domingo, 6 de dezembro de 2020

AS REGRAS DA MORTIFICAÇÃO CRISTÃ (III)

C. Mortificação do espírito e da vontade

1. Mortifique o espírito, proibindo-lhe todas as imaginações vãs, todos os pensamentos inúteis ou alheios que fazem perder o tempo, dissipam a alma e provocam o desgosto do trabalho e das coisas sérias;

2. Distancie do espírito todo pensamento de tristeza e inquietude. O pensamento do que poderá suceder no futuro não deve preocupá-lo. Quanto aos maus pensamentos que o molestam, deve fazer deles, distanciando-os, matéria para exercer a paciência; se são involuntários, serão para você uma ocasião de méritos;

3. Evite a teimosia das ideias e a obstinação dos sentimentos. Deixe prevalecer de boa vontade o juízo dos demais, salvo quando se trate de matérias em que você tem o dever de se pronunciar e falar;

4. Mortifique o órgão natural do espírito, ou seja, a língua. Exercite de boa vontade o silêncio, seja porque a regra o prescreve, seja porque você o impõe espontaneamente;

5. Prefira escutar os demais do que falar você mesmo; mas, sem embargo, fale quando convenha, evitando tanto o excesso de falar demais, que impede os outros de expressar os pensamentos, como o de falar de menos, que denota indiferença ofensiva pelo que as outras pessoas dizem;

6. Não interrompa nunca quem fala e não corte com uma resposta precipitada quem lhe pergunta;

7. Tenha um tom de voz sempre moderado, nunca brusco nem cortante. Evite os 'muito', os 'extremamente', os 'horrivelmente', etc.: não seja exagerado ao falar;

8. Ame a simplicidade e a retidão. A simulação, os rodeios, os equívocos calculados, que certas pessoas piedosas se permitem sem escrúpulo, desacreditam muito a piedade;

9. Abstenha-se cuidadosamente de toda palavra grosseira, trivial ou inclusive ociosa, pois Nosso Senhor nos adverte que nos pedirá conta delas no dia do Juízo;

10. Acima de tudo, mortifique a vontade; é o ponto decisivo. Sujeite-a constantemente ao que sabe ser do beneplácito divino e da ordem da Providência, sem ter em nenhuma conta os próprios gostos e aversões. Submeta-se até aos seus inferiores nas coisas que não interessam para a glória de Deus e os deveres de estado;

11. Considere a menor desobediência às ordens, inclusive aos desejos de seus superiores, como dirigida a Deus;

12. Lembre-se de que praticará a maior de todas as mortificações quando amar ser humilhado e quando tiver a mais perfeita obediência àqueles a quem Deus quer que se submeta;

13. Ame ser esquecido e tido por nada: é o conselho de São João da Cruz, é o conselho da Imitação: não fale apenas de si mesmo nem para o bem nem para o mal, mas busque pelo silêncio fazer-se esquecer;

14. Diante de uma humilhação ou repreensão, sente-se tentado a murmurar? Diga como Davi: 'Melhor assim! É-me bom ser humilhado!';

15. Não alimente desejos frívolos: 'Desejo poucas coisas, e o pouco que desejo, o desejo pouco', dizia São Francisco;

16. Aceite com a mais perfeita resignação as mortificações ditadas pela Providência, as cruzes e os trabalhos ligados ao estado em que a Providência o pôs. 'Quanto menos há de nossa eleição, mais há de beneplácito divino', dizia São Francisco de Sales. Queríamos escolher nossas cruzes, ter outra diferente da nossa, levar uma cruz pesada que tivesse ao menos algum brilho, antes que uma cruz leve que cansa pela continuidade: ilusão! Devemos levar a nossa cruz, e não outra, e o mérito disto não se encontra na qualidade dela, mas na perfeição com que a levamos;

17. Não se deixe turbar pelas tentações, pelos escrúpulos, pelas securas espirituais: 'O que se faz durante a aridez é mais meritório diante de Deus do que o que se faz durante a consolação', dizia o santo bispo de Genebra;

18. Não devemos entristecer-nos demais pelas nossas misérias, mas nos humilhar bastante. Humilhar-se é uma coisa boa, que poucas pessoas compreendem; inquietar-se e impacientar-se é uma coisa que todo o mundo conhece e que é má, porque nesta espécie de inquietude e de despeito, a maior parte pertence ao amor próprio;

19. Desconfiemos igualmente da timidez e do desânimo, que despendem as energias, e da presunção, que nada mais é do que o orgulho em ação. Trabalhemos como se tudo dependesse dos nossos esforços, mas permaneçamos humildes como se nosso trabalho fosse inútil.

