terça-feira, 26 de novembro de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (386/390)


386. O MARTIRZINHO DE UM BEIJO

Era um menino albanês de oito anos apenas. Residia em Ilbah, na Albânia. Perdidos os pais, foi acolhido por um tio turco. Cheio de ódio contra Jesus Cristo, quis esse inimigo da religião obrigar o menino a renegar a fé cristã que herdara de seus pais.

Empregou todo artifício, todo embuste, mas em vão: o menino não renegava a fé. Um dia, enfurecido, toma o turco um crucifixo e entregando-o ao menino, exclama com rosto carregado e olhos ameaçadores: 'Cospe nele!' O menino não se perturba; toma respeitosamente a querida imagem do Salvador e imprime-lhe na chaga do coração um quente e prolongado beijo. Foi a causa de seu martírio. Com dois tiros de revólver aquele tio desnaturado abateu o pequeno herói da fé.

387. REI DAS NOSSAS ALMAS

Jerônimo Savonarola pregava em Florença sobre Jesus Cristo no Domingo de Ramos de 1496. Suas palavras caíam como granizo sobre as almas de seu numerosíssimo auditório. No ardor do discurso, mostrando ao povo um crucifixo, exclamou:
➖ Florença! Eis o Rei do universo, que quisera ser também o teu rei. Tu o queres?
Uma imponentíssima aclamação foi a resposta. Quando o frade desceu do púlpito, a multidão, comovida até às lágrimas, acompanhou-o ao convento no meio de vivas a Jesus Rei. 

As autoridades de Florença mandaram gravar sôbre a entrada do palácio da Signoria estas palavras: Jesus Christus Rex Florentini Populi Senatusque Decreto Electus, isto é, Jesus Cristo eleito rei por decreto do senado e do povo de Florença. Gravemos também nós essas palavras em nossos corações: é uma exigência da gratidão, da necessidade que temos de Jesus e sobretudo do amor que lhe devemos.

388. O FATO FALA POR SI

Na vida de São Francisco de Sales, o grande Bispo de Genebra, lê-se o seguinte. Uma vez o santo, movido por espírito de zelo, fez uma visita ao famoso filósofo apóstata Teodoro Beza, esforçando-se por reconduzi-lo à Igreja Católica que abandonara ignominiosamente.

Na discussão, que teve com o filósofo, soube apertá-lo de tal modo com a sua argumentação, que o apóstata teve de confessar o seu erro, dizendo:
➖Sim, tendes razão.
➖ E agora, concluiu o santo, o que é que vos impede de abjurar à heresia e retornar à verdade católica?

Teodoro Beza, a esta resposta conclusiva, abre a um aposento contíguo e indicando-lhe uma criatura, o objeto de sua paixão, disse:
➖ Eis o que me impede de retornar a vós!
O santo compreendeu que se tratava de um caso perdido e retirou-se deplorando aquela pobre vítima da paixão sensual.

389. SACRILÉGIO DESCOBERTO

Do venerável Pe. Antônio Chevrier lê-se que, na noite de Natal de 1862, enquanto distribuia o Pão Eucarístico a numerosas meninas de um Instituto, de repente empalideceu e ficou indeciso: os rostos de duas meninas que estavam diante dele para receber a santa Comunhão pareciam negros como carvão. 

O servo de Deus compreendeu logo que elas não estavam em estado de graça. Após um instante de hesitação, para obedecer às lei da Igreja e não difamá-las diante do público, depositou com mão trêmula o Deus de toda santidade naqueles corações possuídos pelo demônio. Chamou-as, depois, à parte e deu-lhes a entender que conhecia o sacrilégio que tinham cometido. As duas meninas, surpreendidas, puseram-se a chorar. O Padre chorou também e, a seguir, ouviu-lhes a confissão e reconciliou-as com Deus, aquele Deus a quem tinham ofendido tão gravemente

390. TERRÍVEL REMORSO

Foi em agosto de 1860. Uma jovem senhora, vestida de luto, viajava entre Civittavechia e Marselha. Estava pálida e triste. Assentada numa preguiceira, olhava, ora para o céu estrelado, ora para as ondas do mar e grossas lágrimas deslizavam-lhe pelas faces. Um jovem senhor, Augusto Prenni, alma fervorosa e cândida, aproximou-se da angustiada senhora e, com suma delicadeza, procurou um lenitivo para aquele coração ferido. 

