sábado, 21 de outubro de 2017

PARA QUEM QUISER A SANTIDADE

Sumário. Quem quiser ser santo, deve desprender-se das criaturas, vencer as paixões, vencer-se a si próprio, amar as cruzes e sofrer muito. Ora, o santo desejo, ao passo que nos dá força para praticar tudo isso, torna-nos a pena mais leve. Pode-se dizer que já é quase vencedor quem possui um grande desejo de vencer. Irmão meu, lança um olhar sobre a tua alma, vê se tens grande desejo da perfeição, e roga a Jesus e Maria que o façam sempre mais crescer em ti.

I. Nenhum santo alcançou a perfeição sem um grande desejo de chegar à santidade. Assim como os pássaros precisam de asas para voar, assim às almas são necessários os santos desejos para caminharem à perfeição. Quem quer ser santo deve desprender-se das criaturas, vencer as paixões, vencer-se a si próprio, amar as cruzes, e para fazer tudo isso, requer-se grande força e é mister sofrer muito. 

Ora, o que faz o santo desejo? Responde São Lourenço Justiniano: 'Subministra forças e faz julgar a pena mais leve'. Razão porque o mesmo santo acrescenta que já é quase vencedor quem possui grande desejo de vencer: Magna victoriae pars est vincendi desiderium. Quem pretende subir ao cume de um alto monte, nunca chegará ali sem um grande desejo de chegar. Este dar-lhe-á coragem e força para aguentar as fadigas da subida; sem ele ficará prostrado na encosta desgostoso e desanimado.

São Bernardo afirma que cada um progredirá na perfeição à proporção do desejo que tiver. E Santa Teresa diz que Deus ama as almas generosas que têm grandes desejos. Por isso a santa dava a todos esta exortação: 'Os nossos pensamentos devem ser grandes, porque deles virá o nosso bem. Não convém abaixar os desejos, mas confiar em Deus, que, esforçando-nos, pouco a pouco poderemos chegar até aonde, com a divina graça, chegaram os santos'. 

É assim que os santos em breve tempo atingiram um alto grau de perfeição e fizeram grandes coisas para Deus: Consummatus in brevi, explevit tempora multa – Tendo vivido pouco tempo, encheu a carreira de uma larga vida. Assim São Luiz de Gonzaga chegou em poucos anos a tão alto grau de santidade, que Santa Maria Magdalena de Pazzi, vendo-o num êxtase, no paraíso, disse se lhe afigurava de certo modo que não havia no céu outro santo que gozasse de mais glória do que São Luiz. Ao mesmo tempo a santa compreendeu que São Luiz subiu tão alto pelo grande desejo de amar a Deus tanto como o merece, e que o jovem santo, vendo que nunca poderia chegar a este ponto, sofreu na terra um martírio de amor.

II. São Bernardo, sendo já religioso, para afervorar-se, costumava perguntar a si mesmo: Bernardo, para que vieste? – Bernarde, ad quid venisti? A mesma pergunta te dirijo a ti: 'Que vieste fazer na casa de Deus? Para que deixaste o mundo? Para te fazeres santo?E agora que fazes? Para que perdes o tempo? Dize-me: desejas fazer-te santo? Se não o desejas, é certo que nunca o serás. Se não tens este desejo, pede-o a Jesus Cristo, pede-o a Maria'. E se o tens, reveste-te de coragem, diz o mesmo São Bernardo, porque muitos não se fazem santos por falta de coragem. Para que temeremos? De quem deveremos desconfiar? O mesmo Senhor que nos deu força para deixarmos o mundo, dar-nos-á também força para abraçarmos uma vida santa.

Eis-me aqui, meu Deus, eis-me aqui pronto para executar quanto de mim quiserdes. Domine, quid me vis facere? – Senhor, que quereis que eu faça? Dizei-me, Senhor, o que de mim desejais, que em tudo Vos quero obedecer. Sinto ter perdido tanto tempo em que podia agradar-Vos e não o fiz. Agradeço-Vos que ainda me dais tempo para fazê-lo. Não o quero mais perder. Quero e desejo ser santo; não para receber de Vós mais glória, ou gozar mais: quero ser santo para mais Vos amar e dar-Vos mais gosto nesta vida e na outra. 

