sábado, 22 de junho de 2019

OS ESTIGMAS DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

O santo não temia a morte. Tinha cortado, pelo seu despojamento total, os vínculos que o ligavam à terra; tinha, a exemplo do Apóstolo, conquistado o domínio sobre o seu corpo: a sua alma devia desprender-se sem dilacerações do seu invólucro físico. Se não tremia perante a aproximação do momento fatal, queria pelo menos preparar-se para comparecer diante do Soberano Juiz. Partiu, pois, rumo à solidão, para se recolher por algum tempo.

Durante o verão de 1224, esteve no pequeno convento de Alverne. Era uma clausura rústica, construída precariamente no cimo de uma montanha escarpada. As grutas abertas nas rochas, os bosques povoados de pássaros e o afastamento dos centros habitados tornavam o sítio encantador e particularmente propício aos exercícios da contemplação.

O santo amava esta morada que outrora lhe tinha sido dada pelo Conde Orlando, senhor de Chiusi. Logo que chegou ao lugar do seu retiro, Francisco iniciou um jejum de 40 dias em honra de São Miguel. Consagrava o tempo à oração, que lhe propiciava delícias que nunca lhe pareceram tão saborosas.

Suplicou ao Senhor que lhe desse a conhecer as obras às quais deveria consagrar os últimos dias da vida. Como resposta, Deus cumulou-o com abundância de suavidades interiores. Então o santo recorreu ao seu procedimento habitual: abriu o Evangelho ao acaso, por diversas vezes, esperando encontrar ali uma indicação. Por diversas vezes caiu no relato da Paixão. Esta coincidência surpreendeu-o: concluiu que o Salvador queria uni-lo mais intimamente aos seus sofrimentos.

Os calores estivais declinavam; o Alverne já se revestia com os esplendores do outono. Debaixo das grandes árvores, cuja folhagem tornava-se dourada, Francisco pensava na adorável imolação de Cristo, quando subitamente lhe apareceu um serafim resplandecente de luz. O anjo aparentava uma semelhança admirável com o Salvador pregado no patíbulo.

O santo reconheceu estupefato os traços do divino Crucificado; a sua alma inflamou-se com amor tão ardente e tão doloroso, que o seu débil corpo não aguentou: caiu em profundo arrebatamento. Que aconteceu durante este êxtase? Os mistérios de amor não se divulgam: São Francisco guardou ciosamente este segredo. Confessou, no entanto, que recebera nessa altura revelações sublimes, mas nunca quis comunicá-las.

Quando a visão se desvaneceu, uma transformação tinha-se operado nele: na sua carne estavam gravados os sagrados estigmas da Paixão. Grandes feridas lhe rasgavam as mãos e os pés: nas cicatrizes percebiam-se nitidamente as cabeças negras dos pregos. Uma chaga mais larga abria o seu costado e deixava filtrar algumas gotas de sangue. Francisco tornara-se um crucificado vivo.

Um prodígio assim não podia passar inadvertidamente. Apesar de todos os esforços para afastar as curiosidades indiscretas, o santo não conseguiu esconder inteiramente os estigmas. O seu prestígio, já tão grande, aumentou ainda mais: a sua vida terminava numa espécie de apoteose. O serafim que imprimira no seu corpo as chagas de Cristo também as enterrara no seu coração. A partir daquele dia, Francisco não fez mais do que esmorecer lentamente no duplo martírio da dor e do amor.

Ainda percorria penosamente os caminhos da Úmbria, a pregar menos pela palavra do que pelo exemplo. Deixava, ao caminhar, irradiar da sua alma o imenso amor pelo divino Mestre; manifestava-o em termos tão veementes, que sentia por vezes a necessidade de se desculpar. 'Não fostes Vós que nos destes' – dizia ele ao Salvador – 'o exemplo desta sublime loucura? Vós vos lançastes à procura da ovelha desgarrada; caminhastes como um escravo, como um homem inebriado de amor'.

Para adornar a sua coroa, Deus mandava-lhe as últimas provações. O santo notava que alguns religiosos, embora poucos, desejavam restringir a pobreza da ordem: previa que os seus filhos atravessariam, depois da sua morte, uma crise perigosa. A esta tristeza, acrescentava-se o peso da doença. A saúde declinava, a vista apagava-se; os remédios mais fortes só lhe davam umas melhoras precárias.

São Francisco mantinha, apesar das dores, uma alegria apaziguadora. Mas o seu espírito desprendia-se cada vez mais das preocupações terrenas; o seu recolhimento tornava-se mais profundo. Os que estavam à sua volta percebiam a aproximação da hora da recompensa.

