quarta-feira, 23 de novembro de 2016

OS SOFRIMENTOS DO PURGATÓRIO (IV)


4º sofrimento — O Conhecimento dos seus Pecados

As almas no Purgatório veem as coisas de Deus diversamente de nós. Esclarecidas pela divina luz, compreendem elas o respeito, o amor, a obediência que Deus lhes merecia, e toda a felicidade, ingratidão e covardia dos pecados que cometeram. E essa fealdade e laxidão, sempre ante seus olhos, enchem-nas de tanta vergonha, que procuram, embora inutilmente, fugir das vistas de suas companheiras de tor­mento.

Essa ingratidão, sempre patente, opri­me-as de tantos remorsos, que seu coração se confrange a cada instante e sente a necessidade de sofrer para expiar tanta falta de amor. Podem comparar-se, diz um piedoso bispo, com um homem que, no meio de um calor insuportável, é envolto, comprimido, esmagado por um manto, cujo peso o ani­quila e que está como soldado a todos os seus membros.

E sob esse manto estão encerrados, como em sua morada natural, vermes que se nutrem da carne desse homem e o atormentam, mordendo-o, sem que possa expeli-los. E esse manto está roto, sujo, repugnan­te, e o infeliz é obrigado a estar com ele em presença do Ser mais santo e mais puro, que o vê e, vendo-o assim, há de experimentar um sentimento de repulsão. Que estado esse, que dor, que vergonha!

É o estado permanente, o sofrimento contínuo, a vergonha das almas do Pur­gatório à recordação de suas faltas e em presença dos anjos e do próprio Deus. A esta vergonha vem se unir o pensa­mento de que teriam podido facilmente evitar as faltas que as fazem sofrer!

Ah! dizem elas, se eu tivesse obedecido ao meu Deus naquela ocasião em que me custava tão pouco; se eu não lhe hou­vesse recusado um sacrifício que era bem leve! Se eu não proferisse aquela pala­vra que minha consciência reprovava; se eu não me tivesse descuidado de ganhar aquela indulgência tão fácil, não me veria como me vejo neste momento! Não sofreria o que sofro! Tardio arrependimento! As lágrimas não purificam mais, quando se tem deixado passar o tempo da misericórdia! Ó almas queridas, possam ao menos as vossas dores servir-nos de lição!

(Excertos da obra 'Mês das Almas do Purgatório', do Monsenhor José Basílio Pereira, 1943)


Oração pelas Almas do Purgatório

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Senhor, preparai e fortalecei nossos corações com a abundância de vossa graça, a fim de que, penetrando, em espírito de fé, caridade e compaixão, nas tristes prisões do Purgatório, possamos levar aos fieis que nele sofrem os tesouros de su­frágios que dão alívio aos seus padecimentos, glória à vossa divina Majestade, con­solação e paz às nossas almas.

V. Vinde, Senhor, em meu auxílio.
R. Deus, acudi em meu socorro.
V. Dai às almas o repouso, Senhor.
R. E da luz eterna o esplendor.
V. Descansem em paz.
R. Amém.

Ó Jesus, abandonado de todos e até de vossos apóstolos no Jardim de Getsêmani, dignai-vos lançar os olhos de misericórdia sobre as almas do Purgatório, em particular sobre as que não recebem orações nem consolações e que, pelo decurso do tempo ou efeito de irreligiosidade e negligência, estão esquecidas; fazei que participem das orações, santos sacrifícios, boas obras, cujo mérito não pôde ser aplicado àqueles por quem a Igreja os oferta. Ah! Senhor, não terei eu abandonado, em um criminoso esquecimento, almas que tenham jus ao meu reconhecimento, sejam de parentes, de amigos ou de benfeitores? 

Quero de ora em diante reparar tão grande ingratidão. Se conhecesse algum meio eficaz, por mais penoso que me fosse, empregá-lo-ia para aliviar essas pobres almas sem proteção no meio de um oceano de sofrimentos. Entretanto, eu me proponho fazer todos os sacrifícios que puder, e todo bem que fizer ofereço-vos à vossa glória pelas almas do Purgatório. Em consideração de nossa fé e esperança em vós, em consideração, principalmente, da agonia mortal e cruel abandono que sofrestes: dignai-vos, ó Jesus, remir-lhes as penas que ainda têm de sofrer, a fim de que pos­sam ter livre entrada no reino eterno a que aspiram e onde celebrarão a grandeza ine­fável de um Deus que não desampara ninguém. Amém.