sábado, 10 de fevereiro de 2024

A SANTIFICAÇÃO NOS TEMPOS DO CARNAVAL

Se a alma cristã compreendesse, na sua verdadeira agonia, o que o pecado produz nas coortes divinas, teria o zelo dos santos e um horror desmedido a praticar ainda que fosse a mais leve ofensa a Deus. No carnaval, o desprezo e as injúrias às coisas sagradas são levadas até às últimas consequências, aos últimos limites e a nudez, o prazer e o hedonismo mais escancarado são colocados nos altares da insensatez humana, como um tributo e idolatria aos instintos e às paixões humanas mais desregradas.

E, em meio a loucuras e deboches morais cada vez mais incrementados, prega-se como atributo da dignidade e da cidadania, os valores de tolerância e do discernimento para se lidar com o 'livre pensar' alheio. Pode-se prescindir ao máximo de tolerância com os princípios cristãos, mas há que se criar modelos de restrições e imposições severas a todos que não compartilham da mundanidade mais descabida, da miséria humana mais exacerbada, do aniquilamento das referências morais mais autênticas, da conspurcação da fé.

Não há carnaval católico, porque não há alegria cristã no pecado. Não há santo carnaval, porque você não vai encontrar Jesus sob serpentinas e paetês, porque Ele não percorreu a via dolorosa do Getsêmani ao Calvário há dois milênios para o encontrar nestes quatro dias de ócio e de folia. Aquelas gotas de sangue são o testemunho da tortura mental imposta pelos pecados dos homens de todos os tempos e como eles se espalham como enxames de abelhas nestes tempos do carnaval! 

É mister que sua alma cristã diga não à vertigem coletiva, ao desvario de tantos. E sua resposta não pode ficar limitada ao isolamento do burburinho ou ao descanso dos acomodados. Mais do que nunca, torna-se imperativa a santificação desse tempo de carnaval. Seja num retiro espiritual, seja no anonimato de sua pequena oração diante o Santíssimo, seja pela intercessão junto à Virgem Maria, rezemos em desagravo a tantos pecados cometidos nesta época, particularmente pela omissão e covardia daqueles que estão consagrados a Deus pelo batismo, pela confirmação, pela devoção sacramental, missionária ou religiosa. 

Rezemos pela santificação dos tempos de carnaval. Rezemos pelos homens e mulheres que padecem as falsas alegrias do pecado. Rezemos pelos insensatos que buscam nas ruas festivas e ensurdecedoras um calvário feito de purpurinas. E que esta torrente de graças, tangidas pelo desagravo, expiação e perdão de tantos pecados de agora, seja a fonte de redenção para muitos em outros carnavais.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (296/300)

 

296. INFLUÊNCIA DA MÃE RELIGIOSA

O famoso pianista Chopin teve uma mãe muito boa. Ele, porém, frequentando o mundo corrompido, perdeu a fé. Em sua derradeira enfermidade, visitou-o um grande amigo seu, o sacerdote polonês Jelowieski, que lhe falou de Deus. Nada conseguiu. E vendo que os dias iam passando sem nada conseguir, tomou o Crucifixo e, colocando-o nas mãos de Chopin, lhe disse: 'Tu te recusarás a crer o que tua mãe te ensinou quando eras criança?'

Chopin pôs-se a chorar e pediu os santos sacramentos, que recebeu com grande fervor. Agradecido a tão bom amigo, ao despedir-se dele antes de morrer, disse: 'Adeus, Jelowieski; fôste para mim o amigo mais fiel'. A lembrança da sua mãe salvou Chopin.

297. DESTINO DE UMA ALMA

Um comerciante que se enriquecera muito cometendo toda a sorte de fraudes, à hora da morte, chamou um tabelião e ordenou-lhe que, ao seu testamento, acrescentasse o seguinte: 'Quero que, depois de morto, o meu corpo seja devolvido à terra de onde saiu, e minha alma ao demônio ao qual pertence'. 

As pessoas presentes ficaram aterrorizadas, e esforçaram-se por dissuadi-lo; mas ele insistiu com energia, dizendo: 'Não me retrato. Quero que minha alma seja entregue ao demônio, junto com a da minha esposa e dos meus filhos. A minha,  porque me enriqueci à custa de furtos e fraudes; a de minha esposa, porque ela me induziu a tais pecados com seu luxo desmedido; as de meus filhos porque, levado pelo amor que lhes tenho, nunca me decidi a restituir o que não é meu'. Ditas essas palavras, expirou o infeliz sem poder reparar o mal que fizera.

