sábado, 9 de setembro de 2017

QUESTÕES SOBRE A ORAÇÃO MENTAL

➧ O que é a oração mental?
A oração mental é a que se faz no interior da alma, sem se pronunciar as fórmulas das orações.

➧ Qual é a excelência da oração mental?
Ela é o fundamento de toda oração, consistindo principalmente no desejo da alma, sem o qual não há nenhuma oração.

➧ Como se chama essa oração interior que é toda da alma?
É chamada algumas vezes de meditação e outras vezes simplesmente oração.

➧ O que quer dizer a palavra meditação?
A palavra meditação significa o trabalho do espírito que considera, aprofunda avalia, por assim dizer, um assunto, em todos os sentidos, para achar os motivos para fugir do mal, procurar o bem e chegar a Deus.

➧ O que quer dizer a palavra oração?
É a palavra que designa todo tipo de prece e que nos faz compreender que ela seja vocal ou mental, é uma obra da alma que aplica sua inteligência para conhecer o bem e a sua vontade para procurá-lo.

➧ O que ensina São Francisco de Sales sobre a oração mental?
Ele diz: 'A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina, expondo nossa vontade ao calor do amor celeste, nada há que purgue tanto o nosso entendimento de suas ignorâncias, e a nossa vontade de suas afeições depravadas'.

➧ O que é que o Santo chama de nosso entendimento?
O entendimento é a mesma coisa que a inteligência ou a faculdade que nossa alma possui de conhecer a verdade, de entender a verdade, de ler na verdade.

➧ E nossa vontade?
É a faculdade que a alma possui pela qual procura a verdade para amá-la e dela fazer a regra de sua conduta.

➧ E isso não é, então, toda a alma?
Certamente, pois nossa alma não é outra coisa que a inteligência ou entendimento e a vontade ou amor.

➧ Assim, a oração mental toma toda a alma?
Sim, toda a alma, se bem que às vezes a oração se faça mais na inteligência que na meditação; outras vezes mais na vontade que goza, saboreia, abraça a verdade que medita.

➧ Explique essa palavra de São Francisco: 'A oração pondo nosso entendimento na claridade e na luz divina...'
Isso significa que para rezar mentalmente é necessário que o nosso espírito se alimente com alguma verdade da fé, como uma lâmpada se alimenta do óleo para clarear.

➧ Como se chama essa verdade?
É chamada de assunto ou tema da oração.

➧ Quais são as operações do espírito em torno desse tema?
O espírito o considera, examina, mede, como já dissemos, a fim de o compreender tanto quanto possível em toda sua extensão, para dele recolher os frutos.

➧ Quais são esses frutos?
Quando a luz aumenta na inteligência, a alma se compraz na claridade e luz divina, e daí é levada mais facilmente a fugir do mal e a procurar o bem.

➧ Por exemplo?
Se eu medito na bondade, na doçura e na suavidade de Deus, vai ser mais fácil amá-lo e chegar até ele.

➧ O que diz São Francisco sobre isso?
Ele diz que a oração expõe nossa vontade ao calor do amor celeste.

➧ A oração mental é composta de muitos atos?
Assim como a oração vocal se compõe de muitas palavras sucessivas, assim como o Pai Nosso é formado de sete pedidos, a oração mental se compõe de vários atos da alma, que se seguem e se encadeiam para formar um todo cheio de harmonia.

➧ Quais são esses atos?
Há os atos preliminares ou a preparação, os atos essenciais que fazem como um corpo ou melhor o coração da oração, enfim há os atos de conclusão nos quais se recolhe os frutos da oração.

➧ Assim se distingue três partes na oração mental?
Sim, as chamamos de preparação, corpo da oração e conclusão.

➧ O que deve fazer uma alma para se preparar para a oração mental?
Primeiramente, deve se recolher, quer dizer, deve concentrar todas as suas potências a fim de estar inteiramente voltada para a obra santa que se propõe fazer.

➧ E depois?
A alma deve se colocar atentamente na presença de Deus: quer dizer, se lembrar do que a fé nos ensina sobre a imensidade de Deus presente em toda parte, de seu amor infinito por nós, e sobretudo da assistência misericordiosa que nos dá quando rezamos.

