segunda-feira, 4 de abril de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXIX)

Capítulo XXIX

As Longas Penas de Expiação no Purgatório - Mundanismo - Santa Brígida: a Jovem Cortesã e o Soldado - Beata Maria Villani e a Senhora da Sociedade

As almas que se deixam deslumbrar pelas vaidades do mundo, ainda que tenham o privilégio de escapar da condenação, terão de sofrer terríveis castigos. Abramos as 'Revelações de Santa Brígida', tão apreciadas pela Igreja. Lemos no Livro Seis dessa obra que a santa se viu transportada em espírito para o Purgatório e que, entre outros, viu ali uma jovem de alta estirpe que outrora se havia abandonado aos luxos e vaidades do mundo. 

Essa alma infeliz contou-lhe a história de sua vida e o triste estado em que se encontrava então. 'Felizmente' - disse ela - 'antes da morte confessei os meus pecados com disposição para escapar do inferno, mas agora sofro aqui para expiar a vida mundana que minha mãe não me impediu de levar! Ai!' - acrescentou, com um suspiro - 'este rosto, que adorava ser maquiado e que procurava chamar a atenção de todos, agora é devorado por chamas por dentro e por fora, e essas chamas são tão violentas que a cada momento parece que vou morrer. Esses ombros, esses braços, que eu adorava ver admirados, estão cruelmente presos em correntes de ferro em brasa. Esses pés, outrora treinados para a dança, agora estão cercados de víboras que os rasgam com as suas presas e os sujam com seu lodo imundo; todos esses membros que adornei com joias, flores e diversos outros ornamentos são agora uma prisão da mais horrível tortura. Ó mãe, mãe! - ela gritou - 'quão culpada você foi em relação a mim! Foste tu que, por uma indulgência fatal, encorajastes o meu gosto pela ostentação e por gastos extravagantes; fostes tu que me levastes a teatros, festas e bailes, e àqueles encontros mundanos que são a ruína das almas... Se não incorri na condenação eterna foi porque uma graça especial da misericórdia de Deus tocou o meu coração com sincero arrependimento. Fiz uma boa confissão e assim fui libertada do Inferno, mas apenas para me ver precipitada nos mais horríveis tormentos do Purgatório'. 

Já observamos que o que se diz dos membros torturados não deve ser tomado literalmente, porque a alma está separada do corpo; mas Deus, suprindo a falta de órgãos corporais, faz a alma experimentar as sensações que acabamos de descrever. A biógrafa da santa conta-nos que esta relatou a visão a uma prima da falecida, igualmente dada às ilusões das vaidades mundanas. A prima ficou tão impressionada com as revelações que renunciou aos luxos e diversões perigosas deste mundo, dedicando-se o resto da sua vida à penitência em uma ordem religiosa austera.

A mesma Santa Brígida, em outro êxtase, viu o julgamento de um soldado que acabara de morrer. Viveu nos vícios muito comuns de sua profissão, e teria sido condenado ao inferno se a Santíssima Virgem, a quem sempre havia honrado, não o tivesse preservado dessa desgraça, obtendo para ele a graça de um arrependimento sincero. A santa o viu comparecer perante o tribunal de Deus e ser condenado a um longo Purgatório pelos pecados de todos os tipos que havia cometido. 'O castigo dos olhos' - disse o Juiz - 'será contemplar os objetos mais assustadores; a da língua, para ser perfurada com agulhas pontiagudas e atormentada pela sede; a do toque, ser mergulhada em um oceano de fogo'. E então a Santa Virgem intercedeu, obtendo para ele alguma mitigação do rigor da sentença.

Relatemos ainda outro exemplo dos castigos reservados aos mundanos no Purgatório, quando não foram, como o rico glutão do Evangelho, sepultados no Inferno. A Beata Maria Villani, religiosa dominicana, tinha uma viva devoção às santas almas, e muitas vezes acontecia que estas lhe apareciam, seja para lhe agradecer ou para implorar a ajuda de suas orações e boas obras. Um dia, enquanto orava por elas com grande fervor, foi transportada em espírito para a prisão de expiação. Entre as almas que ali sofriam, ela viu uma mais cruelmente atormentada que as outras, no meio de chamas que a envolviam inteiramente. 

