domingo, 15 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Ó Senhor nosso Deus, como é grande vosso nome por todo o universo!' (Sl 8)

Primeira Leitura (Pr 8,22-31) - Segunda Leitura (Rm 5,1-5) -  Evangelho (Jo 16,12-15)

  15/06/2025 - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

GLÓRIA À TRINDADE SANTA!


O mistério da Santíssima Trindade é um mistério de conhecimento e de amor. Pois, desde toda a eternidade, o Pai, conhecendo-se a Si mesmo com conhecimento infinito de sua essência divina, por amor gera o Filho, Segunda Pessoa da Trindade Santa. E esse elo de amor infinito que une Pai e Filho num mistério insondável à natureza humana se manifesta pela ação do Espírito Santo, que é o amor de Deus por si mesmo. Trindade Una, Três Pessoas em um só Deus.

Mistério dado ao homem pelas revelações do próprio Jesus, posto que não seria capaz de percepção e compreensão apenas pela razão natural, uma vez inacessível à inteligência humana: 'Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele (o Espírito Santo) receberá e vos anunciará, é meu' (Jo 16, 15). Mistério revelado em sua extraordinária natureza em outras palavras de Cristo nos Evangelhos: 'Em verdade, em verdade vos digo: O Filho não pode de si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vir fazer o Pai; porque tudo o que fizer o Pai, o faz igualmente o Filho. Porque o Pai ama o Filho, e mostra-lhe tudo o que ele faz (Jo 5, 19-20) ou ainda 'Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem alguém conhece o Pai senão o Filho (Mt 11, 27).

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Verbo de Deus feito homem, sob duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana: 'Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele' (Jo 3, 16 - 17). Enquanto homem, Jesus teve as três potências da alma humana: inteligência, vontade e sensibilidade; enquanto Deus, Jesus foi consubstancial ao Pai, possuindo inteligência e vontade divinas.

'Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo'. Glórias sejam dadas à Santíssima Trindade: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Neste domingo da Santíssima Trindade, a Igreja exalta e ratifica aos cristãos o maior dos mistérios de Deus, proclamado e revelado aos homens: O Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho (Conselho de Florença, 1442).

sábado, 14 de junho de 2025

MEDITAÇÃO SOBRE O INFERNO


Todo o Inferno está nestas palavras de Jesus Cristo: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno'.

1. O Inferno é a separação, a perda de Deus - 'Afasta-te de mim, pecador'. É assim que Deus repele para longe de si a alma pecadora. É a perda de Deus, a perda da suma beleza, da suma bondade, do sumo bem. Enquanto a nossa alma estiver presa no cárcere da carne, não poderá nunca compreender a imensidade desta desgraça que, na frase dos santos, constitui o inferno dos infernos.

2. O Inferno é a maldição de Deus - 'Afasta-te pecador maldito', é tal a maldição eficaz de um Deus todo-poderoso. Se é terrível a maldição de um pai, de uma mãe, o que será a maldição de Deus? Pecador maldito, maldito no corpo, maldito na alma. Olhos, língua, mãos, pés, inteligência, coração, vontade, tudo é maldito, porque tudo serviu de instrumento ao pecado.

3. O Inferno é o fogo - 'Afasta-te pecador maldito, para o fogo'. Quando os profetas falam do Inferno, logo se lhes apresenta à imaginação o mar, o mar sem limites e sem fundo, e os condenados, nadando e mergulhando neste abismo de fogo. O fogo os envolve, penetra-os, circula em suas veias, insinua-se até à medula dos ossos.

4. O Inferno é a eternidade  - 'Afasta-te pecador maldito, para o fogo'. A eternidade... quem pode compreendê-la! É um tempo que não acaba. Mil anos, milhões de anos, mil milhões de anos. Contai as gotas de água do oceano, os grãos de areia das praias, as folhas das árvores... a eternidade tem mais anos, mais séculos. Sempre! Nunca! Sempre queimar, sempre sofrer! Nunca o menor alívio, a menor esperança!

Se os condenados que estão no Inferno pudessem voltar à Terra, o que fariam? Procurariam outra vez a ocasião do pecado, as danças, os espetáculos, as tabernas, as casas de perdição? Não! Correriam para a igreja, ao pé do altar do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora, ao pé do confessor principalmente, para alcançar o perdão dos seus pecados. O que os condenados não podem mais, vós o podeis. Não estais no Inferno, mas talvez estejais no caminho do Inferno. Quanto antes, voltai para trás; talvez amanhã seja tarde.

(Excertos da obra 'O Pequeno Missionário', do Pe. Guilherme Vaessen, 1953)

sexta-feira, 13 de junho de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVII)

P. 37 - De que maneira, então, esses santos se expressam sobre esse assunto?

Seria interminável coletar todos os seus testemunhos; os poucos que se seguem podem ser suficientes como amostra do todo. Santo Inácio, bispo de Antioquia e discípulo dos apóstolos, em sua epístola aos filadelfianos, diz: 'Aqueles que se separam não herdarão o reino de Deus'. São Irineu, bispo de Lyon e mártir na segunda era, diz: 'A Igreja é a porta da vida, mas todos os outros são ladrões e salteadores e, portanto, devem ser evitados' (DeHar., lib. i. c. 3). São Cipriano, bispo de Cartago e mártir em meados da terceira era, diz: 'A casa de Deus é uma só, e ninguém pode ter a salvação senão na Igreja' (Epist. 62, 4). E no seu livro sobre a unidade da Igreja, ele diz: 'Não pode ter Deus como pai quem não tem a Igreja como mãe. Se alguém que estivesse fora da arca de Noé pudesse escapar, então aquele que está fora da Igreja também poderia escapar'.