A jovem senhora, ouvindo aquelas meigas palavras, abriu-lhe o coração: 'Só vós sabereis o remorso secreto do meu coração. Tive uma irmã, chamada Adélia, inocente e piedosa, um verdadeiro anjo. Contava então 15 anos, quando eu, já corrompida pelas más leituras, um dia no papel de demônio tentador, arrastei-a ao pecado. Foi o primeiro e o último pecado de minha pobre Adélia, a qual no entanto continuava a ser o encanto da família: piedosa, simples, pura.

Aos l7 anos, acometida de terrível enfermidade, foi em breve reduzida às últimas. Depois de receber o Santo Viático e os últimos confortos da Religião, chamou-me:
Ermelinda, venha cá.
Corri ao seu leito. Ela, com sua mão gelada, apertou a minha mão e, fitando-me com olhar moribundo, disse:
➖ Ermelinda, lembras-te daquele pecado?
➖ Lembro-me, sim, mas já te confessaste, já foste perdoada...
➖Não - respondeu ela - nunca o confessei; com aquêle pecado fiz tantas confissões sacrílegas e sacrilegamente comunguei, agora, neste leito de morte. Aquele pecado, meu primeiro e último pecado, está aqui no meu coração. Vou morrer e por causa dele me condeno; mas ai de ti... ai de ti!
Apertou-me com mais fôrça a mão e expirou.

Daquele instante para cá não tive mais sossego. Parece-me sempre ver a minha pobre Adélia no meio das chamas eternas; parece-me ouvir o seu derradeiro brado: 'Ai de ti!'

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (III)

 

TERÇA FEIRA - SOBRE A MORTE

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. A morte consiste na separação da alma e do corpo, ficando absolutamente abandonadas todas as coisas deste mundo. Considera, meu filho, que tua alma deve necessariamente separar-se do corpo, mas não sabes quando, nem onde, nem como te surpreenderá essa separação.

Não sabes se ela te apanhará na cama, no trabalho, na rua ou em outro lugar. A ruptura de uma veia, uma infecção pulmonar, uma febre, um ferimento, um tombo, um terremoto ou um raio são suficientes para te tirar a vida. E isso pode acontecer-te dentro de um ano, de um mês, de uma semana, de uma hora ou talvez mal acabes de ler estas páginas.

Quantos estavam bem à noite, quando se deitaram, e foram encontrados mortos no dia seguinte! Quantos, atacados de apoplexia, morreram rapidamente. E para onde foram depois? Se estavam na graça de Deus, felizes deles, são eternamente felizes. Se estavam no pecado, serão atormentados para todo o sempre. E tu, meu filho, se morresses neste momento, o que seria de tua alma? Infeliz de ti se não estás preparado, porque o que não está pronto para morrer bem hoje, corre grande risco de morrer mal!

II. O lugar e a hora de tua morte não te são conhecidos, mas é certíssimo que ela virá. Ainda supondo que não te surpreenda uma morte repentina ou violenta, sem embargo, a última hora da tua vida há de chegar. Nessa hora, estendido sobre o leito, assistido por um sacerdote que rezará junto de ti as orações dos agonizantes, rodeado por tua família que chora, com o crucifixo em uma mão e uma vela acesa na outra, te encontrarás às portas da eternidade.

Tua cabeça sentirá dores e não encontrará repouso; tua visão estará obscurecida; tua língua estará ardendo; tua garganta, seca, teu peito, oprimido, o sangue se gelará nas tuas veias; teu corpo será consumido pela enfermidade e teu coração transpassado por mil dores.

Quando a alma tiver abandonado o corpo, este coberto com uma mortalha, será lançado a um buraco, onde se converterá em podridão; os vermes o devorarão, e de ti só restarão alguns ossos descarnados e um pouco de pó mal cheiroso. Abre uma tumba e observa o que restou de um jovem rico, de um homem poderoso no mundo; pó e podridão...O mesmo acontecerá a ti. 

Lê estas considerações com atenção, meu filho, e lembra-te de que elas se aplicam a ti, como a todos os outros homens.  Agora o demônio, para induzir-te a pecar, se esforça e distrair-te deste pensamento, em encobrir e escusar a culpa, dizendo-te que não há grande mal em tal prazer, em tal desobediência, em faltar à missa nos dias festivos; mas no momento da morte te fará conhecer a gravidade das tuas faltas e as representará a todas vivamente, diante de ti.Que farás tu naquele terrível instante? Desgraçado de quem então se encontrar em pecado mortal!

III. Considera também que do momento da morte depende tua felicidade ou desgraça eterna. Estando para dar o último suspiro e, à luz daquela última chama, quantas coisas veremos! A Igreja acende duas velas por nós: uma no nosso Batismo, outra na hora da nossa morte; a primeira, para mostrar-nos os preceitos da lei de Deus, que devemos observar; a segunda no transe da nossa morte, para examinarmos se os observamos corretamente.

