sábado, 11 de abril de 2020

SÁBADO SANTO

VIGÍLIA PASCAL

Estamos prostrados em silêncio diante o Santo Sepulcro. Hoje é o dia da bênção do Fogo Novo, do Círio Pascal, da renovação das nossas promessas do batismo. Cantamos o Exultet com Maria. Com Maria, Mãe de todas as vigílias, aguardamos, em súplice espera, a Ressurreição do Senhor.


Vamos nos juntar à devoção com que Maria, o discípulo amado, Maria Madalena e as santas mulheres recolheram, em seus braços, o corpo de Jesus descido da cruz por José de Arimateia e Nicodemos. Com que ternura e amor Maria considera todas as suas chagas, olha todo o seu corpo dilacerado, beija todas as suas feridas! E o discípulo amado, como se projeta sobre aquele peito em que havia repousado a cabeça na noite anterior! Como O beija e se acende de vontade de se enterrar naquele peito aberto! E Madalena, como abraça os sagrados pés, de quem recebera o perdão; como os lava com as suas lágrimas e os enxuga com os seus cabelos! Entremos nos piedosos sentimentos dessas almas santas.

I - O QUE NOS ENSINA O ENTERRO DE NOSSO SENHOR

Este mistério nos ensina primeiro COMO DEVEMOS COMUNGAR. Depois que o adorável corpo foi deposto da cruz, Nicodemos trouxe cem libras de um perfume precioso, composto de mirra e aloés, para embalsamá-lo. José de Arimateia ofereceu-se para envolvê-lo em linho branco e para levar o corpo até um sepulcro novo, talhado na rocha, que ainda não tinha sido utilizado; depois, a entrada do túmulo foi fechada por uma pedra, ficando sob a guarda da autoridade pública e a custódia de soldados. 

QUANDO O CORPO DE NOSSO SENHOR CHEGA ATÉ NÓS NA SAGRADA COMUNHÃO, DEVEMOS TAMBÉM ENVOLVÊ-LO COM O PERFUME DAS SANTAS INTENÇÕES, COM O PERFUME DAS BOAS OBRAS, COM A APRESENTAÇÃO DE UM CORAÇÃO PURO DA INOCÊNCIA, FIGURADA NAQUELE LINHO SEM MANCHA; COM UMA RÍGIDA DETERMINAÇÃO DE FAZER O BEM TAL QUAL A PEDRA DO SEPULCRO; UMA CONSCIÊNCIA INTEIRAMENTE RENOVADA PELA PENITÊNCIA; E, DEPOIS DA COMUNHÃO, DEVEMOS CERRAR AS PORTAS DO NOSSO CORAÇÃO COM A PEDRA E O SELO DO NOSSO RECOLHIMENTO, FRENTE A MODÉSTIA, MESURAS E ATENÇÃO COM NÓS MESMOS, COMO GUARDAS VIGILANTES PARA IMPEDIR QUE NOS ARREBATEM O TESOURO PRECIOSO QUE ACABAMOS DE RECEBER.

É assim que fazemos? Este mistério nos ensina, em segundo lugar, AS TRÊS PREMISSAS QUE CONSTITUEM A MORTE ESPIRITUAL A QUE ESTÁ CHAMADO TODO CRISTÃO, segundo a doutrina do Apóstolo: 'tomai-vos por mortos, porque mortos estais e vossa vida está escondida com Cristo em Deus'. O primeiro dessas premissas é AMAR A VIDA OCULTA; estar como morto, em relação a todas as coisas que podem ser ditas ou pensadas sobre nós, não buscar nem ver o mundo, nem ser visto por ele. Jesus, na noite do seu sepultamento, dá-nos esta lição. Que o mundo nos esqueça e até nos possa pisar, pouco nos importa. Nós não devemos nos preocupar com isso, mais do que se importa um morto. A felicidade de uma alma cristã é se esconder em Jesus e em Deus. Nossa perversa natureza se compraz em deleitar-se, em querer ser louvado, amado, ser distinguido de reputação e amizades; não lhe façamos caso; quanto mais sensível e extremado sejamos ao apreço dos outros, mais indigno este se torna e maior é a nossa necessidade de privar-nos dele. Que se nos livre da reputação, para que em nada nos levem em conta, que nem pensem em nós, que nos olhem com horror. Faça-se, Senhor, Vossa Santa Vontade! 

