudai os educadores e aqueles que têm a seu cargo o seu bem-estar espiritual nesta difícil tarefa, e então, e só então, tereis uma Páscoa feliz; então as alegrias e as bênçãos pascais alegrar-vos-ão a vós e à vossa família.

2. Filhos cristãos, filhas cristãs, levantai-vos do túmulo! Nós, adultos, que já não temos a felicidade de ver o pai e a mãe connosco, que agora só podemos ajoelhar-nos junto dos seus túmulos e falar-lhes em espírito, como vos invejamos, queridos e felizes filhos, especialmente neste dia em que é uma alegria celebrar a Páscoa no círculo familiar. E agora, pergunto-vos, amados filhos e filhas, se sabeis apreciar esta grande felicidade de possuir o vosso pai e a vossa mãe, ou se vós, ó filho frívolo, entristeceis o vosso bom pai com os vossos pecados e com a vossa extravagância; e vós, filha orgulhosa, fazeis a vossa mãe derramar lágrimas pelo vosso comportamento e pela vossa desobediência? Pois bem, levanta-te hoje do túmulo do pecado e dá aos teus bons pais uma alegria pascal, tomando a firme resolução de andar no caminho que te trará bênçãos nesta vida e na vida futura. O Salvador ressuscitado é o amigo das crianças, Ele estenderá hoje as suas mãos em bênção sobre vós, vivereis muito tempo e tudo vos correrá bem na terra.

3. Bem podemos aplicar a nós mesmos as palavras do Apóstolo: 'O homem que é da terra, é terreno'. Ora, se no passado fomos escravos da carne, se os nossos pensamentos e ações eram terrenos, esta é a Páscoa; lancemos fora o fermento velho para nos tornarmos uma massa nova. Então, as palavras do Apóstolo tornar-se-ão realidade: 'Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas que são do Alto e não as que são da terra'. Mas, na realidade, para procurar e encontrar o que é do Alto, não só devemos levantar-nos do túmulo do pecado, limpar o nosso coração de todo o pecado, mas devemos purificá-lo do velho fermento. Quando Cristo se levantou da sepultura, deixou para trás os lençóis de enterro; assim devemos nós, em nossa ressurreição espiritual, deixar nas sepulturas os grilhões de nossos velhos hábitos; devemos romper com a velha vida e andar numa nova; devemos despir-nos do velho homem e revestir-nos do novo homem, que é criado em santidade e justiça. E assim deve ser contigo, ó homem sensual; deixa-me dizer também de ti: ele ressuscitou, ele também não está mais aqui, já não está lá onde tantas vezes pecou. Temos de poder dizer: 'Ressuscitou, o avarento, já não se demora com os seus tesouros, que a ferrugem e a traça hão-de corroer; já não se ajoelha no altar de Mamon; tornou-se pai dos pobres'. Ele ressuscitou, deve ser dito do bêbado, do jogador, ele não está aqui, eis que o lugar está vazio onde antigamente ele se sentava até tarde da noite jogando e bebendo, enquanto sua pobre esposa e filhos famintos sofriam em casa. E isto é o que deve e tem de ser dito de todos os pecadores: ressuscitaram, não estão mais aqui, o túmulo do pecado está vazio, estão a levar uma vida nova. Então, de fcto, todos nós passaremos uma Páscoa abençoada e feliz, um dia de alegria, um dia que o Senhor fez para nós.