(Cardeal Mercier)

sábado, 5 de dezembro de 2020

AS REGRAS DA MORTIFICAÇÃO CRISTÃ (II)

B. Mortificação dos sentidos, da imaginação e das paixões

1. Feche os olhos, diante de tudo e sempre, a todo espetáculo perigoso, e inclusive tenha a valentia de fechá-los a todo espetáculo vão e inútil. Veja sem olhar; não se fixe em ninguém para discernir a beleza ou a feiura;

2. Mantenha os ouvidos fechados às palavras bajuladoras, aos louvores, às seduções, aos maus conselhos, às maledicências, às zombarias que ferem, às indiscrições, à crítica malévola, às notícias sobre suspeitas, a toda palavra que possa causar o menor esfriamento entre duas almas;

3. Se o sentido do olfato tem de sofrer algo por consequência de certas doenças ou debilidades do próximo, longe de queixar-se disso, suporte-o com uma santa alegria;

4. No que concerne à qualidade dos alimentos, tenha muito respeito pelo conselho de Nosso Senhor: 'Comei o que vos for apresentado'. 'Comer o que é bom sem comprazer-se nisto, o que é mau sem mostrar aversão, e mostrar-se indiferente tanto em um como no outro, esta é a verdadeira mortificação', dizia São Francisco de Sales;

5. Ofereça a Deus as refeições, imponha-se à mesa uma pequena privação: por exemplo, negue-se uma pitada de sal, um copo de vinho, uma guloseima, etc.; os demais não perceberão, mas Deus levará em conta;

6. Se o que lhe apresentam excita vivamente a atração, pense no fel e no vinagre que apresentaram a Nosso Senhor na cruz: isto não lhe impedirá de saborear o manjar, mas servirá de contrapeso ao prazer;

7. Há de se evitar todo contato sensual, toda carícia em que se poria certa paixão, em que se buscaria ou teria um gozo sobretudo sensível;

8. Prescinda de ir aquecer-se, a menos que lhe seja necessário para evitar uma indisposição;

9. Suporte tudo o que aflige naturalmente a carne; especialmente o frio do inverno, o calor do verão, a dureza da cama e todas as incomodidades do gênero. Faça boa cara em todos os tempos, sorria a todas as temperaturas. Diga com o profeta: 'Frio, calor, chuva, bendizei ao Senhor'. Felizes somos se podemos chegar a dizer com gosto esta frase tão familiar a São Francisco de Sales: 'Nunca estou melhor do que quando não estou bem';

10. Mortifique a imaginação quando ela lhe seduz com a isca de um cargo relevante, quando se entristece com a perspectiva de um futuro sombrio, quando se irrita com a recordação de uma palavra ou de um ato que o ofendeu;

11. Se sente em você a necessidade de sonhar, mortifique-a sem piedade;

12. Mortifique-se com o maior cuidado sobre o que se refere à impaciência, à irritação ou à ira;

13. Examine a fundo os desejos, e submeta-os ao controle da razão e da fé: Você não deseja antes uma vida longa a uma vida santa? Prazer e bem-estar sem tristeza nem dores, vitórias sem combates, êxitos sem contrariedades, aplausos sem críticas, uma vida cômoda e tranquila sem cruzes de nenhum tipo, ou seja, uma vida completamente oposta à de nosso Divino Salvador?

14. Tenha cuidado de não contrair certos costumes que, sem ser positivamente maus, podem chegar a ser funestos, tais como o costume de leituras frívolas, dos jogos de azar, etc.;

15. Trate de conhecer seu defeito dominante, e quando o tiver conhecido, persiga-o até os últimos recantos. Por isso, submeta-se de boa vontade ao que poderia haver de monótono e de aborrecido na prática do exame particular;

16. Não é proibido ter um bom coração e mostrá-lo, mas fique atento ao perigo de exceder o justo meio. Combata energicamente os afetos demasiado naturais, as amizades particulares, e todas as sensibilidades moles do coração.

