segunda-feira, 11 de outubro de 2021

SOBRE O JUÍZO UNIVERSAL


O monge São Metódio (+ 861), que converteu à fé cristã a Bulgária e outras nações bárbaras, era também um bom pintor. Um dia ele foi chamado pelo rei dos búlgaros, de nome Bógoris, o qual lhe disse:

- Deveis fazer-me um belo quadro para eu por em meu palácio, e quero que esse quadro represente coisas que incitem medo a todos os que o olharem.

É mister saber que esse rei era pagão e meio selvagem, e só se deleitava com caçadas de animais ferozes e cenas terríveis. O santo, então, recomendando-se a Deus, pintou o Juízo Universal.

No meio do quadro, via-se Jesus Cristo em sua tremenda majestade entre as nuvens e num trono de glória, rodeado pelos anjos; à direita uma fila de pessoas com os rostos esplendorosos de luz (os justos); à esquerda uma multidão de pessoas monstruosas com caras horríveis, cheias de pavor e de desesperada angústia (os pecadores). Em baixo, afinal, via-se um abismo cheio de figuras horrendas e demônios, e desse abismo saíam chamas ameaçadoras e foscas. Quando o rei viu esse quadro ficou impressionado e perguntou:

- Que espetáculo é esse tão magnífico e pavoroso?

Ao que Metódio lhe deu a seguinte explicação.

- Majestade, esse quadro representa o Juízo Universal. Ficai sabendo que logo após a morte haverá, para todos, o Juízo Particular; isto é, deveremos todos comparecer perante Deus para dar conta do bem e do mal que tivermos feito em vida. Mas além do juízo particular, haverá outro Juízo, que se diz Universal, e este será feito por Jesus Cristo no fim do mundo no Vale de Josafá. Ao Juízo Universal deverá apresentar-se todos os homens do mundo, que existiram, que existem e que existirão; grandes, pequenos, soberanos e súditos, sábios e ignorantes, ricos e pobres, bons e maus.

Ao ouvir isso o rei começou a empalidecer e indagou:

- Quando e como será o Juízo Universal?

- Esse dia ninguém o sabe, nem os Anjos do Céu, exceto o Pai (Mt 24,36). Como se dará o Juízo, isso nos diz a Santa Escritura. Primeiro haverá sinais: guerras espantosas dos povos e dos reinos, que se lançarão uns contra os outros (Mt 24,7). Depois o sol escurecerá, e a lua não dará mais a sua luz, e cairão do céu as estrelas, e haverá a destruição do Universo (Mt 24,29); depois virá do céu um dilúvio de fogo que destruirá tudo (2 Pd 3,10). E então será grande a tribulação, como não houve desde o início do mundo. E tudo isso são verdades de Evangelho.

Quando estiver tudo destruído pelo fogo, os Anjos soarão uma trombeta que se fará ouvir nos quatro ventos; e os mortos ressuscitarão (1 Cor 15,52). E aí se dará um grande espetáculo. Todos os mortos saídos de seus túmulos, da terra, do mar, dos abismos, deverão estar vivos. Mas com que diferença... As almas dos bons, vindas do Céu, retomarão o seu belo corpo, resplendente, impassível (Mt 13,43). As almas dos réprobos, surgidas do inferno, unir-se-ão aos seus corpos que, no entanto, serão disformes, horríveis, esquálidos e fedorentos.

Depois virão os Anjos, e separarão os malvados dos justos (Mt 13, 49). E os justos ficarão à direita, e os pecadores à esquerda. Não vos parece vê-los? Todos os blasfemadores, caluniadores, desonestos, soberbos, ladrões, avarentos, escandalosos, sacrílegos, serão separados dos bons; e, vendo-os, dirão com raiva: 'Eis aqueles de quem zombamos em vida' (Sb 5,3). 'Estultos que fomos! Julgávamos uma insensatez a sua vida; eis, no entanto, como se incluíram entre os filhos de Deus' (Sb 5, 4-5).

Feita a separação, abrir-se-ão os Céus, e entre fileiras de Anjos aparecerá o sinal do Filho do Homem: a Santa Cruz (Mt 24,30). E aí bater-se-ão no peito todas as tribos da terra. Aí os réprobos cairão como fulminados. E que urros de dor! Que pavor! Que desespero! Ao passo que os justos rejubilar-se-ão!

Depois o divino Juiz fará um exame público: manifestará a todas as consciências, revelando as culpas, diante de todos. Depois pronunciará a sentença da bênção sobre os bons e a de maldição sobre os maus; e estes irão para o eterno suplício com os demônios: os justos, ao contrário, para a vida eterna (Mt 24,46). Eis o que ouviste no quadro pintado: a tremenda verdade do Juízo, que é verdade de Evangelho. Assim concluiu o monge São Metódio.

Ao ouvir isso o rei Bógoris ficou aterrorizado: fez-se logo instruir na religião, e, iluminado pela graça de Deus, converteu-se ao Cristianismo, e com ele se converteram também os seus súditos.

(Excertos da obra 'La Parole di Dio per la Via d’Esempi', de G. Montarino)