terça-feira, 3 de agosto de 2021

A SIMBOLOGIA DOS NÚMEROS NAS APARIÇÕES DE FÁTIMA

 

As aparições de Nossa Senhora em Fátima/Portugal em 1917 a três humildes crianças, Jacinta e Francisco Marto (ambos falecidos ainda na infância, logo após as aparições, em 20/02/1920 e 04/04/1919, respectivamente) e Lúcia dos Santos (mais tarde a Irmã Lúcia do Imaculado Coração), à época com 7, 9 e 10 anos, respectivamente, constituem uma referência notável dentre as revelações marianas, estabelecidas de modo admirável numa mensagem de cunho universal, mundialmente conhecida como Segredo de Fátima. Estas aparições são descritas e analisadas detalhadamente na página Fátima em 100 Fatos e Fotos publicada neste blog.

Nesta postagem particular, são realçados os aspectos muito especiais relativos ao simbolismo das datas e números associados às aparições de Fátima. Por que Nossa Senhora fez as suas aparições no dia 13? Por que em 1917? Por que foram seis aparições, entre os meses de maio e outubro de 1917? Nada do Céu vem por acaso, nada é mera coincidência. Nossa Senhora explicitou muitas coisas - avisos e advertências de extrema gravidade - aos homens dos tempos atuais, mas também reteve outras revelações menos claras e menos explícitas, que requerem ser desveladas além dos tempos específicos e do cenário das aparições.

Nossa Senhora apareceu às crianças sempre no dia 13 de cada mês (a quarta aparição ocorreu em 19 de agosto, em função da prisão e transferência das crianças até a localidade de Ourém, que foram impedidas, assim, de estarem presentes na Cova da Iria, na data de 13 de agosto, previamente recomendada por Nossa Senhora). Por que no dia 13, e não no dia 12 ou 15? A natureza específica desta data é claramente entendida à luz do Livro do Apocalipse, o livro das revelações por excelência:

'Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas' (Ap 12,1)

As revelações de Fátima traduzem uma dualidade extraordinária do plano divino da salvação: a ligação unívoca da Mãe de Deus e da Santa Igreja de Deus, entre Nossa Senhora e a Igreja de Cristo, fundada em Pedro e nos Doze Apóstolos - as doze estrelas que encimam a cabeça da Virgem de Fátima. Nossa Senhora (revestida de sol, como na sexta aparição) reunida com os Doze Apóstolos (1 + 12 = 13) é a ratificação nos tempos de todos os homens da civilização cristã nascida sob as graças do Espírito de Deus manifesto sobre a Igreja Reunida no Cenáculo de Jerusalém. Nossa Senhora é a rainha dos Apóstolos, rainha da Igreja de Cristo. A mensagem é clara: a Rússia e o mundo só serão convertidos pela devoção à Virgem e à Igreja, ao papado, ao sucessor de Pedro: este é o primado do plano divino da salvação. As heresias e o mal se alastram quando se viola e se deturpa essa união da dualidade da graça: e é por isso que o ecumenismo e o protestantismo têm a mesma raiz diabólica, que consiste como premissa a mesma rejeição ao papado e a mesma rejeição a Maria.

Vejamos agora a questão do ano: 1917, no cenário agreste das montanhas e vales da Serra do Aire e da aldeia de Aljustrel, nas proximidades de Fátima. Poder-se-ia, preliminarmente, analisar o contexto desta data no viés mais específico da política e da situação da Igreja em Portugal à época. Mas a chave é buscar essa abordagem no contexto muito mais geral da história humana da própria civilização cristã. E, mais uma vez, recorrer ao Livro do Apocalipse:

'Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas' (Ap 12,3)

O Dragão vermelho, com sete cabeças (sete vertentes do mal) e dez chifres (o mal criado, proclamado, difundido e amplificado à décima potência), tem símbolo 17 = 7 + 10 e será dominado pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria. O Dragão vermelho representa o comunismo e o ateísmo marxista que, utilizando os valores do mundo, obstruem e se revoltam contra Deus e a civilização cristã. O simbolismo do mal no número 17 prospera e se regurgita na Reforma Protestante (1517), no nascimento da maçonaria moderna (1717) e na revolução russa de 1917.

