quinta-feira, 31 de março de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (140/142)


140. POR QUE DEVO SOFRER TANTO?

São Pedro Mártir (falecido em 1252), da Ordem Dominicana, teve de sofrer incríveis calúnias e perseguições, mesmo sendo inocente e santo. Ajoelhou-se um dia aos pés do Crucifixo e queixou-se a Nosso Senhor de seus sofrimentos:
➖ Senhor, que mal fiz eu para sofrer tanto?
Enquanto assim se lamentava ouviu o santo, como vindas da Cruz, estas palavras:
➖ E que mal fiz eu para sofrer tanto na cruz? Teus sofrimentos não se podem comparar com os meus. Suporta-os por isso com paciência.

Estas palavras deram ânimo ao santo. Daí em diante, quando tinha de sofrer, olhava para o Crucifixo, lembrando-se que o Filho de Deus teve de sofrer imensamente mais do que ele.

141. A CONFIANÇA RECOMPENSADA

O imperador Napoleão I entrou, certa vez, num restaurante de Paris, acompanhado de seu ajudante Duroc. Ali ninguém os conhecia. Depois de haverem tomado a refeição, e apresentada a conta de 14 francos, aconteceu que nenhum deles tinha dinheiro consigo.

O imperador estava incógnito e não queria dar-se a conhecer. Seu ajudante, dirigindo-se à dona do restaurante, pediu-lhe que tivesse paciência de esperar uma hora e o pagamento seria feito pontualmente. A dona, porém, uma velha muito segura, não concordou; pelo contrário, ameaçou-os com a polícia se não pagassem imediatamente.

A coisa ia ficando feia, quando chegou o garçom que, interessando-se pelos hóspedes, disse à patroa:
➖ Estes senhores fazem-me boa impressão; não devem ser gente má. Pagarei por eles os 14 francos. Se me enganar, perderei eu o dinheiro e não a senhora; mas peço-lhe que deixe os homens em paz. Em seguida pagou a conta. Os dois senhores agradeceram e logo se retiraram.

Passada uma hora, ou pouco mais, apareceu de novo o ajudante do imperador e, dirigindo-se à dona do restaurante perguntou:
➖ Senhora, quanto vale este seu restaurante?
➖ Em todo caso mais que 14 francos - respondeu ela um tanto agastada.
Mas o homem insistiu:
➖ Diga-me seriamente: quanto a senhora quer por este seu restaurante?
➖ Bem; 30.000 francos e nem um centavo a menos.

Puxando a sua carteira, pagou-lhe Duroc aquela soma e disse:
➖ Por ordem do meu senhor faço presente deste restaurante ao garçom em reconhecimento pela confiança que depositou em nós. Admirada, a senhora perguntou:
➖ E quem era aquele seu companheiro?
➖ É o imperador Napoleão...
Se assim recompensa um homem a confiança nele depositada, como não recompensará o bom Deus a quem nele confiar?

142. VOCÊ TEM RAZÃO

Havia um senhor rico à moderna, que não queria saber de religião, nem de igreja, nem de preceito pascal, nem de oração. Com ele servia, há muitos anos, um ótimo criado, piedoso, fiel e que lhe queria muito bem. Esse criado, valendo-se da confiança que lhe dava o patrão, dizia-lhe às vezes:
➖ Mas, senhor patrão, pense também um pouco em Deus e em sua alma.
➖ Fique tranquilo, respondia-lhe o patrão. Veja ou eu sou predestinado e então me salvarei da mesma forma sem ir à igreja receber os sacramentos e rezar; ou não sou predestinado, e então, faça eu o bem que fizer, me condenarei do mesmo modo.

Aconteceu que, um dia, aquele senhor caiu doente. Chamou logo o servo fiel e disse-lhe:
➖ Vá chamar o médico para mim.
O criado ouviu, mas não foi. Chegada a tarde sem que o médico aparecesse, perguntou o enfermo:
➖ Você não chamou o médico?
➖ Escute senhor patrão, eu pensei assim: ou Deus destinou que meu patrão sare, e então sarará também sem médico; ou destinou que morra, e então, mesmo com todos os médicos do mundo, morrerá igualmente; por isso é inútil chamar o médico.
➖ Você é um tolo, um imbecil! - gritou o patrão, furioso. Deus não quer fazer milagres sem motivo, quer que empreguemos os meios que estabeleceu. Em caso de doença quer que se chame o médico; e você vá correndo chamá-lo, ouviu?
➖Sim; sim, senhor; vou já; por que o senhor patrão não raciocina do mesmo modo quando se trata de sua alma?
A observação era acertada e o patrão teve de responder:
➖ Você tem razão!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)