A segunda premissa da morte espiritual é USAR OS BENS SENSÍVEIS POR NECESSIDADE, SEM DAR-LHES NENHUMA IMPORTÂNCIA; não nos deleitar com a preguiça nem com os prazeres da vida, nem os prazeres da gula, nem a satisfação da curiosidade que quer ver e saber de tudo; estar, em suma, como mortos para os prazeres dos sentidos. Nesta segunda premissa é preciso juntar O ABANDONO DE SI MESMO À DIVINA PROVIDÊNCIA, abandono que, tal como um cadáver, nos deixamos levar, sem argumentar e nem querer ou desejar qualquer coisa, indiferentes a todas as coisas e a todas as ocupações. Quando deixarei de me amar desordenadamente? Quando morrerei em mim para viver somente em Vós?

II - O QUE NOS ENSINA A DESCIDA DA ALMA DE JESUS AO LIMBO

Este mistério nos ensina, em primeiro lugar, O AMOR DE JESUS AOS HOMENS. Ao deixar o sagrado corpo, sua santa alma poderia ter-se apresentado diante de Deus para descansar ali todas as suas dores; mas o seu amor para os homens O inspirou a descer ao limbo para consolar os Patriarcas e anunciar-lhes que, dentro de quarenta dias, eles O iriam acompanhar ao paraíso. É assim, pois, que o amor de Jesus não tem repouso. Após sua morte, como em sua vida, fez todo o bem possível aos homens. Obrigado, ó Jesus, mil vezes obrigado por este esforço em nos fazer tanto bem. 

Este mistério nos ensina, em segundo lugar, O NOSSO AMOR A JESUS. À vista dessa santa alma, os justos retidos não podem conter o seu júbilo e entoam cânticos de louvor, gratidão e amor, e entregam todos os seus corações ao Deus libertador. Eis aí os nossos modelos: Por que teríamos menos gratidão e amor, uma vez que Jesus morreu por nós e por eles, porque nos ama como amou a eles e, como a eles, nos prometeu seu Paraíso ?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

sexta-feira, 10 de abril de 2020

NÃO DIGAS QUE CRISTO NÃO ESTÁ PASSANDO...

SEXTA-FEIRA SANTA

CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO E MORTE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Nós Vos adoramos, Nosso Senhor Jesus Cristo, e Vos bendizemos,
porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Penitência, jejum, abstinência, silêncio, oração. Jesus agonizante acabou de pronunciar suas últimas palavras, entregando o Espírito ao Pai. E morre sobre a cruz. José e Nicodemos O descem do lenho das flagelações para os braços da Mãe Dolorosa. E, então, O conduzem para o Santo Sepulcro.



Transportemo-nos em espírito ao Calvário; adoremos ali a Jesus cravado na Cruz por nós e, à vista do seu Corpo transformado em uma única chaga, deixemos transbordar a compaixão dos nossos corações, em ato de agradecimento, contrição, amor e devoção.

I - SEXTA-FEIRA SANTA, DIA DE AMOR 

Contemplemos amorosamente o divino Crucificado desde os pés até à cabeça, desde o menor movimento de seu Coração até às suas mais vivas emoções; tudo nos conduz a amá-lO; todo Ele nos diz: 'Meu Filho, dá-me o teu coração'. Seus braços estendidos nos revelam que Ele nos abraça a todos sem distinção; sua cabeça, que não pode repousar a não ser sobre os espinhos que a mantém suspensa, inclina-se para nos dar o beijo da paz e da reconciliação; seu peito, retalhado pelos golpes, ergue-se sob a cadência de um coração cheio de amor; suas mãos e os seus pés, perfurados pelos cravos; sua visão esmaecida, suas veias exangues, sua boca seca pela sede, todas as chagas, enfim, que cobrem o seu corpo, formam um concerto de vozes a nos dizer: 'Vede o quanto Ele nos ama!' 

