segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

PROPÓSITO PARA A PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO

 


'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44)

Fiquemos, pois, preparados! A preparação começa pelo anseio feliz pela vinda do Senhor e se completa em estarmos prontos para o receber como filhos de Deus.

Assim como Cristo entrou no mundo para salvar toda a humanidade, Ele precisa entrar no nosso coração para salvar a nossa alma! Para isso, temos de ser moradas da graça santificante e hóspedes da Santa Vontade de Deus, resistindo às tentações, às vicissitudes humanas e, principalmente, ao pecado. Precisamos estar preparados no amor às coisas de Deus e no horror ao pecado.

Quem esperamos é Jesus, o Rei dos reis, o Cordeiro Imolado, nosso Salvador e nosso Redentor, Aquele que nos legou as moradas eternas, abriu os Portões do Céu e que pagou um preço de Cruz pelos nossos pecados para que nos tornássemos dignos de sermos filhos de Deus. Quem esperamos é Jesus Cristo, Juiz da história humana, Juiz de cada alma em particular. Esperar Jesus é compartilhar com Ele, desde agora, o lugar preparado para nós na eternidade de Deus.

Peçamos a Maria, Nossa Senhora de todas as graças, aquela que se preparou como obra prima de Deus para receber Jesus, interceder por todos nós, para que, quando Jesus nos vier visitar, possamos estar preparados, com rins cingidos e velas na mão, para receber Jesus com toda alma e coração!

Que, nesta Primeira Semana do Advento, sejamos zelosos em limpar a casa, adornar a manjedoura, remover as manchas dos nossos pecados e perfumar com virtudes o nosso interior, pois, como nos disse o Senhor: 'Buscai primeiro o Reino de Deus' (Mt 6,33). E que, assim, possamos dizer com viva confiança e esperança: 'Vem, Senhor; Vem, meu Jesus, habitar em mim, porque estou preparado!'

domingo, 30 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Que alegria, quando me disseram: Vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (Is 2,1-5) - Segunda Leitura (Rm 13,11-14a) -  Evangelho (Mt 24,37-44)

  30/11/2025 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO

'FICAI ATENTOS AO SENHOR QUE VEM!' 


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período em que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Mateus.

E o novo ano litúrgico começa com Jesus exortando a vigilância aos filhos de Deus: 'Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor' (Mt 24,42). Do alto do Monte das Oliveiras e à vista de Jerusalém, Jesus vai alertar os seus discípulos sobre a necessidade de se permanecer vigilantes, na oração e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas. Vigilância que se impõe naqueles tempos, na vida futura da Igreja, nos remotos tempos da história: 'Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam, até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem' (Mt 24,38-39).

São palavras de salvação, porque a única coisa realmente importante para o homem é a salvação eterna de sua alma. Tudo o mais é efêmero e sem sentido. No fim dos tempos ou no fim de nossa vida, o Juízo Final ou o Juízo Particular vai nos pedir contas essencialmente da nossa vigilância filial à Santa Vontade de Deus, no cumprimento de nossas ações cristãs, no acervo das graças recebidas, na inquietude do coração humano ao encontro do Pai.

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma que nos foi legada um dia com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: 'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida e para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade.

sábado, 29 de novembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (61/64)

 

61. FILHOS PREFERIDOS

Os pais não deveriam esquecer-se desta regra de ouro: tratar todos os filhos por igual, sem distinções que denotem predileção ou antipatia. O seguinte exemplo é da Sagrada Escritura.

Jacó tinha doze filhos. O pai amava aos filhos, os filhos ao pai, e os irmãos amavam-se mutuamente. Mas José foi crescendo, e Jacó 'amava mais a José que a todos os outros filhos, porque era o filho de sua velhice'. A essa altura muda-se a cena. A paz converteu-se em discórdia, o amor em ódio, a fraternidade em inveja, o sangue em vingança. Faltou a paz na família, porque faltou a igualdade no pai. A igualdade fomentava o amor; a desigualdade de trato motivou a discórdia.

Em que consistia aquela desigualdade e qual a diferença de tratamento? Que é que fez Jacó? Porventura deserdou aos outros para que José fosse o único herdeiro? Nada disso! Porventura tratava aos demais como escravos e só a José como filho? Nada disso! Pois, então, que foi que perturbou aquela paz bendita? Somente isto: Jacó fizera para José uma túnica de cores mais lindas do que para os outros filhos. Esse foi o principio da discórdia.

Notai bem: Não despiu aos outros para vestir a José. A todos provia, a todos vestia. Mas a túnica de José, por suas variegadas cores, era mais vistosa, e isso bastou. Surgiu a discórdia ou, melhor, a inveja, e um dia aquela túnica se viu manchada de sangue. José estaria morto pelas mãos de seus próprios irmãos, se a Providência divina não tivesse disposto de outro modo.

62. A VAIDADE FEMININA

Santa Rosália, em seus verdes anos, passava diariamente muito tempo, horas a fio, diante do espelho a enfeitar-se. Um dia, vendo refletir-se no espelho um Crucifixo que estava suspenso na parede oposta, pôs-se a pensar no contraste entre as suas vaidades e as humilhações do Salvador, entre o seu corpo amimado e o de Jesus dilacerado pelos açoites e espinhos... 

Movida pela graça, deixou Rosália as vaidades e vãos adornos e, daí em diante, levou urna vida de abnegação e sacrifício, chegando a uma grande santidade.

63. O CURA D’ARS E AS AVES

São João Batista Vianney, o santo cura de Ars, ouvindo uma ocasião o lindo gorjeio dos pássaros, ergueu os olhos aos céus e exclamou suspirando:
➖ Pobres avezinhas! Fostes criadas para cantar, e cantais! O homem, que foi criado para amar a Deus, não o ama! Quanta dor!

64. AJOELHAR-SE COM OS DOIS JOELHOS

Há muitos homens que, durante os atos religiosos, não se ajoelham ou ajoelham-se com um só joelho. Estão bastante errados. Dizia Santo Agostinho que ajoelhar-se diante de Deus com os dois joelhos é confessar com um a nossa fraqueza para que nos perdoe as nossas quedas; e, com o outro, a nossa necessidade para que nos estenda a mão e nos levante.

São Jerônimo diz que, com um joelho, dobramos nosso entendimento que o reconhece por Deus, e com o outro a nossa vontade que amorosamente o abraça. Santo Ambrósio dizia que, com um, reconhecemos o nosso ser miserável e, com o outro, adoramos seu ser eterno.

