quinta-feira, 9 de maio de 2013

96 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (II)

A CONSAGRAÇÃO DA RÚSSIA E A MISSÃO DE LÚCIA

Por que, nas mensagens, Nossa Senhora pediu expressamente a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração? Porque a conversão da Rússia seria reconhecida mundialmente como fruto direto de uma intervenção divina e um triunfo absoluto do Coração Imaculado de Maria. A partir deste fato, tomaria expressão mundial a devoção ao Imaculado Coração de Maria conjuntamente à devoção ao Imaculado Coração de Jesus (Aliança dos Dois Corações). 'Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja ...' A situação da Rússia, à época das aparições, era totalmente imprevisível em termos de sua enorme influência geopolítica no cenário mundial no decorrer do século XX, o que caracterizaria a mensagem como praticamente ininteligível, mesmo porque a Rússia ainda não se tornara comunista, uma vez que a revolução marxista-leninista somente iria se irromper brutalmente em novembro daquele ano. Em 13/06/1929, a Irmã Lúcia teve uma visão da Santíssima Trindade e recebeu a seguinte mensagem de Nossa Senhora: 'É chegado o momento em que Deus pede para o Santo Padre (Pio XI, 1922 – 1939) fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio...' Mais tarde, por meio duma comunicação íntima, Nosso Senhor disse à Lúcia: queixando-se: 'Não quiseram atender o meu pedido ... Arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde'. Em outro depoimento, carta escrita em 1935, Lúcia afirmava que 'Nosso Senhor estava bastante descontente por não se realizar o seu pedido ...' 

A partir dos pontificados seguintes, várias tentativas foram feitas para se estabelecer a consagração da Rússia e do mundo ao Imaculado Coração de Maria (iniciadas com a consagração feita pelo Papa Pio XII, muito tempo depois, em 07/07/52), mas nenhuma delas pareceu atender plenamente as condições impostas por Nossa Senhora para a sua efetiva realização. Entretanto, a consagração realizada pelo Papa João Paulo II em 25 de março de 1984 foi reconhecida como sendo válida pela vidente, desde meados de 1989, embora como expressão de uma sua opinião particular e não como fruto de uma revelação sobrenatural. A União Soviética deixou de existir formalmente em dezembro de 1991, substituída pela CEI (Comunidade dos Estados Independentes), incluída a Rússia como uma de suas repúblicas associadas. 

Os videntes Jacinta e Francisco Marto morreram ainda na infância, logo após as aparições. Quanto a Lúcia, Nossa Senhora assim se expressou: '... Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar.Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração...' A missão dada à Lúcia era cristalina: divulgar uma devoção especial à Mãe de Deus e, particularmente, a consagração ao seu Imaculado Coração. Através de Lúcia, esta devoção deveria assumir amplitude mundial e ser instrumento privilegiado de conversão e salvação de muitas almas: 'Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz'. É fato concreto que a mensagem de Fátima não foi correspondida e os pedidos e súplicas de Nossa Senhora não foram atendidos: os homens continuaram e continuam a pecar em magnitude crescente, numa corrida desenfreada aos paroxismos do inimaginável. A desordem moral vigente (degradação da família, do casamento, da sexualidade e implantação de um regime de vida que prega e justifica todo e qualquer pecado) é uma agressão cotidiana à mensagem de Fátima e combustível que incendeia, a cada dia, a taça da cólera divina. A impiedade e a corrupção moral campeiam em nossa sociedade, formulada essencialmente em princípios naturais e que se especializa cada vez mais em banir totalmente nos homens a ideia de Deus. A crise da Igreja é gravíssima: a permissividade moral, a apostasia, a direção espiritual manietada num sem número de atividades frívolas e materiais, conduz inexoravelmente os sacerdotes (o chamado 'Estado Maior de Cristo', nas palavras de Monsenhor Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei) a um estado de aviltamento, perplexidade, tibieza e conformismo, em tudo contrário à missão salvífica (Mateus, 16, 15-16): 'Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo; o que não crer será condenado'

Nesta devastadora crise moral que assola o mundo contemporâneo, a conclusão é óbvia e terrível: a mensagem de Fátima foi desprezada pelos homens e o pressuposto da emenda de vida e conversão foram olvidados ao extremo. As recentes aparições e manifestações de Nossa Senhora, no Brasil e no mundo, apenas ratificam e amplificam, ao extremo da aflição, os mesmos apelos e chamamentos feitos em Fátima. Por que Nossa Senhora chora? No silêncio e na sua angústia, a Mãe chora contra as agressões de tantos filhos, a Mãe chora para extravasar a sua dor premente e a sua tristeza profunda, a Mãe chora na esperança de que suas lágrimas, ao menos suas lágrimas, comovam corações entorpecidos pela dureza do pecado e por uma vida sem Deus. E chora porque mais e mais almas se perdem porque '... vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas...'. 

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).