(Cardeal Mercier)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

ORAÇÃO: RORATE CAELI (HINO DO ADVENTO)

Rorate Caeli constitui o hino do advento por excelência por comportar o espírito de expectativa e de súplica característico destes tempos litúrgicos. Composto no espírito da expectativa histórica da vinda do Messias, prenunciada nos textos bíblicos do Antigo testamento, o refrão do hino é um excerto do Livro do Profeta Isaías (Is 45, 8): 'Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso'.


Rorate Caeli desuper et nubes pluant justum
Derramai, ó Céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo

Ne irascaris Domine, ne ultra memineris iniquitatis
Ecce civitas Sancti facta est deserta
Sion deserta facta est, Jerusalem desolata est.
Domus sanctificationis tuae et gloriae tuae
Ubi laudaverunt Te patres nostri.

Não vos ireis, Senhor, nem vos lembreis da iniquidade.
Eis que a cidade do Santuário ficou deserta:
Sião tornou-se deserta; Jerusalém está desolada.
A casa da vossa santificação e da vossa glória,
Onde os nossos pais vos louvaram.

Rorate Caeli desuper et nubes pluant justum.
Derramai, ó Céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo

Peccavimus et facti sumus tamquam immundus nos,
Et cecidimus quasi folium universi
Et iniquitates nostrae quasi ventus abstulerunt nos
Abscondisti faciem tuam a nobis
Et allisisti nos in manu iniquitatis nostrae.

Pecamos e tornamo-nos como os imundos,
E caímos, todos, como folhas.
E as nossas iniquidades, como um vento, dispersaram-nos.
Escondestes de nós o vosso rosto
E esmagastes-nos pela mão das nossas iniquidades.

Rorate Caeli desuper et nubes pluant justum.
Derramai, ó Céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo

Vide, Domine, afflictionem populi tui
Et mitte quem missurus es
Emitte Agnum dominatorem terrae
De petra deserti ad montem fíliae Sion
Ut auferat ipse jugum captivitatis nostrae.

Olhai, ó Senhor, para a aflição do vosso povo,
E enviai Aquele que estais para enviar!
Enviai o Cordeiro dominador da Terra
Da pedra do deserto ao monte da filha de Sião
Para que Ele retire o jugo do nosso cativeiro.

Rorate Caeli desuper et nubes pluant justum.
Derramai, ó Céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo

Consolamini, consolamini, popule meus
Cito veniet salus tua
Quare moerore consumeris, quia innovavit te dolor?
Salvabo te, noli timere
Ego enim sum Dominus Deus tuus Sanctus Israel, Redemptor tuus.

Consola-te, consola-te, povo meu,
Em breve há de vir a tua salvação!
Por que te consomes na tristeza, se a dor te renovou?
Eu te salvarei, não tenhas medo!
Porque Eu sou o Senhor, teu Deus,
o Santo de Israel, o teu Redentor.

Rorate Caeli desuper et nubes pluant justum.
Derramai, ó Céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

AS REGRAS DA MORTIFICAÇÃO CRISTÃ (I)

Introdução

A mortificação cristã tem por fim neutralizar as influências malignas que o pecado original ainda exerce nas nossas almas, inclusive depois que o batismo as regenerou. Nossa regeneração em Cristo, ainda que tenha anulado completamente o pecado em nós, nos deixa sem embargo muito longe da retidão e da paz originais. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, ou seja, o triplo apetite da carne, dos olhos e do orgulho, se deixa sentir em nós, mesmo depois do batismo, a fim de excitar-nos às gloriosas lutas da vida cristã.

A Escritura logo chama esta tripla concupiscência de 'homem velho' em oposição ao 'homem novo que é Jesus que vive em nós e nós mesmos que vivemos em Jesus, como 'carne' ou 'natureza caída', oposta ao 'espírito' ou 'natureza regenerada' pela graça sobrenatural. Este velho homem ou esta carne, ou seja, o homem inteiro, com sua dupla vida moral e física, deve ser, não digo aniquilado, porque é coisa impossível enquanto dure a vida presente, mas sim mortificado, ou seja, reduzido praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; há que impedir-lhe que dê seu fruto, que é o pecado, e anular sua ação em toda a nossa vida moral. 