Dobrar um só joelho - dizia Durando - é zombar da Divindade, escarnecer do Redentor e imitar os algozes que assim o adoravam por escárnio. Significa - dizia Reynaude - que manca é a nossa piedade e manca é a nossa religião e, por isso, estamos em perigo de cair por terra. Dobremos ambos os joelhos, mormente na igreja, pois assim devemos adorar a um Senhor que, por sua grandeza e seu amor para conosco, merece a adoração de todo o nosso ser.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE AMSTERDÃ - II

Em 24 de maio de 1452, a então já bastante desenvolvida cidade de Amsterdã foi praticamente devastada por um incêndio de grandes proporções, facilitado em larga escala pelas suas construções tipicamente de madeira com telhados de palha. O fogo destruiu não apenas moradias, mas também prédios públicos, igrejas e edifícios de maneira geral, causando enormes prejuízos e uma quase completa ruína da cidade. 

Quando o incêndio atingiu a capela construída no local do milagre eucarístico de 1345 (Nieuwezijds Kapel ou 'Capela da Cidade Nova'), muitos moradores tentaram salvar a Hóstia Milagrosa da destruição pelo fogo, sem êxito, devido à rápida propagação das chamas. Toda a igreja desabou e foi reduzida a cinzas. Mas um segundo milagre iria envolver a Hóstia Milagrosa, mais de 100 anos depois. No dia seguinte, em meio aos destroços do incêndio, o baú-relicário que continha a Hóstia foi encontrado completamente intacto, contra todas as expectativas possíveis. A hóstia havia sido preservada do fogo uma segunda vez.

(gravura da Nieuwezijds Kapel, datada de 1663)

A renovação extraordinária do Milagre Eucarístico de Amsterdã elevou a cidade a centro de peregrinação religiosa de toda a Europa a partir de então e uma nova capela foi construída no local, substituindo a capela original. Durante o século XVI, porém, Amsterdã passou pela Reforma Protestante e, como consequência, muitas igrejas foram profanadas e muitos símbolos católicos foram roubados e destruídos, incluindo a própria Hóstia Milagrosa, furtada e nunca mais recuperada. Em 1578, a Nieuwezijds Kapel foi confiscada pelo governo protestante e o culto católico foi proibido. A capela foi readaptada para diferentes fins ao longo dos tempos, sendo completamente demolida em 1908.

(baú-relicário da Hóstia Milagrosa)

Os únicos objetos remanescentes do segundo milagre são o baú-relicário que continha a Sagrada Hóstia e documentos oficiais que atestam o milagre. Ainda hoje e todos os anos, a comunidade católica refaz a procissão solene em honra do milagre (a chamada Stille Omgang ou Procissão Silenciosa) que percorre em silêncio o mesmo trajeto original da procissão medieval, na véspera do Domingo de Ramos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE AMSTERDÃ - I


Amstelredam (Amsterdã) surgiu a partir de uma barragem construída no século XIII na foz do rio Amstel. O milagre eucarístico de Amsterdã ocorreu em 13 de março de 1345, quando a atual capital da Holanda não passava ainda de uma vila simplória conformada por um canal que contornava umas poucas ruas, casas e becos, alinhadas com cabanas de pescadores, uma igreja e um mosteiro. Numa casa simples às margens do canal, um pescador chamado Ysbrant Dommer, em seu leito de morte, fez chamar um sacerdote para receber os últimos sacramentos da Igreja. Após ouvir a confissão do homem, o padre o abençoou com os óleos da Extrema Unção e lhe deu a Comunhão.

Assim que o padre se foi, o pobre homem começou a tossir violentamente e, incapaz de qualquer contenção, acabou por vomitar a Hóstia recebida com todo o alimento do estômago. A Hóstia vomitada e ainda intacta foi lançada então em uma lareira acesa, desaparecendo em meio às chamas intensas, de acordo com o rito litúrgico medieval de se tratar a Eucaristia quando esta era expelida ou impossibilitada de ser consumida reverentemente.

No dia seguinte, porém, revolvendo-se as brasas e cinzas do fogo anterior, a Hóstia foi encontrada ainda perfeitamente intacta, sem quaisquer sinais de queima ou mudanças de forma ou de cor, mas tão somente branca, clara e brilhante como saída das mãos do sacerdote da comunhão. A Hóstia foi então recolhida cuidadosamente com um pano limpo e guardada em uma pequena arca, dando-se ciência então dos fatos ao sacerdote do dia anterior. Pedindo discrição a todos, o padre levou a Hóstia para a igreja paroquial de São Nicolau, colocando-a num píxide guardado no sacrário. Por espantoso que pareça, no dia seguinte, a Hóstia desapareceu do sacrário e foi reencontrada na pequena arca onde havia sido guardada originalmente. Levada novamente à Igreja, repetiu-se pela segunda vez o seu reaparecimento no local original onde fôra guardada.


A terceira vez que a Hóstia foi levada à igreja local ocorreu em meio a uma solene procissão e adoração eucarística, depois de ampla divulgação pública destes extraodinários eventos. As investigações oficiais, com amplo relato de testemunhas, foram conduzidas e atestadas pelo Bispo de Utrecht. Em carta pastoral, o bispo ratificou oficialmente como autêntico o milagre eucarístico ocorrido na pequena vila de Amsterdã, autorizando em seguida a exposição e a veneração pública da Hóstia. A casa do pescador - que recuperou a saúde - tornou-se local de peregrinação e, mais tarde, em 1347, foi transformada em capela (Heilige Stede ou 'Lugar Santo').

Com o grande afluxo de peregrinos, decidiu-se erguer um templo maior em local próximo, chamado Nieuwezijds Kapel (em tradução livre, Capela da Cidade Nova), construído entre 1347 e 1351, no então bairro do chamado 'lado novo' de Amsterdã, que passou a guardar a Hóstia Milagrosa em um baú-relicário, convertendo-se, assim, no santuário oficial do Milagre Eucarístico de Amsterdã. Deste modo, antes de Amsterdã ser conhecida internacionalmente como porto e cidade comercial, ela tornou-se um famoso local de peregrinação na Idade Média, graças a este milagre eucarístico.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

ANO LITÚRGICO 2025 - 2026

Ano Litúrgico 2025-2026, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (30/11/2025) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (22/11/2026), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Mateus, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (11/01/2026) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (18/02/2026), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (24/05/2026) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (29/11/2026), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (IX)

Blaise Pascal (1623-1662) foi um matemático, físico, filósofo e inventor católico, com contribuições relevantes na geometria, mecânica dos fluidos, acústica, teoria das probabilidades, filosofia, teologia e no desenvolvimento do método científico. Em honra a tantas e relevantes contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade de pressão no Sistema Internacional de Unidades, como lei física (princípio geral da hidrostática), ao triângulo de Pascal e à famosa Aposta de Pascal, argumento filosófico formulado na sua obra Pensées (Pensamentos) que, embora não tenta provar que Deus existe, mostra que crer em Deus seria a escolha mais racional, considerando risco e benefício (como uma tomada de decisão baseada no critério da incerteza).