VISÕES DO INFERNO (III)


DE SANTO ANSELMO (1033 - 1109, doutor da Igreja):

1. Eles (os condenados) jazem nas 'trevas exteriores' ... Pois, lembrai-vos, o fogo do Inferno não emite nenhuma luz. Assim como, ao comando de Deus, o fogo da fornalha babilônica perdeu o seu calor, mas não perdeu a sua luz, contrariamente, sob o comando de Deus, o fogo do Inferno, conquanto retenha a intensidade do seu calor, arde eternamente nas trevas.

2. É uma tempestade que nunca mais acaba, de trevas, de negras chamas e de negra fumaça de enxofre a arder, por entre as quais os corpos estão amontoados uns sobre os outros, sem uma nesga de ar. De todas as pragas com que a terra dos faraós foi flagelada, uma praga só, a das trevas, foi chamada de horrível. Qual o nome, então, que devemos dar às trevas do Inferno, que hão-de durar, não por três dias apenas, mas por toda a eternidade?

3. O horror desta estreita e negra prisão é aumentado pelo seu tremendo cheiro nauseabundo. Toda a imundície do mundo, todos os monturos e escórias do mundo, segundo está escrito, correrão para lá, como para um vasto e fumegante esgoto, quando a terrível conflagração do último dia houver purgado o mundo. Também o enxofre, que arde lá em tão misteriosa quantidade, enche todo o Inferno com seu intolerável fedor. E os corpos dos próprios danados exalam um cheiro tão pestilento que, como diz São Boaventura, só um deles bastaria para infectar todo o mundo.

4. Até o ar deste mundo, esse elemento vital e puro, torna-se fétido e irrespirável quando fica fechado longo tempo. Considerai, então, quanto deve ser irrespirável e fétido o ar do Inferno. Imaginai num cadáver fétido e pútrido, que tenha jazido a decompor-se e a apodrecer na sepultura, uma matéria gosmenta de corrupção líquida. Imaginai um tal cadáver preso das chamas, devorado pelo fogo de enxofre a arder e a emitir densos e horrendos fumos de nauseante e repugnante decomposição. E de seguida, imaginai esse cheiro nauseabundo multiplicado um milhão de vezes, por milhões de fétidas carcaças comprimidas na treva fumarenta, numa enorme fogueira de podridão humana. Imaginai tudo isso, e tereis uma pálida ideia do horror fétido do Inferno.

5. Mas tal fetidez extrema não é, terrível pensamento este, o maior tormento físico a que os danados estão sujeitos. O tormento do fogo é o maior suplício a que o demônio sempre tem sujeitado as suas vítimas. Colocai o vosso dedo, por um só momento, na chama duma vela, e logo sentireis a dor do fogo. Mas o fogo terreno foi criado por Deus para benefício do homem, para manter nele a centelha da vida e para ajudá-lo nas suas necessidades, ao passo que o fogo do Inferno é duma outra natureza e foi criado para atormentar e punir o pecador sem arrependimento.

6. O fogo terrestre, outrossim, consome-se mais ou menos rapidamente, conforme o objeto que ele ataca for mais ou menos combustível, ao ponto da inteligência humana ter sempre procurado inventar soluções para garantir ou frustrar a sua duração. Mas o sulfuroso breu que arde no Inferno é uma substância que foi especialmente criada para arder contínua e perpetuamente com indizível fúria. Além disso, o fogo terrestre destrói e consome-se ao mesmo tempo que arde, de maneira que quanto mais intenso ele for, mais curta será a sua duração; enquanto que o fogo do Inferno tem a propriedade de preservar aquilo que ele queima, e embora ataque com incrível violência, permanece para sempre.

7. E ainda, o nosso fogo terreno, não importando que intensidade ou tamanho possa ter, é sempre duma extensão limitada; mas o mar de fogo do Inferno é ilimitado, sem praias nem fundo. Está documentado que o próprio demônio, ao ser-lhe feita a pergunta por um soldado, foi obrigado a confessar que, se uma montanha inteira fosse jogada dentro do oceano ardente do Inferno, seria queimada num instante como um pedaço de cera. E esse terrível fogo não aflige os condenados somente por fora, pois cada alma perdida transforma-se num inferno dentro de si mesma, com o fogo sem limites enraivecendo-se na sua essência. Oh, quão terrível é a sorte desses desgraçados seres! O sangue ferve e referve nas veias; o cérebro fica fervendo no crânio; o coração, no peito flamejando e ardendo; os intestinos, uma massa vermelha e quente de polpa a arder; os olhos, tão sensíveis, flamejando como bolas fundidas.

8. Ainda assim, quanto vos falei da força, da qualidade e da imensidão desse fogo, é como se fosse nada, quando comparado com a sua intensidade, uma intensidade que é justamente tida como sendo o instrumento escolhido pela Justiça Divina para punição da alma, assim como igualmente do corpo. Trata-se dum fogo que procede diretamente da Ira de Deus, agindo assim não pela sua própria constituição, mas como instrumento do castigo divino. Assim como a água do Batismo limpa espiritualmente tanto a alma como o corpo, assim o fogo do Inferno tortura simultaneamente o espírito e a carne.

