domingo, 7 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Nos seus dias a justiça florirá(Sl 71)

Primeira Leitura (Is 11,1-10) - Segunda Leitura (Rm 15,4-9) -  Evangelho (Mt 3,1-12)

  07/12/2025 - SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO

TEMPO DE CONVERSÃO 


Neste segundo domingo do Advento, a Igreja, à espera do Senhor Que Vem, celebra, após um primeiro tempo de vigilância, o tempo de conversão, mediante a proclamação na história dos tempos de dois grandes profetas das revelações messiânicas: Isaías e João Batista.

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi: 'nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus' (Is 11, 1-2). É Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus: 'Naquele dia, a raiz de Jessé se erguerá como um sinal entre os povos; hão de buscá-la as nações, e gloriosa será a sua morada' (Is 11,10).

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João é aquele que foi proclamado por Isaías como sendo 'a voz que grita no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo.

E o deserto de hoje não é ainda mais árido, muitíssimo mais árido, do que nos tempos do Profeta João Batista? O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. A Igreja de Cristo não se pode sustentar sobre as areias frouxas do deserto das almas tíbias, do ateísmo e da indiferença religiosa. Eis, portanto, a imperiosa necessidade de tempos de conversão. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

sábado, 6 de dezembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (VIII)

     

PARTE II - O JUÍZO FINAL

II. Sobre Como os Bons e os Maus Serão Conduzidos ao Local do Julgamento 

De acordo com a opinião geralmente aceita, o julgamento final será realizado no vale de Josafá, não muito longe de Jerusalém. Essa opinião se baseia nas palavras do profeta Joel: 'reunirei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá' (Jl 4,2). E ainda: 'De pé, nações! Subi ao vale de Josafá, porque é ali que vou sentar-me para julgar todos os povos ao redor!' (Jl 4,12). Não é difícil alegar uma razão pela qual Cristo deveria realizar o julgamento final neste lugar, pois ali está perto do local onde Ele sofreu, e não é justo que, no mesmo lugar, Ele apareça como nosso Juiz? O Monte das Oliveiras, cenário da sua agonia, foi também o da sua gloriosa Ascensão.

Pode-se, no entanto, objetar que o vale de Josafá não poderia conter os milhões e milhões de seres humanos que serão reunidos para o julgamento. Mas quando um local é indicado como o provável teatro do Juízo Final, isso não significa necessariamente que toda a humanidade será reunida nesse espaço limitado.

Consideraremos agora de que maneira seremos reunidos para o julgamento final. Se os justos e os ímpios forem encontrados juntos nos cemitérios e em outros lugares, acontecerá o que Nosso Senhor predisse: 'Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão e separarão os maus dos justos' (Mt 13, 49). Pois, uma vez que os bons repousam entre os ímpios, segue-se que, na ressurreição, eles serão encontrados entre os maus. Assim, após a Ressurreição Geral, os santos Anjos virão e separarão os eleitos dos réprobos. São Paulo, falando sobre isso, diz: 'Porque o próprio Senhor descerá do céu com ordem, e com voz de arcanjo, e com trombeta de Deus; e os mortos que estão em Cristo ressuscitarão primeiro. Então nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, para encontrar Cristo nos ares' (1Ts 4,15-16). Ou seja, todos os justos serão levados nas nuvens com esplendor e grande glória pelos anjos ao lugar do julgamento. Agora imagine que visão maravilhosa será quando os santos, com seus corpos glorificados, brilhando como ouro polido à luz do sol, forem transportados pelo ar, escoltados por seus anjos da guarda! Com que exultação e alegria eles seguirão seu caminho triunfal!

E quando todos se reunirem no vale de Josafá, eles se cumprimentarão com amor e se abraçarão com alegria mútua. Pense por um momento, ó cristão, como você se alegraria se tivesse a sorte de se encontrar entre o número dos abençoados. Essa felicidade ainda está ao seu alcance; se você realmente a desejar com toda a força de sua vontade, será contado nessa feliz companhia. Esforce-se para cumprir todos os seus deveres bem e fielmente, e você também um dia se juntará a essa gloriosa e triunfante procissão.