➧ Não há algum outro modo que seja muito útil para pôr-se na presença de Deus?
Será utilíssimo nos lembrar que Deus está não somente em toda parte mas que está presente dentro de nós, nos dando, como diz são Paulo, o ser, o movimento e a vida, nos dando sobretudo a graça de rezar e nos ajudar particularmente nessa obra tão doce e tão salutar.

➧ Essa é toda a preparação necessária?
Não, é preciso ainda implorar o socorro divino, a misericórdia de Nosso Senhor, a assistência do Espírito Santo, a proteção da Santíssima Virgem e dos Santos Anjos.

➧ Quais são os atos essenciais da oração mental?
Alguns são atos da inteligência, outros atos da vontade.

➧ Quais são os atos da inteligência?
É preciso primeiro penetrar profundamente na verdade que deve formar o fundo da oração, seja um artigo da fé, um mistério de Nosso Senhor, um ato da Santíssima Virgem ou de um santo.

➧ E para se penetrar bem no assunto que se deve fazer?
É o que se chama considerações. Por exemplo: quando se vai estudar um grande e belo monumento, se leva em conta seu conjunto e suas partes, a harmonia das linhas, a beleza da decoração, etc. Do mesmo modo, diante de um assunto de oração, considera-se o que Deus fez por nós, o amor com que fez, o bem que nos preparou; diante disso o espírito será arrebatado de alegria em Deus seu Salvador.

➧ É preciso fazer muitas considerações?
Depende da necessidade da alma, e da atração da graça que nos faz rezar. Pode-se fazer apenas uma consideração que alimenta a alma durante muito tempo, e então é inútil procurar outra coisa. De outras vezes será preciso multiplicar as considerações até que a alma se sinta vivamente tocada e que possa dizer como Davi: 'Encontrei meu coração para fazer minha oração para meu Deus' (II Sm 7, 27).

➧ Qual a faculdade da alma que principalmente age nas considerações?
É a inteligência, que se compraz 'na claridade e na luz divina', como nos dizia são Francisco de Sales.

➧ Quais os atos que resultam desses atos da inteligência na oração mental?
São os atos da vontade.

➧ Quais são esses atos da vontade?
Podem se resumir em quatro: atos de amor, de ódio, de confiança ou de temor.

➧ Como se compreende esses atos?
Dissemos que são a consequência dos atos de inteligência: se considero a infinita bondade de Deus, serei levado a fazer atos de amor e de confiança; se meço a enormidade do pecado, farei atos de ódio, de detestação, de contrição; à vista do inferno e dos temíveis julgamentos de Deus, farei atos de temor; é assim que os atos da vontade são comandados pelos atos da inteligência.

➧ Quais são os mais saudáveis desses atos da vontade?
São os que nos fazem detestar o pecado e amar a Deus.

➧ Como se deve terminar a oração mental?
Sempre com alguma salutar resolução inspirada pelo desejo de nos afastar do pecado e de nos unirmos a Deus.

➧ Essa não é uma resolução muito geral?
Certamente, a essa devemos juntar uma resolução de evitar determinado pecado, ou fazer um determinado bem em conformidade com a resolução geral.

➧ Qual deve ser o caráter da resolução particular?
Que ela seja prática, e imediatamente prática, nos ajudando a vencer o defeito dominante ou a adquirir a virtude de que temos mais necessidade.

➧ Como é preciso terminar a oração mental?
Por um movimento piedoso e cordial de agradecimento para com Deus, o inspirador de toda oração e a única fonte de nossos bens.

➧ E como terminar essa lição?
Com o compromisso de rezar mentalmente, ao menos alguns instantes todas as manhãs e sobretudo antes da santa comunhão. Que Deus nos dê essa graça.

➧ Há quem se queixe algumas vezes das dificuldades da oração mental?
Algumas vezes; mas, na verdade, a oração mental não é mais difícil do que qualquer outra forma de oração.

➧ E o que dizer das distrações?
As distrações são uma miséria da qual não podemos escapar. Somente no céu há quem reze sem distrações.

➧ Essa miséria não é muito miserável?
Ela é miserável, sem dúvida, mas se vem sem nos darmos conta, é preciso ficarmos em paz, deixá-la passar sem nada lhe dizer e continuar sua oração como se nada tivesse acontecido. É inofensiva como uma mosca que passa.

➧ Mas não há distrações nocivas?
Há, e muito nocivas: são as que nós mesmos provocamos quando não é hora de rezar.