Nas aparições de 1917, Nossa Senhora revelou-se a Senhora do Rosário (sexta aparição) e mostrou ser a oração do Rosário (terceira aparição) o instrumento dado aos homens para vencer o dragão vermelho e o pecado. O Rosário ensinado pela Virgem Maria a São Domingos de Gusmão e rezado pelas tropas cristãs que venceram os turcos otomanos na Batalha de Lepanto (7 de outubro de 1571). No dia 07/10 (7 + 10 = 17), dia que a Igreja comemora as glórias de Maria como Nossa Senhora do Rosário, devoção proclamada pela Igreja a partir de 1717. 

Eis aí as revelações de Fátima expressas segundo uma segunda dualidade: de um lado, o dragão vermelho com suas sete cabeças e dez chifres, ou seja, Satanás e as falanges do inferno; de outro lado, Maria, a Rainha do Santo Rosário, que esmaga o dragão infernal e que triunfa sobre toda a iniquidade.

As aparições se desenvolveram entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917: um período singular de tempo constituído por 153 dias. Este número é referido explicitamente no evangelho de São João: 153 peixes grandes foram coletados na rede puxada por Pedro do lago de Tiberíades e 'a rede não se rompeu' (Jo 21,12). Sim, 153 peixes grandes (ou seja, iguais) conformando a plenitude da graça da salvação concedida a todos os homens, sem exclusão de raça, nação ou língua. Essa pesca milagrosa seria (ou será) o resultado extraordinário da conversão da humanidade (e da Rússia em particular) a partir da dualidade de Nossa Senhora e do papado, que a Igreja ousou duvidar. Pesca milagrosa (conversão do mundo) ainda possível, se tangida pela oração frequente das 153 ave-marias do Rosário, como exaustivamente pedida por Nossa Senhora de Fátima. E, 'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará', quando o homem novo redivivo tornar-se, enfim, a perfeição da criatura inserida no domínio pleno da Trindade Santa de Deus.



153 é número triangular perfeito, soma de todos os primeiros 17 algarismos (a pesca milagrosa que salva a todos, desde os que sempre estiveram em Deus - os grandes profetas e santos do número 1 até os que estavam sobre o pleno domínio do dragão vermelho do número 17). É o somatório da unidade de Deus três vezes santo: (1 x 1 x 1), da plenitude da graça concedida, assimilada e alcançada (3 x 3 x 3) e da solicitude perfeita da humanidade ao plano divino da salvação, compartilhada na plenitude da graça tal como os 5 peixes distribuídos pelo Senhor à multidão faminta: (5 x 5 x 5). Em Fátima, encontra-se em tudo o selo firmado de Deus!

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (88/90)

 

88. SANTA CATARINA DE SENA

Nasceu em Sena, cidade da Itália, em 1347, no dia em que a Igreja celebra o mistério da Encarnação. Seu pai dedicava-se à indústria tintureira. Catarina fôra precedida, no lar paterno, por vinte e um irmãos. Contava apenas seis anos, quando Nosso Senhor a favoreceu com uma visão extraordinária e profética.

Sobre a torre do convento de São Domingos, viu um trono resplandecente, no qual estava sentado Jesus Cristo, revestido como um papa, com a tiara na cabeça, e tendo a seu lado São Pedro, São Paulo e São João. Jesus Cristo infundiu-lhe um conhecimento sobrenatural do que é a igreja e um amor ardentíssimo à mesma, e anunciou-lhe que seria uma grande capitã de seus exércitos e que Ele se valeria dela para purificar a sua igreja.

Aos quatorze anos, manifestou aos seus pais o desejo de ingressar na Ordem Terceira de São Domingos. Para provar a sua vocação, empregaram-na nos trabalhos mais humildes. Foi a criada de todos. Portou-se com tamanha humildade que seus pais consentiram que seguisse a vocação religiosa. Para que compreendesse ainda mais a Igreja, Jesus Cristo fê-la morrer, e sua alma, separada do corpo, percorreu o céu e o purgatório e mostrou-lhe até mesmo o inferno, onde os separados para sempre da Igreja sofrem eternamente e, em seguida, a ressuscitou.

Assim preparada, começou o seu apostolado. Não pregava dos púlpitos, porque isso competia aos sacerdotes; falava, porém, a enormes auditórios tanto nas praças como em pleno campo. Seguiam-na milhares de discípulos, entoando salmos de penitência; seguiam-na muitos sacerdotes, que confessavam os pecadores arrependidos. Aqueles eram dias difíceis para a Igreja. O papa mudara-se para a cidade de Avinhon, na França, e esta troca de residência do bispo de Roma escandalizava e dividia os católicos.