(Excertos da obra 'São Francisco de Assis', do Pe. Thomas de Saint-Laurent )

DA VIDA ESPIRITUAL (99)

Perguntas, filho, como é possível compreender que um Deus, de glória e realeza infinitas, possa ter compadecido de tal forma da humanidade a ponto de ter assumido, para salvá-la, a miserável condição humana? Eu te respondo com outras perguntas: Que Deus é esse que aceita ficar escondido num pedaço de Pão? Abandonado e isolado em tantos sacrários tão isolados e tão abandonados? Que Deus é esse que espera, com ternura e paciência infinitas, o nosso sim, o nosso amor, a nossa vontade prescrita pela Santa Vontade? Em vez de buscar respostas impossíveis, melhor que fazer perguntas é se perguntar: Como eu posso viver distante de um Deus assim, como uma flecha sem alvo, nauta sem rumo, alma sem destino, criatura sem Criador? Meu Deus, meu Deus, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, incriado e eterno, o que seria de mim se eu não fosse obra de Vossas mãos e se eu não for fruto de Vossa graça?

sexta-feira, 21 de junho de 2019

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA (VII)


Nesta sétima parte do sermão, o Pe. Antônio Vieira considera se a falta de ciência pelo pregador (ou a mera repetição de conhecimento alheio em sua pregação) constitui a causa principal da perda dos frutos valiosíssimos da Santa Palavra de Deus.

VII

Será porventura a falta de ciência que há em muitos pregadores? Muitos pregadores há que vivem do que não colheram e semeiam o que não trabalharam. Depois da sentença de Adão, a terra não costuma dar fruto, senão a quem come o seu pão com o suor do seu rosto. Boa razão parece também esta. O pregador há de pregar o seu, e não o alheio. Por isso diz Cristo que semeou o lavrador do Evangelho o trigo seu: semen suum [semente sua]. Semeou o seu e não o alheio porque o alheio e o furtado não são bons para semear, ainda que o furto seja de ciência. 

Comeu Eva o pomo da ciência e queixava-me eu antigamente desta nossa mãe; já que comeu o pomo, por que lhe não guardou as pevides? Não seria bem que chegasse a nós a árvore, já que nos chegaram os encargos dela? Pois por que não o fez assim Eva? Porque o pomo era furtado e o alheio é bom para comer, mas não é bom para semear: é bom para comer, porque dizem que é saboroso; não é bom para semear, porque não nasce. Alguém terá experimentado que o alheio lhe nasça em casa, mas esteja certo, que se nasce, não há de deitar raízes e o que não tem raízes não pode dar fruto. Eis aqui por que muitos pregadores não fazem fruto: porque pregam o alheio e não o seu: semen suum [semente sua]. O pregar é entrar em batalha com os vícios e armas alheias, ainda que sejam as de Aquiles, a ninguém deram vitória. Quando Davi saiu a campo com o gigante, ofereceu-lhe Saul as suas armas, mas ele não as quis aceitar. Com armas alheias ninguém pode vencer ainda que seja Davi. As armas de Saul só servem a Saul e as de Davi a Davi; e mais aproveita um cajado e uma funda própria que a espada e a lança alheias. Pregador que peleja com as armas alheias, não hajais medo que derrube gigante.

Fez Cristo aos Apóstolos pescadores de homens, o que foi ordená-los pregadores; e que faziam os Apóstolos? Diz o texto que estavam: reficientes retia sua - refazendo as redes suas; eram as redes dos Apóstolos e não eram alheias. Notai: retia sua [redes suas]. Não diz que eram suas porque as compraram, senão que eram suas porque as faziam; não eram suas porque lhes custaram o seu dinheiro, senão porque lhes custavam o seu trabalho. Desta maneira eram as redes suas e porque desta maneira eram suas, por isso eram redes de pescadores que haviam de pescar homens. Com redes alheias ou feitas por mão alheia, podem-se pescar peixes, homens não se podem pescar. A razão disto é porque nesta pesca de entendimentos só quem sabe fazer a rede sabe fazer o lanço. Como se faz uma rede? Do fio e do nó se compõe a malha; quem não enfia nem ata, como há de fazer rede? E quem não sabe enfiar nem sabe atar, como há de pescar homens? A rede tem chumbada que vai ao fundo e tem cortiça que nada em cima da água. A pregação tem umas coisas de mais peso e de mais fundo e tem outras mais superficiais e mais leves; e governar o leve e o pesado, só o sabe fazer quem faz a rede. Na boca de quem não faz a pregação, até o chumbo é cortiça.

