CARTA SOBRE A INTERPRETAÇÃO DOS SALMOS DE SANTO ATANÁSIO
(CAPÍTULOS XI - XVI)
Se desejas louvar a Deus recita o 64.
E quando queiras catequizar alguém acerca da ressurreição, entoa o 65.
Imploras a misericórdia do Senhor? Louva-o salmodiando o 66.
Se vês que os malvados prosperam gozando de paz e os justos, em troca, vivem em aflição, para não tropeçar nem escandalizar-te, recita também tu o 72.
Quando a ira de Deus se inflama contra o povo, tenhas palavras sábias para seu consolo no 73.
Se andas necessitado de confissão, salmodia o 9; 74; 91; 104; 105; 106; 107; 110; 117; 125 e 137.
Queres confundir e envergonhar os pagãos e hereges, demostrando que nem um só deles possui o conhecimento de Deus, e sim unicamente a Igreja Católica? Podes, se assim o pensas, cantar e recitar inteligentemente as palavras do 75.
Se teus inimigos te perseguem e te cortam toda possibilidade de fuga, ainda que estejas muito afligido e grandemente confundido, não desesperes, e sim clama; e se teu grito é escutado, dá graças a Deus recitando o 76.
Porém, se os inimigos persistem e invadem e profanam o templo de Deus, matando os santos e arremessando seus cadáveres às aves do céu, não te deixes intimidar nem temas sua crueldade, e sim compadece com os que padecem e ora a Deus com o salmo 78.
Se desejas louvar ao Senhor em dia de festa, convoca os servos de Deus e recita os salmos 80 e 94.
E se novamente os inimigos todos, se reúnem, assaltando-te por todas as partes, proferindo ameaças até à casa de Deus e aliando-se contra a piedade, não te amedrontes por sua multidão ou seu poder, já que tens uma âncora de esperança nas palavras do salmo 82.
Se vendo a casa do Senhor e seus tabernáculos eternos, sentes nostalgia por eles, como tinha o Apóstolo, recita o salmo 83.
Quando havendo cessado a ira e terminado o cativeiro, quiseras dar graças a Deus, tens o 84 e o 125.
Se quiseres saber a diferença que medeia entre a Igreja católica e os cismáticos, e envergonhar estes últimos, podes pronunciar as palavras do 86.
Se quiseres exortar-te a ti e a outros, a render culto verdadeiro a Deus, demostrando que a esperança em Deus não fica confundida, e sim que, ao contrário, a alma fica fortalecida, louva a Deus recitando o 90.
Desejas salmodiar o Sábado? Tens o 91.
Queres dar graças no dia do Senhor? Tens o 23; ou, desejas fazê-lo no segundo dia da semana? Recita o 47.
Queres glorificar a Deus no dia de preparação? Tens o louvor do 92.
Porque então, quando ocorreu a crucifixão, foi edificada a casa ainda que os inimigos trataram de rodeá-la, é conveniente cantar como cântico triunfal o que se enuncia no 92.
Se te sobrevindo o cativeiro, e a casa, sendo derrubada, volta a ser edificada, canta o que se contém no 95.
A terra se livrou dos guerreiros e apareceu a paz: reina o Senhor e tu queres fazê-lo objeto de teus louvores, aí tens o 96.
Queres salmodiar o quarto dia da semana? Faça-o com o 93; pois num dia como esse foi o Senhor entregue e começou a assumir e executar o juízo contrário à morte, triunfando confiadamente sobre ela. Se lês o Evangelho, verás que no quarto dia da semana os judeus se reuniram em Conselho contra o Senhor, e também verás que com todo valor começou a procurar-nos justiça contra o diabo: salmodia, com respeito a tudo isto, com as palavras do 93.
Se, ademais, observas a providência e o poder universal do Senhor, e queres instruir a alguns na obediência e na fé, exorta-os diante de tudo a confessar decididamente, salmodiando o 99.
Se tens reconhecido o poder de seu juízo, quer dizer que Deus julga temperando a justiça com sua misericórdia, e queres acercar-te dele, tens para este propósito as palavras do 100 entre os salmos.
Nossa natureza é débil... se as angústias da vida te fizeram similar a um mendigo e, sentindo-te exausto, buscas consolo, entoa o 101.
É conveniente que sempre e em todo lugar demos graças a Deus... se desejas bendizê-lo, estimula tua alma recitando o 102 e o 103.
Queres louvar a Deus e saber, como, por que motivos e com quais palavras fazê-lo? Tens o 104; 106; 134; 145; 146; 147; 148 e 150.
Prestas fé ao que disse o Senhor e tens fé nas palavras que tu mesmo dizes quando rezas? Profere o 115.
Sentes que vais progredindo gradualmente em tuas obras, de modo que podes fazer tuas as palavras: "esquecendo o que fica atrás de mim, me lanço até o que está adiante" (Fil 3,13)? Podes então entoar para cada um dos degraus de teu adiantar um dos quinze salmos graduais.
Tens sido conduzido ao cativeiro por pensamentos estranhos e te achas nostalgicamente puxado por eles? Te embarga o arrependimento, desejas não cair no futuro e, ainda assim, segues cativo deles? Senta-te, chora, e como o fez Anato ao povo, pronuncia as palavras do 136!
És tentado e, assim, sondado e provado? Se quando superada a tentação quiseres dar graças, utiliza o salmo 138.
Te achas novamente acossado pelos inimigos e queres ser libertado? Pronuncia as palavras do 139.
Desejas suplicar e orar? Salmodia o 5 e o 142.
Se alçado o tirânico inimigo contra o povo e contra ti, ao modo de Golias contra Davi, não temas: tenha fé, e como Davi, salmodia o 143.
Se maravilhado pelos benefícios que Deus outorgou a todos e também a ti, queres bendizê-lo, repete as palavras que Davi disse no 144.
Queres cantar e louvar ao Senhor? O que deves entoar está nos salmos 92 e 97.
Ainda sendo pequeno, tens sido preferido a teus irmãos e colocado sobre eles? Não te vanglories nem te encoraje-se contra eles, e sim atribuindo a glória a Deus, que te elegeu, salmodia o 151, que é um poema genuinamente davídico.
Suponhamos que desejas entoar os salmos que resumem o louvor a Deus, e que vão encabeçados pela Aleluia, podes usar: o 104; 105; 106; 111; 112; 113; 114; 115; 116; 117; 118; 134; 135; 145; 146; 147; 148; 149 e o 150.
Se ao salmodiar queres destacar o que se refere ao Salvador, encontrarás referências praticamente em cada salmo; assim, por exemplo:
Tens o 44 e o 100, que proclamam tanto sua geração eterna do Pai como sua vinda na carne;
O 21 e o 68 que preanunciam a cruz divina, como também todos os padecimentos e perseguições que suportou por nós;
O 2 e o 108 que apregoam a maldade e as perseguições dos judeus e a traição de Judas Iscariotes;
O 20, 49 e 71 proclamam seu reinado e sua potestade de julgar, como também sua manifestação a nós na carne e a vocação dos pagãos;
O 15 anuncia sua ressurreição dentre os mortos;
O 23 e 46 anunciam sua ascensão aos céus.
Ao ler o 92, 95, 97 ou 98, contemplas os benefícios que o Salvador nos outorgou graças a seus padecimentos.