sábado, 26 de fevereiro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXVI)

Capítulo XXVI

Duração do Purgatório - Venerável Catarina Paluzzi e a Irmã Bernardina - Irmãos Finetti e Rudolfini - São Pedro Claver e os Casos de Duas Almas

Citemos alguns outros exemplos que servirão para nos convencer ainda mais de quão longa é a duração dos sofrimentos do Purgatório. Veremos que a Justiça Divina é relativamente severa para com as almas chamadas à perfeição e que receberam muitas graças. Não diz Jesus Cristo no Evangelho: 'a quem muito é dado, muito será exigido; e que mais será pedido daquele a quem mais foi confiado?' (Lc 12,48).

Lemos na Vida da Venerável Catarina Paluzzi que uma santa religiosa, que morreu em seus braços, só foi admitida à beatitude eterna depois de passar um ano inteiro no Purgatório. Catarina Paluzzi levou uma vida santa na diocese de Nepi, na Itália, onde fundou um convento de dominicanos. Vivia com ela uma religiosa chamada Bernardina, também muito avançada nos caminhos da vida espiritual. Estas duas santas imitaram-se com fervor e ajudaram-se mutuamente a progredir cada vez mais na perfeição a que Deus as chamou.

O biógrafo da Venerável Catarina as compara a duas brasas vivas que comunicam calor entre si e a duas harpas afinadas que se harmonizaram em um hino perpétuo de amor à maior glória de Deus. Bernardina morreu depois de uma doença dolorosa, que suportou com paciência cristã. Quando estava prestes a expirar, ela disse a Catarina que não a esqueceria diante de Deus e que, se Deus assim o permitisse, voltaria a conversar com ela sobre assuntos espirituais que contribuíssem para a sua santificação.

Catarina orou muito pela alma da irmã religiosa e, ao mesmo tempo, implorou a Deus que permitisse que a sua alma pudesse aparecer a ela. Um ano inteiro se passou e a falecida não retornou. Finalmente, no aniversário da morte de Bernardina, estando Catarina em oração, viu um poço de onde saíam volumes de fumaça e chamas; então ela percebeu saindo do poço uma forma cercada de nuvens escuras. Aos poucos, esses vapores foram se dispersando e a aparição tornou-se radiante com um brilho extraordinário. Nessa gloriosa personagem, Catarina reconheceu Bernardina e correu em sua direção. 'É você, minha querida irmã?' - disse ela. 'Mas de onde você vem? O que significam este poço e esta fumaça ardente? Somente hoje termina o seu purgatório?'. 'Você está certa' - respondeu a alma - 'há um ano estou detida neste lugar de expiação, e hoje, finalmente, poderei entrar no Céu. Quanto a ti, persevere em seus santos exercícios: continue sendo caridosa e misericordiosa e você obterá misericórdia'.

O seguinte incidente pertence à história da Companhia de Jesus. Dois escolásticos ou jovens religiosos daquele Instituto, os Irmãos Finetti e Rudolfini, prosseguiram os seus estudos no Colégio Romano, no final do século XVI. Ambos eram modelos de piedade e regularidade, e ambos também haviam recebido uma advertência do Céu, que divulgaram, segundo a Regra, ao seu diretor espiritual. Deus lhes dera a conhecer a proximidade da morte e os sofrimentos que os esperava no Purgatório. Um ali iria permanecer por dois anos; o outro, por quatro anos. Eles morreram, de fato, um após o outro. Seus irmãos na religião imediatamente ofereceram as orações mais fervorosas e todos os tipos de penitências pelo descanso de suas almas. Eles sabiam que se a santidade de Deus impõe longas expiações aos seus eleitos, elas também podem ser abreviadas e inteiramente remidas pelos sufrágios dos vivos. Se Deus é severo para com aqueles que receberam muitos conhecimentos e graças, por outro lado Ele é muito indulgente para com os pobres e simples, desde que estes o sirvam com sinceridade e paciência.

São Pedro Claver, da Companhia de Jesus, Apóstolo dos Negros de Cartagena, soube do Purgatório de duas almas, que levaram vidas pobres e humildes sobre a terra; seus sofrimentos foram reduzidos a algumas horas. Encontramos o seguinte relato na vida deste grande servo de Deus. Ele havia persuadido uma mulher virtuosa, chamada Ângela, a receber em sua casa outra mulher chamada Úrsula, que havia perdido o uso de seus membros e estava coberta de feridas. Um dia, quando foi visitá-los, como fazia de vez em quando, para ouvir as suas confissões e levar-lhes algumas provisões, a caridosa anfitriã lhe disse com pesar que Úrsula estava à beira da morte. 'Não, não' - respondeu o sacerdote, consolando-a - 'ela ainda tem quatro dias de vida e não morrerá até sábado'. Quando chegou o sábado, ele rezou a missa por sua intenção, e saiu para prepará-la para a morte. Depois de algum tempo em oração, disse à anfitriã com ar de confiança: 'Consola-te, Deus ama Úrsula; ela morrerá hoje, mas ficará apenas três horas no Purgatório. Que ela se lembre de mim quando estiver com Deus, para que possa orar por mim e por aquela que até agora foi sua mãe'. Ela morreu ao meio-dia, e o cumprimento de uma parte da profecia deu grande razão para acreditar no cumprimento da outra.

Numa outra ocasião, tendo ido ouvir a confissão de uma pobre doente que costumava visitar, soube que ela estava morta. Os pais estavam muito angustiados e ele ficou também inconsolável, porque não acreditava que ela estivesse tão perto de seu fim e com a ideia de não ter podido ajudá-la em seus últimos momentos. Ajoelhando-se para rezar ao lado do cadáver, levantou-se de repente e com um semblante sereno disse: 'Tal morte é mais digna de nossa inveja do que de nossas lágrimas; esta alma está condenada ao Purgatório, mas apenas por vinte e quatro horas. Procuremos encurtar este tempo pelo fervor de nossas orações'.

Já foi dito o suficiente sobre a duração dos sofrimentos. Vemos que eles podem ser prolongados a um grau terrível; mesmo os sofrimentos mais curtos, ao considerarmos a sua gravidade, são longos. Procuremos abreviá-los para os outros e mitigá-los para nós mesmos, ou melhor ainda, preveni-los completamente. Agora vamos preveni-los removendo as causas. Quais são as causas? Qual é o cerne das penas de expiação no Purgatório?

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)