As razões não hão de ser enxertadas, hão de ser nascidas. O pregar não é recitar. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão pegadas à memória e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento. Veio o Espírito Santo sobre os Apóstolos, e quando as línguas desciam do Céu, cuidava eu que se lhes haviam de por na boca; mas elas foram-se por na cabeça. Pois por que na cabeça e não na boca, que é o lugar da língua? Porque o que há de dizer o pregador, não lhe há de sair só da boca; há de lhe sair pela boca, mas da cabeça. O que sai só da boca pára nos ouvidos; o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento. 

Ainda tem mais mistério estas línguas do Espírito Santo. Diz o texto que não se puseram todas as línguas sobre todos os Apóstolos, senão cada uma sobre cada um: apparuerunt dispertitae linguae tanquam ignis, seditque supra singulos eorum [apareceram repartidas umas como línguas de fogo, que repousaram sobre cada um deles (At 2,3)]. E por que cada uma sobre cada um e não todas sobre todos? Porque não servem todas as línguas a todos, senão a cada um a sua. Uma língua só sobre Pedro, porque a língua de Pedro não serve a André; outra língua só sobre André, porque a língua de André não serve a Filipe; outra língua só sobre Filipe, porque a língua de Filipe não serve a Bartolomeu, e assim dos mais. E senão vede-o no estilo de cada um dos Apóstolos, sobre que desceu o Espírito Santo. 

Só de cinco temos escrituras; mas a diferença com que escreveram, como sabem os doutos, é admirável. As penas todas eram tiradas das asas daquela pomba divina; mas o estilo tão diverso, tão particular e tão próprio de cada um, que bem mostra que era seu. Mateus fácil, João misterioso, Pedro grave, Jacó forte, Tadeu sublime, e todos com tal valentia no dizer, que cada palavra era um trovão, cada cláusula um raio e cada razão um triunfo. Ajuntai a estes cinco São Lucas e São Marcos, que também ali estavam, e achareis o número daqueles sete trovões que ouviu São João no Apocalipse. Loquuti sunt septem tonitrua voces suas [os sete trovões ressoaram com as suas vozes (Ap 10,3)]. Eram trovões que falavam e desarticulavam as vozes, mas essas vozes eram suas: voces suas [vozes suas]: 'suas e não alheias' como notou Ansberto: non alienas, sed suas. Enfim, pregar o alheio é pregar o alheio e com o alheio nunca se fez coisa boa.

Contudo, eu não me firmo de todo nesta razão, porque do grande Batista sabemos que pregou o que tinha pregado Isaías, como notou São Lucas, e não com outro nome, senão de sermões: praedicans baptismum poenitentiae in remissionem peccatorum, sicut scriptum est in libro sermonun Isaiae prophetae [pregando o batismo de arrependimento para remissão dos pecados, conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías (Lc 3,3)]. Deixo (também como referência) o que tomou Santo Ambrósio de São Basílio, São Próspero e Beda de Santo Agostinho, Teofilato e Eutímio de São João Crisóstomo.

(Sermão da Sexagésima- Parte VII, Pe. Antônio Vieira)

quinta-feira, 20 de junho de 2019

CORPUS CHRISTI 2019


Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. Abaixo, duas orações particularmente associadas a esta festa litúrgica:

Anima Christi

Anima Christi, sanctifica me.
Corpus Christi, salva me.
Sanguis Christi, inebria me.
Aqua lateris Christi, lava me.
Passio Christi, conforta me.
O bone Iesu, exaudi me.
Intra tua vulnera absconde me.
Ne permittas me separari a te.
Ab hoste maligno defende me.
In hora mortis meæ voca me.
Et iube me venire ad te,
ut cum Sanctis tuis laudem te
in sæcula sæculorum. 
Amen.


Tantum Ergo
Tantum ergo Sacramentum 
Veneremur cernui:
Et antiquum documentum 
Novo cedat ritui: 
Praestet fides supplementum 
Sensuum defectui. 
Genitori, Genitoque 
Laus et iubilatio, 
Salus, honor, virtus quoque 
Sit et benedictio: 
Procedenti ab utroque 
Compar sit laudatio. 
Amen.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

INDULGÊNCIAS DO DIA DA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI


Amanhã, dia da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o católico pode ser contemplado com as seguintes indulgências:

(i) Indulgência parcial: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Alma de Cristo':

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossa chagas, escondei-me.
Não permitais que eu me separe de vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da morte chamai-me e
mandai-me ir para vós,
para que com vossos Santos vos louve
por todos os séculos dos séculos.
Amém. 