9. Todos as faculdades da alma são torturadas; e todos os sentidos do corpo outro tanto: os olhos com impenetráveis trevas; o nariz com fétidos nauseantes; os ouvidos com berros, uivos e execrações; o paladar com matéria sórdida, corrupção leprosa, sujeiras sufocantes inomináveis; o tato com aguilhões e chuços em brasa e cruéis línguas de chamas. E através dos vários tormentos dos sentidos, a alma imortal é torturada eternamente, na sua própria essência, no meio de léguas e léguas de ardentes fogos acesos nos abismos pela Majestade de Deus infinitamente ofendida, e soprados numa perene e sempre violenta fúria pela Ira da Onipotência Divina.

10. Considerai, finalmente, que o tormento dessa prisão infernal é acrescido pela companhia nefasta dos próprios condenados. A má companhia, sobre a terra, é tão prejudicial às pessoas, que até os próprios animais, por instinto, fogem da companhia do que lhes seja mortal ou nocivo. No Inferno, porém, todas as leis estão trocadas, pois lá não há nenhum pensamento de família, de pátria, de laços, de amizade. Os condenados odeiam e gritam uns aos outros a sua raiva e tortura, que são intensificadas pela sua presença, enfurecendo-se mutuamente.

11. Todo o senso de humanidade é esquecido ou negado. Os gritos dos réprobos em desespero enchem os mais recuados cantos do vastíssimo abismo.As mentes e as bocas dos condenados estão cheias de blasfêmias contra Deus, de ódio pelos seus companheiros de suplício, e de maldições contra as almas que foram suas cúmplices nos pecados. Nos tempos antigos, era costume punir o parricida, o homem que erguera a sua mão assassina contra o pai, arremessando-o nas profundezas do mar dentro dum saco, no qual também eram colocados um galo, um burro e uma serpente.

12. A intenção dos inventores dessa lei, que parece muito cruel nos nossos tempos, era punir tal gênero de homicídio também pela presença e ação de animais violentos e venenosos. Mas o que é a violência ou fúria desses animais estúpidos, comparada com a fúria da execração que rompe dos lábios tostados e das gargantas inflamadas dos danados no Inferno, quando eles contemplam nos seus companheiros de desgraça aqueles mesmos que os levaram ou incitaram ao pecado, aqueles cujas palavras criaram as primeiras sementes do mal nos seus espíritos, aqueles cujas atitudes insensatas conduziram-nos ao delito, aqueles cujos olhos os tentaram e desviaram do caminho da virtude? Só podem voltar-se contra esses seus cúmplices do pecado, insultando-os e amaldiçoando-os. Não terão, contudo, nenhum socorro nem ajuda, visto que já é demasiado tarde para o arrependimento (que eles mesmos abominam).

13. Finalmente, considerai o terrível tormento daquelas almas condenadas, as que tentaram e as que foram tentadas, agora todas juntas e, ainda por cima, na companhia dos demônios. Esses demônios afligirão os réprobos de duas maneiras: com as suas horríveis presenças e com as suas odiosas acusações. Não podemos ter uma ideia de quão horríveis são esses demônios. Uma vez, Santa Catarina de Sena viu um demônio, tendo escrito que preferia caminhar por cima de carvões em brasa, até ao fim da sua vida, a ter que olhar de novo, por um só instante, para tão horroroso monstro.

14. Tais demônios, que originariamente foram belíssimos anjos, tornaram-se tão feios e repugnantes quanto antes tinham de formosos e atraentes. Eles escarnecem e riem com desprezo das almas perdidas que arrastaram para a ruína. E é pelos diabos que são feitas, no Inferno, as vozes de acusação dos condenados: 'Por que pecaste? Por que deste ouvidos às tentações dos amigos? Por que abandonaste as tuas práticas piedosas e as tuas boas ações? Por que não evitaste as ocasiões de pecado? Por que não deixaste aquele mau companheiro? Por que não desististe daquele mau hábito, daquele hábito impuro? Por que não ouviste os conselhos do teu confessor? Por que, mesmo depois de haveres tombado a primeira, ou a segunda, ou a terceira, ou a quarta, ou a centésima vez, não te arrependeste dos teus maus passos e não voltaste para Deus, que esperava apenas pelo teu arrependimento para te absolver dos teus pecados? Agora, o tempo para o arrependimento já passou. O tempo no mundo ainda existe, mas tempo na eternidade não existe mais.'

