domingo, 25 de fevereiro de 2018

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Quaresma


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mc 9,2). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio do profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar' (Mc 9, 2-3). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus' (Mc 9, 4). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!' (Mc 9, 7).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai o que ele diz!'. Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob o consolo da fortaleza e da perseverança: 'Se Deus é por nós, quem será contra nós?' (Rm 8, 31b).

sábado, 24 de fevereiro de 2018

OS TRÊS FRUTOS RUINS DA CF 2018

A Campanha da Fraternidade de 2018 tem como tema 'Fraternidade e Superação da Violência'. Não há dúvida alguma da relevância do tema e da sua inserção direta no conjunto dos problemas sociais mais graves da atual realidade do Brasil. Mas, muito provavelmente, vai ter o mesmo destino das outras recentes campanhas da fraternidade no Brasil: muito barulho por nada. Por um motivo muito simples: a CNBB há décadas abriu mão de sua atuação social primária de evangelização pela aventura de praticar proselitismo político e ideologia partidária pura e simples, com resultados pífios em termos de evangelização. Um exemplo disso é que este tema permeou a CF de 2009 - 'Fraternidade e Segurança Pública' e, no entanto, de lá para cá, a escalada da violência só se fez aumentar exponencialmente e, então, pelos frutos, podemos avaliar que a árvore plantada foi ruim (Mt 7, 17).

Três aspectos específicos permitem inferir este comprometimento de resultados da CF 2018, baseados em três grandes equívocos assumidos pela CNBB, tomados como premissas no texto-base da campanha e impostos aos católicos em geral como verdades absolutas. 

O primeiro equívoco da CNBB é se alinhar tacitamente à política do desarmamento por desconhecer um conceito essencial subjacente aos temas da segurança pública e do combate à violência: o chamado princípio da subsidiariedade. A prevenção à violência deve começar pelo cidadão, que pode e deve tomar todas e quaisquer medidas em relação à sua proteção pessoal, de sua família, de sua casa, seja instalando fechaduras eletrônicas na porta da casa, câmeras de vigilância, muros altos ou adotando práticas de defesa pessoal. Somente após exauridas estas iniciativas no âmbito privado, o cidadão deve estar submetido ao controle de políticas públicas de segurança, em que o estado passaria a intervir somente onde os limites da segurança privada (principalmente por limitações financeiras) foram ultrapassados. Caso contrário, por mais policiais treinados e ainda que muito bem remunerados, a polícia seria sempre uma minoria da minoria e a violência assumiria um ônus incontrolável.

O segundo equívoco está na sustentação irresponsável de uma manutenção da maioridade penal nos termos atuais que, acobertada pela vitimização e estatutos infames, alimenta o fogo da violência com gasolina. É estarrecedor eximir de responsabilidades os 'menores de idade' como artífices da violência cotidiana quando a própria Igreja Católica defende e assume que adolescentes com 15 ou 16 anos têm plena consciência para definir e ratificar a sua fé católica pelo sacramento da Crisma. A CNBB neste caso não tem dois pesos e duas medidas; ela não tem ponderação alguma quando se inclina diante de ideologias estranhas à fé católica.

O terceiro equívoco da CF 2018 da CNBB é generalizar e subverter ao mesmo tempo o conceito de violência. O texto-base buscou ser bastante eclético neste sentido: lá se faz referência à violência urbana, à violência contra a mulher, a violência de gênero (!), a violência doméstica, a violência no trânsito, a violência das drogas... Mas a principal forma de violência não está lá no texto-base da CF 2018. É a violência incomensurável que resulta da perda e da omissão de uma verdadeira e segura orientação espiritual que deveria ser dada aos fieis católicos neste tempo especial, subjugada por uma avalanche de temas sociais nada doutrinários, que corrompem os bons costumes, imprimem a tibieza, alicerçam o indiferentismo religioso e roubam às centenas, e dezenas de vezes mais, ovelhas do rebanho de Cristo: 'É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?' (Mt 7, 16).

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018

55. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2018


Lema: Vós sois todos irmãos (Mt 23, 8).


Tema: Fraternidade e superação da violência

Objetivo Geral: Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência.

Arquivos//:

Campanhas da Fraternidade no Brasil /I
Campanhas da Fraternidade no Brasil /II
Campanhas da Fraternidade no Brasil /III
Campanhas da Fraternidade no Brasil /IV

'QUE FAZIA DEUS ANTES DE CRIAR O CÉU E A TERRA?'

Com certeza ainda estão cheios do erro do velho homem os que nos dizem: 'Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?' Se estava ocioso, se nada fazia, porque não continuou a se abster sempre de qualquer ação? Se em Deus apareceu um movimento novo, uma vontade nova de dar o ser ao que ainda não tinha criado, como falar de uma verdadeira eternidade se nela nasce uma vontade que não existia antes? Mas a vontade de Deus não é uma criatura, ela é anterior a toda criatura; nenhuma criação seria possível se a vontade do Criador não a precedesse. A vontade, portanto, pertence à própria substância de Deus. Logo, se na substância de Deus nasce algo que antes não existia, não se pode mais com verdade chamá-la eterna. E se, desde toda eternidade, Deus quis a existência da criatura, por que a criatura também não é eterna? 

