quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

ORAÇÃO: ANTRA DESERTI TENERIS

Antra Deserti Teneris - Dos tumultos humanos fugiste é a segunda parte do Hino de Louvor a São João Batista que compreende ainda outras duas partes: a primeira parte Ut Queant Laxis e a terceira parte O Nimes Felix, composição do século VIII atribuída ao beneditino Paulo, o Diácono, da Abadia de Montecassino (Itália). No rito romano,  o hino é cantado no Ofício Divino em 24 de junho, Festa da Natividade de São João Batista (partes I, II e III cantadas, respectivamente, nas Vésperas, Matinas e Laudes da Liturgia das Horas). A tradução apresentada do hino não é literal, mas constitui a versão oficialmente adotada no Brasil.


Antra deserti teneris sub annis,
civium turmas fugiens, petisti,
ne levi saltem maculare vitam
famine posses.

Praebuit hirtum tegimen camelus
atubus sacris, strophium bidentes,
cui latex haustum, sociata pastum
mella locustis.

Ceteri tantum cecinere vatum
corde praesago iubar affuturum;
tu quidem mundi scelus auferentem
indice prodis.

Non fuit vasti spatium per orbis
sanctior quisquam genitus Ioanne,
qui nefas saecli meruit lavantem
tingere lymphis.

Sit decus Patri genitaeque Proli
 et tibi, compar utriusque virtus
 Spiritus semper, Deus unus, omni 
temporis aevo. Amen.


Dos tumultos humanos fugiste,
no deserto te foste esconder,
para a vida guardar reservada
da ganância da posse e do ter.

O camelo te deu roupa austera,
das ovelhas com lã te cingiste;
e com leite, bebida modesta,
gafanhotos e mel te nutriste.

Os profetas cantaram apenas
o profeta futuro, o Esperado;
tu, porém, vais à frente, mostrando
quem do mundo apaga o pecado.

Entre os homens nascidos na terra,
não se encontra um mais santo que João.
O que lava o pecado do mundo
ele, em água, o lavou no Jordão.

Seja dada glória ao Pai
e ao Filho por Ele gerado,
e a vós, Espírito, que dos dois procedeis, único Deus,
por todos os séculos eternos. Amém.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

PROPÓSITO PARA A SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO


'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2)

O pecado é um estado de noite espiritual. O pecador vive nas trevas, e suas obras são obras das trevas. Mas, assim que uma verdadeira conversão do coração abre o caminho para Jesus na alma obscurecida, as sombras da escuridão espiritual desaparecem e a luz difunde ali seu esplendor radiante. Subitamente, torna-se dia; a alma começa a conhecer a si mesma, a compreender a miséria de sua existência anterior e a ver o que significa uma mudança de coração, uma mudança permanente, como a que o Senhor exige dela.

O significado das palavras de Cristo: 'Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?' torna-se imediatamente claro para o pecador arrependido; ele vê quão vã é toda a luta e busca por fortuna, honra e prazer, com as quais os filhos do mundo se esforçam para satisfazer os desejos de seus corações. As escamas caem de seus olhos. Ele decide seguir a Cristo e trilhar o caminho que leva à salvação. Ele olha para o seu modelo e ouve a sua promessa: 'Sou Eu!' Sim, é Ele. Foi somente Ele, a Luz do mundo, quem pôde despertar e iluminar uma alma que dormiu e sonhou por tantos anos na noite e na escuridão do pecado.

Mas agora, cristão, faça a si mesmo a seguinte pergunta: você está verdadeiramente convertido? Você não viveu, talvez por muitos anos, em estado de pecado? Você, cegado pelas seduções e pela falsa luz deste mundo, esqueceu o céu pela terra e, com as verdades eternas do Evangelho ressoando em seus ouvidos, preocupou-se apenas em desfrutar dos bens, honras e prazeres desta vida? Feliz você é, de fato, se o dia já amanheceu para você! Em gratidão por este dom inestimável da conversão, caminhe daqui em diante como um filho da luz e pratique, com zelo redobrado, as obras da graça. Eis agora o tempo de conversão!

Maria, Mãe de misericórdia, refúgio dos pecadores, rogai para que Deus nos conceda a graça de uma firme conversão e que, por nossa vida reformada, possamos provar e viver em plenitude a nossa reconciliação com Deus!  

Que, nesta Segunda Semana do Advento, possamos responder com firme confiança à pergunta: 'Em que estado se encontra minha alma? Sou eu, talvez, como um junco? Sou constante no serviço a Deus?' Que a nossa pronta resposta de constância e perseverança no estado da graça nos tornem dignos de sermos filhos de Deus, herdeiros das moradas eternas e da vida eterna com Deus!