AH! SE PENETRÁSSEMOS NESTE CORAÇÃO, O VERÍAMOS TODO OCUPADO EM NOS AMAR A TODOS, PEDINDO MISERICÓRDIA POR NOSSAS INGRATIDÕES, NOSSA FRIEZA E NOSSOS PECADOS; PEDINDO POR NÓS TODOS OS SOCORROS DAS GRAÇAS QUE TEMOS RECEBIDO E RECEBEREMOS; OFERECENDO AO PAI A SUA VIDA POR NÓS, O SEU SANGUE, TODAS AS SUAS DORES INTERNAS E EXTERNAS; ENFIM, CONSUMINDO-SE EM ARDORES INDESCRITÍVEIS DE AMOR, SEM QUE NADA POSSA DISTRAÍ-LO.

Ó amor! Seria demasiado morrer de amor por tanto amor? 'Ó Bom Jesus', direi como São Bernardo, 'nada me enternece tanto, nada me abrasa e incendeia meu coração de vosso amor do que a Vossa Paixão'. É ela que me atrai mais a Vós, é ela que me une a Vós mais estreitamente, é ela que, com mais firmeza, me comove. Ó quanta razão tinha São Francisco de Sales ao afirmar que o Monte Calvário é um monte de amor; que ali, nas chagas de Jesus, as almas fieis encontram o mais puro amor e, no próprio Céu, depois da bondade divina, é a Vossa Paixão o motivo da maior alegria, o mais doce e o mais poderoso instrumento para sublimar de amor os bem aventurados! E eu, Jesus, diante disso, ó Jesus Crucificado, poderia ter outra vida que não Vos amar?

II - SEXTA-FEIRA SANTA, DIA DE CONVERSÃO 

PARA PROVAR A JESUS CRUCIFICADO QUE EU O AMO VERDADEIRAMENTE, É PRECISO QUE EU ME CONVERTA, QUE EU DEIXE MORRER, AOS PÉS DA CRUZ, TUDO QUE AINDA EXISTE DO MUNDO EM MIM, todas as minhas negligências e todas as minhas tibiezas, todo o meu amor próprio e meu orgulho; todas as minhas futilidades, desejos de gozos e prazeres, tão grandes inimigos do despojamento e da mortificação; a sensibilidade que, de tudo, se ressente; o espírito de crítica e de maledicência, que de tudo murmura; a tibieza, a dissipação e o espírito errante, que não quer refletir em recolhimento; a intemperança da língua, que fala de tudo que está no nosso interior; enfim, de tudo aquilo que é incompatível com o amor que nos pede Jesus Crucificado. 

Há que se substituir todas estas más inclinações pelas sólidas virtudes que a Cruz nos ensina: a humildade, a mansidão, a caridade, a paciência, o despojamento. Jesus nos pede tudo isso, por todas as suas chagas, por tantos outros modos. Podemos recusar? Poderia eu conservar meus apegos, quando O vejo desnudo na Cruz? Desta nudez não poderia eu me vestir, fazer minha veste dos seus opróbrios, minha riqueza de sua pobreza, minha glória de sua vertigem, minha alegria dos seus sofrimentos?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

quinta-feira, 9 de abril de 2020

QUINTA-FEIRA SANTA

CELEBRAÇÃO DA INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA E DO SACERDÓCIO

Nesta Quinta-Feira Santa, a Igreja recorda a Última Ceia de Jesus e a instituição da Eucaristia, sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue: 'Fazei isto em memória de Mim'; a instauração do novo Mandamento: 'Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei' e a suprema lição de humildade de Jesus, quando o Senhor lava os pés dos seus discípulos.


Transportemo-nos em espírito à última Ceia, na qual, Jesus Cristo, às vésperas de sua morte, reúne os seus Apóstolos como o pai de família, próximo ao seu fim, reúne os seus filhos em torno do leito de morte para dar-lhes as suas últimas vontades e legar-lhes a herança do seu amor em comum. Sobretudo, então, lhes atesta o quanto os ama. Assistamos, com recolhimento e amor, a este espetáculo amoroso e meditemos nos grandes mistérios deste dia: a instituição da Eucaristia e a instituição do sacerdócio.