Obedecendo a Jesus Cristo, Santa Catarina apresentou-se ao papa, que era então Gregório XI, e intimou-o a voltar para Roma. O pontífice pediu-lhe uma prova de que o Espírito Santo a inspirava e ela respondeu: 'Tu mesmo o prometeste, com voto, no dia de tua elevação ao Pontificado'. O Papa, ao ver descoberto esse segredo, que a ninguém da terra havia confiado, não vacilou mais e transferiu-se para Roma.

Santa Catarina pediu a Deus que aceitasse a sua vida pela salvação do sucessor de Gregório XI, Urbano VI, a quem os demônios queriam assassinar, induzindo os romanos à sublevação. Aceitou Jesus a sua oferta, sendo a última enfermidade um verdadeiro martírio. Seu corpo parecia um esqueleto. A 29 de abril de 1380, aos trinta e três anos de idade (isto é, na mesma idade em que morreu Jesus Cristo, segundo se crê), seu rosto iluminou-se e sua alma voou para o céu. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 30 de abril.

89. O SIGILO DA CONFISSÃO

São João Nepomuceno, natural da Boêmia, foi martirizado em Praga no ano de 1393. Seus pais, de idade bastante avançada, desejando ter sucessão, visitaram como peregrinos um santuário de Maria, onde imploraram a graça. Dizem que, ao nascer-lhes o filho, baixou do céu uma luz que envolveu toda a casa em forma de auréola.

A primeira coisa que o menino quis aprender na escola foi o catecismo e o modo de ajudar à missa. Todas as manhãs corria ao convento e, com edificante piedade, servia de coroinha. Sentindo vocação para padre, foi para Praga, capital do reino, onde estudou, recebeu as sagradas ordens e começou a pregar. Tendo os seus sermões produzido notável mudança nos costumes, foi nomeado cônego e pregador da corte. Quis o rei Venceslau que o santo fosse sagrado bispo; João, porém, que era muito humilde, declinou daquela honra, mas continuou desempenhando o cargo de confessor da rainha.

Aconteceu que o rei começou a entregar-se a excessos degradantes: embriagava-se com frequência e deixava-se arrebatar pela cólera a ponto de mandar meter num forno aceso o seu cozinheiro, pelo simples fato de lhe ter servido uma ave mal assada. Entre outras alucinações, concebeu a ideia de que sua esposa lhe era infiel e quis vingar-se. Mas como essa ideia não se apoiava em prova alguma, chamou o confessor da rainha e exigiu que revelasse os pecados ouvidos na confissão da mesma, prometendo-lhe grandes recompensas. São João respondeu: 'Não posso quebrar o sigilo sacramental. Tenho que servir e obedecer a Deus antes que aos homens'. Venceslau mandou atormentá-lo com tenazes em brasa e encerrá-lo num cárcere escuro. Mas, vendo que nada conseguia e tendo a rainha intercedido por seu santo confessor, deixou-o em liberdade.

Isso, porém, não durou muito. Um dia, voltava o santo de uma visita ao santuário de Nossa Senhora de Bunzlau e, ao passar perto do palácio real, o cruel Venceslau viu-o e, num de seus arrebatamentos de cólera, ordenou aos soldados que o prendessem e disse-lhe: 'Olha, padre: agora não se trata de guardar silêncio. Se não me dizes já os pecados que sabes da rainha, beberás toda a água do rio Moldava. O santo nem respondeu a tão insolentes palavras. Limitou-se a cruzar os braços e a orar. Ataram-lhe então os pés e as mãos, meteram-lhe na boca uma cunha e arrojaram-no do alto da ponte principal de Praga ao rio. Tendo sido milagrosamente encontrado o seu cadáver, sepultaram-no na catedral. Em 1719, estava ainda incorrupta a língua do mártir do sigilo sacramental.

90. SANTA RITA DE CÁSSIA

Nasceu esta santa a 22 de maio de 1381, num pequeno povoado chamado Rocca Porrena, não muito distante de Cássia, na Itália. Quando os pais, que eram lavradores, iam trabalhar na roça, depositavam a filhinha num cestinho de vime, que colocavam à sombra de uma árvore. Um dia, enquanto lavradores e pássaros cantavam alegres, a criança sonhava e agitava as débeis mãozinhas, tendo os olhos voltados para o céu azul. 