(excertos adaptados dos sermões do Pe. Francisco Xavier Weninger, 1877)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

GLÓRIAS DE MARIA: IMACULADA CONCEIÇÃO

 


'Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis'.

(Beato Papa Pio IX, na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 08 de dezembro de 1854)

Nossa Senhora, criatura superior a tudo quanto já foi criado, e inferior somente à humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu de Deus o privilégio incomparável da Imaculada Conceição. Desta forma, Maria foi preservada de qualquer pecado desde que foi concebida, porque recebeu naquele instante o Espírito Santo de Deus. O 'sim' de sua entrega incondicional à vontade de Deus não teria sido possível se, mesmo livre de qualquer  pecado durante toda a sua vida, Maria tivesse, a exemplo de toda a humanidade, a mancha do pecado original. Deus, ao cumular Maria de tantas graças extraordinárias, não permitiu que ela estivesse separada dele em nenhum segundo de sua existência e, assim, Maria não conheceu o pecado desde a sua concepção.

A Santa Igreja ensina que Maria Santíssima foi preservada do pecado original, em previsão aos futuros méritos da Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo que, assim, a pré-redimiu desde o primeiro instante da sua existência. Sendo concebida sem pecado original, Maria ficou também preservada de qualquer tendência para o mal decorrente do pecado original. Não é crível que Deus Pai onipotente, podendo criar um ser em perfeita santidade e na plenitude de inocência, não fizesse uso de seu poder a favor da Mãe de seu Divino Filho. Como explicitou, de forma definitiva, o beato franciscano João Duns Scoto (1265-1308), em sua exposição quando da defesa da Imaculada Conceição na Universidade de Paris: 'Potuit, decuit, ergo fecit' (Deus podia fazê-lo, convinha que o fizesse, logo o fez).

O fundamento deste privilégio mariano está na absoluta oposição existente entre Deus e o pecado. Ao homem concebido no pecado, contrapõe-se Maria, concebida sem pecado. A confirmação do dogma, a partir de manifestações que remontam os primeiros Padres da Igreja, foi ratificada muitas vezes pela própria Mãe de Deus, em várias aparições:

'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!' foi a mensagem que Nossa Senhora pediu que fosse inscrita na Medalha Milagrosa,  mediante recomendação expressa a Santa Catarina Labouré em 1830 (24 anos antes da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Eu sou a Imaculada Conceição!' assim Nossa Senhora se apresenta à pequena vidente Bernadette Soubirous em Lourdes, no dia 25 de março de 1858 (apenas 4 anos depois da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!mensagem de Nossa Senhora em Fátima sobre a devoção ao seu Coração Imaculado.

Excertos da Bula INEFFABILIS DEUS de Pio IX
                       Pio IX
1. Misericórdia e verdade são os caminhos do Deus inefável; onipotente é sua vontade, e sua sabedoria se estende poderosamente de uma extremidade a outra, dispondo todas as coisas com suavidade (Sb 8, 1). Desde os dias da eternidade previu Deus a mais dolorosa ruína de todo o humano gênero, que resultaria do pecado de Adão. Por isso, num mistério escondido nos séculos, determinou Ele completar a primeira obra de sua bondade, num mistério ainda mais esconso, pela Encarnação do Verbo, para que o homem, induzido ao pecado pela ardilosa perversidade do demônio, não perecesse, contrariamente ao seu desígnio cheio de clemência; e assim, o que estava em iminência de ser frustrado no primeiro Adão fosse restituído, com maior felicidade, no Segundo Adão.
Escolha da Santíssima Mãe

2. Em vista disso, desde todos os tempos, escolheu Deus e predestinou uma mãe para o seu Unigênito Filho, na qual se encarnaria e viria ao mundo, quando a abençoada plenitude dos tempos houvesse chegado. E a ela dispensou Deus mais amor que a todas as outras criaturas, e nela somente achava agrado, com a mais afetuosa complacência. Por isso a cumulou, de maneira tão admirável, da abundância dos bens celestes do tesouro de sua divindade, mais que a todos os outros espíritos angélicos e todos os santos, de tal forma que ficaria absolutamente isenta de toda e qualquer mancha de pecado, podendo, assim, toda bela e perfeita, ostentar uma inocência e santidade tão abundantes, quais outras não se conhecem abaixo de Deus, e que pessoa alguma, além de Deus, jamais alcançaria, nem em espírito.