Consideraremos agora como os ímpios serão transportados para o vale de Josafá e o que os aguarda lá. Ai de mim! Seu destino é tão triste que mal me atrevo a descrevê-lo em detalhes. O que esses infelizes pecadores pensarão, o que dirão quando virem os santos anjos levando os eleitos de entre eles e transportando-os com glória e esplendor pelo ar? O Sábio nos dá uma ideia de seus pensamentos quando nos diz: 'Estes, vendo isso, ficarão perturbados com um medo terrível e se surpreenderão com a rapidez da salvação inesperada dos justos; dizendo dentro de si mesmos, arrependidos e gemendo de angústia de espírito: Estes são aqueles que nós outrora ridicularizávamos e tomávamos como parábola de opróbrio. Nós, tolos, considerávamos a vida deles loucura e o seu fim sem honra. Vede como eles estão contados entre os filhos de Deus, e o seu destino está entre os santos' (Sb 5,2-5). Como lhes causará tristeza ver aqueles que antes desprezavam tão profundamente agora honrados e amados pelos Anjos de Deus, e conduzidos por eles em glória e triunfo para encontrar Cristo. E aqueles que antes exibiam suas riquezas, que desprezavam todos os seus semelhantes em seu orgulho arrogante, agora estão entre os Anjos caídos, pobres, miseráveis, desprezados.

Quando os Anjos tiverem conduzido todos os eleitos ao vale de Josafá, eles continuarão a conduzir todos os réprobos para lá, com os espíritos malignos que se misturam com eles. Eles gritarão em alta voz: 'Fora daqui, fora para o julgamento! O Juiz dos vivos e dos mortos ordena que vocês compareçam diante Dele'. Que grito lancinante de angústia essas criaturas infelizes emitirão! Farão o possível para resistir à ordem dos Anjos, mas lutarão em vão; devem obedecer à ordem dos mensageiros de Deus. Juntamente com os espíritos malignos, os condenados serão levados à força para o lugar do julgamento. Que viagem terrível! O ar está repleto de gritos de raiva. Os espíritos das trevas, com malícia e crueldade diabólicas, já descarregam seu rancor atormentando as criaturas infelizes que o pecado tornou suas vítimas. Ouçamos o grito de desespero arrancado dos seres miseráveis: 'Que tolos fomos! Tolos impensados! Aonde nos levou o caminho da transgressão? Ai de nós! Ele nos trouxe ao severo, ao terrivelmente severo tribunal de Deus!'

Ouça, ó pecador, as lamentações dolorosas e as autoacusações dessas pobres criaturas. Cuidado para que você também não se torne um deles. Ore a Deus para que o preserve de um destino tão chocante e diga: 'Deus misericordioso, lembrai-vos do alto preço que pagou por mim e do quanto sofreu por mim. Por causa desse preço inestimável, não permitais que eu me perca, resgatai-me e acolhei-me entre as ovelhas do seu rebanho para que, com elas, eu possa louvar e glorificar a vossa bondade amorosa por toda a eternidade'.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

SOBRE A VIRTUDE DA PENITÊNCIA

Certas almas, mesmo piedosas, ao ouvir a palavra penitência ou mortificação, que exprimem a mesma ideia, experimentam às vezes um sentimento de repulsa. De onde isso provém? Não deve surpreender-nos; tal sentimento tem uma origem psicológica. A nossa vontade busca necessariamente o bem em geral, a felicidade, ou algo que parece sê-lo. Pois bem, a mortificação que refreia algumas das tendências dos nossos sentidos, alguns dos nossos desejos mais naturais, aparece a tais almas como algo contrário à felicidade, daí, pois, esta repugnância instintiva na presença de tudo o que constitui a prática da renúncia de si mesmo. 

