sábado, 12 de dezembro de 2020

VERSUS: VÍRUS X VÍRUS

 

Um outdoor em rodovia na Polônia: 'Pare a comunhão nas mãos!' 

Por um lado, um vírus novo e terrível se espalha e ataca centenas de milhões (bilhões!) de pessoas no mundo inteiro, numa pandemia crescente e persistente desde o início do ano, ceifando vidas, trazendo dor e sofrimento sem conta, confinando populações inteiras, refazendo cotidianos e relações pessoais. Mas existe um outro vírus, muitíssimo mais velho e muitíssimo mais temível que infecta a humanidade há décadas e se espalha como uma sombra de morte. Mas de morte espiritual.  

O primeiro se aloja no corpo, é transmitido pelo contato físico, tem dimensões microscópicas e flui em ondas sucessivas. É combatido com álcool, com máscaras, com higienização constante das mãos, com água e sabão. E mata, mata muitas pessoas, milhões de pessoas. E outras tantas milhões, muitas milhões a mais, conseguem escapar à sanha desse vírus terrível e continuar as suas vidas após a vitória decisiva: 'Eu venci o vírus!'.

O outro vírus não tem o calor das manchetes escancaradas e nem de longe o burburinho das conversas e discussões. Não tem palco e nem claques de plantão. É um vírus silencioso e mortal que se resvala por entre ruas e cotidianos sem alardes e sem suspeição. Não vem em ondas sucessivas, é um mar morto. E mata, mata milhões e milhões de pessoas e muitíssimo poucas escapam da sua sanha mortal. Porque esse vírus é o vírus do pecado que mata a alma e induz a morte espiritual. Não pode ser combatido com máscaras ou com sabão; precisa de uma armadura espiritual que somente pode revestir o homem ciente da sua pequenez de criatura e da sua glória extremada de ser filho de Deus.

Esse vírus está de tal maneira disseminado na humanidade atual que se tornou parte dela, de modo que nem é mais percebido como mal ou um agente do mal mas, simplesmente, uma parte integrante e natural do próprio ser humano. A morte espiritual não aflige, não desespera, não é fim de coisa alguma e nem começo de nada. Não tolhe os sentidos, não limita a fala, não cansa o corpo, não dificulta a respiração. Vive-se pelo comodismo, tudo é tolerado sem quaisquer contraposições, respira-se o indiferentismo em golfadas. Então, tudo é nada, tudo é um grande vazio. Esse grande vazio é a loucura do mundo. 

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A VIDA OCULTA EM DEUS: SILÊNCIO E SOLIDÃO DO CORAÇÃO


Enquanto existir alguém ou alguma coisa entre a alma e Deus, a união perfeita não será possível. E somente ela nos pode dar a verdadeira paz. Temos que fazer de nós um vazio. A alma verdadeiramente apaixonada por Deus sente prazer em viver nas alturas de si mesma, em profunda solidão. Não há melancolia ou tristeza nisso, mas a convicção muito clara de que, para encontrar Deus, para falar com Ele e para amá-lo, torna-se necessário, ao mesmo tempo, isolar-se e elevar-se. 

Deus só mora nas alturas ou, melhor dizendo, nas profundezas da alma. É para lá que você deve ir para encontrá-Lo. De resto, não há maneira mais segura de agradar a Deus e obter as suas graças do que se colocar nesse isolamento silencioso nas alturas.

A menos de orientação contrária e segura que venha de Deus, afaste, portanto, todas as criaturas dos seus pensamentos quando você dialoga com Jesus. Deus deseja comumente uma alma 'solitária'. Assim, depois de ter rogado pelas almas que lhe são confiadas e pedir por elas junto a Nosso Senhor, recolha-se apenas à oração. Confie ao Senhor o perdão de suas dívidas e vá em frente. É necessário que a memória de alguém não se torne um obstáculo à imposição da graça em sua alma. Peça a Jesus para participar da afeição que Ele tem por você, de tal modo que a sua afeição provenha unicamente dessa fonte e tudo terá bom termo. E remova de si tudo o que você sente que não provém de lá.

Alegra-me encontrar uma alma que, embora sofrendo com o isolamento, o aceita. Nada me pode ser mais convincente porque ainda não conheci ninguém que avance na vida interior sem passar por essa prova. É dolorosa, mas necessária. Recorde-se das palavras de Santa Teresa que disse que, para receber tais favores, Deus precisa apenas de uma alma pura e inflamada do desejo de recebê-los. Parece, então, que se tem um coração submerso em lágrimas, em profundo sofrimento, mas... a recompensa está por vir.