I - A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA 

Admiremos de princípio Jesus ajoelhado diante dos seus Apóstolos, lavando-lhes os pés para ensinar a todos os dons da humildade profunda; da caridade perfeita, da pureza sem mancha, que pede o Sacramento que Ele vai instituir e que eles vão receber. Sentando-se em seguida à mesa, toma o pão, o abençoa, o parte e o distribui aos seus discípulos, dizendo: 'Tomai e bebei; ESTE É O MEU SANGUE, O SANGUE DA NOVA ALIANÇA QUE QUE SERÁ DERRAMADA POR VÓS EM REMISSÃO AOS VOSSOS PECADOS'

Ó como se conhece bem o amor de Jesus! O Divino Salvador, próximo a deixar-nos, não pode se separar de nós. 'Não os deixarei órfãos', Ele havia dito,' meu Pai me chama; porém, ao ir ao Pai não me separarei de vós; minha morte está determinada por decretos eternos; mas, morrendo, permanecerei vivo para ficar convosco. Minha sabedoria idealizou como obter isso e o meu amor como fazê-lo'.

Na sequência, transforma o pão em seu Corpo e o vinho em seu Sangue, em face da união indissolúvel entre a Pessoa Divina e a natureza humana, e o que pouco antes era apenas pão e apenas vinho é agora a Pessoa Adorável de Jesus Cristo por inteiro, sua Pessoa Divina, tão grande, tão poderosa, como está diante do Pai, governando todos os mundos e adorado por todos os anjos que se estremecem na Sua Presença.

A este milagre sucede outro: 'O que acabo de vos dizer', disse Jesus, 'vós, meus Apóstolos, o fareis; dou-vos este poder não somente a vós, mas a todos os seus sucessores até o fim dos tempos, uma vez que a Eucaristia será a alma de toda a Religião e a essência do seu culto, e deve perdurar tanto quanto ela mesma'. Esta é a rica herança que o amor de Jesus transmitiu aos seus filhos pelo longo dos séculos; este é o testamento que este bom Pai de Família fez, no momento de sua partida, em favor de seus filhos; suas mãos moribundas o escreveram e, em seguida, o selou com o seu Sangue; esta é a bênção que o bom Jacó deu a seus filhos reunidos em torno de Si antes de deixá-los. Ó preciosa herança, ó bendito e amado testamento, ó tão rica bênção! Como podemos agradecer tanto amor?

II PONTO - A INSTITUIÇÃO DO SACERDÓCIO 

Parece, Senhor, que havia se esgotado para nós todas as riquezas do vosso amor e eis, então, que surgem novas maravilhas: NÃO É SOMENTE A EUCARISTIA QUE NOS LEGAIS NESTE SANTO DIA, MAS TAMBÉM O SACERDÓCIO, COM TODOS OS SEUS SACRAMENTOS, COM A SANTA IGREJA, COM A SUA AUTORIDADE INFALÍVEL PARA ENSINAR, O PODER DE GOVERNAR, A GRAÇA DE ABENÇOAR E A SABEDORIA PARA DIRIGIR. Porque tudo isso está ligado essencialmente com a Eucaristia, como preparação da alma para recebê-la, como consequência para conservá-la e para multiplicar os seus frutos. Assim, Jesus Cristo, como Pontífice soberano, quis estabelecer e estabeleceu realmente todos estes poderes de uma só vez e numa só ordem: 'Fazei isso!' 

Ó sacerdócio que esclareceis, purificais e engrandeceis as almas, que dispensais sobre a terra os mistérios de Deus e, em socorro das almas caídas e das almas dos justos, as riquezas da graça; sacerdócio que, em socorro das almas caídas e das almas dos justos, fazeis nascer o arrependimento e abris as portas do Céu, acolhendo os pecadores e fazendo-os volver à inocência; sacerdócio pelo qual sustentais a alma vacilante e a fazeis avançar na virtude, que protegeis o mundo contra si mesmo e à corrupção, contra a ira santa de Deus; sacerdócio, bem inefável, eu o bendigo e bendigo a Deus por tê-lo herdado à terra! 

Que seria do mundo sem vós? Sem vós, o que seria o sol, sua luz, seu calor, seu consolo, sua força e seu apoio! Ó Quinta - Feira Santa, mil vezes bendita, porque trouxestes tanta felicidade para os filhos de Adão! Jamais poderemos celebrar por completo esta graça com a devida piedade, recolhimento e amor.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

quarta-feira, 8 de abril de 2020

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DA SEMANA SANTA


No riquíssimo acervo das indulgências concedidas pela Santa Igreja, concessões diversas são dadas aos fieis por ocasião do Tríduo Pascal (Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Vigília Pascal) para a obtenção de indulgências plenárias, desde que atendidas as demais condições habituais*:

Quinta-Feira Santa

· Recitação ou canto do hino eucarístico 'Tantum Ergo' durante a solene adoração ao Santíssimo Sacramento que se segue à Missa da Ceia do Senhor;

· Visita e adoração ao Santíssimo Sacramento pelo prazo de meia hora.