A mortificação cristã deve, portanto, abraçar o homem inteiro, estender-se a todas as esferas de atividade nas quais a natureza é capaz de mover-se. Tal é o objeto da virtude de mortificação. Vamos indicar sua prática, recorrendo sucessivamente às manifestações múltiplas de atividade em que se traduz em nós:

i) A atividade orgânica ou a vida corporal;

ii) A atividade sensível, que se exerce seja sob a forma do conhecimento sensível pelos sentidos exteriores ou pela imaginação, seja sob a forma de apetite sensível ou de paixão;

iii) A atividade racional e livre, princípio dos pensamentos e dos juízos, e das determinações da nossa vontade;

iv) Consideraremos a manifestação exterior da vida da alma, ou as ações exteriores;

v) E, finalmente, o intercâmbio das relações com o próximo.

A. Mortificação do Corpo

1. Limite-se, tanto quanto possa, em matéria de alimentos, ao estritamente necessário. Medite estas palavras que Santo Agostinho dirigia a Deus: 'Tu me ensinaste a considerar os alimentos como remédios. E quem é, Senhor, que não se deixa arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de fato grande, e deve engrandecer teu nome';

2. Rogue a Deus com frequência, rogue a cada dia que lhe impeça, com sua graça, de transpassar os limites da necessidade, ou deixar-se levar pelo atrativo do prazer;

3. Não coma nada entre as refeições, a menos que haja alguma necessidade ou razões de conveniência;

4. Pratique a abstinência e o jejum, mas os pratique somente sob obediência e com discrição;

5. Não é proibido experimentar satisfação corporal, mas o faça com intenção pura, bendizendo a Deus;

6. Regule o sono, evitando nisto toda relaxação ou moleza, sobretudo pela manhã. Se puder, fixe uma hora para se deitar e levantar, e se obrigue a ela energicamente;

7. Em geral, não descanse senão na medida do necessário; entregue-se generosamente ao trabalho, e não meça esforços e penas. Tenha cuidado para não extenuar o corpo, mas guarde-se também de agradá-lo: quando sentir que ele está disposto a rebelar-se, por pouco que seja, trate-o como a um escravo;

8. Se sente alguma ligeira indisposição, evite irritar-se com os demais por seu mau humor; deixe aos seus irmãos o cuidado de queixar-se; pelo que lhe cabe, seja paciente e mudo como o divino Cordeiro que levou verdadeiramente todas as nossas enfermidades;

9. Guarde-se de pedir uma dispensa ou revogação da ordem do dia pelo mínimo mal-estar: 'Há de se fugir como da peste de toda dispensa em matéria de regras', escrevia São João Berchmans;

10. Receba docilmente, e suporte com humildade, paciência e perseverança a penosa mortificação que se chama doença.

(Cardeal Mercier)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XVII)

  

PIA DE ÁGUA-BENTA

É aquela que se encontra à entrada da Igreja, nas colunas ou nas paredes, com água benta para que os fiéis, tocando-a devotamente, purifiquem-se dos pecados veniais, antes de entrarem no templo santo. Substitui a fonte que antigamente havia no adro para os fiéis lavarem o rosto e as mãos antes de entrarem na Igreja.

PIAS UNIÕES

São associações de fiéis, instituídas para o exercício de alguma obra de caridade ou de piedade. Não podem existir sem aprovação do bispo. Não devem erigir-se senão em igrejas ou capelas públicas ou ao menos semi-públicas. Estando eretas em igrejas que não sejam suas, podem exercer as funções eclesiásticas próprias, somente na capela ou no altar em que estão estabelecidas.

PLUVIAL (Capa de Asperges)

É uma veste aberta pela frente, que o sacerdote, em certos atos litúrgicos, lança aos ombros, caindo até quase ao chão. Era antigamente uma capa que servia para as procissões, tendo um capuz para abrigar-se da chuva (daí o nome de pluvial). Sendo antes igual à casula, foi perdendo a sua forma, até que, aberta por diante e coberta de bordados, começou a ser considerada, na Idade Média, como veste honorífica. O capuz foi perdendo a sua forma e uso, até se transformar no estofo liso, ornado de uma franja, que atualmente se encontra ao meio das costas, na capa. A capa é uma veste litúrgica reservada ao clero. O pluvial dos simples presbíteros não deve ser preso no pescoço com fecho ou broche de metal lavrado, o que é reservado aos bispos, mas sim com colchetes ou coisa semelhante. Não é permitido haver um presbítero assistente revestido de capa, numa missa que não seja de pontifical, exceto na primeira missa de um novo sacerdote.

