sexta-feira, 9 de agosto de 2013

O INFERNO E AS PORTAS DO INFERNO (I)


I - O Inferno

Há um inferno.

1º A Sagrada Escritura nos diz que há um inferno. Jesus Cristo disse: 'Não temais os que podem matar o corpo, temei os que matam o corpo e a alma e os precipitam no inferno'. 'Se vosso olho, vossa mão, vosso pé vos escandalizam, isto é, são para vós ocasião de cometerdes o pecado, arrancai-os e lançai-os longe de vós, para não cairdes no inferno'. O rico avarento foi sepultado no inferno e, no meio de seus suplícios, bradava: 'Estou atormentado horrorosamente nas chamas devoradoras, dai-me uma gota de água para refrescar a língua'. No dia do juízo Jesus dirá aos condenados: 'Ide, malditos, para o fogo eterno. São claras estas palavras. Ou há um inferno ou o Evangelho é mentira. Há um inferno ou Jesus nos engana.

2º A razão nos diz que há um inferno. Dois homens que seguem dois caminhos opostos não podem se encontrar no mesmo ponto. Podem encontrar-se e ter a mesma sorte os homens que seguem, uns o caminho do bem, outros o caminho do mal? O justo e o pecador, a vítima e o assassino, a virgem e o sedutor, o mártir e o algoz, a mãe de família honesta e a mulher perdida, podem ir para o mesmo lugar? Suponhamos que São Pedro e Nero tivessem morrido no mesmo dia e que juntos comparecessem perante o tribunal de Deus. Jesus Cristo pergunta a São Pedro: 'Que fizeste durante a vida?' – 'Senhor, era um pobre pescador. Vós me chamastes para ser pescador de almas. Deixei tudo e vos segui. Desde então sabeis qual foi minha vida: rezar, jejuar, pregar, batizar, converter os pecadores, salvar as almas, até que fui preso, lançado na cadeia e crucificado por amor de vós. Eis minha vida e minhas obras'. 'E tu, Nero, que fizeste?' – 'Eu era imperador de Roma, gozei, e para gozar não recuei diante de nenhum crime. Zombei de Deus e da virtude, mandei assassinar minha mãe e meu irmão, queimar vivos milhares de cristãos, queimei a cidade de Roma. Afinal, perseguido pelo povo revoltado por meus crimes, suicidei-me. Eis minha vida e minhas obras'. Notai que são fatos históricos, coisas que realmente se passaram. E agora, quereis que Deus diga: muito bem, Pedro; muito bem, Nero; 'vão para o céu'? Ou então que diga: 'vão para o inferno'? Nossa razão protesta e nos diz que deve haver uma recompensa para São Pedro e um castigo para o monstro que se chamou Nero. Este castigo é o inferno. Há um inferno.

3º A experiência nos diz que há um inferno. Dizem os libertinos: nunca ninguém voltou do inferno para nos dizer que há um inferno. É precisamente o que o inferno tem de horrível. Dali ninguém volta. Ninguém saí do inferno, diz a Escritura. No entanto, por uma disposição especial da Providência Divina, por exemplo, para nos instruir, isto pode acontecer e de fato tem acontecido. São Francisco de Girolamo pregava em Nápoles, em frente de uma casa em que morava uma mulher de má vida que perturbava a missão com seus gritos e suas gargalhadas. De repente, esta cai morta. O Santo, logo que soube o que tinha acontecido, foi à casa dela. 'Catarina, disse ele, onde estás?' E duas vezes repetiu as mesmas palavras. Repetiu-as uma terceira vez com mais autoridade; e os olhos do cadáver se abrem, seus lábios se movem e na presença de toda a multidão, uma voz, que parecia sair do abismo, respondeu: 'no inferno, no inferno!' Todos fogem, tomados de assombro, e o próprio Santo, impressionado, repetia: 'No inferno! Deus terrível, no inferno!' É um fato absolutamente certo, a tal ponto que serviu de milagre para a canonização do Santo. Há um inferno.