No século IV, São Crisóstomo diz assim: 'Sabemos que a salvação pertence SOMENTE à Igreja e que ninguém pode participar de Cristo, nem ser salvo, fora da Igreja Católica e da fé católica' (Hom. i. in Pasch). Santo Agostinho, na mesma época, diz: 'Somente a Igreja Católica é o corpo de Cristo; o Espírito Santo não dá vida a ninguém que esteja fora deste corpo' (Epist. 185, 50). E em outro lugar: 'Ninguém pode ter a salvação, a não ser na Igreja Católica. Fora da Igreja Católica, pode ter tudo menos a salvação. Pode ter honra, pode ter o batismo, pode ter o Evangelho, pode acreditar e pregar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; mas não pode encontrar a salvação em nenhum outro lugar que não seja a Igreja Católica' (Serm. ad Cczsariens de Emerit). E ainda uma outra vez (Epist. 209, ad Feliciam).: 'Na Igreja Católica, há bons e maus. Mas aqueles que estão separados dela, enquanto as suas opiniões forem opostas às dela, não podem ser bons. Pois, embora a conversa de alguns deles pareça louvável, a sua própria separação da Igreja torna-os maus, de acordo com o que diz o nosso Salvador: 'Aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que não ajunta comigo, espalha' (Lc 11,23).

Lactâncio, outra grande luz da quarta era, diz: 'É somente a Igreja Católica que mantém a verdadeira adoração. Esta Igreja é a fonte da verdade, é a casa da fé, é o templo de Deus. Se alguém não entrar nesta Igreja ou se afastar dela, a sua salvação eterna estará perdida. Ninguém deve iludir-se obstinadamente, pois a sua alma e a sua salvação estão em jogo' (Divin. Instit., lib. iv. c. 30). São Fulgêncio, no século VI, diz assim: 'Acredite firmemente, e sem qualquer dúvida, que ninguém que seja batizado fora da Igreja Católica pode participar da vida eterna, se, antes do fim desta vida, não for restaurado à Igreja Católica e incorporado nela' (Lib. de Fid., c. 37). Isto é suficiente para mostrar a fé do mundo cristão em todas as épocas anteriores; pois todos os escritores sagrados do cristianismo, em todas as épocas, falam sobre este assunto da mesma forma.

P. 38. Esses testemunhos são fortes e falam claramente sobre o assunto; mas, depois de tais provas, não é surpreendente que alguém questione esse ponto?

Isso, na verdade, só pode ser explicado pelo espírito geral de mundanismo e desconsideração por toda religião que agora prevalece universalmente; pois os primeiros reformadores e alguns de seus seguidores, vendo as fortes provas da Escritura para essa doutrina e não encontrando o menor fundamento nesses escritos sagrados para apoiar o contrário, reconheceram-na de forma justa, por mais que isso fosse contra eles mesmos. Vimos como os teólogos de Westminster se pronunciam sobre este assunto na Confissão de Fé, usada até hoje pela Igreja da Escócia, e que foi ratificada e adotada pela Assembleia Geral no ano de 1647, como padrão da sua religião. 

Mas os seus antecessores no século anterior, quando a religião presbiteriana começou na Escócia, falam com igual clareza sobre o mesmo assunto; pois na sua Confissão de Fé, autorizada pelo Parlamento no ano de 1560, 'como uma doutrina fundamentada na Palavra infalível de Deus', eles dizem o seguinte, no Artigo xvi: 'Assim como acreditamos em um único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, também acreditamos firmemente que, desde o início, existiu, existe agora e existirá até o fim do mundo uma única Igreja, ou seja, uma única comunidade e multidão de homens, escolhidos por Deus, que o adoram e abraçam corretamente pela verdadeira fé em Jesus Cristo... Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque contém os eleitos de todas as épocas e, fora dessa Igreja não há vida nem felicidade eterna; e, portanto, abominamos totalmente a blasfêmia daqueles que afirmam que os homens que vivem de acordo com a equidade e a justiça serão salvos, qualquer que seja a religião que professem'. Esta confissão da Igreja original da Escócia foi reimpressa e publicada em Glasgow no ano de 1771, de onde esta passagem foi retirada. O próprio Calvino confessa a mesma verdade, nestas palavras, falando da Igreja visível: 'Fora do seu seio' - diz ele - 'não se pode esperar remissão dos pecados, nem salvação, de acordo com Isaías, Joel e Ezequiel... de modo que é sempre altamente pernicioso afastar-se da Igreja' e isto ele afirma nas suas próprias instituições (B. iv. c. i 4).

Acrescentaremos mais um testemunho particularmente forte; é do Dr. Pearson, bispo da Igreja da Inglaterra, na sua exposição do Credo (edit. 1669), onde ele diz: 'A necessidade de acreditar na Igreja Católica apareceu, em primeiro lugar, no fato de Cristo a ter designado como o único caminho para a vida eterna. Lemos no início do Livro dos Atos (At 2,47), que o Senhor acrescentava diariamente à Igreja aqueles que deveriam ser salvos; e o que era feito diariamente naquela época tem sido feito continuamente desde então. Cristo nunca designou dois caminhos para o céu; nem construiu uma Igreja para salvar alguns e criou outra instituição para a salvação de outros homens (At 4,12). Não há outro nome dado aos homens sob o céu pelo qual devamos ser salvos, senão o nome de Jesus; e esse nome não é dado sob o céu senão na Igreja. 

Assim como ninguém foi salvo do dilúvio, exceto aqueles que estavam dentro da arca de Noé, construída para recebê-los por ordem de Deus; assim como nenhum dos primogênitos do Egito sobreviveu, exceto aqueles que estavam dentro das habitações cujas ombreiras das portas foram aspergidas com sangue, por designação de Deus, para sua preservação; assim como nenhum dos habitantes de Jericó pôde escapar do fogo ou da espada, exceto aqueles que estavam dentro da casa de Raab, para cuja proteção foi feita uma aliança; assim NINGUÉM escapará da ira eterna de Deus uma vez que não pertença à Igreja de Deus. 