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

Há três virtudes que aperfeiçoam a pessoa devota no que diz respeito ao controle dos seus próprios sentidos. Estas são: a modéstia, a continência e a castidade. Em virtude da modéstia, a pessoa devota governa todos os seus atos exteriores. Com razão, São Paulo recomendou esta virtude a todos e declarou como é necessária e como se isso não bastasse, ele considera que esta virtude deveria ser óbvia para todos. Pela continência, a alma exercita a retenção de todos os sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Pela castidade, uma virtude que enobrece a nossa natureza e faz com que seja semelhante à dos Anjos, nós suprimimos a nossa sensualidade e a afastamos dos prazeres proibidos. Este é o retrato magnífico da perfeição cristã. Feliz aquele que possui todas estas belas virtudes, todas elas frutos do Espírito Santo que habita dentro dele. Essa alma não tem nada a temer e vai brilhar no mundo como o sol no céu.

(São Pio de Pietrelcina)

domingo, 23 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

Primeira Leitura (2Sm 5,1-3) - Segunda Leitura (Cl 1,12-20) -  Evangelho (Lc 23,35-43)

  23/11/2025 - SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

JESUS CRISTO - REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em conseqüência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. Como herdeiros de Cristo, elevemos ao Pai a súplica de salvação emanada pelas palavras do 'bom ladrão': 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado' (Lc 23, 42) e, neste propósito, supliquemos, tal como ele, nos tornarmos dignos também de compartilhar com Cristo Rei a glória da sua realeza eterna.

sábado, 22 de novembro de 2025

SÃO JOÃO BOSCO E O RAMALHETE DE VIRTUDES

Na noite em que estive em Lanzo, chegada a hora de repousar, aconteceu-me que tive o seguinte sonho. É um sonho que não tem nenhuma relação com outros sonhos...

[No sonho, São João Bosco deparou-se, em um lugar esplêndido e de suma beleza, diante de uma imensa multidão de jovens, muitos conhecidos deles dos tempos do Oratório, que caminhava em sua direção, tendo à frente São Domingos Sávio, travando-se então um intenso diálogo entre eles, parcialmente transcrito abaixo].

Sávio me apresentou um magnífico ramalhete que tinha nas mãos. Nele havia rosas, violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre-vivas e, entre as flores, espigas de trigo. Oferecendo-as me disse:
➖ Observa!
➖ Vejo, mas nada entendo - respondi.
➖ Dá este ramalhete a teus filhos para que possam oferecê-lo ao Senhor quando chegar o momento; procura que todos o tenham; a ninguém lhe falte nem o deixe tirar. Podes estar certo de que com ele terão o suficiente para ser felizes.
➖ Mas, que significa esse ramalhete de flores?
➖ Consulta a Teologia; ela te dirá e te dará a explicação.
➖ A Teologia, estudei-a eu, mas não saberia como tirar dela o significado do que me apresentas.
➖ Pois tens estrita obrigação de saber tudo isso.
➖ Vamos, tira-me da minha ansiedade, explica-me tu!
➖ Vês estas flores? Representam as virtudes que mais agradam ao Senhor.
➖ Quais são?
➖A rosa é símbolo da caridade; a violeta, da humildade; o girassol, da obediência; a genciana, da penitência e da mortificação; as espigas, da comunhão freqüente; o lírio indica a bela virtude da qual está escrito: Erunt sicut Angeli Dei in caelo, a castidade. E a sempre-viva significa que todas essas virtudes devem durar sempre, ela simboliza a perseverança.

➖ Ora bem, meu caro Sávio: tu, que durante toda a tua vida praticaste todas essas virtudes, diz-me: o que foi que mais te consolou na hora da morte?
➖ Que te parece que possa ser? - respondeu Sávio.
➖ Foi talvez ter conservado a bela virtude da pureza?
➖ Não; não é só isso.
➖ Alegrou-te talvez teres a consciência tranquila?
➖ Isso é bom, porém não é o melhor.
➖ Por acaso teu consolo terá sido a esperança do Paraíso?
➖ Também não.
➖ Pois então! O haver entesourado muitas boas obras?
➖ Não, não!
➖ Então, qual foi teu consolo na última hora? - perguntei, entre confuso e suplicante, vendo que não conseguia adivinhar seu pensamento.
➖ O que mais me confortou no transe da morte foi a assistência da poderosa e amável Mãe do Salvador. Diz isto a teus filhos: que não se esqueçam de invocá-la emquanto estão em vida. 

Estendi então com ardor as mãos para segurar aquele santo filho; mas suas mãos pareciam aéreas e nada pude tocar.
➖ Que loucura! Que estás fazendo? - me disse Sávio sorrindo.
➖ Temo que te vás - exclamei. Mas, não estás aqui com teu corpo?
➖  Com o corpo, não. Recuperá-lo-ei no último dia.
➖ Mas, que são, então, esses traços que me fazem ver em ti a figura de Domingos Sávio?
➖Quando, por permissão divina, uma alma separada do corpo aparece diante de algum mortal, apresenta-se com a forma exterior do corpo que em vida animou, com todas as suas feições exteriores, embora muito embelezadas, e assim as conserva até que volte a unir-se a ele, no dia do Juízo Universal. Então o levará consigo para o Paraíso. É por isso que te parece que tenho mãos, pés e cabeça; mas tu não podes segurar-me porque sou puro espírito. Esta é só uma forma exterior pela qual me podes conhecer.

➖Compreendo - respondi - mas escuta. Ainda uma pergunta? Meus jovens estão todos no reto caminho da salvação? Diz-me alguma coisa para que possa bem dirigi-los.
➖ Os filhos que a Divina Providência te confiou podem ser divididos em três categorias. Vês estas três listas? Olha-as!

E me estendeu a primeira.