(ii) Indulgência plenária: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Tantum Ergo' ou 'Tão sublime Sacramento':

Tão sublime sacramento
vamos todos adorar,
pois um Novo testamento
vem o antigo suplantar!
Seja a fé nosso argumento
se o sentido nos faltar.
Ao eterno Pai cantemos
e a Jesus, o Salvador,
igual honra tributemos,
ao Espírito de amor.
Nossos hinos cantaremos,
chegue aos céus nosso louvor.
Amém.

Do céu lhes deste o pão,
Que contém todo o sabor.

Oremos: Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento, nos deixastes o memorial da vossa Paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso corpo e do vosso sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém.

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (XIV)


66. Como os fiéis viram o seu poder de intercessão? 

Numerosos escritores josefinos e santos defenderam o grande poder de intercessão de São José, justamente por reunir em si um tesouro de riquezas, concentrando os esplendores de todos os santos. O grande teólogo São Tomás de Aquino ensina que 'alguns santos receberam o privilégio de nos proteger em casos especiais; a São José, porém, foi conferido o encargo de nos socorrer em todas as necessidades'. Santa Tereza de Ávila diz que: 'no céu é feito tudo o que São José pede'. De fato, depois de Maria, São José ocupa o primeiro lugar no coração de Deus; assim, ninguém depois de Maria e do Salvador pode nos conceder mais graças que São José. Gerson diz que: 'No céu São José não pede, mas manda; não impetra, mas impera'. Afirmou Santa Tereza ser uma grande devota de São José: 'que nunca me lembro de haver pedido uma graça a São José sem que a tenha recebido imediatamente'. O fundador da Congregação dos Oblatos de São José, o Bem-Aventurado José Marello, confiava tanto no poder de intercessão de São José que afirmava: 'Se São José não concedesse graças, não seria mais São José'. Para Santa Tereza, as graças que São José concede são: a busca do perdão dos pecados, o amor a Jesus e Maria, uma vida interior e uma boa morte. É diante de tamanho poder de intercessão que o Papa Bento XV considerou que os devotos de São José têm o caminho mais breve para a santidade e Pio XI, grande devoto do pai de Jesus, afirmou que ele tem diante de Deus uma intercessão 'onipotente'. 

67. Se São José é intercessor, é também protetor? 

A devoção a São José teve um desenvolvimento surpreendente, culminando na sua proclamação como Patrono da Igreja Universal, com o decreto Quemadmodum Deus de Pio IX, em 08 de dezembro de 1870. Neste decreto, o papa afirma de José, como pai de Jesus, que Deus 'constituiu como senhor de sua casa e de suas propriedades, e como guarda de seus tesouros mais queridos. A Jesus ele abraçou-o com afeto paterno e nutriu-o com solicitude especialíssima'. O Papa Leão XIII em sua encíclica Quamquam Pluries, de 15 de agosto de 1889, explica o porquê do patrocínio de São José sobre toda a Igreja Católica com estas palavras: 'As causas e razões especiais pelas quais São José foi proclamado Patrono da Igreja e em virtude das quais ela se colocou repetidas vezes sob a sua proteção, são estas: porque ele foi o esposo de Maria e pai, como era reconhecido, de Jesus Cristo. Daí derivam sua dignidade e graça, santidade e glória'. Sendo ele protetor de toda Igreja, o é também de todos os fiéis, particularmente das famílias. Na verdade, a família de Nazaré, da qual ele é o chefe, torna-se o modelo mais sublime para todas as famílias. Por isso, todas as famílias devem tê-lo como seu protetor. São José é tido também como protetor dos sacerdotes, em virtude de sua específica missão de cuidar do tesouro divino do Pai aqui na terra, vivendo intimamente com Ele, tocando-o, sustentando-o, defendendo-o e educando-o. Na verdade, o mesmo corpo que nasceu de Maria e que José protegeu é aquele que o sacerdote segura no momento da consagração na missa. 'São José nutriu', como nos ensina Pio IX, 'aquele que os fiéis deviam comer como pão da vida eterna'. Portanto, existe uma relação profunda entre o ministério sacerdotal e a missão de São José. Ele é também o protetor da boa morte, justamente por ter morrido ao lado de Jesus e de Maria. 

68. Ele é também o protetor das famílias religiosas? 

As Congregações Religiosas, os Institutos de vida consagrada, as Sociedades de vida apostólica que têm São José como protetor e trazem o seu nome são inumeráveis e encontram-se espalhadas em todo mundo. Da mesma forma as Confrarias, as Associações e Instituições intituladas ao nosso santo são numerosíssimas e disseminadas em todos os lugares. Disto podemos deduzir a grande consideração que São José possui entre os cristãos. 