Vede até que ponto a força da verdade prevaleceu entre os membros mais eminentes da Reforma antes que os princípios liberais se infiltrassem entre eles! Que reprovação deve ser esta perante o tribunal de Deus para aqueles membros da Igreja de Cristo que questionam ou procuram invalidar esta grande e fundamental verdade, a própria fronteira e barreira da verdadeira religião: que é tão repetidamente declarada por Deus nas suas Sagradas Escrituras, professada pela Igreja de Cristo em todas as épocas, atestada nos termos mais fortes pelas luzes mais eminentes do cristianismo e reconhecida com franqueza pelos escritores e teólogos mais célebres da Reforma! Não será que toda tentativa de enfraquecer a importância desta verdade divina será considerada pelo grande Deus como uma traição à sua causa e aos interesses da sua santa fé? E aqueles que assim o fizerem serão capazes de invocar a sua predileta e invencível ignorância em sua própria defesa perante Ele?

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

OS PAPAS DA IGREJA (XV)

 


quinta-feira, 12 de junho de 2025

ORAÇÃO PARA ANTES DE UMA CIRURGIA


Senhor, eu busco alívio e conforto nesta cirurgia que estou prestes a fazer, para cura do corpo e maior bem da minha saúde. Tornai, ó meu Jesus, esta experiência pessoal num ato de graça e misericórdia de Deus para comigo, para os médicos responsáveis e por todos os profissionais de saúde envolvidos, como uma celebração conjunta do vosso infinito amor pelos homens. Dai-me a paz interior, serenidade de espírito e confiança absoluta para entregar, em vossas santas mãos, hoje, durante a cirurgia e sempre, tudo o que tenho e tudo que sou. Amém.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (16/18)

 

16. O SENHOR PODE PERDOAR-ME OS PECADOS?

Um conhecido comerciante luterano de uma cidade do Norte adoeceu gravemente. Mandou chamar o pastor protestante e disse-lhe:
➖ Senhor pastor, o senhor pode perdoar-me os pecados?
➖ Não se perturbe, senhor, fique tranquilo: Deus já lhe perdoou tudo.
➖ Não pergunto se Deus já me perdoou; pergunto se o senhor pastor tem o poder de perdoar os meus pecados.
➖ Ah! isso eu não tenho, respondeu o pastor.
➖Sinto muito, senhor pastor. Sempre fui um protestante crente e li com confiança a Bíblia. No Evangelho de São João li que Nosso Senhor disse aos Apóstolos: 'Recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, serão perdoados, e a quem os retiverdes, estes lhe serão retidos'. Ora, se o senhor pastor não pode perdoar os meus pecados, é claro que não estamos na verdadeira Igreja de Cristo. Dito isto, despediu o pastor. 

Logo depois mandou chamar um sacerdote católico, o qual, ao entrar no quarto, foi recebido com estas palavras:
➖ Senhor Padre, o senhor pode perdoar os meus pecados?
➖ Posso, sem dúvida; mas o senhor é protestante!...
➖ E se eu me fizer católico, poderia?
➖ Sem dúvida alguma.
➖ Peço-lhe então que me receba na Igreja Católica: quero morrer na Igreja de Cristo e com o perdão dos meus pecados.

Foi instruído então nas verdades católicas, fez a abjuração diante de toda a família e a profissão solene de fé católica. Em seguida recebeu os últimos sacramentos da Igreja e morreu feliz (Muzzatti II, 214).

17. UM DEVOTO POUCO DEVOTO

Em Veneza, cidade da Itália, um senhor distinto costumava rezar todos os dias diante de uma imagem de São José, que conservava em seu quarto. Entretanto, muito pouco se incomodava com a exata observância da lei de Deus e dos preceitos da Igreja. É claro que São José não podia estar, contente com semelhante devoção. Todavia, em sua grande bondade, não quis deixar sem recompensa aquele pequeno obséquio, que o seu devoto lhe oferecia diariamente.

Aconteceu, pois, que, estando aquele senhor gravemente enfermo, viu entrar no seu quarto um personagem distinto e muito semelhante à imagem que venerava diariamente. O referido personagem não falava, não abria a boca, mas olhava para ele fixamente com ar de amorosa censura. Sob aquela vista e aquele olhar, o moribundo sentiu-se tocado no íntimo de seu coração, concebeu viva dor de seus pecados e, tendo feito logo uma confissão sincera e dolorosa, expirou pouco depois em paz com Deus e com São José.

18. EFICÁCIA DO BOM EXEMPLO 

Como preparação à Páscoa, pregava-se naquela vila uma santa missão. Vivia ali um capitão-médico que, como cristão, era um dos piores. Assistia as pregações, mas apenas com o intuito de ridicularizar os padres, o que não deixava de ser um mau exemplo muito funesto. Depois de alguns sermões começou, entretanto, a refletir mais seriamente. 

Uma noite, muito em segredo, procurou o pregador com a intenção de fazer-lhe objeções embaraçosas e, talvez, dizer-lhe até palavras injuriosas; mas bem depressa ficou desarmado e terminou por confessar-se e até se sentindo-se muito feliz. Voltou no dia seguinte um pouco triste.
➖ Estou convertido - disse - mas como poderei reparar todo o mal que tenho feito?
➖ Eu sei um meio, disse o missionário: o senhor se confessar em pleno dia, no confessionário da igreja.
➖ Ah! isso é bastante penoso, respondeu o velho militar, mas sinto-me no dever de fazê-lo e o farei.