Olhei a primeira; encabeçava-a a palavra invuinerati [ilesos], que continha o nome daqueles aos quais o demônio não pôde ferir, e que não mancharam a inocência com culpa alguma. Eram em grande número e os vi todos. A muitos já conhecia, outros era a primeira vez que via, e certamente virão ao Oratório nos anos futuros. Caminhavam direitos por um caminho estreito, apesar de serem alvo de flechas, espadas e lanças que por todos os lados choviam sobre eles. Essas armas formavam como que uma sebe ao longo das duas bordas do caminho, e os combatiam e molestavam sem entretanto feri-los.

Então Sávio me deu a segunda lista, cujo título era vulnerati [feridos], ou seja, os que haviam estado na desgraça de Deus mas, uma vez postos em pé, haviam curado suas feridas arrependendo-se e confessando-se. Eram em maior número que os primeiros, e haviam sido feridos no sendeiro da vida pelos inimigos que os flanqueavam durante sua viagem. Li a lista e vi todos. Muitos iam curvados e desanimados.

Sávio tinha ainda na mão a terceira lista. Encabeçava-a a epígrafe: Lassati in via iniquitatis [caídos na via da iniquidade]. Nela estavam escritos os nomes dos que estavam na desgraça de Deus. Eu estava impaciente para conhecer o segredo, pelo que estendi a mão. Mas Sávio me disse com vivacidade:

➖ Não, espera um momento e ouve. Se abrires essa folha, dela sairá um tal mau cheiro que nem tu nem eu poderemos suportar. Os Anjos têm que se retirar com asco e horror, e o próprio Espírito Santo sente repugnância pela horrível hediondez do pecado.
➖ Mas como pode ser isso - observei - se Deus e os Anjos são impassíveis? Como podem sentir o mau cheiro da matéria?
➖ Quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se acercam aos espíritos celestiais; pelo contrário, quanto pior, mais desonesto e torpe é alguém, tanto mais se afasta de Deus e dos Anjos, os quais, por sua vez, se afastam dele, que se converteu num objeto de náusea e repugnância.

Passou-me então a terceira lista.

Toma-a - disse - abre-a e aproveita-te dela para o bem de teus jovens; mas não te esqueças do ramalhete que te dei; que todos o tenham e conservem. Isto dito, e depois de entregar-me a lista, retirou-se apressadamente, em meio de seus companheiros, quase como se estivesse fugindo de algo.

Abri então a lista; não vi nenhum nome, mas no mesmo instante me foram apresentados de chofre todos os indivíduos nela escritos, como se na realidade eu visse suas pessoas. Com quanta tristeza os contemplei a todos! A maior parte eu conhecia e pertencem ao Oratório e aos outros colégios. Vi muitos que parecem bons, que parecem até os melhores dentre os companheiros, e sem embargo não o são!

Mas, no ato de abrir a folha, espalhou-se em redor um mau cheiro tão insuportável, que imediatamente me vi assaltado por terrível dor de cabeça e por tais ânsias de vômito que me parecia estar morrendo. Obscureceu-se entretanto o ar, e nisso desapareceu a visão, nada mais eu vendo do maravilhoso espetáculo. Ao mesmo tempo ziguezagueou um raio e ressoou um trovão no espaço, tão forte e terrível que acordei sobressaltado.

(Dos Sonhos de Dom Bosco)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

CARTAS DO CLAUSTRO



Madre Maria José de Jesus nasceu em 1882, sob o nome de batismo de Honorina de Abreu, sendo a filha primogênita do historiador Capistrano de Abreu. Perdeu a mãe aos 9 anos. Em janeiro de 1911, aos 29 anos de idade, decidiu afastar-se da vida mundana para assumir a rigorosa vida monástica no Convento de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde viveu por 48 anos, até a sua morte, em 1959.

Madre Maria José de Jesus falava sete idiomas, entre eles o latim. Traduziu para o português as obras completas de Santa Teresa d'Ávila e a Imitação de Cristo de Tomás de Kempis. Foi priora do Carmelo de Santa Teresa por 27 anos, espaçados em 9 triênios, época em que liderou um importante processo de renovação dos costumes monásticos e fundação de novos conventos. Atualmente é considerada Serva de Deus pela Igreja Católica em vista dos trâmites que buscam sua beatificação.

A opção religiosa promoveu um sensível desgosto e desaprovação no pai, de formação racionalista e agnóstico, como ele mesmo confidenciou ao amigo Mário de Alenear, em carta datada de 18 de janeiro de 1911:

Acho porém o caso dela pior que a morte: a morte é fatal; chega a hora inadiável; em resoluções como a de agora há sempre a crença, certamente errônea, de que o desenlace podia ser outro, e é isto que dói. Só agora vejo como a queria. Passo os dias sem sair, pensando nela, joguete dos sentimentos mais contraditórios, desde a indignação até as lágrimas. Só com os filhos, à hora do jantar, converso sobre ela. O receio de que qualquer estranho se possa referir ao assunto dá-me arrepios... Mas basta de Honorina. Peço-lhe que nunca mais se refira a e te assunto, se eu em primeiro lugar não o abordar.

A correspondência constituía-se no único meio possível para uma comunicação entre pai e filha, pois Capistrano, contrário ao ingresso de Honorina na vida religiosa, mostrava-se irredutível em não mais retornar ao Convento de Santa Teresa. Nas cartas enviadas ao pai, Madre Maria José buscava confortá-lo pela dor sofrida com a separação imposta pelo claustro, assegurando-lhe ter alcançado a felicidade pessoal, como nesta carta de 10 de janeiro de 1925:

Ah, meu pai, o amor paterno é essencialmente desinteressado, por isso não lamente a dor que lhe causei, porque foi a minha felicidade neste mundo e espero que também no outro. Seu sacrifício foi bem recompensado ... Creia, meu bom pai, que me sinto tão feliz na vida religiosa que constantemente estou dizendo comigo mesma: se eu, em vez de ser uma, fosse mil, não deixaria um só dos meus eus no mundo, consagraria todos a Deus; e o mesmo digo se fosse milhões e milhões, quer de mulheres, quer de homens, e ainda que tivesse segura a salvação eterna, fosse qual fosse o estado que abraçasse. Veja, meu querido pai, que sua filha está contente, e fique também contente, pois a felicidade dos filhos é a felicidade dos pais.

Mas é a conversão do pai à fé católica que vai mover Honorina em orações, devoções e pedidos diretos feitos ao pai, por meio de cartas sucessivas e recorrentes ao tema em 1913, 1914, 1917, 1919, 1923, 1924, 1925 (foram 4 cartas abordando o assunto), 1926 e 1927 (mais duas cartas).

