sábado, 10 de janeiro de 2015

ORAÇÃO: 'PANGE LINGUA'

Hino Eucarístico composto por São Tomás de Aquino (1225 - 1274) para a Festa de Corpus Christi, sendo considerado um dos sete grandes hinos da Igreja Católica. As duas últimas estrofes do hino, consideradas isoladamente, compõem a oração Tantum Ergo, comumente recitada durante a Bênção do Santíssimo Sacramento. A quarta estrofe do hino, particularmente, constitui um desafio enorme de tradução, que tende a ser, por isso, muito aquém da precisão formal e dogmática dos versos originais.

PANGE LINGUA

Pange lingua, gloriosi 
Corporis mysterium, 
Sanguinis que pretiosi, 
Quem em mundi pretium 
fructus ventris Generosi 
Rex effudit Gentium.

Nobis datus, nobis natus 
ex intacta Virgine, 
et em Mundo conversatus, 
Sparso verbi semine, 
sui moras incolatus 
miro clausit ordem.

Em supremae nocte Cenae 
recumbens cum fratribus 
observata lege Plene 
cibis em legalibus, 
cibum turbae duodenae 
se dat suis manibus.

Verbum caro, panem verum 
verbo carnem efficit: 
fitque sanguis Christi Merum, 
et si sensus deficit, 
ad firmandum cor sincerum 
sola fides sufficit.

Tantum ergo Sacramentum 
veneremur cernui: 
et antiquum documentum 
novo cedat ritui: 
praestet fides Supplementum 
sensuum defectui.

Genitori, Genitoque 
laus et iubilatio, 
salus, honor, virtus quoque
sit et benedictio: 
procedenti ab utroque 
compar sit laudatio. 
Amen. 




Canta, ó língua, o mistério
do Corpo glorioso,
e do Sangue precioso
que derramou, para a redenção do mundo,
o fruto do ventre bendito,
o rei de todas as nações.

Dado a nós, nascido para nós, 
de uma Virgem Imaculada
passou sua vida neste mundo   
semeando a Palavra (Boa Nova)
e selou o tempo deste exílio
com entrega admirável.

Na noite da Última Ceia,
reunido aos seus escolhidos,
cumprindo toda a Lei,
conforme o que foi prescrito,
deu-se, por suas próprias mãos,
como alimento para todos eles.

O Verbo é feito Carne no pão verdadeiro,
convertido pela Palavra,
e o vinho puro se faz Sangue de Cristo.
E se falha a razão (para reconhecer este mistério)
basta apenas a fé
para confirmar (este mistério) num coração sincero. 

Tão sublime Sacramento
Veneramos prostrados:
E que a antiga lei
ceda lugar ao novo rito:
a fé venha suprir 
à fraqueza dos sentidos.

Ao Pai e ao Filho
louvor e glória,
saudação, honra, virtude
assim como a bênção. 
Ao que de ambos procede (Espírito Santo),
sejam dados os mesmos louvores.
Amém.

(tradução do autor do blog)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

TIPOS DE CRUZES (IV)

46. CRUZ GREGA EM POMOS OU POMIFORME

Variante da cruz grega ou quadrada que apresenta braços com bordas pomiformes (em forma de pomos ou maçãs, símbolo da fé cristã); usadas em báculos como símbolos da autoridade dos bispos.


47. CRUZ TREVOLADA


Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas em formas de trevos, símbolo cristão da eternidade e da Trindade Divina. 


48. CRUZ TREVOLADA (VARIANTE)


Variante da cruz anterior; os braços da cruz são representados como linhas e as bordas em forma de trevos preenchidos em preto. 

49. CRUZ COM LÍRIOS ESTILIZADOS

Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas em flor-de-lis ou lírios estilizados, símbolo da trindade, da pureza, e da realeza e humanidade de Cristo.


50. CRUZ DE ALCÂNTARA

Variante da cruz em lírios estilizados, utilizada como insígnia da chamada Ordem Militar de Alcântara, fundada em 1156 em Salamanca e posteriormente transferida para a cidade de Alcântara, na região de Extremadura (Espanha).

51. CRUZ FILETADA


Variante da cruz grega cujas extremidades são filetadas por uma pequena incisão central, sendo as bordas das incisões curvadas em direções opostas.


52. CRUZ BIFURCADA


Variante da cruz filetada (com braços mais delgados), em que as bordas das incisões feitas nas extremidades dos braços são retas e orientadas em direções opostas.


 53. CRUZ ARPONADA


Variante da cruz grega que apresenta braços com bordas afiadas em forma de arpões.



 54. CRUZ 'ROSA DOS VENTOS'


Variante da cruz grega que apresenta braços ponteagudos, convencionalmente utilizada como símbolo de orientação geográfica (pontos cardeais), comumente com outros elementos secundários diagonais (pontos colaterais e sub-colaterais). O termo 'rosa dos ventos' refere-se à similaridade da orientação dos pontos cardeais com as pétalas de uma flor.

55. CRUZ TRANSVERSA

Variante da cruz grega que apresenta quatro remates transversais curtos e delgados, localizados próximos às extremidades dos braços.



56. CRUZ TRANSVERSA (VARIANTE)



Variante da cruz transversa, com remates transversais maiores e mais afastados das extremidades dos braços da cruz.



57. CRUZ QUADRICULADA



Cruz transversa incluindo outras quatros pequenas cruzes entre os braços principais, simbolizando a divulgação e a expansão dos quatro evangelhos por todo o mundo.