Às três horas da tarde, dirigiu-se à igreja e ajoelhou-se perto do confessionário, ao redor do qual estavam muitas senhoras esperando a sua vez de confissão. Ficaram, naturalmente, muito surpreendidas, e, curiosas como só elas! Uma delas se atreveu a perguntar-lhe se viera para confessar-se.
➖ Sim, respondeu ele, mas por que me fazeis essa pergunta?
➖ É que o senhor pode se confessar primeiro: o pregador disse que é preciso ceder o lugar aos homens. 
➖ Obrigado, mas ainda não estou preparado. 

Como um relâmpago, correu pela vila a notícia de que o capitão-médico estava na igreja para se confessar; ninguém queria acreditar e todos vinham até à porta da igreja para espreitar o velho capitão. Quando chegou a sua vez, o capitão apresentou-se ao confessionário. Não é preciso dizer que daí em diante a missão teve pleno êxito. Se, em cada paróquia, algumas pessoas influentes tivessem um pouco de coragem, quanto bem não haviam de fazer com o seu exemplo!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

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terça-feira, 10 de junho de 2025

O SENTIDO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA

É bem possível que o empecilho [à vida espiritual] seja a falta de devoção a Nossa Senhora. Sem esta devoção, a vida interior é impossível, porque não está em conformidade com a vontade de Deus. E esta reside sobretudo em Nossa Senhora. Ela é a solidez da devoção, e não nos lembramos bastante disso. Os principiantes estão com frequência tão ocupados com a parte metafísica da vida espiritual, que não dão a esta devoção a necessária importância. Mencionarei aqui alguns pontos que eles não parecem não levar em consideração.

A devoção à Mãe de nosso Senhor não é um ornamento do sistema católico, uma beleza supérflua, nem mesmo um auxílio, dentre os muitos que podemos ou não empregar, mas é parte integral do cristianismo e, sem ela, nossa religião não é, estritamente falando, cristã. Seria uma religião diferente da que Deus revelou. Nossa Senhora é uma lei distinta de Deus, um meio especial de graça, cuja importância ressalta do ódio instintivo que lhe tem a heresia.

Maria é o pescoço do corpo místico unindo portanto todos os membros à Cabeça, e sendo o canal e o instrumento que dispensa todas as graças. A devoção a nossa Senhor é a verdadeira imitação de Jesus, porque, após a glória do Pai, foi a devoção mais ligada e mais cara ao sagrado Coração. É de uma solidez a toda prova, porque está perpetuamente ocupada como o ódio do pecado e a aquisição de virtudes substanciais. Descuidar-nos dela é desprezar a Deus, pois ela é a sua lei; é ferir a Jesus em sua Mãe.

Deus mesmo a colocou na Igreja, como um poder distinto, e, portanto, o seu culto é eficaz, é fonte de milagres, é parte da nossa religião, que de modo algum podemos pôr de lado. A espiritualidade é necessariamente ortodoxa. Isto é evidente. Ora, a doutrina não seria ortodoxa, se preterisse o ofício e as prerrogativas da Mãe de Deus. Assim, também a espiritualidade não é ortodoxa, em se desviando ou separando duma devoção tão generosa quão justa. Com efeito, um erro de doutrina é duplamente perigoso quando se relaciona com a vida espiritual. Envenena a tudo, e não há prejuízo que não se possa prever para a infortunada alma que lhe é sujeita.

Se, então, tendes os sintomas que indicam algo de errado, algo que vos retarda, verificai primeiro se vossa devoção a Nossa Senhora é o que devia ser, em qualidade e grau, em fé e confiança, em amor e lealdade. A perfeição está sob a sua proteção particular, porque é uma das especiais prerrogativas de que goza como rainha dos santos.

(Excertos da obra 'Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederick Faber)

OS PAPAS DA IGREJA (XIV)

 


segunda-feira, 9 de junho de 2025

ÓDIO AO PECADO E AMOR AO PECADOR

O que há então aqui? É o amor? É o ódio? Nem uma coisa e nem outra? Sim, há aqui, ao mesmo tempo, ódio e amor. Ódio contra o que vem de você e amor por você. O que quer dizer: ódio contra o que vem de você e amor por você? Isto quer dizer que há ódio contra as suas obras e amor pela obra de Deus.

O que são suas obras, se não são seus pecados? Qual é a obra de Deus, se não é você mesmo, formado por ele à imagem dele e à semelhança dele? Infelizmente, você despreza a obra de Deus e tem afeto pelas suas! Você ama, fora de você, o que você fez e negligencia, em você, a obra de Deus. Assim, você merece se desgarrar, cair, correr para longe de você mesmo e ouvir ser chamado de um sopro que vai e não volta (Sl 77,39).

Volte seu olhar para Aquele que chama você e que grita para você: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós' (Zc 1,3). Deus não se afasta quando é olhado. Ele fica e é imutável, tanto para repreender quanto para corrigir. Se ele está longe de você foi porque você se afastou dele. Foi você que se separou; não foi Ele que se escondeu. Desta forma então, preste atenção à sua voz: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós'. Em outros termos: 'Quando eu volto a você, é você que volta a mim'. 

O Senhor, efetivamente, busca os fugitivos e se eles retornam para ele, eles se veem iluminados. Para onde fugirá você, infeliz, ao fugir para longe de Deus? Para onde fugirá você, ao se afastar daquele que não está restrito a nenhum lugar e que não se ausenta de nenhum lugar? Ao se unir a ele encontra-se a liberdade e ao se afastar dele encontra-se o castigo. Para quem se afasta ele é um juiz e, para quem retorna, ele é um pai.