Com efeito, era conveniente que tão venerável Mãe brilhasse sempre aureolada do esplendor da mais perfeita santidade, e que fosse de todo isenta até da própria mácula do pecado original, alcançando, assim, o mais completo triunfo sobre a antiga Serpente (Gn 3, 15). E tudo isto por ser ela a criatura a quem Deus Pai quis dar seu Filho Único, o qual gerou de seu próprio coração, igual a Si e a quem Ele ama como a Si mesmo. Deu-Lho, de forma que Ele é, por natureza, um e o mesmo Filho de Deus Pai e da Virgem. Ela é, também, o ser que o próprio Filho escolheu e fez real e verdadeiramente sua Mãe. Ela é, enfim, a criatura de quem o Espírito Santo quis que o Filho, do qual procede, fosse concebido e nascido por obra sua. [...]
Pedidos para a Definição

33. Aqui a razão por que, desde os tempos remotos, os bispos da Igreja, eclesiásticos, ordens religiosas e até imperadores e reis dirigiram fervorosos memoriais à Sé Apostólica, em prol da definição da Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus como dogma da fé católica. Mesmo em nossos dias, reiteraram-se estas petições. Foram elas dirigidas, de modo especial, à atenção de Nosso antecessor Gregório XVI, de saudosa memória, e a Nós mesmo, não só por bispos, mas também pelo clero secular, comunidades religiosas, por legisladores de nações e pelos fiéis. [...]
O Consistório

39. Após estes acontecimentos, desejando proceder de modo conveniente e reto, a exemplo de Nossos antecessores anunciamos e celebramos um Consistório, no qual Nos dirigimos a Nossos Irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana. Foi para Nós a maior alegria espiritual ao ouvi-los suplicarem promulgássemos a definição do dogma da Conceição Imaculada da Virgem Mãe de Deus.

40. Por isso, tendo plena confiança no Senhor de que já chegou o tempo oportuno para a definição da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, que as Divinas Escrituras, a veneranda Tradição, o desejo incessante da Igreja, o singular consentimento dos Bispos católicos e dos fiéis, e os atos e constituições assinalados dos Nossos antecessores ilustram e proclamam; havendo considerado diligentemente todos os acontecimentos e tendo dirigido a Deus solícitas e sinceras preces, Nós  julgamos não devermos fazer tardar por mais tempo a ratificação e definição, por Nossa autoridade suprema, da Imaculada Conceição da Virgem, satisfazendo, assim, os mais santos desejos do Orbe Católico e de Nossa própria devoção para com a Santíssima Virgem; e honrando, na Virgem, sempre mais o seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, Senhor Nosso, visto que toda honra e louvor votados à Mãe revertem para o Filho.
A Definição Infalível

41. Pelo que, em oração e jejum, não cessamos de oferecer a Deus Pai, por seu Filho, Nossas preces particulares e as de todos os filhos da Igreja, para que se dignasse dirigir e fortalecer Nossa inteligência com a força do Espírito Santo. Imploramos, ainda, a ajuda de toda a milícia celeste e, com verdadeiros anelos do coração, invocamos o Paráclito. Portanto, por sua inspiração, para honra da Santa e Indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da Fé Católica e para a propagação da Religião Católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor Nosso, dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, por conseguinte, ser crida firme e inabalavelmente por todos os fiéis.

42. Em conseqüência, se alguém ousar – o que Deus não permita – pensar contrariamente ao que definimos, saiba e esteja ciente de que ipso facto  incidiu em anátema, de que naufragou na fé e apostatou da unidade da Igreja; além disso, por sua própria causa incorre nas penalidades estabelecidas por lei, caso se atreva a manifestar, por palavras ou por escrito, ou por  outros quaisquer meios externos, sua opinião íntima.
Frutos da Imaculada Medianeira

