segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (III)

No mês de setembro de 1870, uma religiosa do Mosteiro das Irmãs Redentoristas de Malines, na Bélgica, sentiu repentinamente uma profunda tristeza que não a deixava dia e noite. A pobre Soror Maria Serafina do Sagrado Coração tornou-se um enigma para si própria e a comunidade. Pouco depois, chega a notícia da morte do pai da boa Irmã, nos campos de combate. Desde este dia, a religiosa começou a ouvir gemidos angustiosos e uma voz que lhe dizia sempre: 'Minha filha querida, tem piedade de mim! Tem piedade de mim!'

No dia 4 de outubro, novos tormentos para a Irmã e uma dor de cabeça insuportável. No dia 14 à noite, ao deitar-se, viu ela entre a cama e a parede da cela o pai cercado de chamas e imerso numa tris­teza profunda. Não pôde reter um grito de dor e de espanto. No dia 15, à mesma hora, ao recitar a Salve Rainha, viu de novo o pai entre chamas. A esta vista, perguntou a Irmã ao pai se havia ele cometido algu­ma injustiça nos seus negócios: 'Não', respondeu ele, 'não cometi injustiça al­guma. Sofro pelas minhas impaciências contínuas e outras faltas que não te posso dizer'.

No dia 27, nova aparição. Desta vez não estava cercado de chamas. Queixou-se de que não era aliviado porque não rezavam bastante por ele. 'Meu pai, não sabes que nós religiosas não po­demos rezar o dia todo, temos os trabalhos da Regra?' — 'Eu não peço isto', disse ele, 'quero que apliquem por mim as intenções, as indulgências. Se não me ajudares, eu te hei de atormentar. Deus o permitiu! Ó minha filha, lembra-te que te ofereceste a Nosso Se­nhor como vítima. Eis a consequência. Olha, olha, mi­nha filha, esta cisterna cheia de fogo em que estou mergulhado! Somos aqui centenas. Ó se soubes­sem o que é o purgatório, haviam de sofrer tudo, tudo para evitar e para aliviar as almas que lá estão ca­tivas. Deves ser uma religiosa muito santa, minha filha, e observar bem a Santa Regra, ainda nos pon­tos mais insignificantes. O purgatório das religio­sas é uma coisa terrível, filha!

Soror Maria Serafina viu, realmente, uma cister­na em chamas donde saíam nuvens negras de fumo. E o pai desapareceu como que abrasado, sufocado horrorosamente, sedento, a abrir a boca mostrando a lín­gua ressequida: 'Tenho sede, minha filha, tenho sede!' No dia seguinte a mesma aparição dolorosa: 'Minha filha, há muito tempo que eu não te vejo!' — 'Meu pai, ontem mesmo...' — 'Ó parece-me uma eternidade... Se eu ficar no purgatório três meses, será uma eternidade. Estava condenado a diversos anos, mas devo a Nossa Senhora, que intercedeu por mim, ficar reduzida a minha pena a alguns meses apenas'.

Esta graça de poder vir pedir orações, o bom homem alcançou pelas suas boas obras, pois era extremamente caridoso e devoto de Maria. Comunga­va em todas as festas da Virgem e ajudou muito na fundação de uma casa de caridade das Irmãzinhas dos pobres da Diocese. Soror Maria Serafina fez diversas perguntas ao pai: 'As almas do purgatório conhecem os que re­zam por elas e podem rezar por nós?' — 'Sim, minha filha'. — 'Estas almas sofrem ao saberem que Deus é ofendido no meio de suas famílias e no mundo?' — 'Sim'.

A Irmã, orientada pelo seu confessor e pela Superiora, continuou a interrogar o pai: 'É verdade, meu pai, que todos os tormentos da terra e dos mártires estão muito abaixo do sofri­mento do purgatório?' — 'Sim, minha filha, é bem verdade tudo isso...' Perguntou se todas as pessoas que pertencem à Confraria do Carmo são libertadas no primeiro sába­do depois da morte do purgatório. — 'Sim', respondeu ele, 'mas é preciso ser fiel às obrigações da Confraria'. '— É verdade que há almas que devem ficar no purgatório até cinquenta anos?' — 'Sim. Algumas estão condenadas a expiar os seus pecados até o fim do mundo. São almas bem culpadas e estão abandonadas. Há três coisas que Deus pune e que atrai a maldição sobre os homens: a violação do dia do domingo pelo trabalho, o vício impuro que se tornou muito comum, e as blasfêmias. Ó minha filha, as blasfêmias são horríveis e pro­vocam a ira de Deus'.

Desde este dia até à noite de Natal, sempre aparecia a Soror Maria Serafina a alma atormentada do seu bom pai, pela qual ela e a comunidade oravam e faziam penitências. Na primeira missa do Natal, a boa Irmã viu seu pai à hora da elevação, brilhante como o sol, de uma beleza incomparável. '— Acabei meu tempo de expiação, filha, venho te agradecer e às tuas Irmãs as orações e sufrágios. Rezarei por todas no céu'. E ao entrar na cela, de madrugada, viu a Irmã Serafina mais uma vez a alma do pai resplandecente de luz é de beleza, dizendo: 'Pedirei para tua alma, filha, perfeita e em conformidade com a vontade de Deus, a graça de entrar no céu sem passar pelo purgatório'. E desapareceu num oceano de luz e de beleza.

Estes fatos se deram de outubro a dezembro de 1870 e passaram pelo crivo de um severo e rigoroso exame das autoridades eclesiásticas antes de serem publicados e divulgados amplamente pela Obra Expiató­ria de Nossa Senhora de Montiglion, na França.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)

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