(Santo Agostinho, Sermão 42)

domingo, 8 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai!' (Sl 103)

Primeira Leitura (At 2,1-11) - Segunda Leitura (1Cor 12,3b-7.12-13) -  Evangelho (Jo 20,19-23)

  08/06/2025 - FESTA DE PENTECOSTES

NA DIVERSIDADE DOS DONS, O MESMO ESPÍRITO


Emitte Spiritum tuum et creabuntur. Et renovabis faciem terrae

'Enviai, Senhor, o vosso espírito criador e será renovada toda a face da terra'

Originalmente, Pentecostes representava uma das festas judaicas mais tradicionais de 'peregrinação' (nas quais os israelitas deviam peregrinar até Jerusalém para adorar a Deus no Templo), sempre celebrada após 50 dias da Páscoa e na qual eram oferecidas a Deus as primícias das colheitas do campo. No Novo Pentecostes, a efusão do Espírito Santo torna-se agora o coroamento do mistério pascal de Jesus Cristo, na celebração da Nova Aliança entre Deus e a humanidade redimida.

Eis que os apóstolos encontravam-se reunidos, com Maria e em oração constante, quando 'todos ficaram cheios do Espírito Santo' (At 2, 4), manifestado sob a forma de línguas de fogo, vento impetuoso e ruídos estrondosos, sinais exteriores do poder e da grandeza da efusão do Novo Pentecostes. Luz e calor associados ao fogo restaurador da autêntica fé cristã; ventania que evoca o sopro da Verdade de Deus sobre os homens; reverberação que emana a força da missão confiada aos apóstolos reunidos no cenáculo e proclamada aos apóstolos de todos os tempos.

O Paráclito é derramado numa torrente de graças, distribuindo dons e talentos, porque 'Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos' (1 Cor 12, 4-6). Na simbologia dos vários membros de um mesmo corpo, somos mensageiros e testemunhas de Cristo no meio dos homens, na identidade comum de Filhos de Deus partícipes e continuadores da missão salvífica de Cristo: 'Como o Pai me enviou, também Eu vos envio' (Jo 20, 22).

No Espírito Consolador, não somos mais meros expectadores de uma efusão de graças e dons tão diversos, mas apóstolos e testemunhas, iluminados e portadores da Verdade, pela qual será renovada a face da terra e pelo qual será apagada a mancha do pecado no mundo: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23).

sábado, 7 de junho de 2025

PALAVRAS ETERNAS (XXII)

 

'Minha misericórdia é maior que os seus pecados e os do mundo inteiro. Quem pode medir a extensão da minha bondade? Por você, desci do céu à terra; por você, deixei que me pregassem na cruz; por você, deixei que o meu Sagrado Coração fosse transpassado por uma lança, abrindo assim para você a fonte da misericórdia. Venha, então, com confiança, extrair graças desta fonte. Eu nunca rejeito um coração contrito. Sua miséria desaparece nas profundezas da minha misericórdia. Por que haveria então de discutir comigo a sua miséria? Você me dará alegria se me entregar todos os seus problemas e tristezas, pois Eu acumularei sobre elas os tesouros da minha graça'.

(Excertos do Diário de Santa Faustina)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XXIV)

 

Exame sobre a Humildade para com Deus - Parte II

108. Há algumas pessoas que, sob o pretexto de praticar atos de humildade, desejam, de vez em quando, acusar-se na confissão de algum pecado grave e vergonhoso de sua vida passada. Se por acaso você estiver entre essas pessoas, cuidado para que isso não resulte mais de um desejo de parecer humilde do que de ser humilde na realidade. O amor próprio é astuto e sabe agir secretamente. Esta falta foi denunciada por São Bernardo: 'Quanto mais sutil é a confissão vaidosa, mais perigosamente prejudicial ela é, como quando, por exemplo, não temos vergonha de revelar nossos atos vergonhosos, não porque somos humildes, mas para parecermos ser assim. O que há de mais perverso ou vergonhoso do que a confissão, guardiã da humildade, servir sob a bandeira do orgulho?' [Serm. vi in Cant.].

Esse tipo de humildade nem sempre é desejável, mesmo fora do confessionário, porque pode facilmente nos levar a criar escândalo ao falar de certos pecados que nem deveriam ser mencionados. Se você tem essa estranha falta, não há razão para se orgulhar dela, mas sim para se envergonhar; pois, como diz o santo abade: 'Que espécie de orgulho é esse que você deseja ser melhor pelo que parece ser pior? Que você não pode ser considerado santo sem parecer ser mau?'

109. E também, após a confissão, você deve lembrar-se dos pecados que cometeu, a fim de despertar em seu coração sentimentos de vergonha e tristeza, humilhando-se diante de Deus. Mas você se lembra de exercitar-se nessa humildade? Esta é uma humildade de preceito. 'Toda a vida do cristão deve ser uma longa penitência' [Ses. I, cap. ii]. Assim fala o santo Concílio de Trento, onde toda a Igreja de Cristo se reuniu, e seus dogmas são infalíveis não menos em questões de moralidade do que em questões de fé.

O Concílio de Trento diz 'deve ser', que é uma fórmula não de exortação, mas de necessidade; e não prescreve penitências como flagelações, cilícios ou jejuns, mas fala de maneira geral; e não podemos interpretar o sentido dessas palavras com mais discrição do que dizendo: Se você não pode realizar certas penitências exteriores, não deve, contudo, negligenciar as penitências interiores que consistem na contrição e humilhação do coração, dizendo como Davi: 'Tem misericórdia de mim, ó Deus... porque pequei contra Vós' [Sl 41,4] e 'Um coração contrito e humilde, ó Deus, tu não desprezarás' [Sl 50,19]. Você pratica essa humildade penitencial? Ó meu Deus! Seus pecados são tão numerosos e, no entanto, você vive em absoluto esquecimento deles, como se fosse inocente! Você se lembra da obrigação que tem que pensar frequentemente: 'O que eu fiz? Que grande mal eu cometi para ofender a Deus'?' Reze a Deus para que Ele lhe dê luz para conhecer a gravidade do seu pecado, e você terá aquele contínuo pesar que o rei Davi tinha, se puder dizer com ele: 'Eu reconheço as minhas iniquidades'.