43. Nossa língua transborda de alegria e nosso coração rejubila. Rendemos e não cessaremos de render os mais humildes e sinceros agradecimentos a Cristo Jesus, Senhor Nosso, por Nos ter concedido, embora indigno, por singular favor seu, decretar e oferecer esta honra, glória e louvor à Santíssima Mãe. Ela, toda pura e imaculada, esmagou a cabeça envenenada do mais cruel dragão, trazendo ao mundo a salvação; Ela é a glória dos Profetas e dos Apóstolos, a honra dos Mártires, a coroa e delícia dos Santos; o refúgio mais seguro, o mais valioso amparo de quantos se acham em perigos. Com o seu Unigênito Filho, Ela é a mais poderosa Mediadora e Consoladora no mundo universo. Ela é a suma glória e ornamento, a fortaleza inexpugnável da Santa Igreja. Pois Ela destruiu todas as heresias e livrou os povos e nações fiéis de todas as calamidades gravíssimas. Também a Nós livrou-Nos de tantos perigos que nos assediavam. Temos, pois, confiança e esperança absolutas e totais de que a Bem-aventurada Virgem, por seu patrocínio valiosíssimo, fará com que todas as dificuldades sejam removidas e todos os erros dissipados, a fim de que Nossa Santa Madre Igreja Católica possa florescer, sempre mais, entre todas as nações e povos e possa espalhar seu reino “de mar a mar, do rio até aos confins da terra” (Sl 71, 8), e desfrute de perfeita paz, tranqüilidade e liberalidade. Ela obterá, também, perdão aos pecadores, saúde aos doentes, alento aos fracos, consolo aos aflitos, amparo aos que estão em perigo. Ela há de apagar a cegueira espiritual dos que erram, para que possam voltar às sendas da verdade e da justiça, e para que haja um só rebanho e um só pastor.

44. Que todos os filhos da Igreja Católica, tão caros ao Nosso coração, ouçam estas Nossas palavras. Continuem, com um zelo ainda mais ardente de piedade, de religião e amor, a cultuar, invocar e orar à Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, concebida sem pecado original. Recorram com inteira confiança a esta Mãe dulcíssima de clemência e de graça nos perigos, dificuldades, necessidades, dúvidas e temores. Pois, sob sua égide, seu patrocínio, sua proteção, não há receios e nem desesperanças. Porque, enquanto Nos dedica uma afeição verdadeiramente maternal e zela pela obra de Nossa salvação, Ela se mostra solícita para com todo o gênero humano. E, desde que foi designada por Deus para ser a Rainha do Céu e da Terra e exaltada acima de todos os coros angélicos e de todos os Santos, Ela assentada à direita de seu Unigênito Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, apresenta nossos rogos da maneira mais eficiente, e alcança o que pede, pois sempre é atendida.[...]
Publicação da Definição

45. Para que, finalmente, esta Nossa definição da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria seja conhecida de toda a Igreja, desejamos que esta Nossa Carta Apostólica se torne um memorial perpétuo; ordenamos, também, que os transcritos e publicações que vierem a ser feitos e postos à venda ou ao público, contenham a mesma autenticidade do original. Tais traslados e cópias, contudo, devem ser subscritos por um notário e autenticados pela censura de uma pessoa da ordem eclesiástica. Por isso, que ninguém infrinja este documento de Nossa declaração, promulgação e definição, nem se oponha ou contradite temerária e atrevidamente. Se alguém se der a liberdade de intentar tal, saiba que incorrrerá na cólera do Deus Onipotente e dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dada em Roma, junto de São Pedro, aos 8 do mês de Dezembro do ano de 1854 da Encarnação de Nosso Senhor, 9º ano de Nosso Pontificado.




    Pio IX, PAPA

domingo, 7 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Nos seus dias a justiça florirá(Sl 71)

Primeira Leitura (Is 11,1-10) - Segunda Leitura (Rm 15,4-9) -  Evangelho (Mt 3,1-12)

  07/12/2025 - SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

TEMPO DE CONVERSÃO 


Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista.

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi: 'nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus' (Is 11, 1-2). É Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus: 'Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada' (Is 11,10).

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João é aquele que foi proclamado por Isaías como sendo 'a voz que grita no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo.

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

sábado, 6 de dezembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (VIII)

     

PARTE II - O JUÍZO FINAL

II. Sobre Como os Bons e os Maus Serão Conduzidos ao Local do Julgamento 

De acordo com a opinião geralmente aceita, o julgamento final será realizado no vale de Josafá, não muito longe de Jerusalém. Essa opinião se baseia nas palavras do profeta Joel: 'reunirei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá' (Jl 4,2). E ainda: 'De pé, nações! Subi ao vale de Josafá, porque é ali que vou sentar-me para julgar todos os povos ao redor!' (Jl 4,12). Não é difícil alegar uma razão pela qual Cristo deveria realizar o julgamento final neste lugar, pois ali está perto do local onde Ele sofreu, e não é justo que, no mesmo lugar, Ele apareça como nosso Juiz? O Monte das Oliveiras, cenário da sua agonia, foi também o da sua gloriosa Ascensão.

Pode-se, no entanto, objetar que o vale de Josafá não poderia conter os milhões e milhões de seres humanos que serão reunidos para o julgamento. Mas quando um local é indicado como o provável teatro do Juízo Final, isso não significa necessariamente que toda a humanidade será reunida nesse espaço limitado.

