L
DA SOBRIEDADE — VÍCIO OPOSTO: A EMBRIAGUEZ
Existe, além da abstinência, alguma outra virtude que ajude o homem a evitar tão desastrosos resultados?
Sim, Senhor; a virtude da sobriedade (CXLIX)*.
Que entendeis por sobriedade?
Uma virtude cujo fim é moderar o uso das bebidas alcoólicas (CXLIX, 1, 2).
Como se peca contra ela?
Excedendo-se no uso desta classe de bebidas até chegar ao estado de embriaguez (CL).
Que entendeis por estado de embriaguez?
O estado físico no qual, por abusar da bebida, se chega a perder o uso da razão (CL, 1).
Constitui sempre pecado?
Quando provém, como consequência de não se tomarem precauções, nem reparar nos resultados que podia trazer o excesso da bebida, sim, Senhor (CL, 2).
Quando será pecado mortal?
Quando, previsto o resultado, se prefere o estado de embriaguez ao de privar-se do prazer da bebida (CL, 2).
É a embriaguez um vício repugnante e embrutecedor?
Sim, Senhor; porque priva o homem do uso da razão e o rebaixa a um nível inferior ao dos animais que sempre conservam expedito o instinto para se governarem. (CL 3).
LI
DA CASTIDADE E VIRGINDADE — VÍCIO OPOSTO: A LUXÚRIA
Além da abstinência e sobriedade, qual é a outra grande virtude de que forma por si só uma das espécies da temperança?
A virtude da Castidade (CLI).
Que entendeis por virtude da castidade?
A que faz o homem senhor de todos os movimentos do apetite sensitivo em matéria venérea (CLI, 1).
Em que virtude se compendiam e resumem todas as perfeições da castidade?
Na Virgindade (CLII).
Que entendeis por virgindade?
O propósito firme, confirmado com voto, de renunciar para sempre aos prazeres do matrimônio (CLII, 1-3).
Que vício se opõe à castidade?
O vício da luxúria (CLIII).
Em que consiste?
Em procurar, por obras, desejos ou pensamentos consentidos, os prazeres dos atos destinados à propagação da espécie, prescindindo do que exige a honestidade ou impõe a natureza (CLIII, 1-3).
Tem a luxúria várias espécies?
Sim, Senhor; tantas quantas as maneiras de cair nela (CLIV).
Quais são?
A simples fornicação, contrária ao fim do matrimônio, que é a criação e educação dos filhos; os pecados contra a natureza, os mais graves nesta matéria, opostos ao fim primário do matrimônio, isto é, à procriação; o incesto, adultério, estupro e rapto, que consistem: o primeiro, em abusar dos parentes próximos; o segundo, de pessoas casadas; o terceiro, dos que vivem sob a tutela de seus pais ou encarregados e tutores e o quarto, em enganar ou violentar a qualquer pessoa com fins libidinosos (CLIV, 1-12).
O vício da luxúria, base e trama de todos os enumerados, é pecado capital?
Sim, Senhor; por ser o que, com maior força e veemência, fustiga os homens (CLIII, 4).
Quais são as filhas da luxúria?
A cegueira do espírito, a precipitação, a inconsideração, a inconstância, o amor de si mesmo, o ódio a Deus, o apego a esta vida e o horror à futura (CLIII, 5).
Têm estes vícios alguma qualidade ou traço comum?
Sim, Senhor; concordam na propensão para sobrepor a carne ao espírito, como para aniquilá-lo; e a sua torpeza, como a de sua mãe, a luxúria, consiste em degradar o homem, reduzindo-o à condição dos brutos (CLIII, 5).
LII
DAS VIRTUDES ANEXAS À TEMPERANÇA: A CONTINÊNCIA — VÍCIO OPOSTO: A INCONTINÊNCIA
Além das virtudes que constituem espécies da temperança, não há outras que se relacionam com ela na qualidade de agregadas?
Sim, Senhor; aquelas cujos atos são análogos aos da temperança, ainda que elas sejam diferentes, não só por terem objetos mais dóceis e fáceis, mas também porque os seus atos não se lhe igualam em perfeição (CLV).
Quais são?
A continência, a clemência, a mansidão e a modéstia (CLV-CLXX).
Que entendeis por continência?
A virtude, ainda que como tal imperfeita, de resistir às cadeias e encantos das paixões, com os olhos postos no dever (CLV, 1).
Por que dizeis que como virtude é imperfeita?
Porque a virtude perfeita avassala e domina as paixões e a continência delimita-lhes a ação (Ibid).
Opõe-se-lhe algum vício?
Sim, senhor; a incontinência (CLVI).
Em que consiste?
Em ceder à paixão e deixar-se por ela dominar e arrastar (CLVI, 1).
Qual é o pecado mais grave, o da intemperança ou o da incontinência?
O da intemperança, porque assim como a temperança é virtude mais perfeita do que a continência, o vício oposto a ela é mais grave pecado (CLVI, 3).
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)