Além disso, vemos muitas vezes na mortificação um fim, quando não é mais do que um meio, meio necessário sem dúvida, indispensável, mas afinal meio. Não minimizamos o Cristianismo, ao reduzir a papel de meio a renúncia de si mesmo. O Cristianismo é um mistério de morte e de vida, mas a morte não tem outro objetivo senão o de salvaguardar a vida divina em nós: 'Não é Deus de mortos, mas de vivos'. 'Cristo, ao morrer, destruiu a morte, e ao ressuscitar, restituiu-nos a vida' (Prefácio da Missa da Páscoa). A obra essencial do Cristianismo, o fim último que persegue por si só, é uma obra de vida; o Cristianismo é a reprodução da vida de Cristo na alma. 

Assim, como já vos disse, a existência de Cristo oferece este duplo aspecto: 'entregou-se à morte pelos nossos pecados, ressuscitou a fim de nos comunicar a vida da graça' (Rm 4,25). O cristão morre a tudo o que é pecado, para viver mais intensamente da vida de Deus; a penitência, consequentemente, não é, em princípio, senão um meio para conseguir a vida. São Paulo notou isso muito bem quando disse: 'Levai sempre nos vossos corpos a mortificação de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste em nós' (2Cor 4,10). 

Que a vida de Cristo, que tem o seu princípio na graça e a sua perfeição no amor, aumente sempre em nós: esse é o objetivo e não há outro. Para conseguir isso, é necessária a mortificação; por isso, diz São Paulo: 'Os que pertencem a Cristo, em cujo número, pelo nosso batismo, nos contamos, crucificam a sua carne com os seus vícios e concupiscências' (Gl 5,24). E em outro lugar, diz ainda com linguagem mais explícita: 'Se viverdes segundo os instintos da carne, fareis morrer em vós a vida da graça; mas se mortificardes as vossas más inclinações, vivereis uma vida divina' (Rm 8,13).

(Excertos da obra 'Jesus Cristo, Vida da Alma, de Dom Columba Marmion)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

PALAVRAS ETERNAS (XXV)

 

'No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu!'

(Manuscrito da Irmã Lúcia, excertos da obra 'Um caminho sob o olhar de Maria',
publicado pelo Carmelo de Coimbra, 2013)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (X)

Dentre os ícones marianos, no âmbito da tradição bizantina, destacam-se aqueles que representam suas grandes festas: a Natividade da Mãe de Deus (8 de setembro), sua Apresentação no Templo (21 de novembro), a Anunciação (25 de março) e a Dormição da Theotokos (15 de agosto). Maria também é comumente representada nos ícones das duas festas que ela compartilha diretamente com seu Filho: a Natividade de Cristo (25 de dezembro) e a Apresentação do Senhor no Templo (2 de fevereiro).


A Koimesis (ou Kemesis) é o ícone da Dormição, ou seja, do adormecer de Maria. O ícone representa Maria deitada num leito coberto com o mesmo tecido vermelho do presépio, rodeada pelos apóstolos. Logo atrás dela, Cristo segura uma criança vestida de branco, simbolizando a alma de Maria.

Na representação abaixo, podemos explicitar melhor a riqueza dos simbolismos. O ícone, com tons dourados predominantes, mostra Maria em seu leito de morte, rodeada por uma grande gama de personagens, que incluem anjos e santos, líderes da Igreja, bispos, evangelistas, amigos e vizinhos (simbolizados pelas mulheres na janelas) e os apóstolos que chegam em nuvens (símbolo das longas viagens das missões apostólicas) circundando a Nova Sião. Aos pés da Virgem, o discípulo amado inclina-se em direção a ela, num simbolismo bíblico com a frase de Jesus ao discípulo amado na Cruz: 'Eis aí tua Mãe' (Jo, 19,27). São Pedro, à direita, faz a incensação do corpo, com São Paulo na cabeceira do leito. As velas acesas em torno do leito representam a manifestação da luz divina em um mundo de trevas.