298. INTERESSANTE ELOGIO FÚNEBRE

Em 1887 morreu na cidade de N. uma velhinha que passava dos cem anos. Fôra sempre muito admirada, porque em sua longa existência nunca a ouviram falar mal do próximo nem murmurar. E como ao morrer ainda conservava todos os dentes, fez-lhe o pároco êste elogio original: 'Esta boa mulher conservou todos os dentes porque nunca mordeu a ninguém!'

299. ACHADO FUNESTO

Um pedreiro encontrou uma caixinha numa das paredes da casa em que trabalhava. Abriu-a e encontrou-a cheia de jóias e moedas de ouro e prata. A ninguém deu parte o achado e levou a caixinha para casa. Três dias depois, indo a uma joalheria para vender as jóias encontradas, o joalheiro chamou imediatamente a polícia para que o prendessem: o joalheiro reconheceu as jóias que há um ano apenas vendera a um senhor que fôra assassinado e roubado. O pedreiro não pôde justificar a posse das jóias e foi condenado a muitos anos de prisão.

300. A CAPA DE SÃO MARTINHO

Monsenhor Guibert, arcebispo de Tours, numa de suas visitas pastorais, advertiu que as meninas, que se apresentavam para receber o sacramento da crisma, vestiam com muita imodéstia. Não as  teria admitido ao sacramento, se o vigário não lhe houvesse apresentado tôda a sorte de escusas. Contudo, o santo prelado não se absteve de dizer em voz alta, para que o ouvissem: 'Seria oportuno que São Martinho desse a estas meninas a metade de sua capa'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

08 DE FEVEREIRO - SANTA JOSEFINA BAKHITA

  


A primeira santa africana nasceu numa aldeia próxima a Dardur, no Sudão, por volta de 1869 – ela mesma não sabia a data precisa. Raptada por traficantes de escravos aos nove anos de idade, foi trancada inicialmente em um quarto escuro e miserável, depois espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão, padecendo todo tipo de humilhação e selvageria nas mãos dos seus senhores. Este martírio atroz desde tenra idade roubou-lhe o próprio nome; o nome Bakhita - 'afortunada' em árabe -  foi-lhe dado pelos próprios traficantes.

Mas o pior dos tormentos ainda estava por vir. Comprada por um general turco, foi submetida a sofrimentos inimagináveis a serviço da mãe e da esposa deste homem, que incluíram dezenas de tatuagens no seu corpo abertas por navalha e que lhe legaram 144 cicatrizes e um leve defeito ao caminhar. A descrição destes tormentos foi assim exposta nas palavras da santa:

'Uma mulher habilidosa nesta arte cruel [tatuagem] veio à casa principal... nossa patroa colocou-se atrás de nós, com o chicote nas mãos. A mulher trazia uma vasilha com farinha branca, uma vasilha com sal e uma navalha. Quando terminou de desenhar com a farinha, a mulher pegou da navalha e começou a fazer cortes seguindo o padrão desenhado. O sal foi aplicado em cada ferida... Meu rosto foi poupado, mas 6 desenhos foram feitos em meus seios, e mais 60 em minha barriga e braços. Pensei que fosse morrer, principalmente quando o sal era aplicado nas feridas... foi por milagre de Deus que não morri. Ele havia me destinado para coisas melhores'.

Em 1882, com o retorno do general à Turquia, Bakhita foi comprada pelo cônsul italiano Calixto Legnani que a tratou como serviçal e não como escrava, sem humilhações e castigos. Diante de uma revolução nacionalista no Sudão, o cônsul retornou à itália levando Bakhita consigo, que foi cedida então a amigos do cônsul, o casal Michieli, em cuja casa começou a morar na região do Veneto, tendo por encargo especial os cuidados da filha do casal, a pequena Mimina. Foi nesta família católica que Bakhita conheceu a revelação de Jesus Cristo, sua flagelação e sua morte de cruz. O caminho de Bakhita estava traçado: da conversão à santidade pela via da caridade e do perdão. 

Em 9 de janeiro de 1890, foi batizada e crismada com o nome de Josefina e recebeu a Sagrada Comunhão das mãos do Patriarca de Veneza. Pouco depois, solicitou seu ingresso no Instituto das Filhas da Caridade, fundado por Santa Madalena de Canossa. Em 8 de dezembro de 1896, em Verona, pronunciou os votos finais de religiosa da congregação. A partir de então, por mais de 50 anos, sua vida foi um ato constante de amor a Deus e à caridade para com todos. Além de operosa nos serviços simples como na sacristia e na portaria do convento, realizou várias viagens através da Itália para difundir a sua missão: a libertação dada a ela pelo encontro com Cristo deveria ser compartilhada com o maior número possível de pessoas; a redenção que experimentara não podia ser guardada como posse, mas levada como sinal de esperança para todos.