Sexta-Feira Santa

· Participação piedosa da Veneração da Cruz na solene celebração da Paixão do Senhor.

Sábado Santo  

· Recitação do Santo Rosário.

· Participação piedosa da celebração da Vigília Pascal, com renovação sincera das promessas do Batismo.

Domingo de Páscoa

· Participação devota e piedosa à benção dada pelo Sumo Pontífice a Roma e ao mundo (bênção Urbi et Orbi), ainda que por rádio ou televisão.


* estas condições (e as complementares listadas abaixo) para a obtenção das indulgências plenárias, deverão ser convenientemente adaptadas para a situação atual (orações e devoções particulares e não públicas):

1. Exclusão de todo afeto a qualquer pecado, inclusive venial.

2. Confissão Sacramental, Comunhão Eucarística e Oração pelas Intenções do Sumo Pontífice. 

(i) estas condições podem ser cumpridas uns dias antes ou depois da execução da obra enriquecida com a Indulgência Plenária, mas é da maior conveniência que a comunhão e a oração pelas intenções do Sumo Pontífice se realizem no mesmo dia em que se cumpre a obra.

(ii) a condição de orar pelas intenções do Sumo Pontífice é cumprida por meio da oração de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou uma outra oração segundo a piedosa devoção de cada um.

A SAGRADA FACE DE CRISTO (VI)


terça-feira, 7 de abril de 2020

DEUS QUER QUE SEJAMOS SANTOS


Um grande gênio, talvez o maior que o mundo já tenha visto, um homem que havia passado a sua juventude numa vida desregrada, que tinha esvaziado a taça dos prazeres e havia sido um joguete das heresias do seu tempo; vencido finalmente pela graça, converteu-se e chegou a uma elevada santidade. Santo Agostinho – pois é dele que se trata – apesar do sangue africano que fervia nas suas veias, apesar das paixões tempestuosas e longos hábitos viciosos, apesar das dificuldades de toda espécie, deu-se inteiramente a Deus. Certo dia – é ele mesmo quem nos narra nas suas confissões (Livro 8, cap. 11) – solicitado pela graça e hesitante em renunciar aos seus hábitos, ele viu crianças, moças, todas as idades da vida, virgens, viúvas, tornadas veneráveis pela virtude e parecia-lhe ouvir uma voz a convidá-lo suavemente e dizer-lhe: 'também tu não poderias fazer o que estes e aquelas estão fazendo?' Então, respondendo ao apelo da graça, Santo Agostinho entregou-se a Deus e tornou-se um dos maiores santos. Ele é um dos mais belos triunfos da graça de Deus, conforme digo a vocês frequentemente. Deus faz tudo para o louvor e glória da sua graça (Ef 1,6). Em Santo Agostinho, a graça triunfou plenamente.

Durante esta oitava de Todos os Santos, perguntei-me a mim mesmo com as mesmas palavras: 'O que estes e aquelas fizeram, tu não serias capaz de fazer?' e devemos todos nos perguntar olhando para os santos e as santas no céu. Digam-me: 'que motivos temos para não nos tornarmos santos?' Ah, posso adivinhar, cada um está tentado a responder: eu tenho isso, aquilo outro, nunca poderia tornar-me um santo. Mas estejam certas de que todos os santos tiveram 'isso e aquilo' e muito mais; não há ninguém entre nós que tenha maiores dificuldades do que as que venceram os santos que agora triunfam no céu. Parece-me haver muitas razões para nos estimular a sermos não apenas bons cristãos, monges corretos, boas monjas, mas também santos e santas. São João Berchmans tinha escrito no seu pequeno diário, como primeira resolução: 'Farei profissão, publicamente, em todo lugar e por tudo, que quero tornar-me santo'. Digo a vocês a mesma coisa, estou muito longe de ser santo, estou a milhões de milhas, mas desejo tornar-me santo. 

