sábado, 27 de outubro de 2012

A BÍBLIA EXPLICADA (I)

Qual era a língua falada por Jesus?


Durante o século I, na terra onde viveu Jesus, eram usadas comumente quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e latim. 

O latim era a língua oficial e a de uso mais restrito, empregada quase que exclusivamente por funcionários romanos e por pessoas da sociedade mais culta. Neste sentido, é pouco provável que Jesus tenha usado o latim em suas pregações e na sua linguagem cotidiana. 

O grego era uma língua bem mais comum, de conhecimento de muitos cidadãos da Galileia, particularmente os de origem helênica. Também era falado na Judeia e por muitos habitantes de Jerusalém e, assim, é bem possível que Jesus tenha utilizado o grego em situações especiais (no diálogo com Pilatos, por exemplo), mas não em pregações habituais. 

O hebraico possivelmente teria sido a linguagem adotada nas pregações feitas nas sinagogas ou em presença dos fariseus, amparadas nos textos das Sagradas Escrituras. 

O aramaico era a língua corrente entre os judeus da Galileia e certamente foi a linguagem adotada por Jesus como de uso diário e sistemático. Assim, por exemplo, effatá, geena, abba e 'Eli, Eli, lamá sabactâni?' são palavras e expressões em aramaico que os Evangelhos, escritos em grego, transcrevem diretamente da própria boca de Jesus. 

Quais eram os principais grupos do povo judeu à época de Jesus?


Os principais grupos que formavam a população judia na Palestina do Século I eram os fariseus, saduceus, essênios e zelotes. 

Os fariseus (do hebraico perushim - 'segregados') concentravam toda a atenção às questões relativas à observância das leis de pureza ritual, que extrapolavam as atividades formais no templo e se incorporavam às ações cotidianas mais prosaicas. Com base na lei escrita (Torá ou Pentateuco), os fariseus compilaram uma série de tradições e de modos de cumprir as prescrições da Lei que, ao longo do tempo, tomaram tal relevância que passaram a assumir o mesmo patamar da lei escrita. Segundo as suas convicções, essa Torá oral teria sido entregue a Moisés, juntamente com a Torá escrita, e tinham origem, portanto, no próprio Deus. 

Para uma certa parte dos fariseus, a dimensão política representava um papel decisivo na escala de sua religião, e o empenho pela independência nacional era partilhado pela crença de que nenhum poder temporal poderia contrapor-se à soberania do Senhor sobre o seu povo. Estes judeus eram conhecidos pelo nome de zelotes, provavelmente dados por eles mesmos, em alusão ao seu zelo por Deus e pelo cumprimento da Lei. Pregavam que a salvação, embora concedida por Deus, implicava a colaboração humana exposta no zelo estrito pelo cumprimento da Lei e até mesmo pelo uso da violência e do poder militar para vencer os inimigos de Deus. 

Os saduceus eram representados pelas pessoas cultas, membros de famílias sacerdotais e das famílias mais ricas e aristocráticas do povo judeu (incluindo os chamados 'sumos sacerdotes', que eram os representantes do povo judeu perante o poder imperial). Pregavam uma interpretação muito sóbria da Torá, sem as nuances casuísticas e as referências orais propostas pelos fariseus. Ao contrário destes, não acreditavam na vida depois da morte e nem compartilhavam as suas esperanças escatológicas. Embora tivessem grande poder de influência política e religiosa, não gozavam da mesma popularidade e respeito que desfrutavam os fariseus. 

Os essênios repudiavam os cultos prestados no templo de Jerusalém e o contato com os outros grupos judeus, visando evitar a perda dos valores espirituais extremamente rígidos que pregavam e uma possível contaminação dos seus princípios. Assim, mais que uma vida de pobreza, buscaram um profundo e completo sistema de isolamento físico e econômico no âmbito da comunidade judaica, vivendo em ambientes hostis e de difícil acesso, num modelo extremo de segregação racial (as cavernas de Qumran são um exemplo disso).


(Da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)