Veio a enfermidade e o apóstolo sequioso de almas, sonhando arrebatar e conquistar muitos corações para Jesus Cristo, se vê reduzido a uma inação forçada, preso
entre as paredes de um quarto de enfermo, numa solidão, quase abandonado. Deus assim o quis! E quem pode
saber os desígnios da Providência? O Pe. Perreyve, que
havia experimentado essa provação difícil, escrevia a um amigo em idêntica situação: 'Meu caro, Deus neste momento
te faz uma pergunta estranha, pergunta que Ele sempre
repete às almas que O desejam servir multo:
Meu filho, consentes em ser absolutamente nada? - Sim, Senhor. Pois então, Pasce agnos meos... super multa te constituam... duc in altum.* Coragem, meu amigo, demos tudo o que Jesus pede. Esta é a
condição para a fecundidade de nosso apostolado e da felicidade no Céu, amém! Soframos, amém. Trabalhemos,
nada façamos, o silêncio, a palavra, a doença, a força, a
glória, a vergonha, a vida, a morte! Amém, amém, amém. Nosso Senhor às vezes se contenta só com a generosidade
do nosso coração e o sacrifício que fazemos.
A cruz pesada que nos oferece vale mais aos Seus Olhos
Divinos do que todos os prodígios do apostolado exterior.
Sacrificai, pois, ó apóstolos enfermos, sacrificai generosamente
a Nosso Senhor vossos planos e ideais. E'
mais precioso e mais rico o apostolado do sofrimento. E, por vossa generosidade, quantas almas não salvará Nosso Senhor? Ó na eternidade, somente na eternidade, veremos
quantas maravilhas operaram os apóstolos enfermos!
* Apascenta as minhas ovelhas...sobre muito te confiarei... Faze-te ao largo! (avança para as coisas do Alto)
05 DE DEZEMBRO
CRER SEM VER E COMPREENDER
Esmagada sob o peso das mais horrorosas tentações contra a fé, Soror Benigna, a confidente da Misericórdia Divina, ouviu a doce voz de Nosso Senhor: 'Coragem, minha esposa, coragem! Embora não O vejas, embora não O ouças, o teu Deus está sempre junto de ti. O sentimento, ainda que dê a certeza, diminui a fé. Retiro a consolação sensível à alma que quero exercitar perfeitamente na virtude da fé. E' preciso crer sem ver, crer sem compreender. Assim é que se sujeita a razão e se glorifica a Deus. Queres agradar a Deus? Não te meta a prescrutar os seus desígnios a teu respeito. Deixa que Ele te trate como melhor lhe apraz. Com um só ato da Sua Vontade, pode fazer, no espaço de um minuto, o que exigiria longos anos de trabalhos e esforços. Gostas muito de oração e isto é excelente: contudo, julgas talvez, que, rezando tanto tempo quanto desejas e costumas, satisfazes plenamente aos teus deveres? Vejo melhor e mais longe que tu, e assim é que, no fundo de teu coração, percebo um verme roedor. . . Por fora nada aparece, mas Eu descubro lá, bem no âmago, aquela complacência secreta, aquele orgulho refinado que se oculta sob as aparências da piedade e te leva a escolher certas práticas que, de ordinário, só servem para alimentar o teu amor próprio. Que faz então o Divino Esposo? Corta, retalha sem dó, sem compaixão, sem atender aos gemidos da pobre natureza ferida. Atiro para fora tudo que está gasto e corrompido para atalhar o mal e evitar maiores estragos e prejuízos'.
(Excertos da obra 'Breviário da Confiança', Mons. Ascânio Brandão, 1936)