Parte III - Conclusão

1. Cristo foi ressuscitado dentre os mortos para não mais morrer. Ele é exaltado acima dos principados, potestades e majestades, e está sentado à direita do Pai. Suas palavras, ditas aos discípulos de Emaús, são verdadeiras: 'Não convinha que Cristo padecesse estas coisas, e assim entrasse na sua glória?' Se, pois, caríssimos irmãos, nos sobrevierem cruzes e sofrimentos, ajoelhemo-nos também nós no horto das oliveiras; esvaziemos o cálice do sofrimento até à última gota no Gólgota, olhemos para cima com coragem e santo zelo. À Sexta-feira Santa seguiu-se uma alegre manhã de Páscoa para o Deus encarnado, e também nós gozaremos de um dia de júbilo pois, se sofrermos com Cristo, seremos também glorificados com Ele. A nossa cruz será para nós a escada de Jacó, na qual subiremos da terra para o céu, onde não haverá mais choro, nem dor, mas onde reinarão a alegria eterna, a paz eterna e o júbilo eterno.

2. O Salvador glorificado e ressuscitado traz na mão, em vez da cana, uma bandeira de vitória, na qual está escrito: 'Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim viverá, ainda que esteja morto'. Meus irmãos, que palavra consoladora! Podemos exclamar com júbilo: 'Morte, onde está o teu aguilhão?' A morte foi derrotada; agora podemos encarar a morte com confiança e dizer com santa alegria: 'Eu sei que o meu Redentor vive, e que ele me ressuscitará no último dia'. Seca as tuas lágrimas, então, pobre esposa, tu que estás chorando pela pesada perda do provedor dos teus filhos; não chores, pobre marido, pela morte prematura da tua esposa; filhos, não lamenteis a perda dos vossos pais, que vos deixaram órfãos. Meus irmãos, não choremos e lamentemos os nossos mortos queridos, como aqueles que não têm esperança. Temos uma esperança no Salvador ressuscitado, que um dia enviará os seus anjos para nos chamar dos nossos túmulos; ver-nos-emos de novo; regozijar-nos-emos e a nossa alegria ninguém a poderá nos tirar!

3. E se nos nossos dias olharmos com tristeza para o futuro, e se o inimigo pressionar duramente a nossa mãe, a Igreja, também ela - a nossa Igreja - se levantará do túmulo da opressão. Todos os séculos o testemunham; quanto mais fundo cavarem a sua sepultura, quanto mais a selarem e fecharem, mais gloriosamente ela se ergueu da sepultura e mais vitoriosamente desfraldou a sua bandeira. O seu fundador, que hoje se levantou do túmulo, disse: 'As portas do inferno nunca prevalecerão contra ela'. E este fundador proclama isso com alegria ao mundo redimido de hoje: 'Salve, Conquistador do Gólgota, Conquistador Único! Aleluia!'

Celebremos, pois, caríssimos irmãos, esta festa pascal com o coração alegre e jubiloso; junto ao túmulo vazio do Redentor, Príncipe da Paz, estendamos uns aos outros a mão do perdão. Ele nos chama de fato: 'A paz seja convosco!' Quebremos os laços do pecado, vivamos em Deus, juremos hoje de novo fidelidade à bandeira vitoriosa de Jesus Cristo, permaneçamos firmes na fé! Então, sim, então, um dia levantar-nos-emos gloriosos; seremos transformados e possuiremos o reino que nos foi preparado desde o princípio. Que Deus nos conceda esss graça! Amém.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVI)

ÍCONE DA ÁRVORE DE JESSÉ 

'A Raiz de Jessé' ou a 'A Árvore de Jessé' é um ícone que representa a genealogia de Jesus Cristo sob a forma de uma grande árvore ou videira de múltiplos ramos. A herança terrena de Cristo remonta a Jessé, o pai do Rei Davi, que é representado comumente deitado sob o tronco da grande árvore, que parece emanar do seu próprio corpo. A simbologia remonta pela árvore o grande legado da prole de Jessé e seu estado de dormição é similar ao estado primitivo de Adão, antes de ser trazido à vida por Deus.

'Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes'
 (Is 11,1)

No centro da árvore e em destaque, encontra-se a Mãe de Deus, como a 'Vara de Jessé', representada imediatamente abaixo de Jesus ou trazendo Cristo sentado no colo, o rebento do Filho de Deus Vivo. São José raramente é representado nessa iconografia, embora, ao contrário de Maria, ele seja um elo direto das genealogias descritas nos Evangelhos. A maioria dos ícones da Árvore de Jessé data dos séculos XII a XVI, mas as imagens nas quais os ícones se baseiam podem ser bem mais antigas, incorporadas comumente como figuras de bíblias, saltérios e vitrais.

'A raiz é o lar dos judeus, a vara é Maria, a Flor de Maria é Cristo. Ela é justamente chamado uma haste, pois ela é da linhagem real, da casa e família de Davi. Sua flor é Cristo, que destruiu o mau cheiro da poluição mundana e derramou nele o perfume da vida eterna'
(Santo Ambrósio de Milão)

O arranjo dos ramos da árvore que envolvem Jesus e sua mãe pode ser mais ou menos complexo, mais ou menos abrangente, compreendendo representações tanto dos antepassados ​​de Cristo (quase sempre com destaque para o Rei Davi e seu filho Salomão), bem como dos grandes profetas que preanunciaram a sua vinda (como por exemplo, Jacó comumente representado com uma escada, símbolo da sua visão profética - Gn 28, 12). 


quinta-feira, 4 de abril de 2024

FRASES DE SENDARIUM (XXVI)

 

'Importa pregar o Evangelho; e, quando se fizer necessário, 
usar as palavras'

(São Francisco de Assis)

'Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura' (Mc 16,15)

quarta-feira, 3 de abril de 2024

TESTAMENTO ESPIRITUAL

1. Onde quer que estejas, e para qualquer lado que te voltes, miserável serás, se te não converteres a Deus. Em tudo pondera o fim e de que modo te apresentarás diante o rigoroso Juiz, a quem nada é oculto, que não se deixa aplacar com dádivas, nem admite desculpas, mas que julgará segundo a justiça.

Insensato e mísero pecador, que responderás a Deus que conhece os teus crimes, tu que tremes diante do vulto de um homem irado? Por que não te acautelas para o dia do juízo, quando ninguém poderá ser excusado ou defendido por nenhum outro? Agora o teu trabalho é frutuoso, as tuas lágrimas são bem acolhidas, os teus gemidos são ouvidos e a tua dor é expiatória e meritória.

2. Aqui tem grande e salutar purgatório o homem paciente que, recebendo injúrias, mais sente dor da maldade de quem lhe ofende do que da própria ofensa; que de boa vontade ora pelos seus inimigos, perdoando no íntimo do coracão todos os agravos; que não tarda em pedir perdão aos outros; que mais facilmente se deixa levar  pela misericórdia do que pela ira; que faz violência a si mesmo, esforçando-se por submeter a carne ao espírito. Melhor é purgar agora os pecados e extirpar os vícios, que deixá-los para serem extirpados na outra vida. Por certo nós mesmos nos enganamos pelo amor desordenado que temos à carne.

3. Que outra coisa devorará aquele fogo, senão os teus pecados? Quanto mais te poupas agora e segues os apetites da carne, tanto mais severamente serás depois atormentado, acumulando maior reserva de combustível para te queimar. No que mais tiveres pecado, nisso mais severamente serás castigado. Ali os preguiçosos serão incitados por aguilhões ardentes, e os gulosos serão atormentados com sede e fome extrema. Ali os impudicos e voluptuosos serão submergidos em abrasado e fétido enxofre, e os invejosos uivarão como cães furiosos. 
 
4. Não haverá nenhum vício que não tenha ali o seu particular tormento. Os soberbos serão acabrunhados de toda a sorte de confusão, e os avarentos reduzidos a uma penúria extrema. Uma hora de suplício ali será mais insuportável que cem anos da mais rigorosa penitência aqui. Ali não há sossego e nem consolação alguma para os condenados, emquanto aqui às vezes cessam as dores e somos aliviados pelos amigos. 