➧ O que é a oração para a alma do cristão?
A oração é para a alma o que a respiração é para o corpo: como um corpo não poderia continuar vivo se não respirasse a todo instante, assim a alma não poderia permanecer na graça, se não rezar ao menos de tempos em tempos.

➧ Como a alma é levada a rezar assim?
O corpo é levado a respirar por uma necessidade incessante e pelo movimento natural de sua conservação; a alma é levada a rezar por um movimento sobrenatural, obra da graça de Nosso Senhor.

➧ Como se chama esse movimento sobrenatural na alma cristã?
Chama-se 'espírito de oração'. Deus disse em Zacarias: 'Estenderei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém, o espírito de graça e de oração': Spiritum gratiæ et precum (Zc 12,10).

➧ O que é o espírito de oração?
É o espírito que faz rezar, é a graça da oração distribuída pelo Espírito Santo aos corações dos filhos de Deus.

➧ O que produz nas almas o espírito de oração?
Ensina interiormente a necessidade que a alma tem de rezar; move eficazmente a alma para a oração, onde encontra um gosto sobrenatural na própria oração.

➧ E então o que faz a alma sob a ação desse espírito?
Então a alma aspira realizar essa palavra adorável, esse mandamento sagrado de nosso amável Salvador: 'É preciso rezar sempre, rezar sem cessar': Oportet semper orare et numquam deficere (Lc 18,1).

➧ Como compreender esse mandamento?
É como se Nosso Senhor nos dissesse: é preciso sempre amar a Deus, é preciso sempre se conservar em estado de graça, é preciso sempre evitar o pecado.

➧ Como podemos realizar esse mandamento?
Nunca o realizaremos perfeitamente aqui em baixo; mas devemos fazer tudo para o realizarmos o melhor possível.

➧ Como obedecer bem a esse mandamento de Nosso Senhor?
Primeiro é preciso querer realizá-lo; ora, essa vontade implica para nós o dever de nos afastarmos de todo pecado e de nos orientarmos sempre ao que agrada a Deus.

➧ E depois?
Depois prestar atenção para não perder as boas ocasiões de rezar.

➧ Quais são elas?
Antes de tudo, a hora das orações da manhã e a hora das orações da noite; a hora do Ângelus, as orações antes e depois das refeições, são circunstâncias em que o católico não deixa nunca de elevar seu coração a Deus, de respirar sua divina graça e de rezar.

➧ Como é preciso rezar ao levantar?
Dando graças a Deus por nos ter guardado durante o sono, lhe oferecer o primeiro pensamento de nosso espírito, a primeira batida de nosso coração, e oferecer nosso dia.

➧ Como é preciso rezar antes de adormecer?
Não adormecer jamais com um pecado mortal na consciência, mas ao contrário, ter a consciência em paz e adormecer sob o olhar de Deus, nos recomendando à Santíssima Virgem e a nosso anjo da Guarda.

➧ Será que poderemos rezar ainda em outros momentos?
Sim, certamente: a qualquer momento podemos dirigir a Deus alguma oração jaculatória.

➧ O que são orações jaculatórias?
Uma oração muito curta, mas, o mais ardente possível, que dirigimos a Deus.

➧ Porque se chama jaculatória?
Porque parece um jato (jaculum, em latim quer dizer 'jato'); um jato que lançamos para Deus do fundo de nosso coração.

➧ O que devemos dizer a Deus nessas orações?
Tudo o que nos pode inspirar a fé, a esperança, a caridade e a contrição.

➧ Haverá uma oração jaculatória que gostaria de nos ensinar?
Entre outras gostamos dessa: 'Jesus, meu Deus, eu Vos amo acima de tudo'.

(Pe. Emmanuel-André; excertos de texto publicado originalmente no site permanencia.org.br)

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

GLÓRIAS DE MARIA: FESTA DA NATIVIDADE DE MARIA


Com o nascimento de Maria, Deus dá ao mundo a aurora que anuncia a vinda do Messias, o início histórico da obra da Redenção. Maria, 'bendita entre todas as mulheres' e rainha dos anjos, foi privilegiada pelos desígnios da Providência com as graças mais sublimes para ser elevada à excelsa dignidade de Mãe do Nosso Salvador Jesus Cristo, Mãe de Deus. 

'Deus onipotente, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu Ele encarnar-se em Maria... Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado?'