Por isso, meu filho, à claridade daquela última luz, verá se amaste a Deus durante a tua vida ou se o desprezaste; se respeitaste seu santo Nome ou se o ofendeste com blasfêmias. Verás as festas que profanaste, as missas que não ouviste, as desobediências aos teus superiores, os escândalos que destes aos teus companheiros. Verás aquela soberba e aquele orgulho que te enganaram; verás...

Mas, ó meu Deus, tudo aquilo verás no momento em que se abre diante de ti o caminho da eternidade, momento do qual depende a eternidade inteira. Sim, daquele momento depende uma eternidade de glória ou de tormentos. Compreendes bem o que te estou dizendo? Daquele momento depende para ti o Paraíso ou o Inferno; o ser para sempre feliz ou desgraçado, para sempre filho de Deus ou escravo do demônio, para sempre gozar com os Anjos e Santos no Céu ou gemer e arder para todo o sempre com os condenados no Inferno.

Teme muito por tua alma, e reflete que de uma vida santa e boa dependem a boa morte e a eterna glória. Sem perda de tempo, põe em ordem tua consciência com uma boa confissão, prometendo ao Senhor perdoar aos teus inimigos, reparar os escândalos que deste, ser mais obediente, abster-te de comer carne nos dias proibidos, não perder mais o tempo, santificar os dias consagrados a Deus, cumprir os deveres de teu estado.

E deste já, lançando-te aos pés de Jesus, diz a Ele: 'Meu Senhor e meu Deus, desde agora me converto a Vós; amo-vos e quero vos amar e servir até à morte. Virgem Santíssima, minha Mãe, ajudai-me naquele momento terrível. Jesus, Maria e José, que minha alma expire em paz em vossos braços'.

(São João Bosco)

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

A VERDADE DO SENHOR PERMANECE PARA SEMPRE


Trovejas sobre mim, Senhor, teus juízos; sacodes com temor e tremor meus ossos todos e minha alma se apavora. Paro atônito e considero que até os céus não são puros diante de teus olhos (cf. Jó 15,15; 4,18).

Se nos anjos encontraste maldade e não os poupaste, que será de mim? Caíram as estrelas do céu (cf. Ap 6,13) e eu, pó, a que me atrevo? Aqueles, cujas obras pareciam excelentes, tombaram profundamente, e os que comiam o pão dos anjos passaram a se deleitar com as vagens dos porcos.

Não há santidade, Senhor, se retiras tua mão; nenhuma sabedoria será proveitosa, se desistires da tua orientação; força alguma conta, sem a tua conservação. Pois abandonados, afundamos e perecemos; mas visitados, nos erguemos e vivemos.

Somos instáveis, por ti nos firmamos. Tíbios, por ti nos afervoramos. Foi absorvida toda vanglória na profundeza de teus juízos sobre mim. Que é a carne diante de ti? Acaso se gloriará o barro contra quem o plasma? (cf. Is 29,16).

Como poderá erguer-se com jactância o coração daquele que é submisso a Deus de verdade? O mundo inteiro não consegue ensoberbecer aquele que a verdade conseguiu submeter; nem os lábios elogiosos de todos poderão abalar quem toda sua esperança pôde firmar em Deus.

Pois aqueles que falam, nada dizem; passarão com o som das palavras; porém a verdade do Senhor permanece para sempre (Sl 116,2).

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (II)


SEGUNDA FEIRA - SOBRE O PECADO MORTAL

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. Se soubesses, meu filho, o que fazes cometendo um pecado mortal! Voltas às costas para Deus, que te criou e cumulou de benefícios; desprezas sua graça e sua amizade; e dizes com teus atos: 'Afastai-vos de mim, Senhor, já não vos quero obedecer, nem servir, nem vos reconhecer por meu Deus. Não vos servirei! Quero que meu deus seja este prazer, esta vingança, esta cólera, esta má conversação, esta blasfêmia...'

Pode-se imaginar ingratidão mais monstruosa? Entretanto, meu filho, foi isso o que fizeste todas as vezes que ofendeste ao teu Senhor.

II. Essa ingratidão é mais grave porque, para cometê-la, tu te serves dos próprios dons que Deus te deu. Ouvidos, olhos, boca, língua, mãos e pés te foram dados por Deus, e tu os empregaste para ofendê-lo. Ouve o que te diz o Senhor: 'Meu filho, Eu te criei do nada; Eu te dei tudo o que tens; nasceste na verdadeira Religião; Eu te concedi a graça do Batismo; podia ter-te deixado morrer quando estavas em pecado, e te conservei a vida para não te mandar ao Inferno; e tu, esquecendo tantos benefícios, queres servir-te desses meios que Eu mesmo te dei, para ofender-me?