Fazei, Senhor, que eu Vos ame e Vos compraza quanto Vós o desejais. Eis tudo o que Vos peço, ó meu Deus: quero amar-Vos, quero amar-Vos, e para Vos amar ofereço-me a sofrer qualquer desgosto, qualquer enfermidade, qualquer pena. Senhor meu, aumentai sempre em mim este desejo e dai-me a graça de o por em obra, por mim mesmo nada posso; mas ajudado por Vós posso tudo. Ó Eterno Pai, por amor de Jesus Cristo, atendei-me. Jesus meu, pelos méritos da vossa Paixão, socorrei-me. Maria, minha esperança, por amor de Jesus, protegei-me. 

(Excertos da obra 'Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I de Santo Afonso Maria de Ligório)

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

PADRE PIO E AS VOZES MISTERIOSAS

Durante a Primeira Guerra Mundial, a porta principal do monastério de Nossa Senhora das Graças era mantida fechada todas as noites, depois do toque da hora do Angelus. Uma barra de ferro era colocada na porta e o monastério ficava protegido contra estranhos.

Uma certa noite, o Superior do monastério, o Padre Raffaele, foi perturbado por vozes que gritavam em coro: 'Viva o Padre Pio,! Viva o Padre Pio! Viva o Padre Pio!' Descontente com aquela presença de intrusos, comunicou imediatamente ao porteiro, o irmão Gerardo, que pessoas estranhas haviam adentrado ao monastério, mesmo após as portas já fechadas. Ordenou ao irmão que fosse até elas, e as intimassem peremptoriamente a sair do local.

Assim o fez o Irmão Gerardo e, descendo ao pátio, encontrou as portas cerradas e nenhuma pessoa no interior do monastério  - 'Não há ninguém e as portas estão fechadas'. O Padre Raffaele ficou perplexo porque tinha ouvido não uma, mas várias vozes em uníssono, em claro e bom som, saudando o padre Pio: 'Viva o Padre Pio,! Viva o Padre Pio! Viva o Padre Pio!'

Ciente também que no Monastério de Nossa Senhora das Graças ocorriam diversos fatos bem incomuns e que estes fatos estavam sempre associados à pessoa do Padre Pio. O Padre Raffaele havia vivido com o Padre Pio o tempo suficiente para saber que ele vivia em uma realidade sobrenatural. Sobre ele, um dos capuchinos dizia - 'Padre Pio vive com um pé na terra e outro no céu'. Resolveu, assim, procurar o Padre Pio na manhã seguinte para discutir o assunto.

Na manhã seguinte, Padre Raffaele questionou o Padre Pio sobre as misteriosas vozes que tinha ouvido na noite anterior. - 'Todas as portas estavam fechadas e eu tive certeza de que algumas pessoas haviam entrado no monastério e gritavam: 'Viva o Padre Pio! Viva o Padre Pio! Viva o Padre Pio!' Mas quando o irmão Gerardo desceu as escadas para colocar essas pessoas para fora, não encontrou ninguém. Você pode me explicar o que pode ter acontecido?'

Padre Pio respondeu candidamente: 'Eram as almas dos soldados falecidos que haviam subido a colina e vindo ao monastério para agradecer as minhas orações. Há mais almas de mortos que de vivos que sobem a colina do monastério para pedir as minhas orações'.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

PROFECIAS DE SANTO ÂNGELO DA SICÍLIA



Profecia de Santo Ângelo da Sicília ou de Jerusalém (1185-1220)

O santo pediu ao Senhor que tivesse piedade da Igreja e livrasse Jerusalém dos seus inimigos. O Senhor contestou:

Quando meu povo conhecer seus próprios erros e contrito fizer penitência de seus pecados, abraçar a justiça e perseverar nela, virá aquele que deve livrar a cidade santa, que estabelecerá a paz nas nações e que será o consolo dos justos.

E quem será este homem - perguntou Ângelo - que deve libertar vossa cidade?

O Senhor respondeu benignamente:

Virá um Rei da antiga gente e da estirpe da França, insigne por sua piedade para com Deus, o qual será bem acolhido e amado por todos os príncipes cristãos que professam a fé ortodoxa.