Foi então que se deu um fato curioso, como se lê em sua biografia. Um grande enxame de abelhas brancas envolveu a menina, produzindo um zumbido especial. Muitas entraram em sua boca e nela depositaram mel; e o mais interessante é que nenhuma a picava, como se não tivessem ferrões. Nenhum choro da criança se ouvia; de modo que os pais perceberam o fato, quando um dos ceifeiros se feriu com a própria foice e quis ir a Cássia para o necessário curativo. Ao passar perto da criança, viu as abelhas, que logo começaram a zumbir-lhe ao redor da cabeça. Parou e agitou as mãos para livrar-se delas e no mesmo instante a sua mão ferida cessou de sangrar e o ferimento fechou-se. Deu gritos de surpresa e, quando os pais da criança chegaram correndo, o enxame estava de novo rodeando a criança. Este fato é relatado pelos biógrafos da santa e transmitido pelas lições do Breviário.

Rita cresceu e, contra o seu desejo, foi por seus pais dada em casamento a um homem que a fez sofrer muitíssimo. A santa não só soube suportar tudo com heroica paciência, como ainda conseguiu a conversão do esposo. Após o falecimento deste, pediu admissão num convento, mas não a receberam. Deus, porém, a queria no convento e, certo dia, por um milagre, quando as religiosas, de madrugada, entraram no oratório, lá estava a santa a rezar.

O milagre da videira seca é daquele tempo. A superiora, para por à prova a obediência da boa noviça, ordenou-lhe que regasse de manhã e de tarde um madeiro seco, provavelmente um galho de videira que só servia para o fogo. Rita não opôs dificuldade alguma: de manhã e de tarde com admirável simplicidade, desempenhava sua tarefa, enquanto as Irmãs a observavam e se edificavam. Muito tempo durou a prova, ocasião naturalmente de muitos merecimentos para a santa. E Deus, também, quis manifestar quanto lhe agradou a obediência da virtuosa noviça. e foi assim: um belo dia ficaram as Irmãs estupefatas; e não era para menos, pois aquele galho seco começou a viver: surgiram brotos, apareceram folhas, estenderam-se ramos e uma bela videira deu a seu tempo deliciosas uvas. Foi um milagre evidente e que perdura até hoje, pois a videira milagrosa lá está na horta das agostinianas de Cássia para testemunhar a obediência da santa.

Benzem-se as uvas que são produzidas e, pelo seu uso e pela invocação da santa, obtêm-se grandes graças e maravilhosas curas. A 22 de maio de 1457, voava para o céu aquela santa alma. São inúmeros os fatos maravilhosos devidos à sua intercessão e, por isso, que é chamada a santa das causas impossíveis. Foi canonizada por Leão XIII em 1900. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 22 de maio.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

domingo, 1 de agosto de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'O Senhor deu a comer o pão do céu' (Sl 77)

 01/08/2021 - Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum

36. 'EU SOU O PÃO DA VIDA' 

 

Jesus havia acabado de realizar o milagre extraordinário da multiplicação dos pães e dos peixes para saciar a fome de uma grande multidão. E aquela gente estava entorpecida pela crença de ser saciada outra vez, e mais uma vez, e talvez vezes sem fim, pelo efeito da multiplicação cotidiana do alimento físico. De alguma forma, este era o regalo esperado: saciados de pão, tornavam-se todos propícios Àquele que os poderia fartar sempre de pão.

Mas Jesus lhes vai revelar a natureza de um outro pão, pão espiritual, que não se perde e nem se consome, mas que constitui 'alimento que permanece até a vida eterna' (Jo 6, 27). No evangelho deste domingo, Jesus desvenda o mistério da Eucaristia, que consubstancia o próprio Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Pão santo, pão dos anjos, pão de vida eterna. Anunciado por Jesus, selado pelo Pai, não como o maná em forma de grãos para fazer calar as murmurações dos filhos de Israel (Ex 16, 2-4.12-15), mas como alimento espiritual descido do Céu para a salvação do mundo.

A multidão espera, divaga indecisa. Moisés havia dito sobre o maná caído com o orvalho da manhã: 'Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento' (Ex 16, 15). E agora, estavam diante de uma outra revelação: o pão que 'permanece até a vida eterna' (Jo 6, 27) a ser dado por Jesus. Expondo a sua divindade, Jesus revela a mesma origem do pão, mas a natureza intrinsecamente diversa de um e de outro pão: 'Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo'.

