terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

'EU MORREREI!'


Eu morrerei!

Deixarei tudo, sem exceção; deixarei meus pais, meus amigos, minha família; e eu lhes direi um adeus eterno. Deixarei minha casa, meus móveis, minha terra, tudo o que me pertence. Deixarei absolutamente tudo. E essas coisas das quais eu gosto mais? Eu as deixarei como todo o resto. Que abandono universal isso será enfim.

Ai de mim! Que loucura se apegar àquilo que se deve em breve deixar! Eu tive muito trabalho para adquirir ou conservar o que possuo; e tudo isso irá acabar! Por que não me separar de antemão para um completo despojamento?

Minha alma deixará meu corpo; e, portanto, o corpo será um objeto inoportuno, do qual meus próprios pais e meus amigos não procurarão senão de livrar, um cadáver infecto, capaz de tudo envenenar se não for enterrado no solo; e o enterrarão, então, e o que será desse corpo de que me ocupei tanto? O que será destes pés, destas mãos, desta cabeça? Que insensato sou, portanto, de embelezar e adornar aquilo que em breve não será mais do que podridão e cinzas! Que insensato eu sou de por em risco, por causa deste corpo e seus prazeres, a minha alma, a minha eternidade!

Então, pensarão muito em mim, entre os homens? Ai de mim! Nós pensamos tão pouco nos mortos! Quem se lembra agora de tal e tal pessoa que eu conhecia, que eu vi morrer! Oh! A estima dos homens é pouca coisa!

Eu morrerei!

Minha alma irá comparecer diante do tribunal de Deus! Ó momento temível! Encontrar-me sozinho na presença de Deus e responder por toda a minha vida diante de um Deus soberanamente justo, soberanamente iluminado, soberanamente inimigo do pecado!

Para escapar desse julgamento, eu não tenho senão um único caminho: julgar a mim mesmo severamente aqui nesta terra, e então eu não serei julgado [severamente].

(Pe. André-Jean-Marie Hamon  - 1795 / 1874)