Vejamos então esta noite por que devemos nos tornar santos. A primeira razão é porque Deus o quer: 'A vontade de Deus é a vossa santificação' (1Tes 4,3). Ele quer não apenas que nos salvemos, mas que nos tornemos santos. E por que deseja Deus que nos tornemos santos? Porque ele mesmo é santo: 'Sede santos porque eu sou santo' (Lv 19,2). Deus é o santo dos santos. Ele é a própria santidade. Nós somos suas criaturas. Ele deseja que a criatura seja feita à sua imagem, ainda mais nós que somos seus filhos, e, convenhamos, devemos ser santos como nosso Pai dos céus. Escutem o que dizia o Cristo Jesus: 'Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito' (Mt 5,48). Vós sois filhos do Deus três vezes santo e absolutamente perfeito, sede portanto santos e perfeitos.

Em seguida, há uma segunda razão. É que, quanto mais formos santos, tanto mais faremos triunfar o sangue de Jesus. Um dos sentimentos que mais afligiu o coração de Jesus durante a sua agonia no Jardim das Oliveiras foi pensar que o seu sangue vertido permaneceria inútil para tantas almas: quæ utilitas in sanguine meo?'que proveito (tiram) do meu sangue?' (Sl 29,10) Ele compreendia que uma única gota desse sangue, que era o sangue de um Deus, teria bastado para purificar milhares de mundos, para santificar bilhões de almas. Ele iria derramar por nós todo esse seu sangue, que continha a virtude infinita da sua divindade e, no entanto, é preciso dizer: 'que proveito tiram do meu sangue?' O grande desejo do Coração de Jesus é a glória do seu Pai, e por isso desejava ardentemente – 'tenho desejado ardentemente' (Lc 22,15) – derramar todo o seu sangue para a glória do seu Pai, a fim de nos salvar e assim oferecer inúmeras almas ao Pai, a fim de nos santificar e nos fazer dar muitos frutos, porque 'nisto é glorificado o meu Pai' (Jo 15,8). 

Mas quem responde a esse desejo de nosso Senhor? Quantas almas há que não observam as leis de Deus, e tantas outras guardam os mandamentos, mas muito poucas se abandonam a Ele, se dão a Ele como santos e produzem frutos. As almas que o fazem respondem ao desejo de Jesus Cristo; elas fazem valer esse precioso sangue; elas são a glorificação desse sangue divino. No céu, toda a multidão dos eleitos canta: 'vós nos redimistes, Senhor, no vosso sangue, povos de todas as nações' (Ap 5,9). Se nos tornarmos santos, cantaremos por toda a eternidade esse cântico que canta o triunfo do sangue de Jesus. Um dos maiores triunfos desse cântico é quando, como ocorrido com Santo Agostinho, ele muda um homem escravo das suas paixões e dos seus erros em um grande amante de Deus, quando ele triunfa sobre todas as suas dificuldades. 

Assim ninguém pode dizer: a santidade é impossível para mim. O que é que poderia nos impedir de chegar à santidade, torná-la impossível? Deus a deseja para nós, ele nos quer santos: 'essa é a vontade de Deus, a vossa santificação' (1Tess 4,3) Jesus não zomba de nós quando diz: 'Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito' (Mt 5,48). Ele não nos pede algo impossível. O que é impossível às nossas forças não o é para a graça de Deus. Então não digamos: a santidade é para os santos, não é para mim. Vocês se lembram da passagem de Santo Agostinho onde ele diz que nós não devemos temer as dificuldades, e onde ele nos mostra que as pessoas de todas as idades, de todas as posições passaram por isso: 'Por que temes os caminhos difíceis das paixões e tribulações? Ele mesmo (o Cristo) passou por ele! Respondes com força. Até ele. Os apóstolos passaram por ele! Ainda respondes: de acordo. Em seguida muitas pessoas passaram por ele! Enrubesces! Mulheres, jovens, rapazes e moças passaram por ele!' 