Uma alma que não se isola não progride. Não pode subir. Quando vejo uma alma que não sabe se recolher, digo a mim mesmo: 'Não irá em frente, pois é como um camelo carregado, mito rica de si mesma'. A alma, porém, quando se vê abandonada e ferida por todas as criaturas, é como um cervo sitiado por todos os lados e que, diante de todas as saídas bloqueadas, precipita-se em direção ao lago próximo. Diante de um sofrimento, corra para Deus.

Quando Deus quer falar a uma alma, Ele a isola de tudo e a imerge em uma profunda solidão; então, ilumina a sua inteligência com algo que ela desconhece por completo. É desse algo misterioso que todo o conhecimento explícito emergirá no devido tempo, como uma tradução para a linguagem humana das realidades divinas. Tradução que não é arbitrária, pois é controlada de dentro por algo que, sendo intangível em si mesmo, é, no entanto, muito real. Ainda assim, o melhor está ainda por vir.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte I -  O Esforço da Alma; tradução do autor do blog)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Não são os que estão na luz que iluminam a luz, mas é esta que os ilumina e faz resplandecer; eles nada lhe dão, são eles que beneficiam da luz e por ela são iluminados. Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque Ele não precisa do serviço dos homens; mas àqueles que O servem e seguem, Deus dá a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna; favorece com os seus dons aqueles que O servem, precisamente porque O seguem; mas nenhum benefício recebe deles, porque é perfeito e de nada carece. Se Deus pede o serviço dos homens, é porque, na sua bondade e misericórdia, deseja conceder os seus dons aos que perseveram no seu serviço; de fato, Deus de nada precisa, mas o homem é que precisa da comunhão com Deus. A glória do homem consiste em perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por isso dizia o Senhor aos seus discípulos: 'Não fostes vós que Me escolhestes, fui Eu que vos escolhi', dando assim a entender que não eram eles que O glorificavam com o seu seguimento, mas que, por terem seguido o Filho de Deus, eram por Ele glorificados. E disse ainda: 'Quero que onde Eu estou, eles estejam também comigo, para que vejam a minha glória'.

(São Irineu de Lyon)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

'EU SOU JUSTO JUIZ'

'O castelo de que te falei é a Santa Igreja, construída com o Meu sangue e o dos meus Santos, cimentado com o cimento da Minha Caridade; nela coloquei os meus eleitos e amigos. O seu fundamento é a Fé, isto é crer que Eu sou um Juiz Justo e Misericordioso. Mas agora está minado o fundamento, porque todos creem e pregam que sou Misericordioso, mas quase ninguém prega nem crê que Eu seja Justo Juiz. Esses acham-me quase um Juiz iníquo.

De fato, seria iníquo o Juiz, que por misericórdia despedisse sem castigo algum os iníquos, os quais por conseguinte oprimiriam ainda mais os justos. Mas eu Sou um Juiz Justo e Misericordioso, de modo que não deixarei sem castigo nem sequer o mínimo pecado, nem sem recompensa o mínimo bem. 

Esses pregadores malvados que pecam sem temor, que negam a Minha Justiça, atormentam os meus amigos. dando-lhes 'opróbrio e toda a espécie de dor'... como se fossem demônios experimentarão a Minha Justiça, serão como ladrões confundidos publicamente diante dos anjos e dos homens. De fato, como os enforcados são devorados pelos corvos, assim estes serão devorados pelos demônios e não consumidos. 

Não escondas nenhum pecado, não deixes nenhum por punir, nem consideres nenhum ligeiro. Tudo aquilo que tiveres descuidado, Eu recordá-lo-ei e julgar-te-ei... Não há homem algum que seja tão pecador que o seu pecado não seja perdoado, se o pedir com o propósito de se emendar e com contrição'.

(Revelações de Jesus a Santa Brígida)

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

GLÓRIAS DE MARIA: IMACULADA CONCEIÇÃO


'Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis'.