15. 'Tempo houve para pecar às escondidas, para satisfazer a preguiça e o orgulho, para cobiçar o ilícito, para ceder às tentações e aos maus instintos, para viver como as bestas do campo, ou antes, pior do que as bestas, porque elas apenas são irracionais, não possuindo uma razão que as guie. Tempo houve no mundo, mas tempo no Inferno não existe mais. Deus falou-te por intermédio de tantas vozes, mas não quiseste ouvi-las. Não quiseste esmagar esse orgulho e esse ódio do teu coração, não quiseste devolver aqueles bens mal adquiridos, não quiseste obedecer aos preceitos da tua Santa Igreja, nem cumprir os teus deveres religiosos, não quiseste abandonar aqueles péssimos companheiros, não quiseste evitar aquelas perigosas tentações.' 

Tal é a linguagem desses atormentadores diabólicos, com palavras de sarcasmo e de reprovação, de ódio e aversão. De aversão, também sim, pois os próprios demônios, quando pecaram como anjos, fizeram-no por meio dum pecado incompatível com a natureza de tão angélicas criaturas: o da rebelião do seu intelecto (pela infidelidade contra Deus). Por tudo isso, estes mesmos demônios infernais só podem desprezar e odiar os réprobos, revoltados com o nojo e a aversão de terem de contemplar semelhantes pecados também nos homens ímpios, que desse modo ultrajaram a Deus e profanaram o templo do Espírito Santo, aviltando-se e degradando-se a si mesmos.

terça-feira, 7 de maio de 2013

DO LIVRO DO GÊNESIS

SERMÃO LXI:  Sobre a Obra dos Seis Dias

(São Hugo de São Vítor: 1096 - 1141)

No primeiro dia fez Deus a luz primordial, no segundo o firmamento, no terceiro congregou as águas inferiores em um único lugar, no quarto fez os luminares, no quinto as aves e os peixes, no sexto os animais. Criado, pois, o mundo, ordenado e ornamentado, e preparado primeiro tudo o que fosse necessário, cômodo e agradável ao corpo do homem, naquele mesmo sexto dia fez também Deus o homem, constituindo-o senhor de tudo e possuidor de todas as coisas. Deste modo, embora tenha sido criado posteriormente no tempo, por causa de sua dignidade, o homem é anterior e superior a todas as demais criaturas. Deus fez, efetivamente, o mundo sensível por causa do homem, para que o mundo estivesse submetido ao seu corpo, o corpo ao espírito, e o espírito ao Criador.

Preparou também o Criador dois bens para o homem, visto ele ter sido feito de uma dupla natureza. Um destes bens era visível, o outro invisível; um era corporal, o outro espiritual; um transitório e outro eterno, ambos plenos e perfeitos em seus gêneros. O primeiro destes bens foi feito para o corpo, o segundo para o espírito, para que pelo primeiro os sentidos do corpo fossem favorecidos à alegria e pelo segundo os sentidos da alma se saciassem pela felicidade. Para o conforto do corpo e para a alegria do espírito, os bens visíveis haviam sido feitos para o corpo e os invisíveis para o espírito. O primeiro destes bens foi concedido por Deus para que fosse gratuitamente possuído; o segundo foi prometido para que fosse buscado pelo mérito. O bem que era visível foi concedido gratuitamente, para que, pelo dom gratuito, ficasse demonstrada a excelência da promessa; e o que era invisível foi proposto para que fosse buscado pelo mérito, para que pudesse também ser demonstrada a fidelidade de quem o prometia. Depois que o homem, porém, obscurecido pelas trevas do pecado, perdeu o olho da contemplação, a totalidade das coisas visíveis não somente continuou a lhe oferecer o amparo para a sustentação do corpo, como também passou a lhe prestar o auxílio para a apreensão do conhecimento divino. De fato, está escrito:

'As coisas invisíveis de Deus, depois da criação do mundo, tornaram-se visíveis ao entendimento pelas coisas que foram feitas' (Rom. 1, 20).

Três são as coisas invisíveis de Deus: a potência, a sabedoria e a benignidade, e destas três procede tudo o que foi feito. A potência cria, a sabedoria governa, a benignidade conserva. Estas três coisas, porém, assim como em Deus são inefavelmente apenas uma única, assim também não podem ser separadas nas operações exteriores de Deus. Nelas a potência divina cria pela benignidade com sabedoria, a sabedoria governa pela potência benignamente e a benignidade conserva pela sabedoria com poder. A imensidade das criaturas manifesta a potência divina, a beleza a sua sabedoria, e a utilidade a sua benignidade. A criação das coisas visíveis é um grande dom de Deus e um grande bem para homem pois por elas o corpo é sustentado e a alma, iluminada pela contemplação das mesmas, é admiravelmente sublimada ao conhecimento, à admiração e ao amor de seu Criador.

Efetivamente, o Deus escondido chega à notícia do homem de quatro maneiras, das quais duas são interiores e duas são exteriores. Interiormente, pela razão e pelo desejo; exteriormente, pela criatura e pela doutrina. A razão e a criatura pertencem à natureza, o desejo e a doutrina pertencem à graça.