69. Dentre as muitíssimas Congregações e Institutos religiosos que escolheram São José como Patrono, poderia ser citada uma e o porquê da escolha? 

Assim como Pio IX diante das tribulações que angustiavam a Igreja do seu tempo buscou a proteção de São José, da mesma forma também o Fundador da Congregação dos Oblatos de São José, o Bem-Aventurado José Marello, atraído pelo exemplo de São José, do seu serviço por amor aos interesses de Jesus com a dedicação completa de sua vida, em 1872, aos 28 anos, idealizava uma 'Companhia de São José' que fosse a 'promotora dos interesses de Jesus', onde cada membro tivesse suas próprias inspirações de seu modelo São José, que foi na terra o primeiro a cuidar dos interesses de Jesus. Esta sua inspiração inicial ganhou corpo quando, em 1877, no esboço da regra para a Companhia, ele declara que esta estava aberta para quem desejasse 'seguir de perto o Divino Mestre com a observância dos Conselhos Evangélicos', retirando-se na casa de São José com 'o propósito de permanecer escondida e silenciosamente operoso na imitação daquele grande modelo de vida pobre e escondida'. De fato, em 1878 fundava a Congregação, tendo como patrono São José e os seus membros chamados 'Oblatos de São José', com a intenção especial de honrá-lo e amá-lo, imitando suas virtudes e propagando a sua devoção. Desta forma, esta Congregação, espalhada pelo mundo inteiro com os seus mais de quinhentos religiosos, empenha-se em 'reproduzir na própria vida as virtudes características de São José, na união com Deus, na humildade, no escondimento, na laboriosidade, na dedicação aos interesses de Jesus, consagrando-se ao serviço da Igreja nas formas de apostolado ministerial que dia-a-dia a Providência indica'. Assim, esta Congregação tem como empenho primordial aquele do serviço que foi próprio de São José, aquele do silêncio e do escondimento que, como consente a pérola de cristalizar-se, ao nascituro de formar-se e à semente de desenvolver-se, assim também consente ao Filho de Deus de inserir-se da maneira mais discreta na família humana. 

70. Sendo José intercessor e protetor, é também modelo? 

Sem dúvida, pois todos os cristãos devem ter São José como o modelo perfeito que se colocou completamente à disposição da vontade de Deus e executou humilde e fielmente o plano divino da encarnação. Cada cristão deve, como disse João Paulo II em sua exortação apostólica Redemptoris Custos, 'procurar extrair desta insigne figura, coisas novas e coisas antigas' (Mt 13,52), pois sua participação na economia da salvação foi livremente desejada por Deus para servir juntamente com Maria ao 'mistério escondido nos séculos na mente de Deus' (Ef 3,9). Ele é o exemplo de obediência incondicional à vontade de Deus; o que ele fez é puríssima 'obediência da fé' (Rm 1,5; 16,26); tornando-se o primeiro depositário do mistério divino; ele é 'aquele que foi posto em primeiro lugar por Deus sobre o caminho da peregrinação da fé', sobre o qual Maria irá adiante de modo perfeito. José é modelo para os trabalhadores porque 'junto à humanidade do Filho de Deus, o trabalho foi acolhido no mistério da encarnação, como também foi de particular maneira redimido', e tudo isso graças ao banco da carpintaria, no qual ele trabalhava juntamente com Jesus; assim, José aproximou o trabalho ao mistério da redenção. Ele é o modelo para os que buscam a vida interior porque estava 'em contínuo contato com o mistério escondido nos séculos, que morou debaixo do teto de sua casa'. Assim, ele colocou, em suas ações envolvidas de silêncio, um clima de profunda contemplação. Em suma, José é o modelo para todos os cristãos, pois ele é o tipo ideal do evangelho, ao qual Jesus fará alusões em suas pregações. 'Ele oferece-nos um exemplo de atraente disponibilidade ao chamado divino, de calma em cada acontecimento, de plena confiança fundamentada numa vida de sobre-humana fé e caridade e do grande meio da oração'. Não sem razão, São José exerceu uma força irresistível na vida dos santos, constituindo-se para estes, modelo e uma verdadeira escola de santidade. Para muitos santos, São José foi o leit-motiv para o caminho da santidade. É impossível enumerar os santos que tiveram as inspirações em São José; basta-nos apenas lembrar alguns como São Luiz Gonzaga, São João Maria Vianney, São João Batista de la Salle, Santa Teresa, Santo Afonso Maria de Ligório, São Vicente de Paulo e o bem-aventurado José Marello, o qual aconselhava continuamente aos seus religiosos: 'Peçamos a São José que seja o nosso diretor espiritual'.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)