segunda-feira, 17 de novembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (57/60)

 

57. RECOMPENSA DA CARIDADE

Aquele jovem era muito virtuoso e sobretudo muito caridoso. Cheio de ilusões, andava a lutar com o pensamento de fazer-se religioso, o que o obrigaria a renunciar as riquezas e gozos do mundo. Parece que lhe faleciam as forças para tamanho sacrifício.

Uma noite, estando de caminho à igreja, chega-se a ele um pobre e pede-lhe uma esmola por amor de Deus. O jovem instintivamente mete a mão no bolso. Está vazio. Saíra de casa sem uma moeda sequer. Mas não hesita. Sem perda de tempo desata um cinturão de seda bordado de filigranas de prata, e entrega-o ao pobre. Este agradece o rico presente e continua o seu caminho. 

Chegando à igreja de Nossa Senhora, vai o jovem orar na Capela das Almas e qual não é o seu espanto ao ver o Cristo na cruz cingido com aquele cinturão de seda e filigranas de prata e sorrindo para ele! Desde aquele instante dissiparam-se-lhe as dúvidas sobre a vocação. Sai da igreja e vai seguro bater ao convento dos dominicanos, onde viveu tão santamente que mereceu o título de Beato Jordão de Saxônia.

Tudo que derdes ao pobre recebe-o Jesus Cristo. O Coração divino é medianeiro de vossas moedas. Elas serão o preço com que um dia comprareis o céu.

58. SIGAMOS A LUZ DA FÉ

Hoje vou contar-vos um caso maravilhoso. São Severino, apóstolo da Noruega, pregava a fé cristã entre aqueles povos idólatras. Poucos se convertiam.

Um dia, então, para confirmar a uns e converter a outros, convidou a todos, cristãos e idólatras, para uma assembleia na igreja. Cada um devia trazer uma vela. Quando os viu todos reunidos, com suas velas apagadas nas mãos, o santo bispo ajoelhou-se diante do altar e rezou em voz alta: 'Senhor e Deus verdadeiro, dignai-vos manifestar a estes fieis a luz do vosso conhecimento e fazei-lhes compreender como os que vos conhecem se diferenciam dos que nunca vos conheceram'. Ao terminar a oração, e no mesmo instante, acenderam-se por si mesmas as velas dos cristãos, continuando apagadas as dos idólatras. Esse prodígio converteu à fé cristã aquele povo.

E o prodígio renova-se diariamente. Os incrédulos, os hereges, os inimigos da Igreja passam por este mundo com suas velas apagadas. Demos graças a Deus pela luz da fé e sigamos o caminho que ela nos mostra.

59. O CRISTÃO PRECISA LUTAR

Cipião, o grande general romano, ganhara uma batalha. Descansava do fragor da luta à sombra de uma árvore no campo. Seus soldados rodeiam-no com veneração e carinho. Um deles mostra-lhe com orgulho seu escudo:
➖ Vede - disse ele - esta obra de arte em que o cinzel esculpiu figuras maravilhosas, sendo ao mesmo tempo tão forte que contra ele se partem, como frágeis canas, os dardos dos inimigos.
➖ Muito bonito e muito forte - comentou Cipião - porém, o soldado romano não há de por sua confiança só no escudo, mas principalmente em sua espada.

Grande verdade! Assim deve proceder, também, o soldado de Cristo. O cristão faz bem em defender-se com o escudo da confiança em Deus, mas empunhando sempre a espada da luta. Confiar e lutar! É o único meio de sair vitorioso.

60. O SANTO, A MONJA E AS RÃS

São João da Cruz, grande diretor de almas, estava a discorrer com certa freira sobre assuntos espirituais.
Aquela era urna monjinha leiga, humilde e simples, como se vê pela pergunta infantil que fez ao santo.
➖ Por que será, senhor padre que, quando eu passo perto do poço d’água da horta, as rãs que estão à beira mergulham depressa no poço?

O santo sorriu ao ouvir aquela pergunta tao ingênua e aproveitou a ocasião para dar à monjinha uma lição proveitosa.
➖ Olha, minha filha, as rãs mergulham no poço porque ali buscam sua defesa e segurança; ali não temem os inimigos. Tu podes aprender delas esta lição: quando vires que se aproxima uma criatura que pode te fazer mal, mergulha depressa em Deus e estarás segura e tranquila, pois ninguém poderá então fazer-te qualquer dano.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)