Meu Pai tenho duas coisas a pedir-lhe, ambas espirituais. A primeira é que se aliste na Confraria de Nossa Senhora das Vitórias, que há no Colégio dos Jesuítas. O Pe. Semadini disse-me que eu o convidasse. As obrigações são só dar o nome e rezar uma Ave-Maria todos os dias. Ora, eu tenho confiança que por essa Ave-Maria, V. se venha a converter, como a tantos outros tem acontecido (11 de agosto de 2013)

Não há [nada] como a devoção a Nossa Senhora. Eu, enquanto não amei a esta boa mãe, vivi uma vida péssima, e, se não perdi minha alma, foi porque Nosso Senhor, em sua misericórdia, me conservou a vida; logo que a ela recorro, tudo o que me parecia impossível se me tornou fácil e suave, e eu não só pude viver como boa cristã, mas logo aspirei à perfeição da vida religiosa. Desde então sempre tenho amado a minha Mãe do Céu o mais possível. A Ela recorro em tudo, e Ela me tem valido sempre. Experimente, meu querido Pai, e verá como Maria se mostrará Mãe de Deus pela sua onipotência, e Mãe nossa pelo seu amor.

Eu conheci alguma coisa do que o mundo em sua inexperiência da verdadeira felicidade chama prazer, goro, alegria, e louvo infinitos milhões de vezes a Misericórdia Divina que em sua predileção gratuita para comigo não me deixou conhecer mais; entretanto, eu digo, mil vezes mais feliz fui chorando meus pecados com tanta dor, que o coração quase se me partia, do que nos concertos, nos teatros, nos passeios, nessas diversas vaidades que enleiam o espírito mas não lhe dão verdadeira felicidade [...] Quantas vezes me tem acontecido dormir apenas poucas horas durante a noite e de madrugada, quando o corpo mais precisado estava de descanso, ser despertada pela matraca e pular da cama logo com grande alegria, feliz de começar o dia com sacrifício. Como é feliz nossa vida toda de sacrifício, de silêncio, de oração! Não me canso de louvar a Deus que tão misericordiosamente me escolheu para tanto bem, e peço à Sua Divina Majestade que algum dia toda a minha família partilhe a mesma felicidade de conhecer, amar e servir a Deus (23 de outubro de 1917)

Não fique aborrecido comigo e permita que lhe peça, meu bom Pai, que ao menos reze todos os dias, de manhã e de noite, uma Ave-Maria encomendando a Nossa Senhora a hora de sua morte (24 de fevereiro de 1925).

Capistrano de Abreu morreu em 13 de agosto de 1927, no Rio de Janeiro, sem ter-se convertido à fé católica, a despeito de todos os esforços e sacrifícios de Honorina em favor de sua conversão. Tamanhas divergências com o pai, deixaram Madre Maria José profundamente pesarosa, mas nem assim a religiosa arrefeceu em sua esperança. No mesmo dia em que o pai faleceu, Madre Maria José escreveu à sua irmã Matilde, indicando os fundamentos de seu consolo: 

Agora, vamos rezar muito por nosso Paizinho, não é, Matilde, na certeza de que Nosso Senhor não deixou de atender a tantos sacrifícios feitos por ele durante tantos anos e principalmente nestes últimos dias (13 de agosto de 1927). 

(com excertos do artigo 'Cartas do Claustro', de Virgínia Buarque, 2004)

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (VII)

    

PARTE II - O JUÍZO FINAL

II. Sobre a Ressurreição dos Mortos

O leitor talvez não leve muito a sério o que foi dito no capítulo anterior, porque nutre a esperança de não estar vivo durante esse período terrível. Mas o que estamos prestes a falar diz respeito a todos, seja quem for. Portanto, que se leia isso com atenção e com séria reflexão.

O primeiro evento que se seguirá ao fim do mundo é a ressurreição geral dos mortos. Todos os homens, sejam eles quem forem, e onde quer que tenham vivido, sem excluir os bebês cuja existência foi apenas um breve momento, ressuscitarão. Com o som solene de uma trombeta, Deus fará com que todos os homens sejam convocados para o Juízo Final. A respeito disso, Cristo disse: 'Ele enviará os seus anjos com trombeta e grande voz, e eles reunirão os seus eleitos dos quatro cantos, desde a extremidade do céu até os confins da terra' (Mt 24,31). E São Paulo nos diz: 'Todos ressuscitaremos, mas nem todos seremos transformados. Num momento, num piscar de olhos, ao som da última trombeta; pois a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis: e nós seremos transformados' (1Cor 15,51-52).

Após a grande conflagração, Deus enviará os seus anjos, que tocarão suas trombetas com um som tão poderoso que ecoará por todo o mundo. O som dessa trombeta será tão solene que fará a terra tremer. Sua voz poderosa despertará os mortos, chamando-os: 'Levantai-vos, ó mortos, e vinde ao julgamento! Levantai-vos, ó mortos, e vinde ao julgamento! Levantai-vos, ó mortos, e vinde ao julgamento!' Alto, contínuo e solene será o som dessa trombeta.

Quão aterrorizados ficarão todos os espíritos malignos e as almas perdidas quando ouvirem esse chamado! Eles uivarão e lamentarão, pois a hora fatal finalmente chegou, a hora que eles esperavam há tanto tempo e com um medo indescritível. Haverá tanta comoção no inferno, tanta raiva, fúria e terror, que se poderia imaginar que os demônios estivessem se despedaçando uns aos outros. 'Ai, ai!' - gritarão em seu desespero -  'Como poderemos enfrentar o rosto de nosso Juiz irado? Como poderemos suportar a vergonha, a agonia que será a nossa parte? Se pudéssemos permanecer aqui, com que alegria o faríamos, por maiores que sejam os tormentos que agora temos de suportar!' Mas todos os seus desejos serão vãos, todas as suas lutas serão inúteis.

Eles não podem escolher, pois devem obedecer à voz da trombeta. A ressurreição geral começa enquanto seu som ainda ecoa por todo o globo. Não pare para perguntar como isso pode ser, pois sabemos que assim será, com base na autoridade irrefutável da onipotência de Deus e a sua palavra, que não pode enganar. Por mais tempo que o corpo de um homem tenha se transformado em pó, quaisquer que sejam as mudanças pelas quais tenha passado, cada parte e cada partícula se unirão para formar novamente o mesmo corpo que era dele durante sua vida. 'E o mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o inferno entregaram os mortos que neles havia' (Ap 20,13).