II - Que é o Inferno

Todo o inferno está nesta palavra de Jesus Cristo: 'Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno'.

1º  O inferno é a separação, a perda de Deus. 'Afasta-te de mim, pecador'. É assim que Deus repele para longe de si a alma pecadora. É a perda de Deus, a perda da suma beleza, da suma bondade, do sumo bem. Enquanto nossa alma estiver presa no cárcere da carne, não poderá nunca compreender a imensidade desta desgraça que, na frase dos santos, constitui o inferno dos infernos.

2º O inferno é a maldição de Deus. 'Afasta-te, pecador maldito!'. A maldição eficaz de um Deus todo-poderoso. Se é terrível a maldição de um pai, de uma mãe, que será a maldição de Deus? Pecador maldito, maldito no corpo, maldito na alma. Olhos, língua, mãos, pés, inteligência, coração, vontade, tudo é maldito, porque tudo serviu de instrumento ao pecado.

3º O inferno é o fogo. 'Afasta-te de mim, pecador maldito, para o fogo!' Quando os profetas falam do inferno, logo se lhes apresenta à imaginação o mar, o mar sem limites e sem fundo, e os condenados nadando e mergulhando neste abismo de fogo. O fogo os envolve, penetra-os, circula em suas veias, insinua-se até à medula dos ossos.

4º O inferno é a eternidade. 'Afasta-te, pecador maldito, para o fogo eterno!' A eternidade… quem pode compreendê-la! É um tempo que não acaba. Mil anos, milhões de anos, mil milhões de anos. Contai as gotas de água do oceano, os grãos de areia das praias, as folhas das árvores… a eternidade tem mais anos, mais séculos. Sempre! Nunca! Sempre queimar, sempre sofrer! Nunca o menor alívio, a menor esperança.

Se os condenados que estão no inferno pudessem voltar à terra, que fariam? Procurariam outra vez a ocasião do pecado, as danças, os espetáculos, as tavernas, as casas de perdição? Não! Correriam para a igreja, ao pé do altar do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora, ao pé do confessor principalmente, para alcançar o perdão de seus pecados. O que os condenados não podem mais, vós o podeis. Não estais no inferno, mas talvez estejais no caminho do inferno. Quanto antes, voltai para trás; talvez amanhã seja tarde.

III - As Portas do Inferno

'É larga, disse Jesus Cristo, a porta do inferno'. Pode-se acrescentar, são muitas as portas do inferno. Com efeito, há tantas portas do inferno quantas espécies de pecados mortais; mas há entre elas algumas mais largas e mais perigosas: são as da impureza, da injustiça, da profanação do domingo, da embriaguez, da má educação dos filhos, do protestantismo, do espiritismo, da demora da conversão.

IV - Primeira Porta do Inferno - A Impureza

Não erreis, disse São Paulo, os impuros não herdarão o céu. A impureza é o amor desregrado dos prazeres da carne. Pensar voluntariamente em coisas desonestas; desejar praticar, ver, ouvir coisas escandalosas; dizer palavras, ter conversas imorais, ler livros obscenos, olhar gravuras, espetáculos, pessoas indecentes; permitir-se consigo ou com outras pessoas liberdades criminosas; praticar no sacramento do matrimônio o que a moral cristã proíbe... são pecados contra a pureza.

Dirão alguns: isso é pecado pequenino. Pequenino? Mas é pecado mortal. Diz Santo Antonino que é tal a corrupção que faz lavrar este pecado, que nem os próprios demônios podem sofrê-lo, e acrescenta o mesmo santo que, quando se cometem semelhantes torpezas, até o demônio foge de vê-las. Considerai agora o horror que causará a Deus aquela pessoa que, como diz São Pedro, semelhante ao suíno, se revolve no lodaçal deste pecado. Dirão ainda os escravos da impureza: 'Deus é misericordioso, conhece a fraqueza da carne'. Pois ficai sabendo que, conforme o relata a Escritura, os mais terríveis castigos que Deus descarregou sobre o mundo foram a punição deste pecado.