Ditas estas coisas, e tendo mencionado brevemente a obra dos seis dias, vejamos que ensinamentos morais se encontram escondidos nas mesmas e investiguemos com diligência o que nos poderá ser de proveito para a nossa edificação.

'No princípio criou Deus o céu e a terra' (Gen. 1,1).

O céu é o espírito, a terra é o corpo. Pelo céu, de fato, pode-se convenientemente entender o espírito do homem, formado à imagem e semelhança de Deus, criado para o conhecimento, para o amor e para a busca e a posse dos bens celestes. Pela terra entendemos o corpo do homem, que é de terra, e à terra muito brevemente haverá de retornar, conforme se encontra escrito:

'Tu és terra, e à terra hás de voltar' (Gen. 3,19).

Céu, que na língua latina se diz coelum, vem de celare, que significa ocultar.O céu,assim, é o espírito, porque ao seu bel prazer nos oculta as coisas que há nele, do mesmo modo como também está escrito:

'Qual dos homens conhece as coisas que são do homem, senão o espírito do homem, que está nele?' (1 Cor 2,11).

A terra, por sua vez, é o corpo, porque cotidianamente esmagado, - teritum na língua latina -, até que à terra retorne. O céu, também, é o espírito e a terra é o corpo porque assim como o céu é mais sublime e mais sólido do que a terra, assim também o espírito é mais excelente do que o corpo.

O mundo, em seu caos primordial, é o homem em sua iniquidade. Assim como, de fato, no mundo ainda envolvido no caos primordial não havia nem luz nem aparência de ordem futura, assim também para o homem submetido à iniquidade nem a luz brilha pelo conhecimento da verdade, nem a ordem se faz presente pela disposição da equidade.

Em meio ao caos Deus cria, no primeiro dia da vida espiritual, a luz primordial, quando, pelos raios de uma luz interior, ilumina o pecador imerso na confusão de seus diversos pecados, para que conheça não só o que ele é como também e o que deve ser, e se disponha a si mesmo segundo a norma do reto viver. A luz primordial significa, portanto, o conhecimento do pecado.

O firmamento entre as águas superiores e inferiores é o discernimento entre os vícios e as virtudes. As águas inferiores, de fato, designam os vícios, e as águas superiores as virtudes. Coloca-se um firmamento entre ambas as águas quando pela virtude do discernimento distingüem-se as virtudes dos vícios e os vícios das virtudes.

Sucede-se depois a congregação das águas que estavam sob o firmamento. A congregação das águas significa o domínio dos vícios. Os vícios, de fato, não podem nesta vida ser inteiramente evacuados ou eliminados dos recônditos da natureza humana por causa de seus aguilhões que residem naturalmente em nós; devem, portanto, o quanto for possível, mediante o auxílio da graça divina, ser dominados, diminuídos e reduzidos a um único lugar, para que não se disseminem pelo todo, tudo ocupem e corrompam, impedindo nossos sentidos da busca da verdade, nossos desejos do exercício da virtude e nossos membros da exibição da boa obra. Assim como, de fato, a terra ocupada pelas águas não pode germinar, assim nós, imersos nos vícios, não entenderemos o sentido da busca da verdade, nem desejaremos o exercício das virtudes ou poderemos usar de nossos próprios membros para a exibição das boas obras. As águas, congregadas em um só lugar, fazem com que o ar se torne claro e aquecido e com que a terra germine porque, dominados os vícios, a nossa alma brilha pelo conhecimento, aquece-se pelo amor, e a carne frutifica pela boa ação.

A criação dos luminares significa, removida a nebulosa cegueira da ignorância, a perfeita visão da verdade. O Sol pode significar o conhecimento das coisas que pertencem à Santa Igreja; as estrelas o conhecimento das coisas que pertencem a qualquer criatura ou a qualquer alma fiel.

Os peixes, que vivem no mundo inferior, isto é, nas águas, significam as solicitudes das boas ações, exercidas entre as ondas escorregadias da vida. As aves, que voam nas alturas, significam a contemplação dos bens celestes, pela qual nos elevamos das coisas inferiores às superiores.

Os animais terrestres significam os sentidos de nosso corpo, pois os animais tem os sentidos em comum com os homens. Ademais, quando nossos sentidos corporais, antes corrompidos pela vaidade, são restaurados pela graça divina, eles se tornam em nós como os animais feitos por Deus no sexto dia da obra da criação.

Realizadas que foram todas estas coisas, por último é criado o homem à imagem e semelhança de Deus pois, ordenadas desta maneira em nós todas as coisas pelas virtudes e pelas boas obras, o pecador, que antes era deforme e dessemelhante pela culpa, torna-se conforme e consemelhante a Deus pela justiça. O homem, assim criado, é finalmente transportado para o paraíso das delícias, pois o pecador regenerado no mundo pela graça é sublimado ao céu pela glória.