Seu poder aumentará por mar e por terra: ajudará a Igreja para que recupere, seus mais indispensáveis pertences já quase todos perdidos, e unido ao Romano Pontífice, fará que a Cristandade seja purgada de seus erros, e restituirá a Igreja àquele estado no qual os bons sempre desejaram vê-la. 

Ele reunirá exércitos e os mandará aonde for necessário: grande multidão de gente armada o seguirá: e aqueles que nestes combates derramarão seu sangue em honra de meu nome terão glória e prêmio eterno. Este monarca também, havendo reunido uma poderosa frota, passará o mar e livrará a cidade santa de Jerusalém, restabelecerá meu culto e reedificará as Igrejas destruídas.

Dito isso, o Senhor desapareceu.

'Excertos da obra 'Las profecias en relacion al estado actual y al destino futuro del mundo, sobre el fin de la revolución, imperio del gran monarca e triunfos de la iglesia catolica', cap. XXVII, p. 117 - 118).

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

16 DE OUTUBRO - SANTA MARGARIDA ALACOQUE


A esta humilde religiosa da Visitação, Jesus Cristo delegou a missão de difundir ao mundo a Devoção ao seu Amantíssimo Coração (1675). Quantas dores e sacrifícios heroicos não custaram a essa pequena serva para cumprir à risca tão profundos desígnios divinos.  No último retiro antes de sua morte, eis as palavras da santa do Coração de Jesus que expressam a beleza singular de sua alma:

'No primeiro dia do retiro, a minha ocupação consistia em pensar donde provinha o meu grande desejo de morrer, pois não é próprio de uma pecadora como eu o desejar comparecer perante o seu Juiz cuja santidade penetra até aos nossos mais íntimos recessos. Como podes, pois, ó minha alma sentir tamanha alegria ao aproximar-se a morte? Tu só pensas em pôr termo ao teu desterro e exultas de gozo ao pensar que em breve sairás da tua prisão. Toma cuidado, porém, para que de uma alegria temporal, filha talvez da ignorância, e da cegueira, não precipites na tristeza eterna e desta prisão mortal e passageira não caias naquele cárcere eterno, onde se extingue a esperança. Deixemos, pois, ó minha alma, esta alegria e este desejo de morrer às almas santas e fervorosas, para as quais estão reservadas as grandes recompensas. Pensemos qual não seria a nossa sorte, se não fora a bondade de Deus para conosco ainda maior que a sua justiça. As nossas obras nenhuma outra coisa nos deixam esperar senão castigos. Poderás tu, ó minha alma, suportar eternamente a ausência d'Aquele cuja presença te causa tantas consolações e cuja privação te faz sentir tão cruéis tormentos? Meu Deus, como são difíceis essas contas! Na impossibilidade de as fazer eu mesma, volto-me para Vós que sois o meu adorável Mestre. Confio-Lhe todos os pontos sobre que devo ser julgada: as nossas regras, as nossas constituições, a nossa direção'.

'Depois de Lhe haver confiado todos os meus interesses, experimentei uma paz admirável. Jesus conservou-me muito tempo aos seus pés, como que abismada na minha nulidade, à espera da sentença que pronunciará sobre esta sua miserável criatura.'

'Sinto-me incapaz de solver as minhas dívidas; bem o vedes Vós, ó meu Divino Mestre. Ponde-me na prisão; aí ficarei contente, contanto que seja no vosso Divino Coração; e quando nEle me tiverdes encerrado, apertai-me bem com as correntes do vosso amor e conservai-me assim enquanto eu não vos pagar tudo o que vos devo; e como nunca o poderei fazer, não me solteis jamais'.

É TEMERÁRIO PEDIR GRAÇAS EXTRAORDINÁRIAS

'Os dons extraordinários não de­vem ser temerariamen­te pedidos, nem deles devem presunçosa­mente ser esperados fru­tos de obras apostólicas (Lumen Gentium, nº 33)

Quando souberdes ou ouvirdes dizer que Deus concede fa­vores [sobrenaturais] às almas, nunca Lhe supliqueis que vos leve por esse caminho, nem aspireis a is­so. Ainda que tal caminho vos pareça muito bom, devendo ser apreciado e re­verenciado, não con­vém agir assim por algumas razões. 