(Beato Papa Pio IX, na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 08 de dezembro de 1854)

Nossa Senhora, criatura superior a tudo quanto já foi criado, e inferior somente à humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu de Deus o privilégio incomparável da Imaculada Conceição. Desta forma, Maria foi preservada de qualquer pecado desde que foi concebida, porque recebeu naquele instante o Espírito Santo de Deus. O 'sim' de sua entrega incondicional à vontade de Deus não teria sido possível se, mesmo livre de qualquer  pecado durante toda a sua vida, Maria tivesse, a exemplo de toda a humanidade, a mancha do pecado original. Deus, ao cumular Maria de tantas graças extraordinárias, não permitiu que ela estivesse separada dele em nenhum segundo de sua existência e, assim, Maria não conheceu o pecado desde a sua concepção.

A Santa Igreja ensina que Maria Santíssima foi preservada do pecado original, em previsão aos futuros méritos da Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo que, assim, a pré-redimiu desde o primeiro instante da sua existência. Sendo concebida sem pecado original, Maria ficou também preservada de qualquer tendência para o mal decorrente do pecado original. Não é crível que Deus Pai onipotente, podendo criar um ser em perfeita santidade e na plenitude de inocência, não fizesse uso de seu poder a favor da Mãe de seu Divino Filho. Como explicitou, de forma definitiva, o beato franciscano João Duns Scoto (1265-1308), em sua exposição quando da defesa da Imaculada Conceição na Universidade de Paris: 'Potuit, decuit, ergo fecit' (Deus podia fazê-lo, convinha que o fizesse, logo o fez).

O fundamento deste privilégio mariano está na absoluta oposição existente entre Deus e o pecado. Ao homem concebido no pecado, contrapõe-se Maria, concebida sem pecado. A confirmação do dogma, a partir de manifestações que remontam os primeiros Padres da Igreja, foi ratificada muitas vezes pela própria Mãe de Deus, em várias aparições:

'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!' foi a mensagem que Nossa Senhora pediu que fosse inscrita na Medalha Milagrosa,  mediante recomendação expressa a Santa Catarina Labouré em 1830 (24 anos antes da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Eu sou a Imaculada Conceição!' assim Nossa Senhora se apresenta à pequena vidente Bernadette Soubirous em Lourdes, no dia 25 de março de 1858 (apenas 4 anos depois da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!mensagem de Nossa Senhora em Fátima sobre a devoção ao seu Coração Imaculado.

Excertos da Bula INEFFABILIS DEUS de Pio IX
                       Pio IX
1. Misericórdia e verdade são os caminhos do Deus inefável; onipotente é sua vontade, e sua sabedoria se estende poderosamente de uma extremidade a outra, dispondo todas as coisas com suavidade (Sb 8, 1). Desde os dias da eternidade previu Deus a mais dolorosa ruína de todo o humano gênero, que resultaria do pecado de Adão. Por isso, num mistério escondido nos séculos, determinou Ele completar a primeira obra de sua bondade, num mistério ainda mais esconso, pela Encarnação do Verbo, para que o homem, induzido ao pecado pela ardilosa perversidade do demônio, não perecesse, contrariamente ao seu desígnio cheio de clemência; e assim, o que estava em iminência de ser frustrado no primeiro Adão fosse restituído, com maior felicidade, no Segundo Adão.
Escolha da Santíssima Mãe

2. Em vista disso, desde todos os tempos, escolheu Deus e predestinou uma mãe para o seu Unigênito Filho, na qual se encarnaria e viria ao mundo, quando a abençoada plenitude dos tempos houvesse chegado. E a ela dispensou Deus mais amor que a todas as outras criaturas, e nela somente achava agrado, com a mais afetuosa complacência. Por isso a cumulou, de maneira tão admirável, da abundância dos bens celestes do tesouro de sua divindade, mais que a todos os outros espíritos angélicos e todos os santos, de tal forma que ficaria absolutamente isenta de toda e qualquer mancha de pecado, podendo, assim, toda bela e perfeita, ostentar uma inocência e santidade tão abundantes, quais outras não se conhecem abaixo de Deus, e que pessoa alguma, além de Deus, jamais alcançaria, nem em espírito.