Eis, irmãos caríssimos, um outro mundo. Tanto este mundo maior como o mundo sensível foram criados antes de todos os dias. Nos três primeiros ambos foram ordenados e nos três seguintes ambos foram ornamentados.

Vejamos, pois, caríssimos, se assim como possuímos a existência pela criação, também possuímos a ordenação pela graça, e o ornamento pela excelência da vida. Vejamos se existe em nós a luz primordial pelo conhecimento dos nossos pecados, se existe o firmamento pelo discernimento dos vícios e das virtudes, se as águas se congregam pelo domínio dos vícios, se as árvores e a erva verde germinam pelo exercício das virtudes. Vejamos também se há em nós luminares pelo conhecimento da verdade, se há peixes pela exibição das boas obras, aves pelo voo da contemplação, animais por uma sensualidade já imaculada. Vejamos se em nós a dignidade humana foi restaurada pela justiça, aquela mesma que havia sido foi deformada pela culpa, e se, finalmente, podemos constatar que tudo quanto fizemos 'é imensamente bom' (Gen. 1,31) para que possamos descansar com Deus e em Deus pela boa consciência.

Se for tudo assim, também pela glória poderemos nelas descansar, para que se cumpra em nós o que se encontra em Isaías, onde se diz: 'De sábado em sábado, toda a carne virá prostrar-se diante de mim e me adorará, diz o Senhor' (Is. 66,23). E que, para tanto, digne-se vir em nosso auxílio Jesus Cristo, Senhor Nosso, que é Deus, bendito por todos os séculos. Amém.

domingo, 5 de maio de 2013

O NOVO MANDAMENTO


Deus, em sua infinita misericórdia, destinou ao homem, não apenas a plenitude de uma felicidade puramente natural mas, muito mais que isso, por desígnios imensuráveis à condição humana, a plenitude da eterna felicidade com Ele. E, para nos tornar co-participantes de sua glória, nos escolheu, um a um, desde toda a eternidade, como criaturas humanas privilegiadas e especiais, moldadas pelo infinito amor do divino intelecto. Glória aos homens bem-aventurados que, nascidos e criados pelo infinito amor, foram e serão redimidos pelo amor de Cristo para toda a eternidade!

Neste Quinto Domingo da Páscoa, somos chamados a vivenciar este amor de Deus em plenitude. Jesus encontra-se no Cenáculo, pouco antes de sua ida ao Horto das Oliveiras e da sua prisão e morte na cruz. E acaba de revelar aos seus discípulos amados, mais uma vez, a identidade do amor divino entre Pai e Filho, regida pelo Espírito Santo: '“Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele'. (Jo,13, 31). Do amor intrínseco à Santíssima Trindade, medida infinita do amor sem medidas, Jesus vai nos dar o princípio do amor humano verdadeiro e recíproco ao amor divino: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.' (Jo,13, 34). 

Sim, como Cristo nos amou. Na nossa impossibilidade humana de amar como Cristo nos ama, isso significa amar sem rodeios, amar sem vanglória, amar sem zelos de gratidão, amar de forma despojada e sincera aos que nos amam e aos que não nos amam, a quem não conhecemos, a quem apenas tangenciamos por um momento na vida, a todos os homem criados pelos desígnios imensuráveis do intelecto divino, à sombra e imersos na dimensão do infinito amor de Cristo por nós.

Nesta proposição distorcida e acanhada do amor divino, o amor humano se projeta a alturas inimagináveis de santificação, e expressa a sua identificação incisiva no projeto de redenção de Cristo: 'Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros'. (Jo,13, 35). Eis aí a essência do novo mandamento: amar, com igual despojamento, toda a dimensão da humanidade pecadora, a exemplo de um Deus que se entregou à morte de cruz para nos redimir da morte e mostrar que o verdadeiro amor não tem limites nem medida alguma. 

(postagem não publicada no domingo passado)

'A MINHA PAZ VOS DOU'


Neste Sexto Domingo da Páscoa, somos chamados a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade às suas Santas Palavras: 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra' (Jo 14, 23). Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a d’Aquele que me enviou' (Jo 6, 38) e 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38).

A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem não me ama, não guarda a minha palavra ' (Jo 14, 24). Mas este amor terá de ser libertado do mero sentimento arraigado às mazelas humanas para ser transformado em um amor espiritual sem medidas, desapegado dos valores mundanos. Este amor não se alimenta da paz do mundo, mas da paz que emana do próprio Coração de Deus: 'Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.' (Jo 14, 27). Na paz de Deus, na confiança absoluta às divinas promessas, não há porque se perturbar ou se intimidar a fragilidade do pobre coração humano.