Em 8 de fevereiro de 1947, após muito sofrimento de doenças como bronquites e pneumonias, a Irmã Josefina faleceu no convento canossiano de Schio, com a idade de 78 anos. Na hora da sua morte, seu semblante pareceu iluminar-se e exclamou com alegria suas últimas palavras 'Como estou contente! Nossa Senhora, Nossa Senhora!' A Irmã Moretta - a Irmã Morena - como era carinhosamente conhecida entregava serenamente a sua alma ao Senhor, rodeada pela comunidade em pranto e em oração. Seu corpo foi enterrado originalmente na capela de uma família de Schio, para um sepultamento definitivo posterior no Templo da Sagrada Família. Quando isso foi finalmente preparado, verificou-se que o corpo de Bakhita estava incorrupto, sendo o mesmo sepultado então sob o altar da igreja do mesmo convento. Em 17 de maio de 1992 foi beatificada e, em 1º de outubro de 2000, foi elevada à honra dos altares e declarada santa pelo Papa João Paulo II.

 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O DOM DA SABEDORIA

O segundo favor que o divino Espírito destinou à alma que lhe é fiel na ação é o dom de sabedoria, ainda superior ao da inteligência. No entanto, está ligado a este último no sentido de que o objeto mostrado na inteligência é saboreado e possuído no dom de sabedoria. O salmista, convidando o homem a se aproximar de Deus, recomenda-lhe o sabor do soberano Bem: 'Provai e experimentai que o Senhor é cheio de doçura'. 

A santa Igreja, no próprio dia de Pentecostes, pede a Deus para nós o favor de provar o bem, recta sapere, porque a união da alma com Deus é antes uma experiência do gosto do que uma visão, a qual seria incompatível com nosso estado presente. A luz dada pelo dom da inteligência não é imediata, ela alegra vivamente a alma e dirige seu sentido para a verdade; mas tende a se completar pelo dom de sabedoria que é como se fosse seu fim. 

A inteligência é então iluminação e a sabedoria é união. Ora, a união com o soberano Bem se realiza pela vontade, quer dizer, pelo amor que reside na vontade. Notamos essa progressão nas hierarquias angélicas. O querubim refulge de inteligência, mas acima dele ainda está o serafim abrasado. O Amor é ardente no querubim, assim como a inteligência esclarece com sua luz viva o serafim; mas um é diferenciado do outro pela qualidade predominante e o mais elevado é aquele que atinge mais intimamente a divindade pelo amor, aquele que saboreia mais o soberano Bem.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

FRASES DE SENDARIUM (XXI)

 

'Um cristão fiel é como um cristal que reflete a luz da graça com a luz do bom exemplo' 

(Santo Antônio de Pádua)

Que, no dia de hoje, o meu firme propósito seja o de ser peregrino das coisas do Céu,  tornando meus pés ágeis instrumentos de caminhada, a seguir fielmente os Vossos passos e que, assim, eles possam me conduzir pelas sendas do Caminho, da Verdade e da Vida Eterna.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXIV)

Capítulo LXXIV

Alívio às Santas Almas - A Sorte Eterna dos Falecidos de Morte Súbita - O Padre Ravignan e o General Exelmans -  O Cura D'Ars e a Viúva Enlutada - Irmã Catarina de Santo Agostinho e a Mulher dos Escândalos

O Padre Ravignan, ilustre e santo pregador da Companhia de Jesus, também possuía uma grande esperança no bem estar dos pecadores levados por uma morte súbita, quando não manifestavam ódio no coração pelas coisas de Deus. Ele vivia para falar do momento supremo e parecia convencido que muitos pecadores se convertem nos seus últimos momentos, e se reconciliam com Deus, ainda que não possam manifestar qualquer sinal disso exteriormente. Em certas mortes, há mistérios de misericórdia onde o olhar do homem não vê senão golpes de justiça. Como um último lampejo de luz, Deus revela-se por vezes às almas cuja maior desgraça foi ignorá-lo e o último suspiro delas, compreendido por Aquele que sonda os corações, pode ser um gemido de perdão, ou seja, um ato de contrição perfeita. 