... Há uma terceira razão que nos estimula a envidar todos os nossos esforços para nos tornar santos – talvez ela não impressione a vocês tanto quanto a mim: é o pensamento da morte. A morte é algo de grandioso. Trata-se de um momento solene e terrível. Nosso bem-aventurado Pai diz que devemos tê-la sempre diante dos olhos (Rb 4,47). Eu confesso a vocês que eu a tenho constantemente diante dos olhos. Isso não me provoca tristeza nem mau humor, mas pensar sobre a morte me é habitual. Quando estava na Inglaterra, como vocês sabem, estive à beira da morte e eu não saberia expressar o que é encontrar-se nesse momento do qual São Paulo diz: 'É horrendo cair nas mãos de Deus vivo' (Hb 10,31). Somente a experiência pode nos fazer compreender o que se sente naquele momento. Quando estive muito perto da eternidade, a ponto de quase entrar no mundo, nesse mundo do qual não fazemos a menor ideia, a minha alma foi tomada de um verdadeiro pavor. Foi então que tomei a decisão, caso Deus me deixasse vivo, de trabalhar a ser tal que no momento da morte eu não teria mais receio. Quando se é santo, já não se teme a morte. 

Suarez, no momento de morrer, se voltou para os que o rodeavam e lhes disse: 'não sabia que era tão doce morrer'. Muitas de vocês conhecem o relato da morte tão consoladora da Madre Maria José, a santa priora do Carmelo de Louvain, falecida há alguns anos. Era uma alma muito unida a Deus, que gozava de uma grande reputação de santidade. Ela sofria muito, e os médicos não conseguiam compreender que ela estivesse sempre alegre em meio a tantos sofrimentos. Tive a felicidade de ser seu diretor e amigo íntimo, e eu a considerava uma verdadeira santa. Pouco tempo antes da morte dela, entrei para confessá-la, porque já não podia sair do leito, e como eu via que a morte não tardaria, perguntei-lhe: 'nada perturba a senhora?' 'Não', disse ela, 'absolutamente nada'. 'Mas a senhora foi superiora durante 30 anos, teve tantas responsabilidades, não haverá algo que a inquiete?' 'Não, eu estou perfeitamente em paz. Sei que sou muito imperfeita, mas tenho uma confiança ilimitada em Deus'. Então acrescentou: 'desejo tanto ir ao céu; permita-me morrer'. Eu estava a princípio decidido a não lhe dar a permissão, mas ela insistiu. Ao final, mudei de parecer e lhe disse: 'sim, eu a dou'. Ela me agradeceu com uma grande efusão de alegria e me perguntou: 'quando?' Respondi-lhe: 'então que seja no dia 8 de setembro (Natividade da Virgem Maria)'. 

De fato, no dia 8 de setembro o Senhor veio buscá-la. Nesse dia, ela recebeu o Viático, depois ela entrou numa espécie de êxtase, e, radiando de felicidade, ouviu-se que ela dizia as seguintes palavras: 'vejo o Bem-Amado!' Eis uma morte! Fechamos os olhos e nos encontramos nos braços do Bem-Amado. Asseguro a vocês [religiosas de Maredret, na Bélgica, a quem eram dirigidas esta conferência de Dom Columba, em novembro de 1917] que uma vida de sacrifícios, de sofrimentos e de generosos esforços seria um preço muito módico para se comprar uma tal felicidade. E essa pode ser a felicidade de cada uma de vocês. Santa Teresa dizia que quando ela assistia à morte de uma das suas filhas, ela sempre via o Cristo na cabeceira da cama, ajudando as suas esposas nesse momento supremo. Que consolação!

Eis então as razões para nos tornarmos santos. Mas o que é um santo? A fim de formarmos um conceito exato da santidade, vejamos o que significa a palavra 'santo'. Como vocês sabem, há um duplo sentido, uma dupla face, e encontramos esses dois sentidos na palavra grega e na palavra latina. Em grego dizemos hagios e em latim sanctus. Ora, o que significam essas palavras? Hagios significa puro, separado do tudo o que é terra, matéria, criatura, sujeira. Sanctus quer dizer consagrado, entregue a Deus. Deus em si mesmo é o hagios por essência, Ele está infinitamente afastado do tudo o que é matéria, de tudo o que é criado, de tudo o que não é Ele mesmo: 'tu habitas na santidade, glória de Israel' (Sl 21,4). Ele é também o sanctus todo entregue a si mesmo, norma e fonte de tudo o que é grande, justo, sábio, bom, santo. Ele é a própria santidade.