A presença permanente do Cristo Ressuscitado em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, conforme as palavras de Jesus: 'o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito' (Jo 14, 26). Sob a ação do Espírito Santo, o amor humano pode trilhar livremente o caminho da santificação, até o impossível, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação em si da glória de Deus, quando enfim, 'o meu Pai o amará, e nós (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) viremos e faremos nele a nossa morada' (Jo 14, 23).

sábado, 4 de maio de 2013

96 ANOS DAS MENSAGENS DE FÁTIMA (I)

AS MENSAGENS E OS SEGREDOS DE FÁTIMA

As aparições de Nossa Senhora em Fátima/Portugal, de 13 de maio a 13 de outubro de 1917, a três humildes crianças, Jacinta e Francisco Marto (ambos falecidos ainda na infância, logo após as aparições, em 20/02/1920 e 04/04/1919, respectivamente) e Lúcia dos Santos (falecida em Coimbra, em 13/02/2005, com quase 98 anos de idade), à época com 7, 9 e 10 anos, respectivamente, constituem a síntese das aparições marianas, em que estes princípios apresentam-se entrelaçados de modo admirável numa mensagem de cunho universal, mundialmente conhecida como Segredo de Fátima. Com efeito, Fátima está inserida no contexto da Primeira Guerra Mundial (1914 -18) e da revolução marxista-leninista na Rússia (1917), frutos de um mundo em estado de pecado generalizado muito grave, em situação de impiedade (falta de fé) e impureza muito piores que àquelas vigentes à época das mensagens de La Salette. 

Falando aos pequenos pastores, a mensagem de Nossa Senhora constitui uma revisão ainda mais vigorosa que os apelos transmitidos aos homens por meio de Mélanie e Maximino em 1846, com uma forte exortação aos homens de todo o mundo pelo retorno à oração, à penitência, à conversão e uma indicação clara dos graves riscos a que se submetia a humanidade caso os homens não se convertessem de fato. Mas Fátima é essencialmente a promessa de uma conversão de almas e o triunfo do Imaculado Coração de Maria num mundo novo, uma nova Terra. Assim, Fátima é o grande marco da História da Igreja contemporânea, delineando de forma insofismável os eventos apocalípticos dos últimos tempos e a redenção da humanidade nos tempos novos do Reino de Maria. 

Do conjunto de mensagens que Nossa Senhora e Mãe de Deus revelou ao mundo em Fátima, algumas das revelações foram sistematizadas em três partes distintas, numa abordagem que ficou mundialmente conhecida como Segredo de Fátima. As duas primeiras partes do Segredo foram formalmente reveladas por Lúcia em 1941, nas suas Terceira e Quarta Memórias e são as seguintes: 

1. Visão do Inferno 

Na terceira aparição, a 17 de julho de 1917, Nossa Senhora, após ensinar às crianças uma oração pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos, abriu as mãos e o reflexo dos raios de luz, que delas emanavam, pareceu penetrar a terra, revelando a Visão do Inferno. Acompanhemos a descrição do inferno nas terríveis palavras de Lúcia: 

'... e vimos como que um mar de fogo: mergulhados neste fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas, que delas mesmo saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa...' 

2. Castigos Universais e os Meios para Evitá-los 

A Segunda parte do Segredo, revelada às crianças na seqüência imediata da Visão do Inferno, consiste no anúncio do advento de grandes castigos para a humanidade, caso os homens não se convertessem e, principalmente, os meios de salvação colocados à disposição de todos e capazes de reorientar e modificar completamente as perspectivas previstas para as futuras gerações: a oração do Rosário, a prática dos Cinco Primeiros Sábados e a Devoção ao Imaculado Coração de Maria. O pedido premente da Mãe de Deus não se restringe à geração do início do século XX, mas é um clamor incessante a todas as gerações futuras e o seu teor constitui uma realidade impressionante para todos os homens nestes primeiros anos do Século XXI: 

'Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre. Para o impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem aos meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz. Se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito o que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, etc...' 

3.  'O Terceiro Segredo' 

A última frase das mensagens reveladas é bastante singular: 'Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, etc...'. Este etc... sugere que o texto da terceira parte do Segredo estaria a seguir (lembrando que a segunda parte sucedeu imediatamente a revelação da primeira parte). Mas a própria frase parece desconectada do contexto anterior, pois a referência específica (situação em Portugal) confronta com o texto prévio (castigo das nações, dimensão universal dos castigos), de forma que pode se interpretar esta frase já no contexto da terceira parte do Segredo. Se em Portugal o dogma da fé será mantido (e se esta afirmativa assume um caráter de tal relevância que mereça uma menção especial na mensagem), é razoável deduzir que este fato – a perda da fé – atingirá dimensões inconcebíveis no âmbito da história humana e terá proporções mundiais. Nesta concepção, a terceira parte da mensagem referir-se-ia à questão de uma apostasia generalizada e sem paralelo na história da humanidade. Uma crise de fé de tal relevância deveria estar intimamente relacionada a uma gravíssima crise da própria Igreja de Cristo e isto explicaria a não divulgação pública desta terceira e última parte do Segredo. 