Abramos, com efeito, a Escritura. O mundo está ainda no começo e já os homens estão corrompidos, carnais impudicos. Deus se arrepende de ter criado o homem e por isso toma a resolução de o exterminar. Abre as cataratas do céu, a chuva cai durante quarenta dias e quarenta noites, as águas sobem até cobrirem as montanhas mais altas, e a humanidade morre afogada, abismada nas águas do dilúvio. Só escapam oito pessoas, a família de Noé que, sozinho, guardara a castidade.

Será pecado leve? Que lemos ainda na Bíblia? Havia na Palestina cinco cidades célebres pelo seu comércio, suas riquezas; mais célebres ainda pela sua corrupção espantosa. Naquelas cidades cometiam-se pecados de que nem se pode dizer o nome, pecados sensuais contra a natureza, pecados horrorosos que infelizmente se cometem hoje, depois de dois mil anos de cristianismo. Que fez Deus? Mandou chover sobre aquelas cidades uma chuva, não mais de água, mas de fogo e de enxofre, que reduziu a cinzas as cidades e os habitantes. Não satisfeito, Deus mandou à terra que se abrisse e ao inferno que engolisse os restos infames de Sodoma e Gomorra.

Que nos diz ainda a Sagrada Escritura? Que outrora Deus mandava queimar vivo a quem cometia semelhantes pecados e até aos casados que profanavam o matrimônio pelo crime horrendo do adultério. Este pecado de adultério, depois do assassínio, o mais grave de todos os pecados contra o próximo, foi sempre considerado até pelos pagãos como um crime digno de todos os castigos. Os antigos egípcios condenavam a ser queimada viva a mulher casada que tinha cometido este pecado; os saxões igualmente condenavam à fogueira a mulher casada infiel, e à forca o cúmplice de seus crimes. E há cristãos que trazem na lama do pecado o sacramento que São Paulo chama grande.

Estes são apenas os castigos para este mundo. Que será no outro mundo! Está escrito, e a palavra de Deus não volta atrás, que os desonestos não entrarão no reino do céu. E este o pecado que arrasta para o inferno o maior número das almas. Diz São Remígio que a maior parte dos condenados estão no inferno por causa deste pecado. O mesmo diz São Bernardo: este pecado precipita no inferno quase todo o mundo. Do mesmo modo fala Santo Isidoro: é a luxúria muito mais que qualquer outro vício que sujeita o gênero humano ao demônio. Em uma palavra, e é a doutrina de todos os santos; de cem condenados no inferno, haverá um ladrão, um assassino, um ímpio, mas noventa e nove desonestos. Pobres pecadores. Longe de mim o infundir-vos o desespero; o que quero dizer é que, se vos achais atolados neste vicio, procurai sair quanto antes deste lodaçal imundo, senão o inferno será vossa sorte eterna. O que deveis fazer é o seguinte:

1º. Rezar. A oração é uma chuva celestial que apaga o pecado da concupiscência. Rezai antes de dormir, de joelhos, ao pé do leito, três Ave-Marias à pureza de Nossa Senhora;

2º. Repelir sem demora todo mau pensamento e desejo, chamando pelos nomes de Jesus e Maria;

3º. Fugir, mas fugir absolutamente, custe o que custar, da ocasião do pecado, da frequentação de tal pessoa, de tal casa, de tal divertimento, de um modo especial destas danças modernas tão imorais e escandalosas;

4º. Enfim o meio mais eficaz é a recepção frequente e piedosa dos sacramentos da confissão e comunhão. Desenganai-vos, se agora não vos emendardes, mais tarde será tarde demais.

Excertos da obra 'O Pequeno Missionário - Manual de Instruções, Orações e Cânticos' do Pe. Guilherme Vaessen, 6ª edição, Editora Vozes, 1953.