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São Pedro Damião)

A Festa da Natividade de Maria (celebrada no dia 8 de Setembro, pelo calendário tridentino) era celebrada no Oriente Católico muito antes de ser instituída no Ocidente e tem sua origem provavelmente em Jerusalém, pelos meados do século V. De acordo com a Tradição, Maria nasceu de pais virtuosos e avançados em idade, Joaquim e Ana, que cumpriam fielmente os seus preceitos cristãos em Jerusalém, resignados e pacientes diante a esterilidade do casal. Contemplados com a gravidez tardia, nasceu-lhes pela Divina Providência a filha que seria a Mãe de Deus, evento singular da história da humanidade que não foi objeto nem de profecias e nem de sinais extraordinários antes, durante ou depois da natividade de Maria.

'Ó Joaquim e Ana, casal bem-aventurado e verdadeiramente sem mancha! Pelo fruto do vosso seio fostes reconhecidos, segundo a palavra do Senhor: 'Pelos seus frutos os reconhecereis'. A vossa conduta foi agradável a Deus e digna daquela que nasceu de vós. Tendo levado uma vida casta e santa, engendrastes a joia da virgindade, aquela que deveria permanecer Virgem antes, durante e depois do parto, a única sempre Virgem de espírito, de alma e de corpo. Convinha, de fato, que a virgindade saída da castidade produzisse a Luz única e monógena, corporalmente, pela benevolência d’Aquele que A gerou sem corpo – o Ser que não gera, mas que é eternamente gerado, para Quem ser gerado é a única qualidade própria da Sua Pessoa. Ó que maravilhas, e que alianças estão neste menino! Ó Filha da esterilidade, virgindade que engravida, nela se unirão divindade e humanidade, sofrimento e impassibilidade, vida e morte, para que em todas as coisas o menos perfeito seja vencido pelo melhor! E tudo isto para minha salvação, ó Mestre! Amas-me tanto que não realizaste esta salvação nem pelos anjos, nem por nenhuma outra criatura, mas tal como já a minha criação, também a minha regeneração foi Tua obra pessoal. Assim, eu exulto, faço despertar a minha alegria e o meu júbilo, volto à fonte das maravilhas, e embriagado de uma torrente de alegria, toco de novo a cítara do espírito e canto o hino divino da natividade'.

(Homilia sobre a Natividade de Maria, de São João Damasceno)

Nasce Maria, dádiva de Deus, santíssima em sua concepção, santíssima no seio de sua mãe, santíssima desde o primeiro instante de sua vida. Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da sabedoria, o relicário do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Antes de receber sua alma santíssima, sua carne foi completamente purificada até do menor resíduo de toda mancha, sem a mais ínfima inclinação para o pecado.

'A gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção, como foi também adornada da justiça original e confirmada em graça desde o primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais foi concedido à criatura alguma, nem humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus ... Todas as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n'Ela seu trono num grau altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça'.

(Homilia, São João Eudes)


Maria Santíssima é a nova Eva, a mãe espiritual dos homens; é Judite que será vitoriosa sobre o inimigo do povo de Deus; é Ester que alcançará misericórdia para o seu povo. Foi Maria que Adão entreviu quando Deus lhe disse que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente. Deus a tinha em vista quando prometeu a Abraão, aos patriarcas e a Davi, que o Salvador brotaria da sua estirpe. Ela é o tronco de Jessé que havia de dar a flor escolhida, conforme a profecia de Isaías. 

Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão: 2Abraão gerou Isaac;Isaac gerou Jacob; Jacob gerou Judá e seus irmãos; 3Judá gerou, de Tamar, Peres e Zera; Peres gerou Hesron; Hesron gerou Rame; 4Rame gerou Aminadab; Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 5Salmon gerou, de Raab, Booz; Booz gerou, de Rute, Obed; Obed gerou Jessé;6Jessé gerou o rei David. David, da mulher de Urias, gerou Salomão; 7Salomão gerou Roboão; Roboão gerou Abias; Abias gerou Asa; 8Asa gerou Josafat; Josafat gerou Jorão; Jorão gerou Uzias; 9Uzias gerou Jotam; Jotam gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; 10Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amon; Amon gerou Josias; 11Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia.12Depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel; Salatiel gerou Zorobabel;13Zorobabel gerou Abiud. Abiud gerou Eliaquim; Eliaquim gerou Azur; 14Azur gerou Sadoc; Sadoc gerou Aquim; Aquim gerou Eliud; 15Eliud gerou Eleázar; Eleázar gerou Matan; Matan gerou Jacob. 16Jacob gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo.19José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente.20Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados'. 22Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus conosco.