Como não morrer de dor diante dessa enorme injúria lançada contra um Deus tão bom e tão benéfico em relação a nós, míseras criaturas suas?

III. Considera ademais que esse Deus, apesar de sua bondade e misericórdia infinitas, não deixa de estar justamente indignado com tuas ofensas, e que, quanto mais continuas vivendo no pecado, tanto mais excitas contra ti sua cólera.

Deves por isso temer que o senhor te abandone, se multiplicas teus pecados. Não porque te falte sua misericórdia, mas porque não terás tempo de pedir perdão, já que não merece a misericórdia do Senhor quem abusa dela para ofendê-lo. Grande é o número dos pecadores que viveram no pecado com a esperança de se converterem, e a morte chegou quando menos a esperavam. Deus não lhes deu tempo perdidos para sempre.

Não tremes em pensar que pode acontecer-te o mesmo? Depois de tantas culpas que Deus te perdoou, não poderá Ele te castigar ao primeiro pecado mortal que cometas, e precipitar-te logo no Inferno?

Dá-lhe graças por te ter esperado até agora e toma uma firme resolução, dizendo: 'Ó meu Deus, quanto vos ofendi até o presente! Basta! Quero empregar toda a vida que me resta em vos amar, em chorar meus pecados, arrependendo-me deles de todo o meu coração; meu Jesus, quero amar-vos, dai-me forças. Virgem Santíssima, Mãe de Deus, ajudai-me. Assim seja.

(São João Bosco)

domingo, 24 de novembro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Deus é Rei e se vestiu de majestade, glória ao Senhor!' (Sl 92)

Primeira Leitura (Dn 7,13-14) - Segunda Leitura (Ap 1,5-8) -  Evangelho (Jo 18,33b-37)

  24/11/2024 - SOLENIDADE DE CRISTO REI 

51. JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO 


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devemos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura acima referidas, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual? (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. E quando voltar, há de separar o joio do trigo, as ovelhas e o cabritos, uns para a glória eterna, outros para a danação eterna: 'Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso. Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda... estes irão para o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna' (Mt 25, 31 - 33.46).

INDULGÊNCIA PLENÁRIA DO DOMINGO DE CRISTO REI

  

Neste domingo, dia da solenidade de Cristo Rei, recebe Indulgência Plenária todo fiel* que recitar, publicamente e com piedosa devoção, o ato de consagração do gênero humano a Jesus Cristo Rei.

Dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai sobre nós que humildemente estamos prostrados na vossa presença, os vossos olhares. Nós somos e queremos ser vossos; e, a fim de podermos viver mais intimamente unidos a vós, cada um de nós se consagra, espontaneamente, neste dia, ao vosso sacratíssimo Coração. 

Muitos há que nunca vos conheceram; muitos, desprezando os vossos mandamentos, vos renegaram. Benigníssimo Jesus, tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao vosso Sagrado Coração.

Senhor, sede rei não somente dos fiéis, que nunca de vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos, que vos abandonaram; fazei que estes tornem, quanto antes, à casa paterna, para não perecerem de miséria e de fome. Sede rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que, em breve, haja um só rebanho e um só pastor.

Senhor, conservai incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que, de um polo a outro do mundo, ressoe uma só voz: louvado seja o coração divino, que nos trouxe a salvação; honra e glória a ele, por todos os séculos. Amém.

* Para que alguém seja capaz de lucrar indulgências, deve ser batizado, não estar excomungado e encontrar-se em estado de graça, pelo menos no fim das obras prescritas. O fiel deve também ter intenção, ao menos geral, de ganhar a indulgência e cumprir as ações prescritas, no tempo determinado e no modo devido, segundo o teor da concessão. A indulgência plenária só se pode ganhar uma vez ao dia.

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (I)


DOMINGO - SOBRE A FINALIDADE DO HOMEM

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. Considera, meu filho, que Deus te criou à sua imagem e semelhança, que te deu uma alma e um corpo, sem que da tua parte houvesse para isso nenhum mérito. Ademais, pelo Batismo Deus te fez seu filho, te amou sempre e te ama ainda como Pai amoroso; o único fim para o qual te criou é para que o ames e sirvas a Ele nesta vida e, desse modo, possas merecer um dia ser eternamente feliz com Ele no Paraíso.