Consideraremos agora de que maneira seremos reunidos para o julgamento final. Se os justos e os ímpios forem encontrados juntos nos cemitérios e em outros lugares, acontecerá o que Nosso Senhor predisse: 'Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão e separarão os maus dos justos' (Mt 13, 49). Pois, uma vez que os bons repousam entre os ímpios, segue-se que, na ressurreição, eles serão encontrados entre os maus. Assim, após a Ressurreição Geral, os santos Anjos virão e separarão os eleitos dos réprobos. São Paulo, falando sobre isso, diz: 'Porque o próprio Senhor descerá do céu com ordem, e com voz de arcanjo, e com trombeta de Deus; e os mortos que estão em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para encontrar Cristo nos ares' (1Ts 4,15-16). Ou seja, todos os justos serão levados nas nuvens com esplendor e grande glória pelos anjos ao lugar do julgamento. Agora imagine que visão maravilhosa será quando os santos, com seus corpos glorificados, brilhando como ouro polido à luz do sol, forem transportados pelo ar, escoltados por seus anjos da guarda! Com que exultação e alegria eles seguirão seu caminho triunfal!

E quando todos se reunirem no vale de Josafá, eles se cumprimentarão com amor e se abraçarão com alegria mútua. Pense por um momento, ó cristão, como você se alegraria se tivesse a sorte de se encontrar entre o número dos abençoados. Essa felicidade ainda está ao seu alcance; se você realmente a desejar com toda a força de sua vontade, será contado nessa feliz companhia. Esforce-se para cumprir todos os seus deveres bem e fielmente, e você também um dia se juntará a essa gloriosa e triunfante procissão.

Consideraremos agora como os ímpios serão transportados para o vale de Josafá e o que os aguarda lá. Ai de mim! Seu destino é tão triste que mal me atrevo a descrevê-lo em detalhes. O que esses infelizes pecadores pensarão, o que dirão quando virem os santos anjos levando os eleitos de entre eles e transportando-os com glória e esplendor pelo ar? O Sábio nos dá uma ideia de seus pensamentos quando nos diz: 'Estes, vendo isso, ficarão perturbados com um medo terrível e se surpreenderão com a rapidez da salvação inesperada dos justos; dizendo dentro de si mesmos, arrependidos e gemendo de angústia de espírito: Estes são aqueles que nós outrora ridicularizávamos e tomávamos como parábola de opróbrio. Nós, tolos, considerávamos a vida deles loucura e o seu fim sem honra. Vede como eles estão contados entre os filhos de Deus, e o seu destino está entre os santos' (Sb 5,2-5). Como lhes causará tristeza ver aqueles que antes desprezavam tão profundamente agora honrados e amados pelos Anjos de Deus, e conduzidos por eles em glória e triunfo para encontrar Cristo. E aqueles que antes exibiam suas riquezas, que desprezavam todos os seus semelhantes em seu orgulho arrogante, agora estão entre os Anjos caídos, pobres, miseráveis, desprezados.

Quando os Anjos tiverem conduzido todos os eleitos ao vale de Josafá, eles continuarão a conduzir todos os réprobos para lá, com os espíritos malignos que se misturam com eles. Eles gritarão em alta voz: 'Fora daqui, fora para o julgamento! O Juiz dos vivos e dos mortos ordena que vocês compareçam diante Dele'. Que grito lancinante de angústia essas criaturas infelizes emitirão! Farão o possível para resistir à ordem dos Anjos, mas lutarão em vão; devem obedecer à ordem dos mensageiros de Deus. Juntamente com os espíritos malignos, os condenados serão levados à força para o lugar do julgamento. Que viagem terrível! O ar está repleto de gritos de raiva. Os espíritos das trevas, com malícia e crueldade diabólicas, já descarregam seu rancor atormentando as criaturas infelizes que o pecado tornou suas vítimas. Ouçamos o grito de desespero arrancado dos seres miseráveis: 'Que tolos fomos! Tolos impensados! Aonde nos levou o caminho da transgressão? Ai de nós! Ele nos trouxe ao severo, ao terrivelmente severo tribunal de Deus!'