POBREZA VOLUNTÁRIA

É um dos três Conselhos Evangélicos e consiste em renunciar à posse dos bens materiais. Geralmente este conselho é seguido pelos fiéis que abraçam o estado religioso. Diz o Apóstolo São Paulo: 'Nada trouxemos para este mundo e, sem dúvida, nada levaremos dele. Tendo, pois, com que nos sustentarmos e com que nos cobrirmos, vivamos contentes' (I Tm 6, 7.8).

POSITIVISTA

É aquele que afirma, absurda e impiamente, que só conhecemos os fenômenos sensíveis, e que, por isso, não podemos de modo nenhum atingir a natureza das coisas, ou demonstrar a existência de Deus e da alma humana.

POSSESSÃO DO DEMÔNIO

É a ação do demônio no corpo do homem produzindo, por meio dos membros e dos sentidos do possesso, atos extraordinários. São sinais de possessão: o homem falar línguas desconhecidas ou entendê-las, manifestar coisas ocultas e distantes, produzir forças superiores à idade e às condições naturais da pessoa, etc. Embora seja de admitir a possessão diabólica, não devemos ser fáceis em acreditar nos casos que se contam a tal respeito. Os meios de combater a possessão são os indicados contra os obsessos.

PRÁTICAS DE PIEDADE 

Eis algumas: I. Oração da manhã, para louvar a Deus e o suplicar desde o princípio do dia e oração da noite para agradecer e pedir perdão; II. Meditação, para aperfeiçoar a vida moral; III. Assistir à Missa, para tomar parte no único Sacrifício da Religião divina; IV. Comunhão diária, para alimentar a vida divina na alma; V. Trabalho e deveres de estado, bem cumpridos, para fazer a vontade de Deus; VI. Visita ao Santíssimo Sacramento e comunhão espiritual, para alimentar o fervor; VII. Leitura espiritual, para refletir e bem dispor a vontade; VIII. Exame de consciência, para vencer hábitos maus e defeitos; IX. Regularidade em todas as ações ordinárias, para haver ordem na vida;  X. Comemoração religiosa de aniversários, tais como do batismo, da comunhão solene e de outros.

PRECEITO

É a aplicação da lei àquilo que é regulado pela lei. Há preceitos afirmativos, e estes obrigam sempre, mas admitem exceções em certas circunstâncias, como por exemplo: o preceito de ouvir Missa, de que em certos casos alguém está isento; e há preceitos negativos, os quais nunca é lícito transgredir, como por exemplo: o preceito de não matar. Ninguém é obrigado ao preceito enquanto não o conhece. Aos príncipes seculares compete preceituar, para utilidade comum, nas coisas temporais; aos prelados compete preceituar nas coisas eclesiásticas. Na lei Evangélica ou no Cristianismo, há três gêneros de preceitos: os preceitos da Fé, que nos obrigam a crer firmemente todos os mistérios que Deus revelou à sua Igreja; os preceitos sacramentais, que nos obrigam aos sacramentos da Igreja, com as devidas disposições e em certos tempos e os preceitos morais, que estão contidos no Decálogo e no Santo Evangelho, particularmente no Sermão da montanha. Todos os preceitos morais pertencem à lei da natureza, por isso devem ser observados por todos os homens. Toda a lei é cumprida pelos preceitos da caridade, e os preceitos da caridade são somente dois: amor a Deus e amor ao próximo.

PREDESTINAÇÃO

É um ato da vontade divina, determinando, desde toda a eternidade, conduzir certas criaturas para a vida eterna. Escrevendo aos Romanos, São Paulo afirma: 'aos que Deus predestinou, a esses chamou e aos chamados justificou-os e, aos justificados, glorificou-os'» (Rm 8, 30). E em outro lugar, escreve ainda o mesmo Apóstolo: 'Deus elegeu-nos (em Cristo), antes da constituição do mundo... e predestinou-nos em caridade, para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo, segundo o beneplácito da sua vontade (Ef 1, 4. 5). O Concílio Valentino (ano 855) ensina: 'confessamos fielmente a existência da predestinação dos eleitos para a vida eterna'. A predestinação nada põe no predestinado, senão os seus efeitos, que são a preparação para a glória e a preparação para a graça, que é o meio único para conseguir a glória. Os predestinados não estão certos da sua predestinação, a não ser que Deus lhes faça conhecer. Ninguém, pois, pode ter a presunção de que é predestinado; todavia aquele que vive cristãmente, como a Igreja ensina, pode ter a esperança de ser chamado ao Céu, porque não pode viver virtuosamente sem um auxílio especial da graça divina.