Tocada de compaixão, a serva de Deus interrogou a alma. 'Estou aqui' - respondeu ela - 'há muito tempo, castigada por minha vaidade e minha extravagância escandalosa. Até agora não recebi o menor alívio. Enquanto eu estava na terra, totalmente ocupada com a minha aparência, meus prazeres e diversões mundanas, eu pensava muito pouco em meus deveres como cristã, e os cumpri apenas com grande relutância e de maneira preguiçosa. Meu único pensamento sério era promover os interesses mundanos da minha família. Veja agora como sou castigada: tudo isso não me vale agora nem um pensamento passageiro; meus pais, meus filhos, aqueles amigos com quem vivia intimamente – todos se esqueceram de mim'.

Maria Villani implorou a essa alma que lhe permitisse sentir algo do que sofria e lhe pareceu então que um dedo de fogo tocava sua testa, e a dor que ela experimentou instantaneamente fez com que o seu êxtase cessasse de imediato. A marca ficou e tão profunda e dolorosa permaneceu que, dois meses depois, ainda podia ser vista e fez a santa freira padecer os mais terríveis sofrimentos. Ela suportou essa dor em espírito de penitência, para o alívio da alma que lhe havia aparecido, a qual, algum tempo depois, retornou para lhe anunciar a sua libertação.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

domingo, 3 de abril de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!' (Sl 125)

 03/04/2022 - Quinto Domingo da Quaresma 

19. JESUS E A MULHER ADÚLTERA


Neste Quinto Domingo da Quaresma, o Evangelho ratifica, mais uma vez, o testamento da misericórdia infinita de Deus. Deus, sendo Amor e Misericórdia infinitos, quer a salvação do homem e espera, com imensos tesouros da graça e paciência, a volta do filho pródigo ou a conversão da mulher adúltera, a floração da figueira ainda estéril, o encontro da dracma perdida ou o reencontro com a ovelha desgarrada.

Jesus está no templo, depois de uma noite de orações no Monte das Oliveiras, pregando sabedoria e misericórdia ao povo reunido à sua volta. E eis que, de repente, é interrompido pela entrada súbita de um bando de fariseus que trazem consigo uma mulher apanhada em adultério. Os fariseus interrogam Jesus, então, com malícia diabólica: 'Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?' (Jo 8, 4-5). O dilema impetrado pela iniquidade era sórdido: Jesus, condenando a pecadora à morte, violaria a lei romana ou salvando-lhe a vida, desconsideraria a Lei de Moisés. Qualquer que fosse a sua decisão, manifestada publicamente no Templo, Jesus estaria exposto às violações e sanções das leis romanas ou às do Sinédrio.

Diante da investida maliciosa, 'Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão' (Jo 8, 6). Trata-se da única referência a Jesus escrevendo nas Escrituras. O que teria Jesus escrito no chão? Palavras ou uma frase inteira? Os nomes ou a relação dos pecados dos homens à sua volta? Com o dedo no chão...seria o piso de uma das áreas internas do Templo de terra solta ou areia? Num piso de pedra, como entender a escrita do dedo de Jesus? Perguntas sem respostas ecoando pelos tempos. Mas, certamente, foi algo que lhes dissipou o frêmito. Por que diante ainda de questionamentos de outros e ante a resposta contundente de Jesus: 'Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra' (Jo 8, 7), começaram a sair em silêncio, um a um, a começar dos mais velhos. Não ficou nenhum dos acusadores e a mulher adúltera se viu, então, sozinha diante de Jesus. E Jesus manifesta à mulher pecadora a imensa misericórdia de Deus e a graça do perdão: 'Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais' (Jo 8, 11).

Naquele dia, no templo, os fariseus transtornados de orgulho tornaram-se réus de sua própria malícia e suspeição; a mulher, exposta à execração pública pelo pecado cometido, obteve a graça do perdão. Naquele dia, no templo, não sabemos exatamente o que Jesus escreveu no chão, mas foi algo que marcou indelevelmente o tesouro das graças divinas, numa mensagem gravada a ferro e a fogo no coração humano: 'Quero a misericórdia e não o sacrifício...' (Mt 12, 7).

sábado, 2 de abril de 2022

SOMBRAS DA PAIXÃO (III): CONDENAÇÃO


Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo
convocaram um conselho contra Jesus,
para condená-lo à morte.