Ouça, ó pecador, as lamentações dolorosas e as autoacusações dessas pobres criaturas. Cuidado para que você também não se torne um deles. Ore a Deus para que o preserve de um destino tão chocante e diga: 'Deus misericordioso, lembrai-vos do alto preço que pagou por mim e do quanto sofreu por mim. Por causa desse preço inestimável, não permitais que eu me perca, resgatai-me e acolhei-me entre as ovelhas do seu rebanho para que, com elas, eu possa louvar e glorificar a vossa bondade amorosa por toda a eternidade'.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)


sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

SOBRE A VIRTUDE DA PENITÊNCIA

Certas almas, mesmo piedosas, ao ouvir a palavra penitência ou mortificação, que exprimem a mesma ideia, experimentam às vezes um sentimento de repulsa. De onde isso provém? Não deve surpreender-nos; tal sentimento tem uma origem psicológica. A nossa vontade busca necessariamente o bem em geral, a felicidade, ou algo que parece sê-lo. Pois bem, a mortificação que refreia algumas das tendências dos nossos sentidos, alguns dos nossos desejos mais naturais, aparece a tais almas como algo contrário à felicidade, daí, pois, esta repugnância instintiva na presença de tudo o que constitui a prática da renúncia de si mesmo. 

Além disso, vemos muitas vezes na mortificação um fim, quando não é mais do que um meio, meio necessário sem dúvida, indispensável, mas afinal meio. Não minimizamos o Cristianismo, ao reduzir a papel de meio a renúncia de si mesmo. O Cristianismo é um mistério de morte e de vida, mas a morte não tem outro objetivo senão o de salvaguardar a vida divina em nós: 'Não é Deus de mortos, mas de vivos'. 'Cristo, ao morrer, destruiu a morte, e ao ressuscitar, restituiu-nos a vida' (Prefácio da Missa da Páscoa). A obra essencial do Cristianismo, o fim último que persegue por si só, é uma obra de vida; o Cristianismo é a reprodução da vida de Cristo na alma. 

Assim, como já vos disse, a existência de Cristo oferece este duplo aspecto: 'entregou-se à morte pelos nossos pecados, ressuscitou a fim de nos comunicar a vida da graça' (Rm 4,25). O cristão morre a tudo o que é pecado, para viver mais intensamente da vida de Deus; a penitência, consequentemente, não é, em princípio, senão um meio para conseguir a vida. São Paulo notou isso muito bem quando disse: 'Levai sempre nos vossos corpos a mortificação de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nós' (2Cor 4,10). 

Que a vida de Cristo, que tem o seu princípio na graça e a sua perfeição no amor, aumente sempre em nós: esse é o objetivo e não há outro. Para conseguir isso, é necessária a mortificação; por isso, diz São Paulo: 'Os que pertencem a Cristo, em cujo número, pelo nosso batismo, nos contamos, crucificam a sua carne com os seus vícios e concupiscências' (Gl 5,24). E em outro lugar, diz ainda com linguagem mais explícita: 'Se viverdes segundo os instintos da carne, fareis morrer em vós a vida da graça; mas se mortificardes as vossas más inclinações, vivereis uma vida divina' (Rm 8,13).

(Excertos da obra 'Jesus Cristo, Vida da Alma, de Dom Columba Marmion)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

PALAVRAS ETERNAS (XXV)

 

'No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu!'

(Manuscrito da Irmã Lúcia, excertos da obra 'Um caminho sob o olhar de Maria',
publicado pelo Carmelo de Coimbra, 2013)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (X)

Dentre os ícones marianos, no âmbito da tradição bizantina, destacam-se aqueles que representam suas grandes festas: a Natividade da Mãe de Deus (8 de setembro), sua Apresentação no Templo (21 de novembro), a Anunciação (25 de março) e a Dormição da Theotokos (15 de agosto). Maria também é comumente representada nos ícones das duas festas que ela compartilha diretamente com seu Filho: a Natividade de Cristo (25 de dezembro) e a Apresentação do Senhor no Templo (2 de fevereiro).


A Koimesis (ou Kemesis) é o ícone da Dormição, ou seja, do adormecer de Maria. O ícone representa Maria deitada num leito coberto com o mesmo tecido vermelho do presépio, rodeada pelos apóstolos. Logo atrás dela, Cristo segura uma criança vestida de branco, simbolizando a alma de Maria.

Na representação abaixo, podemos explicitar melhor a riqueza dos simbolismos. O ícone, com tons dourados predominantes, mostra Maria em seu leito de morte, rodeada por uma grande gama de personagens, que incluem anjos e santos, líderes da Igreja, bispos, evangelistas, amigos e vizinhos (simbolizados pelas mulheres na janelas) e os apóstolos que chegam em nuvens (símbolo das longas viagens das missões apostólicas) circundando a Nova Sião. Aos pés da Virgem, o discípulo amado inclina-se em direção a ela, num simbolismo bíblico com a frase de Jesus ao discípulo amado na Cruz: 'Eis aí tua Mãe' (Jo, 19,27). São Pedro, à direita, faz a incensação do corpo, com São Paulo na cabeceira do leito. As velas acesas em torno do leito representam a manifestação da luz divina em um mundo de trevas.