O ícone é uma imagem de eventos distintos, embora mostrados num mesmo plano, de forma sequencial. A criança vestida de branco nos braços de Jesus simboliza a alma de Maria sendo levada ao Céu. Na parte superior da imagem, é o próprio corpo físico de Maria, levado pelos anjos, que é conduzido em direção às portas abertas do Reino Celeste, encimado pelo Anjo apocalíptico de seis asas. Um elemento icônico bastante singular está representado duas vezes na parte central da figura: são as chamadas mandorlas, estruturas amendoadas que circundam figuras sagradas. A maior abrange o reino celestial (tomada pelos anjos) e a menor constitui a aura que envolve Jesus Cristo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

POEMAS PARA REZAR (LXIII)

A Serva de Deus Madre Maria José de Jesus (1882 - 1959) nasceu sob o nome de batismo de Honorina de Abreu, sendo a filha primogênita do historiador ateu Capistrano de Abreu (1853 - 1927). Perdeu a mãe aos 9 anos. Sua vida religiosa exemplar foi moldada por um profundo zelo e empenho de orações e pedidos pela conversão do pai à fé católica, do qual a poesia abaixo é um belo exemplo disso. 

A MEU PAI

Foste tu, caro pai, que do seio do Eterno
Me arrancaste e trouxeste a este mundo, a esta vida....
Quando eu desabrochei, qual flor recém-nascida,
O sol que me aqueceu foi teu amor paterno.

Teu sangue é o sangue meu... Teu trabalho superno
Ganhou-me o pão com que eu cresci e fui nutrida.
Ah! quanto te custei! quanta dor! quanta lida!
Desde o calor do estio aos gelos do teu inverno!

E agora dá-me a mão... É noite. Vem comigo!
Vem, que eu te levarei a Jesus, teu Amigo,
Que te espera saudoso... Oh! dize-me que sim!

Foste meu pai, e eu tua mãe serei agora:
Dar-te-ei a eterna Luz, de que me deste a aurora;
Dar-te-ei, por esta vida - a vida que é sem fim!

(Madre Maria José de Jesus)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

PROPÓSITO PARA A PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO

 


'Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá' (Mt 24,44)

Fiquemos, pois, preparados! A preparação começa pelo anseio feliz pela vinda do Senhor e se completa em estarmos prontos para o receber como filhos de Deus.

Assim como Cristo entrou no mundo para salvar toda a humanidade, Ele precisa entrar no nosso coração para salvar a nossa alma! Para isso, temos de ser moradas da graça santificante e hóspedes da Santa Vontade de Deus, resistindo às tentações, às vicissitudes humanas e, principalmente, ao pecado. Precisamos estar preparados no amor às coisas de Deus e no horror ao pecado.

Quem esperamos é Jesus, o Rei dos reis, o Cordeiro Imolado, nosso Salvador e nosso Redentor, Aquele que nos legou as moradas eternas, abriu os Portões do Céu e que pagou um preço de Cruz pelos nossos pecados para que nos tornássemos dignos de sermos filhos de Deus. Quem esperamos é Jesus Cristo, Juiz da história humana, Juiz de cada alma em particular. Esperar Jesus é compartilhar com Ele, desde agora, o lugar preparado para nós na eternidade de Deus.

Peçamos a Maria, Nossa Senhora de todas as graças, aquela que se preparou como obra prima de Deus para receber Jesus, interceder por todos nós, para que, quando Jesus nos vier visitar, possamos estar preparados, com rins cingidos e velas na mão, para receber Jesus com toda alma e coração!

Que, nesta Primeira Semana do Advento, sejamos zelosos em limpar a casa, adornar a manjedoura, remover as manchas dos nossos pecados e perfumar com virtudes o nosso interior, pois, como nos disse o Senhor: 'Buscai primeiro o Reino de Deus' (Mt 6,33). E que, assim, possamos dizer com viva confiança e esperança: 'Vem, Senhor; Vem, meu Jesus, habitar em mim, porque estou preparado!'