PRIMÍCIAS E DÍZIMOS

São os recursos devidos ao clero e que são pagos segundo os particulares estatutos e costumes louváveis em cada região.

PRESBITERATO

É a ordem que confere o poder de consagrar o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, de administrar os sacramentos, exceto o da Confirmação e o da Ordem, de pregar, de benzer os fiéis e as coisas que tenham a seu uso, e de presidir às suas assembléias nos atos do culto religioso. Para receber a Ordem de Presbítero é necessário ter vinte e quatro anos completos e ter passado metade do quarto ano do curso teológico, a não ser que outra coisa seja permitida por legítimo privilégio.

PRESENÇA DE DEUS

Deus está em todas as criaturas, criando, conservando, governando, conhecendo tudo, mesmo os nossos pensamentos e os segredos do nosso coração. Esta verdade é luz e é força; lembrada que seja, evita o erro da inteligência e fortalece a vontade no desejo e na prática do bem. Guiados pelo pensamento da presença de Deus, vivemos sempre e em toda a parte, acompanhados ou sós, como um filho bem educado sob os olhares de seu pai, abstemo-nos de toda a ação má ou palavra repreensível, repelimos toda a ideia que possa despertar um mau desejo, vivemos alegremente e confiados na sua divina proteção. O Apóstolo São Paulo, falando da presença de Deus, escreveu: 'Não há criatura alguma invisível à sua vista; antes todas as coisas estão nuas e descobertas aos olhos dAquele a quem havemos de dar contas' (HB 4, 13).

PRIMA

É a primeira das Horas Canônicas que se segue a Laudes. Chama-se Prima porque devia ser recitada na primeira hora do dia, isto é, pelas seis horas da manhã. É, sem dúvida, a mais bela oração da manhã.

PRIMAZ

É um título dado a um bispo e que, além da prerrogativa de honra e direitos de precedência ao arcebispo, não tem consigo alguma jurisdição especial.

PROCLAMAS

São os anúncios públicos de futuro matrimônio, feitos na igreja, principalmente com o fim de descobrir impedimentos, se os houver. Os nubentes devem ser proclamados nas paróquias do seu domicílio ou quase domicílio, se o tiverem, e na do batismo, e naquelas em que tenham residido por mais de seis meses contínuos, depois da idade núbil. São dispensados da proclamação onde tenham residido unicamente por motivo de estudo. [Os proclamas devem ser lidos na igreja em três domingos e dias santos de guarda, à hora da Missa paroquial, ou a outra hora em que haja regular concurso de fiéis]. Todos os fiéis são obrigados a revelar ao pároco ou ao bispo do lugar, antes da celebração do Matrimônio, os impedimentos de que tiverem conhecimento. Só por motivo grave, o pároco pode assistir ao Matrimônio sem terem passado três dias depois da última proclamação, ou mediante licença do bispo. Não se realizando o matrimônio dentro de seis meses após a última proclamação ou de obtida a dispensa da mesma, deve repetir-se a leitura dos proclamas. Havendo causa legítima, o bispo pode dispensar das proclamações..

PROFECIA

É a predição certa e manifesta de um acontecimento futuro, contingente e livre, que realmente se realizou na época designada e cujo conhecimento, no momento da predição, não pôde ser adquirido por causas naturais. A profecia só pode ser feita por Deus, porque o homem não pode conhecer, com certeza, uma coisa futura, que depende da livre vontade de Deus ou de alguma criatura. Deus fez-se conhecer do seu povo escolhido — o povo de Israel — principalmente por meio das profecias, revelando-se a alguns homens de bom espírito que anunciavam acontecimentos futuros, acompanhando esses anúncios com milagres que Deus permitia que fizessem, para provar o caráter divino da revelação. Pelos milagres o povo conhecia ser verdade o que os profetas anunciavam e cria em Deus. Pela realização das profecias, os homens do tempo em que se realizavam, reconheciam-nas como verdadeiras e criam em Deus. Houve 4 profetas chamados maiores, por serem os seus escritos mais extensos: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Houve 12 profetas chamados menores, porque foram menos extensos no que escreveram.