(Evangelho: Mateus, 1, 1-16.18-23)

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

VERSUS: ANJOS DA GUARDA X ALMA HUMANA

São Jerônimo: 'ó como é grande a dignidade das almas confiadas, desde o primeiro instante do seu nascimento, a um anjo, especialmente delegado para guardá-la!' Como é grande a sua dignidade e como é grande a sua preciosidade! Pela dignidade e posição da guarda se pode avaliar a preciosidade do objeto guardado... A ti, jovem cristão, cabe aproveitar dessas precauções e ajudar-te desses auxílios. Não ignoras quanto é preciosa a tua alma. Pois bem, se por ti só não podes salvá-la, salvá-la-ás se quiseres aproveitar dos meios que Deus te oferece para isto. Dentre estes, um dos mais sólidos e profícuos é a devoção ao teu anjo da guarda, que sabes estar constantemente junto de ti. 


São Bernardo: 'os nossos anjos da guarda são fiéis, são prudentes, são poderosos'. Ou, melhor, são fidelíssimos, prudentíssimos, poderosíssimos. É necessário ainda insistir sobre isto? Não basta, para disto nos convencermos recordar o que já dissemos sobre a natureza angélica, o seu amor para conosco, a solicitude com que nos guardam, o amor que têm a Deus, de quem somos criaturas e imagens? Nas jornadas perigosas, um bom pai só entrega o seu filho ao melhor, ao mais prudente, ao mais poderoso dos guardas. Assim o Pai celeste. Os perigos desta vida terrena exigiam de seu paterno Coração um guarda tal que de fato nos valesse, nos defendesse, nos dirigisse. Confiou-nos então ao Santo Anjo da Guarda.


São Pedro Damião: 'todos os dias, e de muitas maneiras, ofendemos aos nossos Anjos da Guarda e à ofensa, acrescentamos muitas vezes, a negligência em arrepender-nos. Eles, porém, ainda que frequentemente sofram de nós tantas injúrias, toleram-nos, não obstante, e de nós se compadecem'. O médico paciente sabe tolerar as injúrias do doente que não se quer deixar tratar, e a ele volta muitas vezes, apesar das afrontas, até vê-lo de todo curado. Assim procede para conosco o santo Anjo da Guarda: assiste-nos, exorta-nos, move-nos interiormente, e jamais se aparta do nosso lado, agenciando diante de Deus a nossa salvação: 'ó prodígio de caridade', exclama o mesmo São Pedro Damião, 'prodígio de todo inaudito entre os homens!…'


Santo Agostinho: 'os Santos Anjos nos amam por três motivos ou causas: por causa de Deus, por nossa causa, e por causa de si próprios. Por causa de Deus, porque Deus nos ama também, e com tais extremos; por nossa causa, porque lhes somos semelhantes na natureza racional; por causa deles próprios, porque nos querem sentados naqueles tronos supernos dos Anjos que prevaricaram'. A estas razões do seu amor, ainda outras lhes podemos juntar. Amam-nos, porque é grande a aversão que sentem pelos demônios, capitais inimigos da natureza humana; amam-nos porque nos veem tão amados por Maria Santíssima, Rainha dos Anjos; amam-nos, porque intensamente nos ama Jesus, nosso Redentor e Salvador.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda' do Pe. Augusto Ferretti)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ORAÇÃO COM PRESSA NÃO É ORAÇÃO


Jesus Cristo orou no horto por três vezes: 'Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice sem que eu o beba, mas faça-se a vossa vontade e não a minha'. A oração de Jesus Cristo no horto foi muito breve; mas ainda que breve ele o fez por três vezes, e cada vez por espaço de uma hora. Atende a isto alma apressada, tu que fazes muitas orações, e tendes pouco tempo de oração. Ah! bem podes temer que sejam pecados ou perdidas as suas orações!

Sobre o que deves saber, que a meditação é o fundamento; é a alma da oração, por isso quanto possa ser, não deves passar uma só palavra, que não seja acompanhada da meditação; se a tua oração assim fora feita, o seu coração se moveria, as tuas resoluções seriam fortes, os teus propósitos seriam firmes, o seu afetos para com Deus seriam grandes; finalmente desprezaria o mundo com todas as suas vaidades e de todo te entregarias a Deus; mas porque já fazes as orações a tantos anos, e ainda não tens colhido estes frutos, é sinal muito provável que não tem sido boas as suas orações.