Tem agora cuidado e dor pelos teus pecados para que, no dia do juízo, estejas seguro como os bem aventurados. Porque então estarão os justos com grande confiança diante dos que os angustiaram e perseguiram. Então se levantará, para os julgar, aquele que agora se sujeita humildemente ao juízo dos homens. Então terá muita confiança o pobre e humilde; enquanto o soberbo de todos os modos estremecerá de pavor. 

5. Então se verá, como foi sábio neste mundo, quem aprendeu a ser menosprezado e tido por louco, por amor de Jesus Cristo. Então dará prazer toda a tribulação, sofrida com paciência e a iniquidade será reduzida ao silêncio. Os que foram dados à piedade se encherão de alegria e os irreligiosos, de tristeza. A carne então mais se regozijará de ter sido mortificada, do que a que foi sempre nutrida em delícias. Então resplandecerá a roupa vil e a vestimenta preciosa será obscurecida. Então será mais exaltada a simples obediência do que toda a astúcia do mundo.
 
6. Então se alegrará a mais pura e boa consciência do que a filosofia dos sábios. Então será mais estimado o desprezo pelas riquezas do que todos os tesouros dos ricos da terra. Então te consolarás mais haver orado com devoção do que de haver comido com regalo. Então te aproveitarão mais as boas obras do que as muitas e belas palavras. Mais agradará então a vida austera e de rigorosa penitência do que todas as delícias terrenas. 

Aprende agora a sofrer um pouco para que possas livrar-te de coisas mais penosas. Experimenta primeiramente aqui o que poderás ter de cumprir no outro mundo. Se agora tão pouco queres padecer, como poderás suportar tormentos eternos? Se agora o menor incômodo te torna tão impaciente, que lhe será então o inferno? Sem dúvida, não podes almejar ter duas venturas: deleitar-te aqui neste mundo e depois reinar com Jesus no Céu. 

7. Se até hoje sempre tivesses vivido em meio a honrarias e deleites, que te aproveitaria, se agora mesmo tivesses de morrer? Tudo é vaidade, o que não for amar e servir somente a Deus. Decerto os que amam a Deus de todo o coração, não temem a morte, nem o suplício, nem o juízo e nem o inferno, porque o perfeito amor tem refúgio seguro junto de Deus. Mas quem se deleita ainda em pecar, não admira que tema a morte e o juízo. Todavia, se não te desvias do mal pelo amor, convém ao menos que o faças pelo temor do inferno. Porém aquele que despreza o temor de Deus, não poderá perseverar no bem, antes cairá muito depressa nos laços do demônio. 

8. Que pode te dar o mundo sem Jesus! Estar sem Jesus é um inferno terrível; estar com Jesus é um doce Paraíso. Estando Jesus contigo, nenhum inimigo te poderá ofender. Quem encontra Jesus, encontra um grande tesouro, ou antes, um bem superior a qualquer outro. Quem o perde, priva-se de muito mais do que de um mundo inteiro. Viver sem Jesus é reduzir-se à extrema pobreza; estar bem com Jesus é tornar-se sumamente rico. Preferível é, pois, ter todo o mundo por inimigo do que ofender a Jesus. 

9. Confessarei, pois, contra mim mesmo, a minha iniquidade; confessar-Vos-ei, Senhor, a minha fraqueza. Vede, Senhor, a minha fragilidade e meu abatimento, que melhor conheceis do que eu mesmo. Compadecei-Vos de mim e tirai-me desta lama para que nela não fique atolado e submergido. O' Todo Poderoso Deus de Israel, zelador das almas fieis, dignai-Vos de olhar para as obras e dores do vosso servo e assisti-lo em tudo. Fotalecei-me de força celestial, para que não me vença e me domine esta carne fragilizada e ainda rebelde ao espírito, e contra a qual convém combater, enquanto vivemos neste mundo miserável.

(Imitação de Cristo; 1, 22 - 24; 2, 8; 3, 20)