PROFISSÃO RELIGIOSA

É a consagração temporária ou perpétua que o religioso ou a religiosa faz da sua pessoa a Deus (de forma simples ou solene), prometendo viver segundo a regra e o espírito da Ordem Religiosa a que pertence. Para fazer profissão perpétua, é necessário ter 21 anos de idade, quer a profissão seja simples, quer seja solene.

PÚLPITO

É uma tribuna que na igreja é destinada à pregação. Geralmente está colocado em uma coluna ou na parede da igreja, do lado do Evangelho, à altura suficiente para que o pregador se possa fazer ouvir de todos os fiéis que assistem à pregação. Nas igrejas catedrais, fica do lado da Epístola, para o pregador estar voltado para o bispo.

PURGATÓRIO

É o lugar onde as almas dos que morrem na graça de Deus, mas com algum pecado venial ou sem estarem purificadas das penas temporais devidas aos pecados graves já perdoados, expiam pelo sofrimento as penas dos pecados cometidos neste mundo, até que satisfaçam à justiça divina, para poderem entrar no Céu. Os sofrimentos das almas do Purgatório consistem em estarem privadas da visão de Deus e estarem ligadas pelos tormentos do fogo. Não sofrem somente: gozam também, porque têm a certeza de ir para o Céu e estão na graça de Deus. Nós podemos socorrê-las com os nossos sufrágios - orações, esmolas, sacrifícios, e, principalmente, oferecendo por elas o Santo Sacrifício da Missa. A Sagrada Escritura assim nos ensina, dizendo que: 'é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos, para que sejam livres dos seus pecados' (II Mc 12, 46). O Purgatório é apenas um lugar de expiação e durará só até ao fim do mundo.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

CALENDÁRIO CATÓLICO - DEZEMBRO DE 2020

 
(clicar sobre o calendário para imagem maior)

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O MUNDO É MUITO BOM

Este mundo é muito bom, tal como foi feito e tal como o vemos, porque Deus o quer assim: ninguém pode duvidar disso. Se a criação fosse desordenada e se o universo evoluísse ao acaso, poder-se-ia por em causa esta afirmação. Mas como o mundo foi feito com sabedoria e ciência, de modo racional e lógico, posto que foi ornado de toda a beleza, é preciso que Aquele que a ele preside e que o organizou não seja senão a Palavra de Deus, o seu Verbo, o seu Logos.

Sendo a boa Palavra do Deus de bondade, foi esse Verbo que dispôs a ordem de todas as coisas, que reuniu os contrários com os contrários para com eles formar uma só harmonia. É Ele, 'poder e sabedoria de Deus' (1Cor 1,24), que faz girar o céu, que tem a terra suspensa e que, sem que ela assente em nada, a mantém com a sua própria vontade ( Hb 1,3). O sol ilumina a terra com a luz que recebe dele, e a lua recebe a sua medida da sua luz. Por Ele a água fica suspensa nas nuvens, as chuvas regam a terra, o mar mantém-se nos seus limites, a terra cobre-se de toda a espécie de plantas (Sl 103).

A razão de esta Palavra, Verbo de Deus, ter vindo até às criaturas é verdadeiramente admirável. A natureza dos seres criados é passageira, fraca, mortal; mas, sendo pela sua natureza bom e excelente, o Deus do universo ama os homens.  Assim, vendo que, entregue a si própria, toda a natureza criada se esvai e se dissolve, para evitar que isso aconteça e para que o universo não regresse ao nada, Deus não o abandona às flutuações da sua natureza. 

Na sua bondade, com o seu Verbo, Ele governa e mantém toda a criação, que não sofre, portanto, o destino que teria se o Verbo não cuidasse dela, isto é, a aniquilação. 'Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criatura; porque foi nele que todas as coisas foram criadas, no céu e na terra, as visíveis e as invisíveis, tudo nele subsiste. Ele é a cabeça do Corpo, que é a Igreja' (Cl 1,15-18).

(Santo Atanásio)