110. A sua própria fé pode ensinar-lhe como a humildade é necessária para que você se aproxime dignamente da Sagrada Comunhão. Mas, na sua preparação para esse Sacramento Divino e na sua ação de graças, você pratica os devidos atos de humildade? É verdade que você se ajoelha com toda a humildade exterior e bate no peito ao dizer Domine non sum dignus - Senhor, eu não sou digno - mas você tem realmente aquela verdadeira humildade de coração que convém a uma função tão sagrada?

O centurião foi santificado quando recebeu Jesus Cristo em sua própria casa, porque se preparou para recebê-lo com profunda humildade e disse, mais com o coração do que com os lábios: 'Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa'1 [Mt 8, 8]. Este mistério, mais do que outros, exige humildade, e quando o Filho de Deus se encarnou no ventre da Bem-Aventurada Virgem Maria, foi especialmente em virtude da humildade dela, 'porque Ele considerou a humildade da sua serva' [Lc 1,48]. Ó se você refletisse que é um Deus que você vai receber; mas você pensa nisso como o próprio Deus o exorta a fazer? - 'Aquietai-vos e vede que Eu sou Deus' [Sl 45,11].

111. Como você humilha o seu intelecto em relação aos mistérios da fé católica? Você tem curiosidade em buscar e desejar conhecer as razões das coisas que a Igreja propõe para sua crença, inclinando-se a se render mais ao raciocínio humano do que à autoridade divina? Em questões de fé, é muito necessário praticar a humildade, e quanto mais humilde for nossa crença, mais honra ela dá a Deus.

É por esta razão que a Sagrada Escritura, depois de ter dito que Deus é honrado pelos humildes, nos exorta enfaticamente a humilhar nosso intelecto: 'Ele é honrado pelos humildes. Não busque as coisas que são muito elevadas para você, e não investigue as coisas que estão acima de sua capacidade; mas as coisas que Deus lhe ordenou, pense nelas sempre, e em muitas de suas obras não seja curioso' [Eclo 3, 22]. Quando se trata de fé, o Apóstolo nos ensina que não devemos procurar saber o porquê e o motivo, mas humilhar qualquer dimensão do nosso entendimento em reverência humilde a Jesus Cristo, 'levando cativo todo entendimento à obediência a Deus' [2Cor 10,5]. Isso é extremamente necessário. E, especialmente quando temos tentações contra a fé, é necessário que nos humilhemos imediatamente, sem entrar em discussão ou disputa com o diabo. Mas você é prudente em tomar essas medidas imediatamente e diz como o rei Davi: 'Senhor, meu coração não se enche de orgulho, meu olhar não se levanta arrogante. Não procuro grandezas, nem coisas superiores a mim'? [Sl 130,1].

112. Mas se somos obrigados a humilhar nosso intelecto nas coisas que dizem respeito à nossa fé, não devemos humilhar menos nossa vontade de fazer aquilo que nos é ordenado. Nisso consiste principalmente a essência da verdadeira humildade, mas como você a observa? Você se humilha prontamente em obediência aos mandamentos divinos, convencido de que foi colocado neste mundo apenas para fazer a vontade de Deus e não a sua própria? Quando você recita o Pai Nosso, que pensamento você dá a estas palavras: 'Seja feita a tua vontade'? [Mt 6,10]. Quantas vezes você as diz apenas com os lábios e não com o coração?

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

OS PAPAS DA IGREJA (XIII)



quinta-feira, 5 de junho de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LIII)

'Lembra-te de guardar os teus olhos e considera que os olhos mortificados possuirão as belezas do Céu' 

(Palavras do Anjo da Guarda a Santa Gemma Galgani)

Hoje, meu Deus, eu queria vos consagrar os meus olhos. Não estes olhos acostumados a ver apenas a pintura dourada de coisas sem vida ou  hipnotizados pelas imagens foscas e distorcidas de filmes ou da televisão. Eu consagro a Vós, neste dia, meus olhos concebidos para  contemplar as maravilhas do vosso amor, em cada um dos meus irmãos e em todas as obras da vossa criação. Que, no dia de hoje, o meu firme propósito seja o de fechar os meus olhos aos prazeres e imagens do mundo e torná-los, verdadeiramente, espelhos de minha alma destinada a ser reflexo cristalino da Luz que emana do vosso Amantíssimo Coração.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVI)

P. 35 - O que devemos dizer sobre os membros da Igreja de Cristo que abandonam a sua religião e renunciam à sua fé?

Como o próprio Deus deu uma resposta completa e clara a esta pergunta em três passagens diferentes das suas Sagradas Escrituras, seria presunção responder com outras palavras que não as suas. Primeiro, Ele diz, pela boca do seu santo apóstolo São Paulo: 'É impossível que aqueles que uma vez foram iluminados, provaram também o dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram, além disso, a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e aindaa ssim se afastaram, sejam renovados novamente em penitência, crucificando novamente para si mesmos o Filho de Deus e zombando dele. Porque a terra que bebe a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz ervas úteis para aqueles que a cultivam, recebe bênção de Deus; mas aquela que produz espinhos e sarças é rejeitada e está muito perto de uma maldição, cujo fim é ser queimada' (Hb 6,4). 