Considere esta verdade solene, ó cristão, pois ela lhe diz respeito diretamente. Tão certo quanto você está vivo agora, tão certo é que um dia você ressuscitará da sepultura. Coloque este momento terrível vividamente diante de você. Mesmo que você seja piedoso e termine seus dias na graça de Deus, ainda assim, de acordo com o testemunho da Sagrada Escritura e da Igreja Católica, o medo e o tremor se apoderarão de você. Considerando o quão inconcebivelmente rigoroso Deus será em seu julgamento dos homens, até mesmo os justos terão motivos para temer ao comparecerem diante do seu tribunal, como mostraremos a seguir. E se os homens bons e justos têm medo, qual será o medo que você, pobre pecador, sentirá quando a trombeta o chamar para o julgamento! Portanto, corrija seus caminhos e faça as pazes agora com seu Juiz severo, por meio de obras de penitência, enquanto ainda há tempo. Agora, para que te prepares para essa terrível hora da ressurreição, descreveremos primeiro a ressurreição dos bons e, em seguida, a dos réprobos.

Despertadas pelo som solene da trombeta, todas as almas dos justos descerão do Céu e, acompanhadas por seus Anjos da Guarda, se dirigirão ao local onde seus restos mortais foram enterrados. Os túmulos estarão abertos e neles os corpos serão vistos deitados, incorruptos, mas sem vida. O corpo de cada homem bom repousará no túmulo como se estivesse adormecido; estará florido como uma rosa, perfumado como um lírio, brilhante como uma estrela, belo como um anjo e perfeito em todos os seus membros. O que dirá a alma quando contemplar o corpo que lhe pertence deitado diante dela com tanta beleza? Ela dirá: 'Salve, corpo abençoado e amado, como me alegro mais uma vez por me reunir a ti! Como és adorável, como és glorioso, como és agradável, como és perfumado! Vem a mim, para que eu possa casar-me contigo por toda a eternidade'. Então, pelo poder de Deus, o corpo se reunirá à alma e, naquele mesmo instante, voltará à vida.

Ó meu Deus, qual será o espanto do corpo quando se encontrar vivo novamente e moldado em uma forma tão bela! A alma e o corpo se cumprimentarão com amor e se abraçarão com afeto e emoção sincera. A alma dirá assim ao corpo: 'Como eu ansiava por ti, como eu desejava ver este dia! Agora vou conduzi-lo às regiões da bem-aventurança celestial para que possamos nos regozijar juntos para sempre'. E o corpo responderá: 'Bem-vinda, querida alma; é realmente uma alegria sincera para mim estar com você novamente. Quanto maior foi a dor que nossa separação passada me causou, maior é o prazer que nossa reunião agora proporciona'.

Então a alma falará novamente e dirá ao corpo: 'Bendito sejas, meu companheiro escolhido, que me foste tão fiel. Benditos sejam teus sentidos e todos os teus membros, pois sempre se abstiveram do mal'. E o corpo responderá: 'Bendita sejas tu, ó alma querida, pois foi por tua instigação que assim fiz, e tu me incitaste a tudo o que era bom. É a ti que devo minha felicidade atual, portanto, eu te louvo e te engrandeço, e te louvarei e engrandecerei por toda a eternidade'. Assim, o corpo e a alma se regozijarão juntos com uma satisfação inexprimível.

Então, os santos anjos guardiões felicitarão esses seres abençoados e exultarão com eles por sua alegre ressurreição. Em todos os cemitérios e lugares onde muitas pessoas estão enterradas, os abençoados ressuscitarão primeiro com corpos glorificados resplandecentes. Que eles terão precedência sobre os outros pode ser deduzido das palavras de Cristo, quando Ele diz: 'Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus. E os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, mas os que fizeram o mal ressuscitarão para o juízo' (Jo 5, 28-29).

E como em todo cemitério há muitas pessoas para ressuscitar, e entre elas uma proporção considerável será boa e justa, imagine o prazer que será para elas se verem novamente, revestidas de corpos tão brilhantes e gloriosos. Que Deus permita que eu seja contado entre o número desses indivíduos felizes! Como eu lhe agradecerei de coração se Ele atender ao meu pedido!

A ressurreição dos ímpios seguirá imediatamente a dos justos; mas, como será diferente! Em todos os cemitérios, todas as almas perdidas cujos corpos foram enterrados ali se reunirão e serão obrigadas a assumi-los novamente e a se reunir a eles. Mas quanta relutância, que repulsa elas sentirão ao fazer isso! Quando a alma vir seu próprio corpo, ela recuará com a maior repulsa, tão hediondo ele será, e sentirá que prefere ir direto para o inferno a se unir novamente a ele. Pois os corpos dos réprobos se assemelharão mais a demônios do que a homens, tão assustadores, tão repugnantes, tão ofensivos serão. No entanto, por mais que a alma resista e se oponha à reunião com seu corpo, agora tão hediondo, ela deve se submeter a isso, pois Deus a obriga a isso.

Quem pode descrever o desespero que toma conta do corpo quando, reanimado pelo retorno da alma, ele desperta para a consciência de que está perdido para sempre? Com um grito de raiva, ele exclamará: 'Ai de mim, ai de mim por toda a eternidade! Melhor teria sido para mim mil vezes nunca ter nascido, do que ter chegado a esta ressurreição de miséria!' Então a alma responderá: 'Corpo amaldiçoado, já tive de suportar durante várias centenas de anos os tormentos do Inferno, e agora devo regressar contigo ao fogo eterno. Tu és o culpado por toda esta infelicidade; dei-te bons conselhos, mas tu não os seguiste. Por isso, estás perdido para sempre. Ai de mim, alma infeliz que sou! Ai de mim, agora e para sempre! Tu foste o meio que me trouxe a esta miséria sem fim. Por isso, execro a hora em que vim morar contigo pela primeira vez'. E então o corpo responderá à alma desta maneira: 'Ó alma amaldiçoada, que direito tens de me anatematizar, quando tu mesma és a causa de toda essa miséria? Tu deverias ter me governado com mais firmeza e me impedido de praticar o mal, pois foi com esse objetivo que Deus te uniu a mim. Em vez de te associares a mim em obras de penitência, tu te deleitavas comigo em prazeres pecaminosos. Cabe a mim, portanto, amaldiçoar-te por toda a eternidade, porque foste tu quem nos levou a ambos à perdição eterna'. Assim, a alma e o corpo se amaldiçoarão mutuamente. Tais são as circunstâncias infelizes que acompanharão a ressurreição dos corpos dos condenados em todos os cemitérios e sepulcros, quando eles deixarem a sepultura e entrarem em uma segunda vida.