Com efeito, era conveniente que tão venerável Mãe brilhasse sempre aureolada do esplendor da mais perfeita santidade, e que fosse de todo isenta até da própria mácula do pecado original, alcançando, assim, o mais completo triunfo sobre a antiga Serpente (Gn 3, 15). E tudo isto por ser ela a criatura a quem Deus Pai quis dar seu Filho Único, o qual gerou de seu próprio coração, igual a Si e a quem Ele ama como a Si mesmo. Deu-Lho, de forma que Ele é, por natureza, um e o mesmo Filho de Deus Pai e da Virgem. Ela é, também, o ser que o próprio Filho escolheu e fez real e verdadeiramente sua Mãe. Ela é, enfim, a criatura de quem o Espírito Santo quis que o Filho, do qual procede, fosse concebido e nascido por obra sua. [...]
Pedidos para a Definição

33. Aqui a razão por que, desde os tempos remotos, os bispos da Igreja, eclesiásticos, ordens religiosas e até imperadores e reis dirigiram fervorosos memoriais à Sé Apostólica, em prol da definição da Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus como dogma da fé católica. Mesmo em nossos dias, reiteraram-se estas petições. Foram elas dirigidas, de modo especial, à atenção de Nosso antecessor Gregório XVI, de saudosa memória, e a Nós mesmo, não só por bispos, mas também pelo clero secular, comunidades religiosas, por legisladores de nações e pelos fiéis. [...]
O Consistório

39. Após estes acontecimentos, desejando proceder de modo conveniente e reto, a exemplo de Nossos antecessores anunciamos e celebramos um Consistório, no qual Nos dirigimos a Nossos Irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana. Foi para Nós a maior alegria espiritual ao ouvi-los suplicarem promulgássemos a definição do dogma da Conceição Imaculada da Virgem Mãe de Deus.

40. Por isso, tendo plena confiança no Senhor de que já chegou o tempo oportuno para a definição da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, que as Divinas Escrituras, a veneranda Tradição, o desejo incessante da Igreja, o singular consentimento dos Bispos católicos e dos fiéis, e os atos e constituições assinalados dos Nossos antecessores ilustram e proclamam; havendo considerado diligentemente todos os acontecimentos e tendo dirigido a Deus solícitas e sinceras preces, Nós  julgamos não devermos fazer tardar por mais tempo a ratificação e definição, por Nossa autoridade suprema, da Imaculada Conceição da Virgem, satisfazendo, assim, os mais santos desejos do Orbe Católico e de Nossa própria devoção para com a Santíssima Virgem; e honrando, na Virgem, sempre mais o seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, Senhor Nosso, visto que toda honra e louvor votados à Mãe revertem para o Filho.
A Definição Infalível

41. Pelo que, em oração e jejum, não cessamos de oferecer a Deus Pai, por seu Filho, Nossas preces particulares e as de todos os filhos da Igreja, para que se dignasse dirigir e fortalecer Nossa inteligência com a força do Espírito Santo. Imploramos, ainda, a ajuda de toda a milícia celeste e, com verdadeiros anelos do coração, invocamos o Paráclito. Portanto, por sua inspiração, para honra da Santa e Indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da Fé Católica e para a propagação da Religião Católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor Nosso, dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, por conseguinte, ser crida firme e inabalavelmente por todos os fiéis.

42. Em conseqüência, se alguém ousar – o que Deus não permita – pensar contrariamente ao que definimos, saiba e esteja ciente de que ipso facto  incidiu em anátema, de que naufragou na fé e apostatou da unidade da Igreja; além disso, por sua própria causa incorre nas penalidades estabelecidas por lei, caso se atreva a manifestar, por palavras ou por escrito, ou por  outros quaisquer meios externos, sua opinião íntima.
Frutos da Imaculada Medianeira

43. Nossa língua transborda de alegria e nosso coração rejubila. Rendemos e não cessaremos de render os mais humildes e sinceros agradecimentos a Cristo Jesus, Senhor Nosso, por Nos ter concedido, embora indigno, por singular favor seu, decretar e oferecer esta honra, glória e louvor à Santíssima Mãe. Ela, toda pura e imaculada, esmagou a cabeça envenenada do mais cruel dragão, trazendo ao mundo a salvação; Ela é a glória dos Profetas e dos Apóstolos, a honra dos Mártires, a coroa e delícia dos Santos; o refúgio mais seguro, o mais valioso amparo de quantos se acham em perigos. Com o seu Unigênito Filho, Ela é a mais poderosa Mediadora e Consoladora no mundo universo. Ela é a suma glória e ornamento, a fortaleza inexpugnável da Santa Igreja. Pois Ela destruiu todas as heresias e livrou os povos e nações fiéis de todas as calamidades gravíssimas. Também a Nós livrou-Nos de tantos perigos que nos assediavam. Temos, pois, confiança e esperança absolutas e totais de que a Bem-aventurada Virgem, por seu patrocínio valiosíssimo, fará com que todas as dificuldades sejam removidas e todos os erros dissipados, a fim de que Nossa Santa Madre Igreja Católica possa florescer, sempre mais, entre todas as nações e povos e possa espalhar seu reino “de mar a mar, do rio até aos confins da terra” (Sl 71, 8), e desfrute de perfeita paz, tranqüilidade e liberalidade. Ela obterá, também, perdão aos pecadores, saúde aos doentes, alento aos fracos, consolo aos aflitos, amparo aos que estão em perigo. Ela há de apagar a cegueira espiritual dos que erram, para que possam voltar às sendas da verdade e da justiça, e para que haja um só rebanho e um só pastor.