Sobre essa passagem, o falecido erudito e piedoso editor do Novo Testamento de Reims diz, na nota, 'que é impossível para aqueles que caíram após o batismo serem batizados novamente; e muito difícil para aqueles que apostataram da fé, depois de terem recebido muitas graças, retornarem novamente ao estado feliz do qual caíram'. Mais uma vez, 'se pecarmos voluntariamente', diz o mesmo santo apóstolo, 'depois de termos recebido o conhecimento da verdade, não resta nenhum sacrifício pelos pecados, mas uma certa expectativa terrível de julgamento e a fúria de um fogo que consumirá os adversários' (Hb 10,26). Sobre o que o mesmo autor erudito diz: 'Ele fala do pecado da apostasia voluntária da verdade conhecida; depois disso, como não podemos ser batizados novamente, não podemos esperar ter aquela remissão abundante dos pecados, que Cristo comprou com a sua morte, aplicada às nossas almas de maneira tão ampla como no batismo; mas temos, antes, todos os motivos para esperar um julgamento terrível; tanto mais porque os apóstatas da verdade conhecida raramente ou nunca têm a graça de voltar a ela'. 

Por fim, pela boca do santo apóstolo São Pedro, Deus declara assim o estado dessas pessoas: 'Pois, se, fugindo das contaminações do mundo, pelo conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, eles se envolvem novamente nelas e são vencidos, o seu estado posterior torna-se pior do que o anterior. Pois teria sido melhor para eles nunca terem conhecido o caminho da justiça do que, depois de o terem conhecido, se afastarem do santo mandamento que lhes foi entregue. Pois o verdadeiro provérbio aconteceu-lhes: O cão voltou ao seu vômito, e a porca lavada voltou a revolver-se na lama' (2Pd 2,20-22).

P. 36 - O senhor disse acima que só recentemente essa maneira descuidada de pensar e falar sobre a necessidade da verdadeira fé e de estar em comunhão com a Igreja de Cristo, que temos examinado, surgiu entre os membros da Igreja; essa mesma linguagem não era usada pelos cristãos em todas as épocas anteriores?

Longe disso; e esse é um dos maiores motivos para sua condenação. É uma novidade, é uma nova doutrina; era algo inédito desde o início; aliás, é diretamente oposto à doutrina uniforme de todas as grandes luzes da Igreja em todas as épocas anteriores. Esses homens grandes e santos, as testemunhas mais irrepreensíveis da fé cristã em seus dias, não conheciam outra linguagem sobre esse assunto além daquela que viram ser falada diante deles por Cristo e seus apóstolos; eles sabiam que seu Mestre Divino havia declarado: 'Aquele que não crer será condenado'; ouviram o seu apóstolo proclamar um terrível anátema contra qualquer um, mesmo que fosse um anjo do céu, que ousasse alterar o Evangelho que Ele havia pregado (cf Gl 1,8); ouviram-no afirmar em termos expressos que 'sem fé é impossível agradar a Deus' e mantiveram constantemente a mesma linguagem. E como não viam na Escritura o menor fundamento para pensar que aqueles que estavam fora da Igreja poderiam ser salvos por ignorância invencível, essa cogitação enganosa não aparece nem uma única vez em todos os seus escritos.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

OS PAPAS DA IGREJA (XII)

 


terça-feira, 3 de junho de 2025

ORAÇÃO PARA OS SETE DONS DO ESPÍRITO SANTO


Ó Senhor Jesus Cristo, que antes de ascender ao céu, prometestes enviar o Espírito Santo para completar a vossa obra nas almas de vossos Apóstolos e discípulos, dignai-vos conceder-me o mesmo Espírito Santo para que ele aperfeiçoe na minha alma o trabalho da vossa graça e do vosso amor. 

Concedei-me o Espírito de Sabedoria para que eu possa desprezar as coisas deste mundo que perecem e aspirar somente às coisas que são eternas.

Concedei-me o Espírito de Entendimento para iluminar minha mente com a luz da vossa verdade divina.

Concedei-me o Espírito de Conselho para que possa sempre escolher o caminho mais seguro para agradar a Deus e ganhar o Céu.

Concedei-me o Espírito de Fortaleza para que possa levar minha cruz convosco e vencer com coragem todos os obstáculos que se oponham à minha salvação.

Concedei-me o Espírito de Ciência para que possa conhecer a Deus e conhecer-me a mim mesmo e crescer perfeitamente na ciência dos santos.

Concedei-me o Espírito de Piedade para que possa ter o serviço de Deus como doce e amável.

Concedei-me o Espírito do Temor de Deus para encher-me de reverência a Deus e que possa temer desagradá-lo de qualquer modo. 

Marcai-me, amado Senhor, com o sinal de vossos verdadeiros discípulos e animai-me em todas as coisas com vosso Espírito. Amém.

Glória a Vós, Pai Eterno, que com o Vosso Filho único e o Espírito consolador, viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.

segunda-feira, 2 de junho de 2025

A ÚNICA CERTEZA DA MORTE


Certa ocasião, o filósofo grego Diógenes, famoso por sua maneira excêntrica, mexia numa pilha de caveiras quando o Rei Alexandre, o Grande, da Macedônia lhe perguntou o que procurava. Diógenes então respondeu: 'Procuro o crânio do seu pai, o Rei Filipe'. Tal resposta calou Alexandre pois, com isso, o filósofo estava a dizer que na morte todos somos iguais.


No enterro do Imperador Francisco José do Império Austro-Húngaro, ao se dirigir o féretro para o convento aonde o enterrariam, o cortejo encontrou ali as portas fechadas. Ao baterem à porta os que levavam os restos mortais do imperador, ouviram uma voz em resposta: 'Quem vem lá?' Ao que responderam: 'O Imperador da Áustria'." E ouviram em resposta: 'Não o conhecemos'. Seguiu-se outra batida à porta e a mesma pergunta: 'Quem vem lá?' - 'O rei da Hungria'. E novamente a resposta: 'Não o conhecemos'. Sucessivas tentativas de entrar no convento foram repelidas pelas diferentes respostas nomeando os inúmeros títulos do falecido diante a pergunta: 'Quem vem lá?', sempre com a mesma resposta: 'Não o conhecemos'. Até que finalmente, os de fora responderam: 'Um pobre mortal'. Diante desta resposta, as portas se abriram e o imperador pôde ser enterrado, para mostrar que títulos e honras humanas nada valem diante da morte e do julgamento de Deus, a não ser o bem ou o mal que cada um tenha praticado nessa vida.