E agora, leitor, tente imaginar a vergonha e a confusão que pesarão sobre essas pobres criaturas quando se virem novamente pela primeira vez. Maridos e esposas se encontrarão, irmãos e irmãs, pais e filhos, amigos e conhecidos; aqueles que viveram na mesma cidade ou na mesma aldeia e se conheceram desde a infância. Sua vergonha será tão avassaladora que preferirão suportar qualquer tortura física a serem expostos a ela. E seus corpos serão tão horrivelmente feios, tão repugnantes na aparência, que eles estremecerão ao se verem. Quem pode descrever o luto e o lamento que prevalecerão entre essas criaturas infelizes! Sua miséria é realmente indescritível.

Pense, quem quer que seja que leia ou ouça isto, que desespero terrível tomaria conta de você se estivesse entre essas almas perdidas. Em que tom lamentável você choraria com eles seu destino infeliz. 'Ai de nós! O que fizemos? Ai de nós, os mais miseráveis; quem dera nunca tivéssemos nascido! Maldita seja você, minha esposa, que me provocou ao pecado! Malditos sejam vocês, meus filhos, que são a causa da minha condenação! Malditos sejam vocês, meus amigos e conhecidos, pois vocês foram a causa desta calamidade que se abateu sobre mim! Malditos sejam para sempre todos aqueles que foram parceiros da minha vida e parceiros do meu pecado!'

Pense nisso, ó pecador, e deixe seu coração endurecido se abrandar. Sempre que passares pelo cemitério do lugar onde vives, lembra-te de que talvez em breve sejas colocado ali para descansar na sepultura até à ressurreição geral. Por isso, faz bom uso do breve período da vida, para que sejas contado entre os justos e ressuscites com eles para a felicidade eterna, e não com os réprobos para os tormentos eternos. Reze frequentemente assim em seu coração: 'Ó meu Jesus, pela vossa infinita misericórdia, eu vos imploro, pela vossa amarga Paixão e morte e pelo Juízo Final, no qual sereis o Juiz de todo o mundo, concedei-me a graça de viver de tal maneira que, na ressurreição, eu possa ressuscitar na vossa alegria e não na vergonha da perdição. Amém'.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (LXIV)

 

'Há dois meios bem eficazes de se ficar pobre: tomar o bem alheio, roubando o próximo e trabalhar aos domingos, roubando a Deus' 

(Cura D'Ars)

Santificar os domingos e festas de guarda envolve também a cessação do trabalho e a busca pelo descanso e lazer suficientes para cultivar a vida familiar, cultural, social e religiosa. Os cristãos devem lembrar-se de seus irmãos que não podem descansar devido à pobreza ou miséria e praticar boas obras e serviços aos necessitados (Catecismo da Igreja Católica)

terça-feira, 18 de novembro de 2025

A FACE DIABÓLICA DA FALSA TOLERÂNCIA

Nada é mais óbvio do que isso: a espada da divisão dividiu o mundo inteiro em duas partes antagônicas e visceralmente opostas: bem e mal, virtude e pecado, Cristo e Anticristo. São dois exércitos imensos, dotados de armas poderosas e eficientes, marcados pelo confronto de inimigos mortais. Trata-se do triunfo de um diante do aniquilamenro do outro; há vida para quem vencer e morte para quem perder. Mas não há meio termo, pois não há a mínima possibilidade de coexistência de ambos: um proclama a Verdade e o outro quer o inferno de verdade.

Três coisas a ponderar. A primeira, mais óbvia do que a situação já tão óbvia, é que o Bem e a Verdade triunfarão - 'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará': as palavras de Nossa Senhora em Fátima ratificam as próprias palavras de Jesus: 'Edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18); a Igreja de Cristo é invencível e nenhum poder espiritual ou humano conseguirá destruí-la. O que será destruído é o mal, o aporte da iniquidade, os cultores do pecado e de todas as misérias humanas.

A segunda coisa a ponderar é que a subserviência e a ingenuidade de legiões em campo de batalha são equívocos terríveis e fatais. Não se recolhem espadas contra espadas desembainhadas. Não se removem escudos contra arcos retesados. Não se permite às tropas cair em sono pesado contra inimigos à espreita. O ecumenimo é uma farsa e uma insensatez tremenda. Conciliar com quem nos odeia mortalmente é fingir que o sol e as trevas podem ser irmãs siameses da mesma hora do dia. Não há 'nós' entre os habitantes da terra, movidos pela música suave e insípida de ideias comuns de um idílio religioso, político, social ou ambiental. Somos apenas e tão somente 'uns' e 'outros'.

A terceira coisa a ponderar é que, na guerra de fim de mundo em campo aberto que vivemos hoje, o exército do mal atua dos dois lados. E a matança maior é interna e ocorre nas flanges do primeiro exército, pelos infiltrados do exército inimigo. E a arma maior - a que mais mata - chama-se tolerância agindo com a mais extrema intolerância. Em nome de um novo conceito de liberdade, de democracia, de direitos humanos, da verborragia da mãe terra ou das mudanças climáticas, do globalismo à ideologia de gênero, e por mais algumas centenas de palavras ressignificadas de vazios, um exército clama pelo diálogo, pela paz, pela interação, pela fraternidade e fomenta, na semântica ensandecida da iniquidade, a guerra e a matança desenfreada da doutrina de Cristo. E ai de quem ousar impor-se contra a abominação de uma tolerância universal! A face diabólica desta falsa tolerância está exposta, nua e crua, diante de todos, em todos os lugares do mundo, basta olhar em volta. 

Jesus também disse: 'Onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração' (Mt 6,21). Que o tesouro dos homens de Cristo, hoje e sempre, seja o testemunho inabalável e perseverante da Verdade, sem trejeitos de ambiguidade e servilismos, sem a traça e a ferrugem, sem tolerância e afagos com os inimigos que nos podem matar a alma. A couraça, o escudo e a espada que moldam um soldado do exército de Cristo não se moldam por figurinos quaisquer, mas são armas poderosas de combate, do 'bom combate' da verdadeira santidade, forjadas num coração que ama a Deus acima de todas as coisas.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (57/60)

 

57. RECOMPENSA DA CARIDADE

Aquele jovem era muito virtuoso e sobretudo muito caridoso. Cheio de ilusões, andava a lutar com o pensamento de fazer-se religioso, o que o obrigaria a renunciar as riquezas e gozos do mundo. Parece que lhe faleciam as forças para tamanho sacrifício.