Os que assim falam não te compreendem ainda, ó Sabedoria de Deus, luz das inteligências; não compreendem ainda como é criado o que é criado por ti e em ti. Esforçam-se por saborear as coisas eternas, mas seu espírito voa ainda sobre as realidades passadas e futuras. Quem poderá deter esse pensamento, quem o fixará por um momento, para que tenha um rápido vislumbre do esplendor da eternidade imutável, e a compare com os tempos impermanentes, para perceber que qualquer comparação é impossível? Então veria que a sucessão dos tempos não é feita senão de uma sequência infindável de instantes, que não podem ser simultâneos; que, pelo contrário, na eternidade, nada é sucessivo, tudo é presente, enquanto o tempo não pode ser de todo presente. Veria que todo o passado é repelido pelo futuro, que todo futuro segue o passado, que tanto o passado como o futuro tiram seu ser e seu curso daquele que é sempre presente. Quem poderá deter a inteligência do homem para que pare e veja como a eternidade imóvel, que não é futura nem passada, determina o futuro e o passado? Acaso poderá realizar isso minha mão? Ou esta minha língua, com a palavra, poderia realizar tal obra?

Eis minha resposta à questão: 'Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?' – não responderei jocosamente como alguém para contornar a dificuldade do problema: 'Preparava o inferno para os que perscrutam esses mistérios profundos'. Uma coisa é compreender e outra é brincar. Não, essa não será minha resposta. Prefiro dizer: 'Não sei' – pois de fato não sei, que ridicularizar quem faz pergunta tão profunda, ou louvar quem responde com sofismas. Mas eu digo que tu, meu Deus, és o Criador de toda criatura; e, se por céu e terra se entende toda criatura, não temo afirmar: 'Antes que Deus criasse o céu e a terra, nada fazia'. De fato, se tivesse feito alguma coisa, o que poderia ser senão uma criatura? Oxalá eu soubesse tudo o que desejo saber, como sei que nenhuma criatura foi criada antes da criação. 

Se algum espírito leviano, vagando por tempos imaginários anteriores à criação, se admirar que o Deus Todo-Poderoso, tu, que criaste e conservas todas as coisas, ó autor do céu e da terra, tenha-te mantido inativo até o dia da criação, por séculos sem conta, que esse desperte e tome consciência do erra que gera sua admiração. Como, pois, poderiam transcorrer os séculos se tu, criador, ainda não os tinha criado? E poderia o tempo fluir se não existisse? E como poderiam os séculos passar, se jamais houvessem existido? Portanto, como és o criador de todos os tempos – se é que houve algum tempo antes da criação do céu e da terra – como se pode afirmar que ficaste ocioso? 

Pois também criaste esse mesmo tempo, e este não poderia passar antes que o criasses. Se porém, antes do céu e da terra não havia tempo algum, porque perguntam o que fazias então? Não poderia haver então se não existia o tempo. Não é no tempo que és anterior ao tempo: de outro modo não precederias a todos os tempos. Precedes porém a todo o passado na altura de tua eternidade sempre presente; dominas todo o futuro porque está por vir e que, quando chegar, já será passado. Contudo, tu és sempre o mesmo, e teus anos não passam jamais. Teus anos não vão nem vêm; mas os nossos vão e vêm, para que todos possam existir. Teus anos existem simultaneamente, pois não fluem; não passam, não são expulsos pelos que vêm, porque não passam. Os nossos, ao contrário, só existirão todos quando não mais existirem. Teus anos são como um só dia, e teu dia não é uma repetição cotidiana, é um perpétuo hoje, porque teu hoje não cede o lugar ao amanhã e nem sucede ao ontem. Teu hoje é a eternidade. Por isso geraste um filho coeterno, a quem disseste: 'Hoje te gerei'. Todos os tempos são obra tua, e tu existes antes de todos os tempos; é pois inconcebível que tenha existido tempo quando o tempo ainda não existia. 

('Confissões', de Santo Agostinho)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

FOTO DA SEMANA

'Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos' (Ap 7, 16)

22 DE FEVEREIRO - A CÁTEDRA DE PEDRO

A celebração da festa litúrgica da Cátedra de São Pedro no dia 22 de fevereiro tem origem muito antiga e está documentada por sua inclusão num calendário do ano 354 e no Martyrologium Hieronymianum, o mais antigo da Igreja Latina, composto entre 431 e 450. Na pessoa de São Pedro (e de todos os seus sucessores), insere-se o fundamento visível da unidade da Igreja, nascida de Deus e glória de Deus até os confins dos séculos 'porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18).

'O chamado de Pedro' (Giorgio Vasari, sem data)

'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 17-19)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018