OS PAPAS DA IGREJA (XI)

 


domingo, 1 de junho de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Por entre aclamações Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta!' (Sl 46)

Primeira Leitura (At 1,1-11) - Segunda Leitura (Ef 1,17-23) -  Evangelho (Lc 24,46-53)
 
  01/06/2025 - SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

A ASCENSÃO DO SENHOR


Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'e no seu nome (de Jesus) serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém' (Lc 24, 47). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória.

Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança como santos' (Ef 1, 18). E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai', levando consigo a nossa humanidade, tornando-nos participantes do seu mistério pascal e herdeiros de sua glória.

Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

sábado, 31 de maio de 2025

O DOGMA DO PURGATÓRIO (CII)

Capítulo CII

Meios de se Evitar o Purgatório - Santa Margarida maria e as Almas Sofredoras - As Consolações de Deus para com as Almas Caridosas

Entre as revelações de Nosso Senhor a Margarida Maria sobre o Purgatório, há uma delas que mostra como são particularmente severas as punições infligidas pelas faltas contra a caridade. 'Um dia' - relata Monsenhor Languet - 'Nosso Senhor mostrou à sua serva várias almas privadas da assistência da Santíssima Virgem e dos santos e até mesmo das visitas de seus anjos da guarda; isso era em castigo por sua falta de união com seus superiores e por certos mal-entendidos. Muitas dessas almas estavam destinadas a permanecer por muito tempo em chamas terríveis. A abençoada irmã reconheceu também muitas almas que haviam vivido na religião e que, por causa de sua falta de união e caridade com seus irmãos, foram privadas de seus sufrágios e não receberam nenhum alívio'.

Se é verdade que Deus castiga tão severamente aqueles que falharam na caridade, Ele será infinitamente misericordioso para com aqueles que praticaram essa virtude tão querida ao seu Coração. Mas, antes de tudo, Ele nos diz pela boca do seu Apóstolo, São Pedro, que tenhamos uma caridade mútua constante entre nós, pois a caridade cobre uma multidão de pecados (1Pd 4,8).

Ouçamos novamente Monsenhor Languet na Vida de Margarida Maria. É o caso da Madre Grefiber, diz ele, que, nas memórias que escreveu após a morte da abençoada irmã, atesta o seguinte fato. 'Não posso omitir a causa de certas circunstâncias particulares que manifestam a verdade de uma revelação feita nesta ocasião à serva de Deus. O pai de uma das noviças foi a causa disso. Este senhor havia falecido algum tempo antes e fora recomendado às orações da comunidade. A caridade da Irmã Margarida, então Mestra das Noviças, a levou a rezar mais especialmente por ele. Alguns dias depois, a noviça foi recomendá-lo às suas orações. 'Minha filha', disse sua santa mestra - 'fique perfeitamente tranquila; seu pai já está em condições de rezar por nós. Pergunte a sua mãe qual foi a ação mais generosa que seu pai realizou antes de morrer; essa ação lhe rendeu um julgamento favorável de Deus'.

'A ação a que ela se referia era desconhecida para a noviça; ninguém em Paray sabia das circunstâncias de uma morte que havia ocorrido tão longe daquela cidade. A noviça só viu sua mãe muito tempo depois, no dia de sua profissão. Ela então perguntou qual foi a ação cristã generosa que seu pai realizou antes de morrer. 'Quando o Santo Viático lhe foi levado' - respondeu sua mãe - 'o açougueiro juntou-se àqueles que acompanhavam o Santíssimo Sacramento e colocou-se em um canto da sala. O doente, ao percebê-lo, chamou-o pelo nome, disse-lhe para se aproximar e, apertando-lhe a mão com uma humildade incomum em pessoas de sua posição, pediu perdão por algumas palavras duras que lhe dirigira de vez em quando e desejou que todos os presentes fossem testemunhas da reparação que ele lhe fazia'. A irmã Margarida soube apenas por Deus o que havia acontecido, e a noviça soube, por isso, da verdade consoladora do que ela lhe havia dito a respeito do estado feliz de seu pai na outra vida. Acrescentemos que Deus, por meio dessa revelação, nos mostrou mais uma vez como a caridade cobre uma multidão de pecados e nos fará encontrar misericórdia no dia da justiça.

A bem-aventurada [santa] Margarida Maria recebeu de nosso Divino Senhor outra comunicação relativa à caridade. Ele lhe mostrou a alma de uma pessoa falecida que teve de sofrer apenas um leve castigo e lhe disse que, entre todas as boas obras que essa pessoa havia realizado no mundo, Ele havia levado em consideração especial certas humilhações a que ela se submetera no mundo, porque as havia sofrido com espírito de caridade, não apenas sem murmurar, mas mesmo sem sequer falar delas. Nosso Senhor acrescentou que, em recompensa, Ele lhe havia dado um julgamento brando e muito favorável.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

sexta-feira, 30 de maio de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (VI)

Theophanis Strelitzas ou Theophanes Bathas ou ainda Teófanes, o Cretense (1490? - 1559) foi um artista grego bizantino e um dos maiores pintores de ícones da chamada Escola Cretense de Pintura.

Os quinze ícones abaixo, pintados no Monastério de Stavronikita (localizado no Monte Athos, na Grécia e dedicado a São Nicolau), é um dos trabalhos finais de Teófanes e representa um ápice na história da iconografia eclesiástica. Os personagens são retratados como figuras altas e magras, com vestimentas simples e semblantes severos, distribuídos de forma harmônica e equilibrada nos ícones, que representam a sequência cronológica de eventos da vida pública de Jesus Cristo.