O ícone é uma imagem de eventos distintos, embora mostrados num mesmo plano, de forma sequencial. A criança vestida de branco nos braços de Jesus simboliza a alma de Maria sendo levada ao Céu. Na parte superior da imagem, é o próprio corpo físico de Maria, levado pelos anjos, que é conduzido em direção às portas abertas do Reino Celeste, encimado pelo Anjo apocalíptico de seis asas. Um elemento icônico bastante singular está representado duas vezes na parte central da figura: são as chamadas mandorlas, estruturas amendoadas que circundam figuras sagradas. A maior abrange o reino celestial (tomada pelos anjos) e a menor constitui a aura que envolve Jesus Cristo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

POEMAS PARA REZAR (LXIII)

A Serva de Deus Madre Maria José de Jesus (1882 - 1959) nasceu sob o nome de batismo de Honorina de Abreu, sendo a filha primogênita do historiador ateu Capistrano de Abreu (1853 - 1927). Perdeu a mãe aos 9 anos. Sua vida religiosa exemplar foi moldada por um profundo zelo e empenho de orações e pedidos pela conversão do pai à fé católica, do qual a poesia abaixo é um belo exemplo disso. 

A MEU PAI

Foste tu, caro pai, que do seio do Eterno
Me arrancaste e trouxeste a este mundo, a esta vida....
Quando eu desabrochei, qual flor recém-nascida,
O sol que me aqueceu foi teu amor paterno.

Teu sangue é o sangue meu... Teu trabalho superno
Ganhou-me o pão com que eu cresci e fui nutrida.
Ah! quanto te custei! quanta dor! quanta lida!
Desde o calor do estio aos gelos do teu inverno!

E agora dá-me a mão... É noite. Vem comigo!
Vem, que eu te levarei a Jesus, teu Amigo,
Que te espera saudoso... Oh! dize-me que sim!

Foste meu pai, e eu tua mãe serei agora:
Dar-te-ei a eterna Luz, de que me deste a aurora;
Dar-te-ei, por esta vida - a vida que é sem fim!

(Madre Maria José de Jesus)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

PROPÓSITO PARA A PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO

 


'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44)

Fiquemos, pois, preparados! A preparação começa pelo anseio feliz pela vinda do Senhor e se completa em estarmos prontos para o receber como filhos de Deus.

Assim como Cristo entrou no mundo para salvar toda a humanidade, Ele precisa entrar no nosso coração para salvar a nossa alma! Para isso, temos de ser moradas da graça santificante e hóspedes da Santa Vontade de Deus, resistindo às tentações, às vicissitudes humanas e, principalmente, ao pecado. Precisamos estar preparados no amor às coisas de Deus e no horror ao pecado.

Quem esperamos é Jesus, o Rei dos reis, o Cordeiro Imolado, nosso Salvador e nosso Redentor, Aquele que nos legou as moradas eternas, abriu os Portões do Céu e que pagou um preço de Cruz pelos nossos pecados para que nos tornássemos dignos de sermos filhos de Deus. Quem esperamos é Jesus Cristo, Juiz da história humana, Juiz de cada alma em particular. Esperar Jesus é compartilhar com Ele, desde agora, o lugar preparado para nós na eternidade de Deus.

Peçamos a Maria, Nossa Senhora de todas as graças, aquela que se preparou como obra prima de Deus para receber Jesus, interceder por todos nós, para que, quando Jesus nos vier visitar, possamos estar preparados, com rins cingidos e velas na mão, para receber Jesus com toda alma e coração!

Que, nesta Primeira Semana do Advento, sejamos zelosos em limpar a casa, adornar a manjedoura, remover as manchas dos nossos pecados e perfumar com virtudes o nosso interior, pois, como nos disse o Senhor: 'Buscai primeiro o Reino de Deus' (Mt 6,33). E que, assim, possamos dizer com viva confiança e esperança: 'Vem, Senhor; Vem, meu Jesus, habitar em mim, porque estou preparado!'

domingo, 30 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (Is 2,1-5) - Segunda Leitura (Rm 13,11-14a) -  Evangelho (Mt 24,37-44)

  30/11/2025 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

'FICAI ATENTOS AO SENHOR QUE VEM!' 


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período em que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Mateus.