Portanto nunca te apresses nas tuas orações; porque a pressa diz um dos Santos Padres, é a peste da oração; e na verdade, onde há pressas, há sempre irreverências, falta de atenção e de respeito. Todo aquele que se apressa nas suas orações, mostra claramente o pouco peso que dá as coisas santas; e ainda melhor mostra o que é, quando nas coisas do mundo é mais bem pronunciado e aperfeiçoado, do que nas conversas que tem com Deus nas orações. 

E quanto há disto? Nas conversas do mundo, muita atenção, muita gravidade e respeito; e vai-se a conversar com Deus na oração; já tudo são pressas, irreverência, falta de atenção e de respeito, e muitas vezes sono; finalmente tudo vai com fastio e aborrecimento! E o que significa tudo isto? É que já há muita pouca fé, ou não consideram com quem falam na oração, nem disso se lembram; não conhecem a Deus, nem formam a ideia que devem formar da sua grandeza e Majestade! 

Assim é, meus irmãos; reza-se muito mal, muito mal! As orações vão quase todas perdidas por não serem feitas como devem ser; se todos fizessem boas orações, elas seriam acolhidas, a vida seria reformada e todos seriam santos. Ora pois fazei vossas orações o melhor que puderdes; ide considerando no que fordes rezando, para desta sorte serem ouvidas e acolhidas por Deus.

(Excertos da obra 'Missão Abreviada', do Pe. Manuel José Gonçalves Couto)

terça-feira, 5 de setembro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XIX)

A 19ª nona objeção* pede um texto que prove o batismo dos sinos. Tal objeção não merece resposta, mas demonstra a supina ignorância dos biblistas, que pegam uma palavra e interpretam-na, não como é entendida pelos adversários, mas como eles mesmos a entendem.

Batizar um sino é apenas uma expressão popular, que significa: benzer um sino, isto é, consagrá-lo ao serviço de Deus. Tal prática é completamente bíblica. Vemos na Bíblia que tudo quanto se dedica ao serviço religioso deve ser separado dos objetos profanos e reservado ao uso santo, a que é destinado. Os capítulos 25, 26, 27, 28, 29, 30 e 31 do Êxodo são a enumeração de todos os objetos que Deus manda fazer e reservar para o seu serviço.

E não somente Deus manda separar estes objetos, mas exige que sejam consagrados, bentos ou ungidos, de uma unção especial. Ele manda fazer o azeite da santa unção, e diz: 'e com ele ungirás a tenda da consagração e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus vasos, e o altar do incenso, e o altar do holocausto com todos os seus vasos, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo' (Ex 30, 26-30).

Eis, meu caro protestante, a origem da bênção ou a unção dos sinos e de todos os objetos de culto. O sino não figura nesta enumeração, porque não existia naquele tempo; a trombeta era o instrumento para chamar os fiéis à casa de Deus. A Igreja Católica, fiel e conservadora das prescrições divinas, conserva o mesmo costume, e benze, unge ou consagra todos os objetos que são destinados ao culto divino. Isto é ou não é bíblico? E o contrário, como fazem os protestantes, é ou não é completamente anti-bíblico? Basta ter olhos para ver... E querer ver!

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

POR QUE DEUS TOLERA OS HOMENS MAUS

Eu sou o Criador do Céu e da Terra. Perguntavas-te, esposa minha, porque sou tão paciente com os malvados. Isso se deve ao fato de que sou misericordioso. Minha justiça os aguenta e minha misericórdia os mantêm por uma tríplice razão. Em primeiro lugar, minha justiça os aguenta de forma que seu tempo se complete até o final. Poderias perguntar a um rei justo porque tem alguns prisioneiros aos quais não condena à morte e sua resposta seria: ‘Porque ainda não chegou o tempo da assembleia geral da corte na qual possam ser ouvidos e onde, aqueles que os ouvem, podem tomar maior consciência’. De forma parecida, eu tolero os malvados até que chegue seu tempo, de maneira que sua maldade possa ser conhecida por outros também. Já não previ a condenação de Saul muito antes que se desse a conhecer aos homens? O tolerei durante longo tempo para que sua maldade pudesse ser mostrada a outros. 