Depois levaram Jesus até Pilatos
 tramaram e convenceram as multidões 
a pedir por Barrabás e fazer Jesus morrer.


Eles gritaram com força: 'Seja crucificado!'


Pilatos mandou trazer uma bandeja de água
e lavou as mãos diante a multidão, condenando
Jesus à flagelação e à morte de cruz.


Ecce Homo - Eis o Homem - o Filho do Deus vivo
será condenado pelos homens por crime algum
e levado ao Calvário das sombras da Paixão.

02 DE ABRIL - SÃO FRANCISCO DE PAULA


O grande santo das curas prodigiosas, São Francisco de Paula nasceu na Calábria/Itália em 1416. Analfabeto, místico e profético, tornou-se o 'eremita da caridade' e fundou a Ordem dos Mínimos (formada por aqueles que deveriam ser os menores dos servos de Cristo). 

São Francisco de Paula tinha, entre as suas devoções particulares, o culto ao mistério da Santíssima Trindade, à Anunciação da Virgem e à Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Faleceu na Sexta-feira Santa do ano de 1507 (02/04/1507), aos 91 anos de idade. Foi canonizado pelo Papa Leão X em 1518. Em 1562, durante as Guerras de Religião na Europa, os protestantes calvinistas invadiram o convento de Plessis, na França e daí retiraram do sepulcro o corpo ainda incorrupto do santo e o queimaram em seguida; por esta razão, diz-se que São Francisco de Paula foi martirizado depois da morte.

Dotado de poderes sobrenaturais, curou muitas doenças e realizou milagres extraordinários. Além da levitação e da graça da maternidade que concedeu a muitas mulheres estéreis, promoveu a ressuscitação de várias pessoas: seu sobrinho Nicolas, um malfeitor que havia sido morto por enforcamento e, por duas vezes, de um homem chamado Tomás de Yvre, morto em acidentes distintos durante a construção de um convento da cidade de Paterne, na França.


ORAÇÃO A SÃO FRANCISCO DE PAULA

Ó glorioso São Francisco de Paula que tanto vos aprofundastes na humildade, único alicerce de todas as virtudes, alcançando através dela um grande prestígio junto de Deus, a tal ponto de jamais lhe terdes pedido graça alguma que prontamente não vos fosse concedida.

Aqui venho aos vossos pés para suplicar-vos. Extinga do meu coração todo afeto de soberba e vaidade e em seu lugar floresçam os preciosos frutos da humildade para que possa ser verdadeiro devoto e imitador vosso e merecer o grande patrocínio que, de vossa eficaz intercessão, espero e rogo me alcanceis de Deus a graça de que tanto necessito, não sendo contra a vontade do Altíssimo. Amém.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

'CONSUMADO PELOS SOFRIMENTOS...'


Cristo, por suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com seus discípulos, dizia-lhes: 'Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado' (Mt 20,18-19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado a sua morte em Jerusalém.

Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com seu corpo depois da morte; predisse igualmente que aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal. De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e sua impassibilidade. O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e portanto impassível, se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não poderia salvar-se. Este motivo somente Ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1 Cor 2,10).

Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a Paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em sua glória. Por isso, veio ao encontro do seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo. Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: 'Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida' (Hb 2,10).

Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que, por nossa causa, Ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída por meio da cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador: 'Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado' (Jo 7,38-39); e chama glória a morte na cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto dele, antes da criação do mundo.

(Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia)

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS 

quinta-feira, 31 de março de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (140/142)


140. POR QUE DEVO SOFRER TANTO?

São Pedro Mártir (falecido em 1252), da Ordem Dominicana, teve de sofrer incríveis calúnias e perseguições, mesmo sendo inocente e santo. Ajoelhou-se um dia aos pés do Crucifixo e queixou-se a Nosso Senhor de seus sofrimentos:
➖ Senhor, que mal fiz eu para sofrer tanto?
Enquanto assim se lamentava ouviu o santo, como vindas da Cruz, estas palavras:
➖ E que mal fiz eu para sofrer tanto na cruz? Teus sofrimentos não se podem comparar com os meus. Suporta-os por isso com paciência.