O general Exelmans, parente deste bom padre, foi subitamente levado ao túmulo por um acidente e, infelizmente, não tinha sido muito fiel na prática da sua religião. Tinha prometido que um dia se confessaria, mas não tinha tido oportunidade de o fazer. O Padre Ravignan, que há muito tempo rezava e pedia orações por ele, ficou consternado quando soube de tal morte. No mesmo dia, uma pessoa habituada a receber comunicações sobrenaturais julgou ouvir uma voz interior que lhe dizia: 'Quem pode medir a extensão da misericórdia de Deus? Quem conhece a profundidade do oceano ou a quantidade de água que ele contém? Muito será perdoado àqueles que pecaram por ignorância'.

O biógrafo de quem tomamos emprestado este episódio, o Padre de Ponlevoy, prossegue: 'Cristãos, colocados sob a lei da Esperança, não menos do que sob a lei da Fé e da Caridade, devemos elevar-nos continuamente do fundo dos nossos sofrimentos ao pensamento da bondade infinita de Deus. Não há limite para a graça de Deus aqui em baixo; enquanto restar uma centelha de vida, não há nada que ela não possa efetuar na alma. Por isso, devemos sempre esperar e pedir a Deus com humilde persistência. Não sabemos até que ponto podemos ser ouvidos. Grandes santos e doutores têm-se esforçado muito para exaltar a poderosa eficácia da oração em favor dos entes queridos que partiram, por mais infeliz que tenha sido o seu fim. Conheceremos um dia as maravilhas indescritíveis da misericórdia divina. Nunca devemos deixar de a implorar com a maior confiança'.

Segue-se um incidente que os nossos leitores podem ter visto no Petit Messager du Coeur de Marie, de novembro de 1880. Um religioso, que pregava uma missão às senhoras de Nancy, tinha-lhes recordado, em uma conferência, que nunca se deve desesperar da salvação de uma alma e que, por vezes, as ações de menor importância aos olhos do homem são recompensadas por Deus na hora da morte. Quando ele estava prestes a sair da igreja, uma senhora vestida de luto aproximou-se dele e disse: 'Padre, o senhor acaba de nos recomendar confiança e esperança; o que acaba de me acontecer justifica plenamente as suas palavras. Eu tinha um marido que era muito amável e afetuoso e que, apesar de levar uma vida irrepreensível, negligenciava completamente a prática da sua religião. As minhas orações e exortações ficaram sem efeito. Durante o mês de maio que precedeu a sua morte, tinha erguido no meu quarto, como era meu hábito, um pequeno altar à Virgem Maria e decorei-o com flores, que renovava de tempos a tempos. O meu marido passava o domingo no campo e, de cada vez que regressava, trazia-me algumas flores que ele próprio tinha colhido e com as quais eu enfeitava o meu oratório. Será que ele reparou nisso? Será que o fez para me agaradr ou foi por um sentimento de piedade para com a Virgem? Não sei, mas nunca deixou de me trazer as flores'.

'No início do mês seguinte, morreu subitamente, sem ter tido tempo para receber os sacramentos e bênçãos finais. Fiquei inconsolável, sobretudo porque vi desaparecerem todas as minhas esperanças de que ele se voltasse para Deus. Em consequência da minha dor, a minha saúde ficou completamente abalada, e a minha família instou-me a fazer uma viagem pelo Sul. Como tinha de passar por Lyon, desejava ver o Cura d'Ars. Escrevi-lhe, portanto, pedindo-lhe uma audiência e recomendando-lhe as orações do meu marido, que tinha morrido subitamente. Não lhe dei mais pormenores'.

'Chegando a Ars, mal entrei no quarto do venerável cura e este, para meu grande espanto, dirigiu-se a mim com estas palavras: "Senhora, está desconsolada; mas esqueceu-se dos ramos de flores que lhe eram trazidos todos os domingos do mês de maio?" É impossível exprimir o meu espanto ao ouvir o Pe. Vianney recordar-me uma circunstância de que eu não tinha falado a ninguém e que ele só podia saber por revelação. E continuou: 'Deus teve piedade daquele que honrou a sua Santa Mãe. No momento da sua morte, o vosso marido arrependeu-se; a sua alma está no Purgatório e as nossas orações e boas obras obterão a sua libertação'.