A segunda razão é que os malvados fazem alguns bons trabalhos pelos quais hão de ser compensados até o último centavo. Desta forma, nem o mínimo bem que tenham feito por mim ficará sem recompensa e, consequentemente, receberão seu salário na terra. Em terceiro lugar, os aguento para que se manifeste assim a glória e a paciência de Deus. É por isso que tolerei Pilatos, Herodes e Judas, apesar de que iam ser condenados. E se alguém perguntar por que tolero a tal ou qual pessoa que se lembrem de Judas e Pilatos. 

Minha misericórdia mantém os malvados também por uma tríplice razão. Primeiro, porque meu amor é enorme e o castigo é eterno e muito grande. Por isso, devido ao meu grande amor, os tolero até o último momento para retardar seu castigo o mais possível na extensa prolongação do tempo. Em segundo lugar, é para permitir que sua natureza seja consumida pelos vícios, pois experimentariam uma morte temporal mais amarga se tivessem uma constituição jovem. A juventude padece uma maior e mais amarga agonia na hora da morte. Em terceiro lugar, pela melhora das boas pessoas e a conversão de alguns dos maus. Quando as pessoas boas e retas são atormentadas pelos perversos, isso beneficia os bons e justos, pois lhes permite resistir ao pecado ou conseguir um maior mérito. 

Igualmente, os maus, às vezes, tem um efeito positivo nas outras pessoas perversas. Quando esses últimos refletem sobre a queda e maldade dos primeiros, dizem a si mesmos: ‘De que nos serve seguir seus passos?’ E: ‘Se o Senhor é tão paciente, será melhor que nos arrependamos’. Desta forma, às vezes voltam a mim porque temem fazer o que fazem os outros e, além disso, sua consciência lhes diz que não devem fazer esse tipo de coisas. Dizem que, se uma pessoa foi picada por um escorpião, pode-se curá-la quando se a unte com azeite no qual haja outro escorpião morto. De forma parecida, às vezes uma pessoa malvada que vê a outra cair pode ver-se atingida pelo remorso e curada, ao refletir sobre a maldade e vaidade do outro.

(Das Revelações de Santa Brígida)

domingo, 3 de setembro de 2017

'TOME A SUA CRUZ E ME SIGA'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum


Jesus, a caminho da Cesareia de Felipe, vai fazer aos seu apóstolos neste dia, de forma explícita, o primeiro anúncio de sua Paixão e Ressurreição, que consubstanciarão os eventos culminantes de sua missão salvífica. Missão que Ele vai cumprir até o fim, até a plena consumação das grandes profecias, o Verbo encarnado entregue como cordeiro à morte de cruz, entre dois ladrões, para a redenção da humanidade pecadora.

Diante dos desígnios da Providência, irrompe as emoções e julgamentos humanos. Pedro, a mesma pedra que antes recebera a proclamação como fundamento da Igreja, vacila agora diante da incompreensão dos tributos extraordinários de Deus feito homem. Vacila e se confunde na fé, moldada apenas pelos rudimentos de sua vontade humana e que se recusa a aceitar as reverberações das palavras de Jesus, que acabara de revelar aos discípulos que iria 'sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Mt 16, 21).

Jesus vai repreendê-lo duramente em seguida, nomeando-o como 'satanás' e como 'pedra de tropeço', designações que o tornam adversário das coisas do Alto, por limitar aos ditames da lógica humana os inescrutáveis desígnios da mente divina, por não pensar 'as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens!' (Mt 16, 23). De agora em diante, e com singular devoção, Jesus vai preparar os seus discípulos, e especialmente a Pedro, para os tempos já tão próximos de sua Paixão, Morte de Cruz e Ressurreição e também para o chamamento ao sacrifício e martírio de tantos.

No caminho da santidade, Deus não nos pede um pouco, ou quase tudo, pois cumprir a Vontade de Deus exige de nós a completa e absoluta disposição da alma. Não há meios termos, nem concessões de menos. Deus quer e espera tudo de nós, toda a nossa vida, todo o nosso tempo, toda palavra, pensamento e ação: 'Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? ' (Mt 16, 24 - 26). E ao perguntar: 'O que poderá alguém dar em troca de sua vida?' (Mt 16, 26), responde com a promessa da verdadeira vida e da verdadeira felicidade no Céu, que hão de nos acompanhar como eleitos da graça nas planuras eternas da Casa do Pai.