Estas palavras deram ânimo ao santo. Daí em diante, quando tinha de sofrer, olhava para o Crucifixo, lembrando-se que o Filho de Deus teve de sofrer imensamente mais do que ele.

141. A CONFIANÇA RECOMPENSADA

O imperador Napoleão I entrou, certa vez, num restaurante de Paris, acompanhado de seu ajudante Duroc. Ali ninguém os conhecia. Depois de haverem tomado a refeição, e apresentada a conta de 14 francos, aconteceu que nenhum deles tinha dinheiro consigo.

O imperador estava incógnito e não queria dar-se a conhecer. Seu ajudante, dirigindo-se à dona do restaurante, pediu-lhe que tivesse paciência de esperar uma hora e o pagamento seria feito pontualmente. A dona, porém, uma velha muito segura, não concordou; pelo contrário, ameaçou-os com a polícia se não pagassem imediatamente.

A coisa ia ficando feia, quando chegou o garçom que, interessando-se pelos hóspedes, disse à patroa:
➖ Estes senhores fazem-me boa impressão; não devem ser gente má. Pagarei por eles os 14 francos. Se me enganar, perderei eu o dinheiro e não a senhora; mas peço-lhe que deixe os homens em paz. Em seguida pagou a conta. Os dois senhores agradeceram e logo se retiraram.

Passada uma hora, ou pouco mais, apareceu de novo o ajudante do imperador e, dirigindo-se à dona do restaurante perguntou:
➖ Senhora, quanto vale este seu restaurante?
➖ Em todo caso mais que 14 francos - respondeu ela um tanto agastada.
Mas o homem insistiu:
➖ Diga-me seriamente: quanto a senhora quer por este seu restaurante?
➖ Bem; 30.000 francos e nem um centavo a menos.

Puxando a sua carteira, pagou-lhe Duroc aquela soma e disse:
➖ Por ordem do meu senhor faço presente deste restaurante ao garçom em reconhecimento pela confiança que depositou em nós. Admirada, a senhora perguntou:
➖ E quem era aquele seu companheiro?
➖ É o imperador Napoleão...
Se assim recompensa um homem a confiança nele depositada, como não recompensará o bom Deus a quem nele confiar?

142. VOCÊ TEM RAZÃO

Havia um senhor rico à moderna, que não queria saber de religião, nem de igreja, nem de preceito pascal, nem de oração. Com ele servia, há muitos anos, um ótimo criado, piedoso, fiel e que lhe queria muito bem. Esse criado, valendo-se da confiança que lhe dava o patrão, dizia-lhe às vezes:
➖ Mas, senhor patrão, pense também um pouco em Deus e em sua alma.
➖ Fique tranquilo, respondia-lhe o patrão. Veja ou eu sou predestinado e então me salvarei da mesma forma sem ir à igreja receber os sacramentos e rezar; ou não sou predestinado, e então, faça eu o bem que fizer, me condenarei do mesmo modo.

Aconteceu que, um dia, aquele senhor caiu doente. Chamou logo o servo fiel e disse-lhe:
➖ Vá chamar o médico para mim.
O criado ouviu, mas não foi. Chegada a tarde sem que o médico aparecesse, perguntou o enfermo:
➖ Você não chamou o médico?
➖ Escute senhor patrão, eu pensei assim: ou Deus destinou que meu patrão sare, e então sarará também sem médico; ou destinou que morra, e então, mesmo com todos os médicos do mundo, morrerá igualmente; por isso é inútil chamar o médico.
➖ Você é um tolo, um imbecil! - gritou o patrão, furioso. Deus não quer fazer milagres sem motivo, quer que empreguemos os meios que estabeleceu. Em caso de doença quer que se chame o médico; e você vá correndo chamá-lo, ouviu?
➖Sim; sim, senhor; vou já; por que o senhor patrão não raciocina do mesmo modo quando se trata de sua alma?
A observação era acertada e o patrão teve de responder:
➖ Você tem razão!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)