Lemos na Vida de uma santa religiosa, Irmã Catarina de Santo Agostinho (Santo Afonso, Paráfrase da Salve Regina), que no lugar onde ela vivia havia uma mulher chamada Maria, que na sua juventude se tinha entregado a uma vida muito desordenada e como a idade não lhe trouxera nenhuma emenda, tornando-a, pelo contrário, ainda mais obstinada no vício, os habitantes locais, não tolerando mais os escândalos que ela dava, expulsaram-na da cidade. Não encontrou outro asilo senão uma gruta na floresta onde, após alguns meses, morreu sem a assistência dos sacramentos. O seu corpo foi enterrado num campo, como se fosse algo contagioso. A Irmã Catarina, que tinha o piedoso costume de recomendar a Deus as almas de todos aqueles de cuja morte ouvia falar, não pensou em rezar por esta em particular, julgando, como todos os demais, que ela estaria provavelmente condenada.

Quatro meses depois, a serva de Deus ouviu uma voz que lhe dizia: 'Irmã Catarina, como sou infeliz! Tu recomendas a Deus as almas de todos; eu sou a única de quem não tens piedade!' 'Quem és tu, então?' - respondeu a irmã. 'Sou a pobre Maria, que morreu sozinha na gruta'. 'ComoMaria, estás salva?' 'Sim, pela intercessão da Divina Misericórdia, estou salva. À beira da morte, aterrorizada pela lembrança dos meus muitos pecados e vendo-me abandonada por todos, invoquei a Santíssima Virgem. Na sua terna bondade, ela me ouviu e me concedeu a graça de uma contrição perfeita, com o desejo de me confessar, se isso me fosse possível.  Recuperei, assim, a graça de Deus e fui resgatada do inferno. Mas fui obrigada a ir para o Purgatório, onde sofro terrivelmente. O meu tempo será encurtado e em breve poderei ser libertada, se me forem oferecidas algumas missas. Manda celebrá-las por mim, querida irmã, e lembrar-me-ei sempre de ti diante de Jesus e de Maria'. A Irmã Catarina apressou-se a satisfazer este pedido e, passados alguns dias, a alma apareceu de novo, brilhante como uma estrela, agradecendo a sua caridade.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Louvai a Deus, porque Ele é bom e conforta os corações' (Sl 146)

Primeira Leitura (Jó 7,1-4.6-7) - Segunda Leitura (1Cor 9,16-19.22-23)  -  Evangelho (Mc 1,29-39)

 04/02/2024 - Quinto Domingo do Tempo Comum 

10. SOFRIMENTO, APOSTOLADO E ORAÇÃO


No Evangelho deste Quinto Domingo do Tempo Comum, Jesus manifesta aos homens três grandes pilares da fé cristã: o sofrimento, o apostolado e a oração. Todos eles estão intrinsecamente associados, todos eles são essenciais no plano salvífico do Pai: a saúde do corpo e da alma (cura) implica o apostolado (a necessidade de servir ao outro) e a força de ambos emana e se alimenta da oração, fruto da intimidade do homem com si mesmo e diante de Deus.

Jesus, assim que chegou à casa de André e Simão, sanou de imediato a febre alta que prostrava na cama a sogra de Pedro. Na febre desta mulher, estão representados todos os males físicos e e espirituais da humanidade, que constituem os sofrimentos e as tentações inevitáveis à condição humana e que somente podem ser curados em nome do Senhor. Naquele dia exaustivo, 'Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios' (Mc 1, 34).

'Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los' (Mc 1, 31). A alma, consolada em Deus sente, então, o impulso imperativo de praticar o bem, de acolher e de servir. O homem incensado por Deus tem alma de apóstolo e sua ação se transforma em missão: levar o Evangelho aos que o cercam e levar a todos ao Senhor da Vida. Jesus demonstra isso, ainda no início de sua pregação pública, indo a todos os lugares e andando por toda a Galileia, para proclamar a Boa Nova: 'Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim' (Mc 1, 38). A semente deve ser lançada pela terra inteira, e dará fruto ou não, se for ou não for aceita, se for ou não acolhida.

A saúde do corpo e da alma e a vocação para o apostolado emanam da oração nascida da sincera entrega do homem diante de sua consciência, na intimidade com Deus. Os Evangelhos descrevem muitas situações em que Jesus está em oração em um lugar retirado, como esta de hoje: 'De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto' (Mc 1, 35). Nestes momentos de profunda meditação, Jesus vai buscar consolo e alento no diálogo amoroso com o Pai e nos revela, com soberana clareza, que a superação de todos os nossos sofrimentos e mazelas, de corpo e de alma, tem como única fonte e remédio a oração profunda com Deus nos mistérios da graça.