Tomemos, como referência, algumas mensagens ao Pe Gobbi, do Movimento Sacerdotal Mariano (MSM), em que Nossa Senhora explicita claramente estas concepções:

678/90 - Causas da apostasia (ver Segunda Carta de São Paulo aos Tessalonicenses - 2,3): 
- difusão de erros teológicos 
- mau exemplo de sacerdotes 
- rebeliões contra a Igreja / Papa 

688/90 - O meu terceiro segredo, que aqui dei a conhecer às três crianças a quem apareci, e que até agora ainda não vos foi revelado, tornar-se-á manifesto a todos pelo próprio desenrolar dos acontecimentos. A Igreja conhecerá a hora de sua maior apostasia, o homem iníquo introduzir-se-á no seu interior e sentar-se-á no próprio templo de Deus, enquanto o pequeno resto, que permanecerá fiel, será submetido às maiores provações e perseguições. 

832/93 - Viveis os anos sanguinolentos da batalha ... Está se realizando o que está contido na terceira parte da minha mensagem, que ainda não vos foi revelada ... 

Nossa Senhora faz uma correlação direta entre o terceiro segredo de Fátima e os sinais escatológicos; as mensagens de Nossa Senhora em Fátima não foram reveladas (a mensagem original é de 1993) e, assim, não propiciaram a reação adequada ao espantoso alerta dos nossos tempos: a humanidade, corrompida pelas potências do mal, será objeto de uma apostasia de cunho universal propiciando as condições para o surgimento do anticristo, ratificando, assim, as palavras de São Paulo na segunda carta aos tessalonicenses. 

762/92 - Entrais nos tempos decisivos ... o novo ano levará ao cumprimento o que Eu vos tenho revelado em alguns dos meus segredos ... Assim, aumentarão em toda parte o mal e o pecado ... as guerras se difundirão, envolvendo outros povos e nações ... 

816/93 - A grande prova chegou para toda a humanidade ... Quantos deverão sofrer o flagelo da fome, da carestia, da discórdia, das lutas fratricidas que espalharão tanto sangue pelos vossos caminhos. 

821/93 - A humanidade conhecerá a hora sangrenta do seu castigo: será golpeada pelo flagelo das epidemias, da fome e do fogo; muito sangue será derramado nas vossas estradas; a guerra se estenderá por toda parte, levando ao mundo uma incomensurável devastação. 

831/93 - (as potências do mal) conseguiram levar toda a humanidade a viver sem Deus; difundiram por toda a parte o erro do ateísmo teórico e prático; construíram novos ídolos, diante dos quais a humanidade se prosta em adoração: o prazer, o dinheiro, o orgulho, a impureza, o predomínio e a impiedade. 

832/93 - Viveis os anos sanguinolentos da batalha ... Está se realizando o que está contido na terceira parte da minha mensagem, que ainda não vos foi revelada ... 

Esta terceira parte do segredo, escrita por Lúcia em janeiro de 1944, seria formalmente revelada publicamente pelo Vaticano em 26 de junho de 2000, em termos tão abrangentes e eivados de naturalismo, que não justificam, de forma alguma, os cuidados extremos e o silêncio pontifício imposto à exposição pública das mensagens durante décadas, pelas consequências e impactos decorrentes de revelações particularmente graves e universais. Assim, a revelação divulgada oficialmente como 'terceiro segredo' não se enquadra absolutamente nestas graves e definitivas mensagens de Nossa Senhora ao MSM e muito menos na gravíssima realidade atual de perda da fé e de uma apostasia geral da humanidade. 

A terceira parte do segredo constitui essencialmente, portanto, a revelação de uma profunda crise de fé e crise da Igreja, com a perda substancial da Verdade revelada, substituída por um sem número de doutrinas heréticas no campo dogmático e da moral e implementação de falsas liturgias, com profundo impacto nos valores do cristianismo autêntico e concessões crescentes ao permissivismo moral, ao agnosticismo e ao ateísmo. Nas demolidoras palavras de Paulo VI: '... por alguma fissura entrou a fumaça de Satanás no templo de Deus...

Na própria mensagem de Fátima, o Segredo aparece como três partes distintas de um todo, ou seja, existe uma relação direta e comum interligando as três partes do Segredo em uma única mensagem: a crise de fé e a apostasia universal (terceira parte do Segredo) seriam os fatores de condenação ao Inferno de um grande número de almas (primeira parte) e a causa fundamental para a sucessão de castigos que se abateriam sobre o mundo (segunda parte). Desta forma, a terceira parte constituiria, na verdade, a causa dos eventos descritos nas primeiras duas partes reveladas (perda das almas, representada nas aparições pela Visão do Inferno e os castigos universais, caso não se concretizassem a conversão dos homens). Os meios disponibilizados por Nossa Senhora para evitar estes castigos seriam, então, o Santo Rosário, a Consagração dos Cinco Primeiros Sábados e a Devoção ao Imaculado Coração de Maria.

(Da publicação '8 Questões sobre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, do autor do blog).

PRIMEIRO SÁBADO DE MAIO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.