44. Que todos os filhos da Igreja Católica, tão caros ao Nosso coração, ouçam estas Nossas palavras. Continuem, com um zelo ainda mais ardente de piedade, de religião e amor, a cultuar, invocar e orar à Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, concebida sem pecado original. Recorram com inteira confiança a esta Mãe dulcíssima de clemência e de graça nos perigos, dificuldades, necessidades, dúvidas e temores. Pois, sob sua égide, seu patrocínio, sua proteção, não há receios e nem desesperanças. Porque, enquanto Nos dedica uma afeição verdadeiramente maternal e zela pela obra de Nossa salvação, Ela se mostra solícita para com todo o gênero humano. E, desde que foi designada por Deus para ser a Rainha do Céu e da Terra e exaltada acima de todos os coros angélicos e de todos os Santos, Ela assentada à direita de seu Unigênito Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, apresenta nossos rogos da maneira mais eficiente, e alcança o que pede, pois sempre é atendida.[...]
Publicação da Definição

45. Para que, finalmente, esta Nossa definição da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria seja conhecida de toda a Igreja, desejamos que esta Nossa Carta Apostólica se torne um memorial perpétuo; ordenamos, também, que os transcritos e publicações que vierem a ser feitos e postos à venda ou ao público, contenham a mesma autenticidade do original. Tais traslados e cópias, contudo, devem ser subscritos por um notário e autenticados pela censura de uma pessoa da ordem eclesiástica. Por isso, que ninguém infrinja este documento de Nossa declaração, promulgação e definição, nem se oponha ou contradite temerária e atrevidamente. Se alguém se der a liberdade de intentar tal, saiba que incorrrerá na cólera do Deus Onipotente e dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dada em Roma, junto de São Pedro, aos 8 do mês de Dezembro do ano de 1854 da Encarnação de Nosso Senhor, 9º ano de Nosso Pontificado.




    Pio IX, PAPA

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

AS REGRAS DA MORTIFICAÇÃO CRISTÃ (IV/Final)

D. Mortificações que deve praticar nas ações exteriores

1. Deve-se observar a maior exatidão em todos os pontos da sua regra de vida, e obedecer sem demora, lembrando-se de São João Berchmans, que dizia: 'Minha maior penitência é seguir a vida comum'; 'Fazer o maior caso das menores coisas, esse é o meu lema'; 'Antes morrer que violar uma só de minhas regras!';

2. No exercício de seus deveres de estado, trate de estar muito contente com tudo o que parece feito de propósito para desagradá-lo e molestá-lo, lembrando-se também aqui da frase de São Francisco de Sales: 'Nunca estou melhor do que quando não estou bem';

3. Não conceda jamais um momento à preguiça; da manhã à noite, esteja ocupado sem descanso;

4. Dedica a sua vida, ao menos em parte, ao estudo, pratique os seguintes conselhos de Santo Tomás de Aquino aos seus alunos: 'Não se contentem em receber superficialmente o que leem ou escutam, mas tratem de penetrar e aprofundar o sentido. Não fiquem nunca com dúvidas sobre o que podem saber com certeza. Trabalhem com uma santa avidez em enriquecer o espírito; classifiquem com ordem na memória todos os conhecimentos que possam adquirir. Sem embargo, não tratem de penetrar os mistérios que estão acima de sua inteligência';

5. Ocupe-se unicamente da ação presente, sem voltar-se ao que precedeu nem adiantar-se pelo pensamento ao que vem a seguir; diga com São Francisco: 'Enquanto faço isto, não estou obrigado a fazer outra coisa'; 'Apressemo-nos com bondade: será tão logo tanto quanto esteja bom';