E o novo ano litúrgico começa com Jesus exortando a vigilância aos filhos de Deus: 'Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor' (Mt 24,42). Do alto do Monte das Oliveiras e à vista de Jerusalém, Jesus vai alertar os seus discípulos sobre a necessidade de se permanecer vigilantes, na oração e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas. Vigilância que se impõe naqueles tempos, na vida futura da Igreja, nos remotos tempos da história: 'Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem' (Mt 24,38-39).

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma. Tudo o mais é efêmero e sem sentido. No fim dos tempos ou no fim de nossa vida, o Juízo Final ou o Juízo Particular vai nos pedir contas essencialmente da nossa vigilância filial à Santa Vontade de Deus, no cumprimento de nossas ações cristãs, no acervo das graças recebidas, na inquietude do coração humano ao encontro do Pai.

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: 'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida e para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade.

sábado, 29 de novembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (61/64)

 

61. FILHOS PREFERIDOS

Os pais não deveriam esquecer-se desta regra de ouro: tratar todos os filhos por igual, sem distinções que denotem predileção ou antipatia. O seguinte exemplo é da Sagrada Escritura.

Jacó tinha doze filhos. O pai amava aos filhos, os filhos ao pai, e os irmãos amavam-se mutuamente. Mas José foi crescendo, e Jacó 'amava mais a José que a todos os outros filhos, porque era o filho de sua velhice'. A essa altura muda-se a cena. A paz converteu-se em discórdia, o amor em ódio, a fraternidade em inveja, o sangue em vingança. Faltou a paz na família, porque faltou a igualdade no pai. A igualdade fomentava o amor; a desigualdade de trato motivou a discórdia.

Em que consistia aquela desigualdade e qual a diferença de tratamento? Que é que fez Jacó? Porventura deserdou aos outros para que José fosse o único herdeiro? Nada disso! Porventura tratava aos demais como escravos e só a José como filho? Nada disso! Pois, então, que foi que perturbou aquela paz bendita? Somente isto: Jacó fizera para José uma túnica de cores mais lindas do que para os outros filhos. Esse foi o principio da discórdia.

Notai bem: Não despiu aos outros para vestir a José. A todos provia, a todos vestia. Mas a túnica de José, por suas variegadas cores, era mais vistosa, e isso bastou. Surgiu a discórdia ou, melhor, a inveja, e um dia aquela túnica se viu manchada de sangue. José estaria morto pelas mãos de seus próprios irmãos, se a Providência divina não tivesse disposto de outro modo.

62. A VAIDADE FEMININA

Santa Rosália, em seus verdes anos, passava diariamente muito tempo, horas a fio, diante do espelho a enfeitar-se. Um dia, vendo refletir-se no espelho um Crucifixo que estava suspenso na parede oposta, pôs-se a pensar no contraste entre as suas vaidades e as humilhações do Salvador, entre o seu corpo amimado e o de Jesus dilacerado pelos açoites e espinhos... 

Movida pela graça, deixou Rosália as vaidades e vãos adornos e, daí em diante, levou urna vida de abnegação e sacrifício, chegando a uma grande santidade.

63. O CURA D’ARS E AS AVES

São João Batista Vianney, o santo cura de Ars, ouvindo uma ocasião o lindo gorjeio dos pássaros, ergueu os olhos aos céus e exclamou suspirando:
➖ Pobres avezinhas! Fostes criadas para cantar, e cantais! O homem, que foi criado para amar a Deus, não o ama! Quanta dor!

64. AJOELHAR-SE COM OS DOIS JOELHOS

Há muitos homens que, durante os atos religiosos, não se ajoelham ou ajoelham-se com um só joelho. Estão bastante errados. Dizia Santo Agostinho que ajoelhar-se diante de Deus com os dois joelhos é confessar com um a nossa fraqueza para que nos perdoe as nossas quedas; e, com o outro, a nossa necessidade para que nos estenda a mão e nos levante.

São Jerônimo diz que, com um joelho, dobramos nosso entendimento que o reconhece por Deus, e com o outro a nossa vontade que amorosamente o abraça. Santo Ambrósio dizia que, com um, reconhecemos o nosso ser miserável e, com o outro, adoramos seu ser eterno.

Dobrar um só joelho - dizia Durando - é zombar da Divindade, escarnecer do Redentor e imitar os algozes que assim o adoravam por escárnio. Significa - dizia Reynaude - que manca é a nossa piedade e manca é a nossa religião e, por isso, estamos em perigo de cair por terra. Dobremos ambos os joelhos, mormente na igreja, pois assim devemos adorar a um Senhor que, por sua grandeza e seu amor para conosco, merece a adoração de todo o nosso ser.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)