Diante da acolhida deles: 'Senhor, dá-nos sempre desse pão' (Jo 6, 34), Jesus faz, então, o grande anúncio da Santa Eucaristia, alimento espiritual que nos forja a alma para uma imortalidade bem aventurada, mistério insondável de Deus escondido pelos séculos: 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede' (Jo 6, 35), ratificado mais além: 'Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia' (Jo 6, 54). No banquete eucarístico, Jesus é nossa comida e nossa bebida de vida eterna, que nos permite despojar-nos do homem velho e nos revestir do 'homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade' (Ef 4, 24).

sábado, 31 de julho de 2021

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA

 


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 e 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: O DESEJO TORTURANTE DE DEUS


No início da vida interior, o desejo da alma por Deus ainda é tênue. É um desejo um tanto débil, quase imperceptível. A alma se sente com um desconforto misterioso e suave que não consegue especificar. Ela se sente afetada no seu íntimo e se questiona, pois não compreende claramente. O amor de Deus está trabalhando em seu coração, mas como um fogo que arde sob as cinzas. De vez em quando, uma faísca irrompe e um impulso eleva a alma até Deus. Então tudo se acalma. As sombras envolvem mais uma vez as nervuras da alma, mas sem interromper o fogo que continua latente, devagar, mas ardente. O desejo de Deus aumenta e, aos poucos, vai invadindo toda a alma. E não tarda em se manifestar novamente.

Enquanto isso, esse desejo de Deus não fica inativo. Se pudéssemos penetrar nesta alma, veríamos que este desejo é quem inspira, dirige e vivifica tudo nela. A alma se volta para Deus sem descanso. Ela sempre procura por isso, com uma fome dolorosa, com uma sede excruciante. Como se isso fosse uma doença misteriosa que se alastra sem controle e sem cura, em todos os momentos e que não permite repouso nem de dia e nem de noite. Mesmo quando a alma parece distraída de sua dor por ocupações externas, ela a sente latente no mais íntimo de si mesma.

A ferida é profunda, a ferida está sempre exposta. Como sofremos quando te amamos, ó meu Deus! Mas também quão felizes somos nessa dor! E, por fim, chega um momento em que esse sofrimento torna-se intolerável e acaba explodindo. A alma geme, chora, grita de dor. Transparece, então, que, ao abrir assim o coração, uma lufada de ar fresco viria de fora para abrandar o fogo do seu amor. Mas todos esses esforços apenas aumentam e agravam o seu pesar. 

Ela, enfim, compreende claramente que somente Aquele que causou a ferida também poderá ser capaz de curá-la, pois a alma está faminta e somente Ele é o seu alimento. Ela está sedenta e somente Ele é a sua bebida refrescante. Ela é pobre e somente Ele é a sua riqueza. Ela está triste e somente Ele é o seu conforto e alegria. Ela está morrendo e somente Ele é o seu amor e a sua vida: 'Quando verei a face de Deus?' [Sl 42,3]. 'Eu morro porque não morro' [Santa Teresa de Ávila].

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

quinta-feira, 29 de julho de 2021

... E TRÊS PRÁTICAS PARA UMA VIDA CRISTÃ PERFEITA


Primeiro ...

... Exerce-te numa perfeita modéstia para que, segundo a doutrina do Apóstolo, 'a tua modéstia seja conhecida por todos os homens' (Fl 4, 5). Depois, exerce-te na modéstia da disciplina, com moderação no silêncio e no falar, na tristeza e na alegria, na clemência e no rigor, conforme as circunstâncias o exigem e a sã razão o prescreve. Finalmente, exerce-te na modéstia da civilidade, regulando, ordenando e compondo as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os membros e os sentidos, conforme o requer a educação moral e o costume na ordem, para que merecidamente pertenças ao número daqueles aos quais o Apóstolo diz: 'Faça-se tudo com dignidade e ordem' (I Cor 14, 40).

Segundo ...

... Exerce-te também na justiça para que te sejam aplicáveis as palavras do Profeta: 'Reina por meio da mansidão e da justiça' (Sl  44, 5). Na justiça, afirmo, íntegra pelo zelo da honra divina, pela observância da lei de Deus e pelo desejo da salvação do próximo. Na justiça regulada pela obediência aos superiores, pela sociabilidade aos iguais, pela punição das faltas dos inferiores. Na justiça perfeita, de forma que aproves toda a verdade, favoreças a bondade, resistas à maldade tanto no Espírito, como nas palavras e obras, não fazendo a ninguém o que não queres que te façam, não negando a ninguém o que dos outros desejas, para que imites com perfeição aqueles a quem foi dito: 'Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus' (Mt 5, 20).