Em primeiro lugar, por­que é falta de humil­dade desejar o que nunca merecestes; portanto, creio que não a tem muita quem assim se compor­ta... E julgo que eles (os favores sobrenatu­rais) nunca ocorrerão, uma vez que o Se­nhor, antes de conceder essas graças, dá um grande conhecimento próprio. E como entenderá sin­ceramente quem alimenta tais ambições, que já recebe grande misericórdia em não es­tar no inferno?

Em segundo lugar, porque é muito fácil haver engano ou risco de o ha­ver. O demô­nio não precisa senão de uma porta aberta para armar mil embus­tes. 

Em terceiro lugar, porque a própria imagina­ção, quando há um grande desejo, leva a pessoa a acreditar que vê e ouve aquilo que deseja, tal como os que, querendo uma coisa durante o dia e pensando muito sobre isso, sonham com ela à noite.

Em quarto lugar, porque é extremo atrevimento eu desejar es­colher um caminho, já que não sei qual o melhor. Pelo contrário, devo deixar que o Se­nhor, que me conhece, me leve por aquele que me convém, para em tudo fa­zer a sua Vontade. 

E, em quinto lugar, julgais que são poucos os sofrimentos padecid­os por aqueles a quem o Se­nhor concede essas graças? Não, são imensos e se manifestam de diversas maneiras. E sabeis vós se se­ríeis pes­soas capazes para pa­decê-los? 

Por último, porque talvez por aí mesmo onde pensais ga­nhar, perder­eis – como ocorreu a Saul, por ser rei (I Rs 15, 10-11). Enfim, irmãs, além dessas há outras. Crede-me que o mais seguro é não desejar se­não o que Deus deseja, pois Ele nos conhece e nos ama mais do que nós mesmos. E não poderemos er­rar se, com a determinação da vontade, agirmos sempre as­sim.

(Santa Teresa de Ávila)

domingo, 15 de outubro de 2017

O BANQUETE REAL

Páginas do Evangelho - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum 


No seu ministério público, Jesus falava muitas vezes em forma de parábolas, para incutir nos homens os ensinamentos da Boa Nova, sem lhes ferir demasiado as susceptibilidades da prática consolidada sobre valores falsos ou essencialmente humanos. Neste contexto, o plano divino de salvação da humanidade é apresentado na analogia de que 'o Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram ir' (Mt 22, 1-2).

O convite pressupõe uma convocação; a festa foi preparada em todos os detalhes e todos os convidados têm lugares específicos reservados na mesa do banquete; a eles está destinado as iguarias mais refinadas - símbolo dos mistérios da graça associados à Visão Beatífica e à plena vida em Deus. Mas muitos 'não quiseram ir' (Mt 22, 2), começando pelos hebreus, o povo escolhido do Antigo Testamento. Muitos e muitos outros seguirão neste caminho de recusa explícita, seja pela indiferença, seja pelo envolvimento total nos seus próprios interesses pessoais e mundanos.

A reação do rei é imediata: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’ (Mt 22, 8 - 9). Diante do não do povo escolhido, o Senhor faz a opção pelos outros, os gentios do mundo, por todos os homens que acreditaram e assumiram a doutrina do seu Filho, vítima de amor sacrificada pelo triunfo da Cruz. Ir a todas as encruzilhadas e a todos os cantos do mundo é a vocação missionária da Igreja de todos os tempos, para buscar os eleitos para a grande festa do Senhor.

No banquete real, somente serão aceitos os convidados que estiverem usando o 'traje de festa' (Mt 22, 11), ou seja, estiverem revestidos do estado de graça, premissa das almas adentrarem o Reino dos Céus. Assim, até mesmo os que fizeram parte da Igreja - os convidados - mas que usufruíram de uma fé sem obras e não produziram os frutos da graça serão julgados inconvenientes no grande dia do Juízo e serão expulsos do banquete e, assim, perderão definitivamente o Reino dos Céus e serão jogados às trevas, onde só haverá choro e ranger de dentes. Nós devemos ter o firme propósito de servir a Cristo na fé e nas obras, para nos tornarmos os convivas do banquete real por toda a eternidade, tangidos pela misericórdia e não pela justiça divina, porque 'muitos são chamados, e poucos são escolhidos' (Mt 22, 14).