Uma noite, estando de caminho à igreja, chega-se a ele um pobre e pede-lhe uma esmola por amor de Deus. O jovem instintivamente mete a mão no bolso. Está vazio. Saíra de casa sem uma moeda sequer. Mas não hesita. Sem perda de tempo desata um cinturão de seda bordado de filigranas de prata, e entrega-o ao pobre. Este agradece o rico presente e continua o seu caminho. 

Chegando à igreja de Nossa Senhora, vai o jovem orar na Capela das Almas e qual não é o seu espanto ao ver o Cristo na cruz cingido com aquele cinturão de seda e filigranas de prata e sorrindo para ele! Desde aquele instante dissiparam-se-lhe as dúvidas sobre a vocação. Sai da igreja e vai seguro bater ao convento dos dominicanos, onde viveu tão santamente que mereceu o título de Beato Jordão de Saxônia.

Tudo que derdes ao pobre recebe-o Jesus Cristo. O Coração divino é medianeiro de vossas moedas. Elas serão o preço com que um dia comprareis o céu.

58. SIGAMOS A LUZ DA FÉ

Hoje vou contar-vos um caso maravilhoso. São Severino, apóstolo da Noruega, pregava a fé cristã entre aqueles povos idólatras. Poucos se convertiam.

Um dia, então, para confirmar a uns e converter a outros, convidou a todos, cristãos e idólatras, para uma assembleia na igreja. Cada um devia trazer uma vela. Quando os viu todos reunidos, com suas velas apagadas nas mãos, o santo bispo ajoelhou-se diante do altar e rezou em voz alta: 'Senhor e Deus verdadeiro, dignai-vos manifestar a estes fieis a luz do vosso conhecimento e fazei-lhes compreender como os que vos conhecem se diferenciam dos que nunca vos conheceram'. Ao terminar a oração, e no mesmo instante, acenderam-se por si mesmas as velas dos cristãos, continuando apagadas as dos idólatras. Esse prodígio converteu à fé cristã aquele povo.

E o prodígio renova-se diariamente. Os incrédulos, os hereges, os inimigos da Igreja passam por este mundo com suas velas apagadas. Demos graças a Deus pela luz da fé e sigamos o caminho que ela nos mostra.

59. O CRISTÃO PRECISA LUTAR

Cipião, o grande general romano, ganhara uma batalha. Descansava do fragor da luta à sombra de uma árvore no campo. Seus soldados rodeiam-no com veneração e carinho. Um deles mostra-lhe com orgulho seu escudo:
➖ Vede - disse ele - esta obra de arte em que o cinzel esculpiu figuras maravilhosas, sendo ao mesmo tempo tão forte que contra ele se partem, como frágeis canas, os dardos dos inimigos.
➖ Muito bonito e muito forte - comentou Cipião - porém, o soldado romano não há de por sua confiança só no escudo, mas principalmente em sua espada.

Grande verdade! Assim deve proceder, também, o soldado de Cristo. O cristão faz bem em defender-se com o escudo da confiança em Deus, mas empunhando sempre a espada da luta. Confiar e lutar! É o único meio de sair vitorioso.

60. O SANTO, A MONJA E AS RÃS

São João da Cruz, grande diretor de almas, estava a discorrer com certa freira sobre assuntos espirituais.
Aquela era urna monjinha leiga, humilde e simples, como se vê pela pergunta infantil que fez ao santo.
➖ Por que será, senhor padre que, quando eu passo perto do poço d’água da horta, as rãs que estão à beira mergulham depressa no poço?

O santo sorriu ao ouvir aquela pergunta tao ingênua e aproveitou a ocasião para dar à monjinha uma lição proveitosa.
➖ Olha, minha filha, as rãs mergulham no poço porque ali buscam sua defesa e segurança; ali não temem os inimigos. Tu podes aprender delas esta lição: quando vires que se aproxima uma criatura que pode te fazer mal, mergulha depressa em Deus e estarás segura e tranquila, pois ninguém poderá então fazer-te qualquer dano.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

domingo, 16 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará(Sl 97)

Primeira Leitura (Ml 3,19-20a) - Segunda Leitura (2Ts 3,7-12) -  Evangelho (Lc 21,5-19)

  16/11/2025 - TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

A IGREJA DO FIM DOS TEMPOS


Eis um dia singular daqueles tempos ditosos em que Cristo andou pela terra dos homens: Jesus, os apóstolos e outras tantas pessoas caminhavam juntos, sob a vista esplêndida do Templo de Jerusalém que, erigido por Salomão como obra prima das grandes realizações humanas, era então o centro de peregrinação religiosa de todo o povo judeu. Mesmo abundantes na graça, alguns daqueles eram ainda homens de pouca fé: admiravam o templo físico portentoso da criatura, mas não percebiam o Templo de Deus vivo diante deles no caminho poeirento ao Monte das Oliveiras.

Jesus, ciente desse naturalismo extremo, vai confundi-los: 'Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído' (Lc 21,6). Menos de quarenta anos depois, a terrível profecia de Jesus seria concretizada por completo. Mas aquelas pessoas, mesmo sob evidências tão claras, pensaram em termos dos fins dos tempos e Jesus, então, vai respondê-los, associando o acontecimento da destruição do Templo tão próxima com a consumação dos séculos, em tempos bem mais remotos: 'Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim' (Lc 8-9).

E Jesus val lhes falar não apenas dos sinais das guerras e das revoluções, mas também dos terremotos, das pestes, da fome, dos escândalos, de eventos extraordinários no céu. Mas todos estes serão apenas sinais precursores. Antes da grande tribulação, a Igreja e os filhos da Igreja serão caluniados, perseguidos e mortos: estes são os grandes sinais dos tempos do fim. A era das perseguições também deve ser a era dos mártires, a era das testemunhas fieis, dos herdeiros da graça, dos soldados de Cristo revestidos da armadura espiritual de São Paulo: 'Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé' (2 Tm 4,7).

Mas a Divina Providência vai interceder em favor do 'pequeno resto' porque, os perseverantes na fé e fieis a Cristo, que foram odiados por causa do seu nome, não perderão 'um só fio de cabelo da cabeça' (Lc 21, 18) pois Jesus assim o prometeu: 'É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!' (Lc 21, 19). A Igreja caluniada e perseguida, traída pelos seus próprios filhos, porque, muitas vezes, 'Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos' (Lc 21, 16), renascerá triunfante no embate final, pois nasceu de Cristo e, em Cristo, nasceu para a eternidade.