58. CRUZ DE BATALHA 

Variante da cruz anterior em que os remates transversais são duplicados ao longo de cada braço da cruz, simulando a muralha de um castelo, símbolo da Igreja Militante (em luta contínua contra os valores do mundo).

59. CRUZ ESMERILHADA


Variante da cruz grega que apresenta os braços seccionados por remates diagonais curtos e dispostos periodicamente em cada um dos lados dos braços, simulando a ação contínua e sempre vigilante da Igreja no mundo.

60. CRUZ DA CONQUISTA OU VITÓRIA

Variante da cruz grega com a inclusão das abreviações dos nomes de Jesus Cristo em grego nos espaços superiores (primeira e últimas letras de Iησοῦς e Χριστός; a barra horizontal superior indica tratar-se de abreviações) e da palavra grega para vitória (nika) nos espaços inferiores dos braços da cruz.

PALAVRAS DE SALVAÇÃO





'A linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus' (I Cor 1, 18).

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

SANTOS E MÁRTIRES (V)


SANTO ESTÊVÃO

Estamos nos primórdios da Igreja de Cristo. A redenção da humanidade acabara de ser firmada há pouco no cimo do Calvário. A rigor, a Igreja não é ainda uma entidade independente e autônoma, com organização própria e separada do judaísmo. Era uma comunidade em formação incipiente, que se distinguia pela crença fervorosa nos ensinamentos de Jesus, pela caridade fraterna que unia os seus membros, pelas refeições em comum e pelo culto eucarístico. Os apóstolos pregavam a nova doutrina e convertiam muitos judeus, impondo-se, então, grandes e novos desafios em termos de assistência social e espiritual das comunidades recém-convertidas. Neste propósito, os apóstolos escolheram, dentre estas, sete homens notáveis pelo saber e pela caridade, que constituíram, então, o chamado 'Colégio dos Sete', entre os quais figurava Estêvão, um profundo conhecedor das revelações dos antigos profetas e da lei mosaica.

A Igreja nascente, entretanto, não estabelecera ainda uma separação categórica entre a fé cristã e a lei mosaica (judaísmo). Foi justamente Estêvão quem fez tal distinção pela primeira vez, e publicamente em uma sinagoga, demonstrando de forma clara e decisiva, com base nas citações e referências aos textos dos profetas, a concepção equivocada da lei hebraica e o caráter provisório do Templo diante a nova doutrina messiânica da Salvação firmada no Calvário. A sua pregação mobilizou protestos e a ira descontrolada dos judeus, que o condenaram por blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Mas, num discurso iluminado,  Estêvão provou não apenas não ter caído em blasfêmia como, longe de se intimidar, refutou as acusações e outorgou a eles a enorme pretensão de, como reféns da lei mosaica, atuarem de forma deliberada para deter a ação da graça divina entre os homens: 'Vós vos tornastes traidores e assassinastes o Justo' (At 7, 52 - 53). 

Entorpecidos pela fúria e pela revolta, os judeus passaram num relance a um ritual de justiça sumária e arrastaram Estêvão para fora da sinagoga e da cidade e lá o submeteram ao martírio por lapidação. Entre a turba enfurecida, estava Paulo, aquele que seria um dia o grande apóstolo dos gentios. Sob uma chuva de pedras, Estêvão ofereceu-se em holocausto, pedindo a Deus perdão pelos seus executores, tornando-se, assim, o primeiro mártir da Igreja. A morte de Estêvão foi o alto preço que a Igreja primitiva teve que pagar para sancionar o seu caráter universal e para conquistar o perseguidor de então que se tornaria, mais tarde, o grande arauto desta missão universal da Igreja. Como assinalado mais tarde por Santo Agostinho: Si martyr Stephanus non sit orasset, ecclesia Paulum non haberet - 'Se Estêvão não tivesse orado assim, a Igreja não teria tido Paulo' (Sermão 382). A festa do santo é celebrada em 26 de dezembro, logo em seguida ao Natal de Jesus, para se fazer sua memória como protomártir da Igreja.

('pregação de Santo Estêvão e discurso na sinagoga' de Fra Angélico, 1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

('Santo Estêvão arrastado e lapidado pelos judeus' de Fra Angélico,  1447 - 49, Capela Nicollina, Vaticano)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ORAÇÕES DE SANTO AGOSTINHO (II)


Meu Dulcíssimo Jesus que, para redimir o mundo quisestes nascer, ser circuncidado, desprezado pelos judeus, entregado com o beijo de Judas, atado com cordas, levado ao suplício, como inocente cordeiro; apresentado diante Anás, Caifás, Pilatos e Herodes; cuspido e acusado com falsos testemunhos; esbofeteado, carregado de opróbrios, despedaçado com açoites, coroado de espinhos, golpeado com a cana, coberto o rosto com púrpura por zombaria; desnudado afrontosamente, cravado na cruz e levantado nela, interposto entre ladrões como um deles, dado-vos a beber fel e vinagre e ferido o Coração com a lança:

Livrai, Senhor, por tantas e tantas acerbadíssimas dores que haveis padecido por nós, as almas do purgatório das penas em que estão; levando-as a descansar na vossa Santíssima Glória, e salvai-nos, pelos méritos de vossa Sagrada Paixão e pela vossa morte de cruz, das penas do inferno, para que sejamos dignos de entrar na posse daquele Reino, onde levastes o bom ladrão que foi crucificado convosco. Vós que viveis e reinais com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos. Amém.