sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

AS INVESTIDAS DO DEMÔNIO NA VIDA DE SANTO ANTÔNIO CLARET

Pe Claret viu um esquadrão de demônios ao lado esquerdo de sua cama quando, ainda seminarista, foi vítima de horrorosa tentação que se dissipou com a doce aparição de Maria Santíssima. E este exército infernal combateu-o principalmente na época das missões, com as quais tantas almas o Pe. Claret arrebatou ao inferno, para apresentá-las a Jesus como gloriosos despojos de combate. 

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Certa ocasião encontrava-se em Vich o santo missionário. Uma manhã, as pessoas da casa onde ele estava hospedado viram com grande surpresa que ele não descia para tomar seu café, na hora de costume. Temeram que estivesse indisposto. Bateram à porta, entraram no quarto e perguntaram-lhe se se encontrava adoentado: 'Sinto uma dor profunda no lado esquerdo' – respondeu. Alarmados com isto, pois o Pe. Claret não costumava queixar-se, chamaram o médico. Chegando este, mandou que descobrisse o lado afetado, e afastando a roupa, viu no lado esquerdo uma ferida como se uma fera lhe houvesse despedaçado a carne com as garras, deixando à mostra algumas costelas. 

Ninguém conhecia a causa desse ferimento, porque o Pe. Claret nada dizia; mas todos acreditaram ser efeito do demônio que assim queria atormentar as carnes do inocente missionário. Voltou por duas vezes o médico, e vendo que havia sinais de gangrena, após uma demorada consulta, resolveu ser necessária uma intervenção cirúrgica, e determinou fazê-la na manhã seguinte. 

Ao retornar, bateu à porta do doente, mas este não respondeu. Perguntou por ele, alarmado, e enquanto esperava, apareceu risonho o doente prodigioso: 'Não se espante', disse-lhe, 'ajude-me a agradecer a Deus este favor. Esta noite Nossa Senhora curou-me'. O doutor, atônito, mandou descobrir o lugar da ferida; e notou com surpresa que já havia cicatrizado, e o lugar estava recoberto de pele branca e firme. 

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As perseguições do demônio eram mais frequentes na época das missões. Pregava o Pe. Claret em Sarreal, província de Tarragona. As multidões, comovidas, tomaram quase que de assalto a igreja; invadiam-na, deixando-a repleta; e muita gente se acotovelava no adro por não poder entrar no templo. Quando o missionário estava mais fervoroso e emocionante no sermão, desprendeu-se do arco central do templo uma pedra enorme, que caiu em pedaços sobre a multidão. 

'Não é nada!' gritou o Pe. Claret, 'ninguém se mova! É o demônio que quer impedir o fruto da santa missão. Mas não tem permissão de Deus para vos fazer mal'. Assim foi; pois os diversos pedaços não feriram a ninguém. 

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Pregava, de outra feita, perante enorme concorrência. Estava já na metade da missão. O povo cada dia dava maiores demonstrações de piedade e arrependimento. Era de noite. Quase todos os habitantes estavam reunidos na igreja. Quando o Pe. Claret tomou nas suas mãos o santo crucifixo para findar o sermão com fervorosa súplica, um desconhecido entrou à viva força no templo, alvoroçando o povo e gritando: 'Fogo! Fogo! Que se queima uma casa. Auxílio! Socorro!' O Pe. Claret, com voz forte, disse, interrompendo o sermão: 'É o demônio! Não há casa alguma a arder. E para que vos convençais, que vá o sacristão constatar o fato. Se houver fogo, iremos todos apagá-lo; mas, enquanto não vier o aviso, ficai tranquilos e sossegados'.

Chegou o sacristão e disse não haver sinal nenhum de incêndio. Então o povo quis dar uma sova no homem, mas este, misteriosa e subitamente, desapareceu. 'Não vo-lo dizia?' exclamou o Pe. Claret, 'era o demônio, inimigo de vossas almas, que pretendia impedir o fruto desta santa missão'. E tomando pé deste fato, pregou novo sermão sobre a importância da salvação.

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Foi em Masnou, província de Tarragona. Pregava o Pe. Claret uma missão. As povoações vizinhas, entusiasmadas e a se penitenciar, vinham todas as tardes escutar atentamente a palavra do missionário. Uma multidão compacta e fervorosa enchia o vasto templo paroquial. Apareceu na capela-mor o Pe. Claret e entoou, em frente do auditório, um cântico da missão. A multidão, que conhecia aquele cântico, acompanhou-o unissonamente, como um imenso coral. 

O organista, Pe. João Quintana, carmelita calçado, assentou-se ao órgão para acompanhar o canto. Mas, contra a vontade do organista, saía dos tubos do órgão a música de uma canção escandalosa, muito em voga naquele tempo em teatros e tabernas. O público emudeceu, escandalizado, e logo alvoroçou-se diante do insulto. O organista, espantado, trabalhava para dominar o teclado do órgão, mas seu esforço era em vão. A canção continuava soando escandalosamente. 

Então o Pe. Claret subiu rapidamente ao púlpito e, dirigindo-se à multidão, disse com voz dominadora: 'Meus irmãos, não vos espanteis! É o demônio que, com esta canção escandalosa, quer inutilizar o fruto dos sermões' E erguendo a mão em direção ao coro, gritou: 'Sr. Organista, abra o registro flautado, porque dentro dele está o demônio'. Assim fez o organista, e o demônio fugiu vencido. O órgão acompanhou harmoniosamente os cantos da missão; serenou o auditório e, ao findar a pregação, puderam recolher os ceifadores evangélicos do campo espiritual magnífica colheita de pecadores convertidos. 

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De outra vez foi em Igualada. A missão estava dando belos resultados. Já de público se contavam as grandes conversões, e estavam prestes a dar esse passo outros muitos pecadores. Para mover a estes que permaneciam hesitantes, o Pe. Claret preparou com a oração e o estudo, um sermão especial: o sermão da Madalena. Todos choravam ao escutá-lo. Sua palavras era uma concentração luminosa e palpitante de todas as ternuras, de todos os arrependimentos, de todos os amores que sentiu na hora feliz da sua conversão a Madalena, a sublime penitente.

Quando mais ardentes e gerais eram os soluços no auditório, um ruído espantoso alvoroçou o público. Milhares de cães raivosos brigavam, mordiam-se, despedaçavam-se invisivelmente na igreja; perseguiam-se, desgarravam-se com uivos aterradores. A multidão, consternada, lançou um grito de espanto. Todos olhavam em redor, mas ninguém via onde estavam os cachorros. 

Então o Pe. Claret, estendendo a mão sobre o auditório disse: 'Calma, meus irmãos! Calma! Não vos espanteis. Esses cães são os demônios que receiam vos aproveiteis da santa missão. Desprezai-os e logo vos largarão'. Tranquilizou-se o público ao ouvir estas palavras do santo missionário; os demônios fugiram e a matilha de cães emudeceu.

(Excertos da obra 'Santo Antônio Claret', do Pe. João Echevarria, 1962)