Terceiro ...

... Finalmente, exerce-te na piedade, porque, como diz o Apóstolo, 'a piedade é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e futura' (I Tm 4, 8). Exerce-te na piedade do culto divino, recitando as horas canônicas atenta, devota e reverentemente, acusando e chorando as faltas cotidianas, recebendo a seu tempo o Santíssimo Sacramento e ouvindo todos os dias a Santa Missa. Na piedade, por meio da salvação das almas, auxiliando ora por frequentes orações, ora por instrutivas palavras, ora pelo estímulo do exemplo, para que quem ouve diga: Vem! (Ap 22, 17). Isto, porém, cumpre fazer com tanta prudência, que a própria alma não sofra prejuízo. Na piedade, por meio do alívio das necessidades corporais, suportando com paciência, consolando amigavelmente, ajudando com humildade, alegria e misericórdia, para desta forma cumprires o mandamento divino enunciado pelo Apóstolo: 'Carregai os fardos uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de Cristo' (Gl 6, 2). Para praticares tudo isto, o meio melhor, eu o creio, é a lembrança do Crucificado, a fim de que o teu Dileto, como um ramalhete de mirra (Ct 1, 12), descanse sempre junto ao teu coração. Isto te queira prestar Aquele que é bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Excertos da obra 'A Direção da Alma e a Vida Perfeita', de São Boaventura)

quarta-feira, 28 de julho de 2021

TRÊS CONSELHOS SOBRE A PRÁTICA DAS MORTIFICAÇÕES ...


Recomendações feitas por Santo Inácio de Loyola em carta escrita a São Francisco de Borja, a propósito de práticas de mortificação muito austeras que este então estava a fazer:

Primeiro de tudo ...

... quanto ao tempo dedicado aos exercícios exteriores, eu cortá-los-ia pela metade… Pelo que sei de vossa Senhoria, penso que seria melhor dedicar a outra metade ao estudo, ao governo das vossas terras e a conversas espirituais, sempre procurando manter a vossa alma calma, em paz, e disposta para o que quer que Nosso Senhor desejar trazer para ela. É, sem dúvida nenhuma, uma virtude e graça maior ser capaz de deleitar-se do Vosso Senhor em várias ocupações e lugares do que em apenas um.

Segundo ...

... no que se refere ao jejum e abstinência, aconselhar-lhe-ia, por amor de Deus, a cuidar e a fortificar o vosso estômago e os outros órgãos naturais, em vez de os enfraquecer. Quando um homem está de tal forma disposto que escolheria morrer do que cometer sequer a menor ofensa contra a Divina Majestade e quando, mais ainda, não está perturbado por nenhum ataque especial do demônio, do mundo ou da carne, como eu julgo ser o caso de vossa Senhoria, então, e este é um ponto que eu gostaria particularmente de lhe passar, visto que tanto o corpo e a alma pertencem ao seu Criador e Senhor, que vai exigir contas deles, não podeis deixar os vossos poderes naturais enfraquecerem-se. Se o corpo estiver doente, a alma não consegue funcionar como devia. Devemos amar e defender o corpo ao ponto dele ser obediente e cooperador da alma, porque, com tal obediência e ajuda, a alma consegue dispor-se melhor para servir e louvar o nosso Criador e Senhor.

Terceiro ...

... em relação ao castigo do corpo, eu evitaria de uma só vez qualquer forma de castigo que causasse o aparecimento de uma única gota de sangue. Em vez de procurar derramar o nosso sangue, é muito melhor procurar diretamente o Senhor de todos nós e os seus santos dons, tais como as lágrimas pelos nossos pecados, uma intensificação da nossa fé, esperança e caridade, a alegria em Deus e a paz espiritual, tudo com humildade e reverência à nossa santa Mãe, a Igreja, e aos seus líderes escolhidos. Cada um destes santos dons deveria ser muito preferido a todas as ações corporais, que são boas só quando tendem a obter esses dons para nós. Não estou a dizer que eles deveriam ser procurados pelo contentamento que nos trazem. Mas, visto que sabemos que sem eles todos os nossos pensamentos, palavras e obras são confusos, frios e incômodos, desejamo-los para que essas coisas se tornem ardentes, lúcidas e retas para o maior serviço de Deus.