6. Seja modesto na compostura. Nenhum porte era tão perfeito como o de São Francisco; tinha sempre a cabeça direita, evitando igualmente a ligeireza que a gira em todos os sentidos, a negligência que a dobra adiante e o humor orgulhoso e altivo que a inclina para trás. Seu rosto estava sempre tranquilo, livre de toda preocupação, sempre alegre, sereno e aberto, sem ter, todavia, uma jovialidade indiscreta, sem risadas ruidosas, imoderadas ou demasiado frequentes. Quando se encontrava só, mantinha-se em tão boa compostura como diante de uma grande assembleia. Não cruzava as pernas, não apoiava a cabeça no encosto. Quando rezava, ficava imóvel como uma coluna. Quando a natureza lhe sugeria gostos, não a escutava em absoluto;

7. Considere a limpeza e a ordem como uma virtude e a sujeira e a desordem como um vício: evite os vestidos sujos, manchados ou rasgados. Por outra parte, considere como um vício ainda maior o luxo e o mundanismo. Faça de modo que ao lhe verem a vestimenta e adereços, ninguém diga: 'está desarrumado'; nem 'está elegante'; mas que todo o mundo possa dizer: 'está decente'.

E. Mortificações para praticar nas relações com o próximo

1. Aguente os defeitos do próximo: faltas de educação, de espírito, de caráter. Aguente tudo o que nele lhe desagrada: o modo de andar, a atitude, o tom de voz, o sotaque, e todo o resto;

2. Aguente tudo de todos e aguente até o fim e cristãmente. Não se deixe levar jamais por essas impaciências tão orgulhosas que fazem dizer: Que posso fazer de tal ou qual? Em que me interessa o que diz? Para que preciso do afeto, da benevolência ou da cortesia de uma criatura qualquer, e desta em particular? Nada é mais distante de Deus que esses desprendimentos altaneiros e essas indiferenças depreciativas; melhor seria, certamente, uma impaciência;

3. Encontra-se tentado a irar-se? Por amor de Jesus, seja manso. De vingar-se? Devolva bem ao mal. Diz-se que o segredo de chegar ao coração de Santa Teresa, era fazer-lhe algum mal. De mostrar a alguém uma cara má? Sorria com bondade. De evitar seu encontro? Busque-o por virtude. De falar mal dele? Fale bem. De falar-lhe com dureza? Fale doce e cordialmente;

4. Ame elogiar os irmãos, sobretudo aqueles a quem a sua inveja se dirige mais naturalmente;

5. Não diga acuidades em detrimento da caridade;

6. Se alguém se permite na sua presença palavras pouco convenientes ou mantém conversações próprias a danificar a reputação do próximo, poderá às vezes repreender com doçura a quem fala, mas antes será melhor distanciar-se habilmente da conversação ou manifestar por um gesto de descontentamento ou desatenção proposital que o assunto o desagrada;

7. Quando lhe custar fazer um favor, ofereça-se a fazê-lo: terá duplo mérito;

8. Tenha horror de apresentar-se diante de si mesmo ou dos demais como uma vítima. Longe de exagerar suas cargas, esforce-se em considerá-las leves. Em realidade, elas são leves, muito mais vezes do que parece, e o seriam sempre se você tivesse um pouco mais de virtude.

Conclusão

Em geral, negue à natureza o que ela pede sem necessidade. Saiba fazê-la dar o que nega sem razão. Seus progressos na virtude, disse o autor da Imitação de Cristo, serão proporcionais à violência que cometa contra si.

Dizia o santo Bispo de Genebra: 'Há de se morrer a fim de que Deus viva em nós: porque é impossível chegar à união da alma com Deus por outro caminho, senão o da mortificação. Estas palavras: Há de se morrer! são duras, mas serão seguidas de uma grande doçura, porque não se morre a si mesmo sem se unir a Deus por essa morte'.

Quisera Deus que pudéssemos referir a nós com pleno direito as seguintes palavras de São Paulo: 'Em todas as coisas sofremos a tribulação...Trazemos sempre em nosso corpo a morte de Jesus, a fim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos' (2Cor 4, 10).

(Cardeal Mercier)

domingo, 6 de dezembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!' (Sl 84)

 06/12/2020 - Segundo Domingo do Advento

2. TEMPO DE CONVERSÃO


Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista. 

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, é Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. É Isaías que anuncia a libertação dos judeus do exílio na Babilônia: 'Consolai o meu povo, consolai-o, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida' (Is 40, 1-2). Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus. 

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias' (Mc 1, 7). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João vai se autoproclamar como 'a voz que clamava no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo. 

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizei com água, mas Ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mc 1, 8).