226. CUIDADO COM A ALMA
Conta um poeta latino, Horácio, que um jovem, levado pela loucura de gastar o seu patrimônio, dissolveu em vinagre uma pérola preciosíssima e bebeu-a de um trago (Hor., Sat. II, 3). Um movimento de indignação se apodera do leitor ao recordar tamanha falta de juízo daquele jovem. Mas, que dirão os anjos, quando veem os homens destruir a formosura de sua alma por um amargo prazer?
Um quadro do célebre pintor Rafael ou uma estátua de Miguel Ângelo são avaliadas a preços fabulosos, porque saíram das mãos de artistas famosos. E a nossa alma não saiu das mãos do Artista Supremo? Notai ainda que ela foi criada à semelhança de Deus; leva, pois, em si algo de sua beleza, de sua grandiosidade e da sabedoria de Deus.
227. VIVIA NUMA COLUNA
Um santo ermitão mandou levantar no deserto uma coluna muito alta e no topo da mesma viveu muitos anos. Ali no alto, elevado sobre a terra má e olhando para o céu sereno, repetia com frequência: 'Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo'.
Se todas as vezes que temos rezado o Glória o tivéssemos feito com o respeito daquele anacoreta, quantos méritos não teríamos acumulado para o céu! Quantos méritos se tivéssemos começado e terminado cada uma de nossas orações em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!
228. POR QUE OS PADRES NÃO SE CASAM
Íamos passando diante de uma igreja e um companheiro nosso manifestou desejo de conhecê-la. Como havia na fachada uma grande cruz, julgamos que se tratava de uma Igreja Católica. A um menino que estava ali perto, perguntei:
➖ Sabes onde está o pároco?
➖ Sim; o pastor é o meu pai, eu vou chamá-lo.
➖ Não; não é preciso incomodá-lo.
Eu tinha compreendido que se tratava de um templo protestante. Mas, por cortesia, tivemos de esperar, pois o menino foi correndo chamar o pai.
Passados alguns minutos, apareceu um certo homem que nos disse:
➖ Desculpai-nos, senhores; mas o pastor não pode vir. Tendo voltado há pouco para casa, encontrou a senhora dele adoentada. O menino, que foi chamá-lo para os senhores, saiu correndo em busca de um médico. Disse-me o pastor que despedisse, sem mais, todos os que desejassem falar-lhe. Pobre pastor! Que pena tenho dele! Uma filha está doente no hospital; um dos filhos está no manicômio e outro em um reformatório. O único filho que tem saúde é o menino que encontraste aqui.
Apenas saímos do templo, disse-me o meu companheiro, um advogado:
➖ Desculpai-me, senhor Padre, se vos digo sinceramente que as palavras desse sacristão me convenceram mais do que as vossas da conveniência do celibato do clero católico. Como poderia cuidar seriamente de seus paroquianos quem se achasse nas condições de um tal pobre pastor?
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)