Não penses que vives neste mundo para divertir, enriquecer, comer, beber e dormir, como os animais irracionais; pois o fim para o qual foste criado é infinitamente mais nobre e mais sublime; ou seja, para amar e servir a Deus nesta vida, e salvar assim a tua alma.

Se procederes desse modo, que consolo sentirás na hora da morte! Mas se, pelo contrário, não pensares seriamente em servir a Deus, que remorsos não sentirás naquele instante, em que reconhecerás claramente que as riquezas e os prazeres, que tanto procuraste na terra, só serviram para encher de amarguras o teu coração, fazendo-te ver o dano que causaram à tua alma!.

Por isso, meu filho, não queiras ser daqueles que só pensam em satisfazer o corpo com atos, palavras e divertimentos censuráveis; e, no fim da vida, se encontrar em grande perigo de perdição eterna. O secretário de um rei da Inglaterra morreu exclamando: 'Infeliz de mim!Gastei tanto papel para escrever as cartas de meu senhor, e não empreguei sequer uma folha de papel para anotar meus pecados e fazer uma boa confissão!'.

II. Verás melhor a importância do teu fim se considerares que tua salvação eterna ou tua eterna condenação dependem de ti. Se salvas tua alma, muito bem, serás feliz para sempre; mas se a perdes, perdes tudo - alma, corpo, Céu, Deus que é teu fim. E para toda a eternidade serás desgraçado!

Não imites a loucura dos desgraçados que dizem: 'Vou cometer agora este pecado, mas depois me confessarei'.Não te enganes a ti mesmo com tais palavras, porque o Senhor amaldiçoa o homem que peca na esperança de obter perdão. Lembra-te de que os condenados que estão no Inferno tinham a intenção de mais tarde se converter e, apesar disso, se perderam por toda a eternidade.

Estás seguro de que Deus te concederá tempo para te confessares? Quem te garante que não morrerás logo depois de pecar e que tua alma não será precipitada imediatamente no Inferno? Não achas que seria loucura se te feristes gravemente, na esperança de encontrar depois um médico que te curasse? Renuncia, pois, ao pensamento enganador de só mais tarde te consagrares ao serviço de Deus; hoje mesmo detesta e abandona o pecado, que é o maior de todos os males e que, desviando-te do teu fim último, te priva de todos os bens.

III. Quero também que conheças um terrível laço de que se serve o demônio para prender e levar à perdição grande número de cristãos: é deixar que se instruam na Religião, mas que depois não a pratiquem. Sabem perfeitamente que Deus os criou para amá-lo e servir a Ele; e, no entanto, empregam todo o tempo em lavrar a própria ruína eterna! De fato quantas pessoas vemos no mundo que pensam em tudo, menos na sua salvação!

Se se diz a um jovem que freqüente os sacramentos, que faça um pouco de oração ou algo assim, logo responde: 'Tenho outras coisas que fazer, tenho que trabalhar, que me divertir...'. Ó infeliz! E não tens uma alma para salvar? Quanto a ti, jovem católico que lês estas considerações, não te deixes enganar pelo demônio; promete a Deus que de agora em diante todas as tuas palavras, pensamentos e ações se orientarão para a salvação da tua alma.

Grave loucura seria procurares com tanto afinco o que deve acabar em pouco tempo e te esqueceres da eternidade que não tem fim. São Luís Gonzaga poderia ter gozado de todos os prazeres, honras e riquezas deste mundo, mas renunciou a todos eles dizendo: 'De que me servem essas coisas para a vida eterna?'. Conclui tu também com este pensamento: 'Tenho uma alma; se a perco, perco tudo. Ainda que ganhasse o mundo inteiro à custa de minha alma, de que me aproveitaria?' De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder sua alma?

Se chego a ser um grande homem, um homem muito rico, se consigo atingir a celebridade como sábio que domina todas as ciências e todas as artes do mundo, mas depois perco minha alma, de que me adiantarão todas essas coisas? A própria sabedoria de Salomão não me valeria de nada se me condenasse. Diz, pois assim: 'Deus me criou para salvar a minha alma, e quero salvá-la a todo custo; amar a Deus e salvar minha alma serão, a partir de agora, o único objetivo de todos os meus cuidados. Trata-se de ser eternamente feliz ou eternamente desgraçado; devo estar resolvido a perder tudo para me salvar. Meu Deus, perdoai os meus pecados e não permitais que jamais tenha a desgraça de vos ofender novamente; ajudai-me com vossa santa graça para que vos possa amar e servir fielmente. Maria, minha esperança, rogai por mim'.

(São João Bosco)