Mas Ele deseja ver em nós esses dois aspectos da santidade: a separação de tudo que seja matéria, sentido, contaminação, pecado, e a consagração do nosso ser a Deus. Para nós, monges e monjas, no dia em que dissemos: 'eis que tudo deixamos' (Mt 19,27), demos um grande passo nesse primeiro elemento da santidade hagios. Através dos nossos votos, nós nos separamos do mundo, de tudo o que apaixona os homens. Pelo voto de pobreza, renunciamos às riquezas. Pelo voto de virgindade, a tudo o que é voluptuosidade, sensualidade. Por fim, pelo nosso voto de obediência, a tudo o que não vem de Deus em nós, à nossa vontade, ao nosso próprio juízo. Tudo isso deixamos de lado, disso nos separamos. Quando chegarmos à perfeição dos nossos votos, estaremos no mais alto grau de separação de tudo o criado possível aos homens. 

No entanto, não dissemos apenas: 'eis que tudo deixamos'. Dissemos também: 'e Vos seguimos'. Aqui encontramos o segundo aspecto da santidade sanctus: nós nos consagramos, nos entregamos a Deus. Uma vez realizados esses dois elementos, nos tornamos santos, mas não é fácil chegar lá. Para nos encorajarmos olhemos para a multidão dos santos que louvam a Deus no céu, que formam o Corpo místico de Cristo, seu complemento, sua plenitude, como diz São Paulo: 'que é seu corpo e sua plenitude' (Ef 1,23). Eles formam essa Igreja toda bela e toda pura, que o Cristo Jesus purificou com o seu precioso sangue e que ele apresentará ao Pai, no dia do Juízo, sem ruga nem mancha, mas santa e imaculada (Ef 5,27). Digamos que Deus marcou para nós um lugar nesse Corpo místico de Cristo e que a perfeição para nós consiste em realizar o que Deus quer para cada um de nós.

Enfim e acima de tudo, peçamos a Deus as graças que nos são necessárias para chegar à santidade. Gosto muito da oração do XII domingo depois de Pentecostes: 'Deus onipotente e misericordioso' – quando dissermos as palavras 'onipotente' e 'misericordioso', não as pronunciemos da boca para fora, mas façamos um ato de fé na onipotência de Deus! Se a nossa oração é frequentemente tão fraca, é porque não temos fé bastante nessa onipotência de Deus, não dizemos como o Cristo: 'Pai, tudo é possível para ti' (Mc 14,36). Deus onipotente, sim, meu Deus, estou convencido de ser muito miserável, mas tu és poderoso o bastante para fazer de mim um santo, apesar das minhas faltas e fraquezas. Creio nisto! Certo dia, alguém disse a São Francisco de Sales: 'Serás um santo!' 'Sim', respondeu ele, 'Deus pode fazer esse milagre'. Eu também digo a mesma coisa.

E Deus misericordioso. A misericórdia é a bondade diante da miséria. Ora, a bondade de Deus é tão infinita quanto o seu poder. Então a sua misericórdia é infinita: 'O Senhor é bom para com todos, e sua misericórdia se estende a todas as suas obras' (Sl 144,9). Creio, meu Deus, que sois todo-poderoso, creio também que sois a misericórdia infinita e que, se eu falhei muitas vezes convosco, vós jamais falhareis comigo. Dai-me as vossas graças. Concedei-me correr sem obstáculo até o cumprimento das vossas promessas. Só de vós é que pode vir a graça de vos servir dignamente: 'Deus onipotente e misericordioso, de quem vem o dom de ser servido dignamente e de modo louvável pelos vossos fiéis, concedei-nos, vos pedimos, que corramos em direção às vossas promessas sem ofensas'.

A conclusão de tudo o que acabo de dizer a vocês é a seguinte: Deus quer a nossa santidade, a nossa perfeição. Ele nos deu, no sangue de Cristo Jesus, o preço da nossa santidade; separemo-nos de tudo o que não é Deus, demo-nos, consagremo-nos a Ele sem reservas; peçamos-lhe, por uma prece cheia de fé e confiança, que nos ajude a adquirir a santidade. Então encontraremos sempre nele a Luz, as forças que nos são necessárias e, unidos a todos os santos e santas do céu, glorificaremos por toda a eternidade Aquele que é admirável nos santos, nos seus santos: Deus admirável nos seus santos (Sl 67,36).

(Bem aventurado Columba Marmion)