terça-feira, 29 de setembro de 2015

29 DE SETEMBRO - SÃO MIGUEL ARCANJO

(São Miguel com elmo e armadura medieval - Catedral de Bruxelas)

'Houve uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado e não se encontrou mais um lugar para eles no Céu.' (Apoc 12, 7-8).

'Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande Príncipe, constituído defensor dos filhos do seu povo e será tempo de angústia como jamais houve.' (Dan 12, 1).

Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins. Dentre os vários santuários destinados ao Arcanjo São Miguel, Príncipe das milícias celestes, destaca-se aquele localizado no Monte Saint Michel na França, cuja foto constitui a abertura e o símbolo deste blog.

(Santuário de São Miguel - Monte Saint Michel/França)

São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O CARÁTER PASTORAL DO CONCÍLIO VATICANO II

Todos os concílios anteriores da história da Santa Igreja foram 'pastorais' (orientações gerais para se pregar a fé de sempre, sem incorrer em erros doutrinários) e 'dogmáticos' (postulação de cânones doutrinários que os fiéis são obrigados a crer como sendo da expressa Vontade de Deus, e cuja violação incorre automaticamente em penas de anátema e/ou excomunhão). O Concílio Vaticano II não aprovou solenemente nenhum postulado desta natureza, sendo, portanto, de caráter essencialmente pastoral (conforme explicitado claramente nos discursos de abertura e de encerramento do evento). 

Discurso de abertura do CVII, pelo Papa João XXIII, em 11 de outubro de 1962:

'A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranquila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do depositum fidei, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.'

Discurso de encerramento do CVII, pelo Papa Paulo VI, em 12 de janeiro de 1966:

'Há quem se pergunte que autoridade, que qualificação teológica o Concílio quis atribuir aos seus ensinamentos, pois bem se sabe que ele evitou dar solenes definições dogmáticas envolventes da infalibilidade do Magistério Eclesiástico. A resposta é conhecida, se nos lembrarmos da declaração conciliar de 6 de Março de 1964, confirmada a 16 de Novembro desse mesmo ano: dado o caráter pastoral do Concílio, evitou este proclamar em forma extraordinária dogmas dotados da nota de infalibilidade. Todavia, conferiu a seus ensinamentos a autoridade do supremo Magistério ordinário.'

Assim sendo, o CVII não estabeleceu quaisquer imposições de preceitos católicos não passíveis de contestação por aqueles que professam a fé católica e estão unidos sob as primícias da Igreja Católica. Do ponto de vista estritamente formal, não sendo dogmático, não é infalível. Assim, assumir questionamentos e/ou posições contrárias aos ensinamentos do CVII não predispõem, de maneira nenhuma, a manifestações de interpretação herética ou cismática em relação à tradição bimilenar da Santa Igreja.

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Ó alma, o teu exemplo é Deus, beleza infinita, luz sem sombras, esplendor que supera aquele da lua e do sol. Eleva os olhos a Deus, em quem se encontram os arquétipos de todas as coisas e do qual, como de uma fonte de fecundidade infinita, deriva essa variedade quase infinita das coisas. Portanto, deves concluir: quem encontra a Deus, encontra tudo; quem perde a Deus, perde tudo'.

'Se tens sabedoria, compreendes que foste criado para a glória de Deus e para a tua salvação eterna. É este o teu objetivo, este é o centro da tua alma, este é o tesouro do teu coração. Por isso, considera como verdadeiro bem para ti aquilo que te conduz ao teu fim, e verdadeiro mal aquilo que te priva dele. Acontecimentos favoráveis ou adversos, riquezas e pobrezas. saúde e doença, honras e ofensas, vida e morte, o sábio não deve nem procurá-los, nem rejeitá-los por si mesmo. Mas só serão bons e desejáveis se contribuírem para a glória de Deus e para a tua felicidade eterna; são maus e devem ser evitados, se a impedirem'.

(São Roberto Belarmino)

domingo, 27 de setembro de 2015

A SANTIFICAÇÃO EXIGE O ÓDIO AO PECADO

Páginas do Evangelho - Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum


Naqueles dias, nos caminhos da Galileia, os discípulos de Jesus ainda se tomavam como os únicos arautos da Verdade e discutiam à qual deles esta primazia haveria de se elevar mais alto, pois viviam ainda reféns de uma perspectiva puramente humana do reino prometido por Jesus. Atento às murmurações deles, o Senhor vai condenar o pecado do orgulho ao lhes assegurar que o maior de todos é o que serve a todos (Mc 9, 35) para, em seguida, os exortar que, no caminho da santificação, o amor a Deus implica um ódio extremado ao pecado, a todo tipo de pecado.

Esta firme exortação tem origem na pergunta de João: 'Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue' (Mc 9, 38), cuja ação é imediatamente contestada por Jesus, pois não havia sido movida pela caridade, mas por meros ciúmes da concessão de dons sobrenaturais a quem não era do restrito círculo fechado dos discípulos do Senhor: 'Quem não é contra nós é a nosso favor' (Mc 9, 40). Não deve haver limites ou impedimentos para os mistérios da Graça, quando o bem é feito compartilhado com o autor da Vida: 'quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa' (Mc 9, 41).

E, de forma oposta, Jesus condena aquele que, por malícia, se conspurca na obstinação do pecado, consumindo a graça na lama do escândalo, expondo-se e expondo a muitos no caminho da ruína espiritual de suas almas, no caminho do inferno. Quanto a este, a admoestação de Jesus é severa: 'melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço' (Mc 9, 42). A gravidade do pecado do escândalo - por ações, por exemplos, por palavras - está em que, muito além de provocar a perda da inocência alheia ou propagar blasfêmias, é que, ao conduzir à perda das almas, é um pecado que simula, em sua essência, a ação do próprio demônio.

Jesus exorta, então, se cumprir, em tudo e para todos, a santificação em plenitude, traduzida na observância radical aos seus Mandamentos. Isso implica não ceder ao pecado sob concessão alguma e não afrontar a graça divina por nenhum propósito humano. A verdadeira santificação exige, portanto, vigilância extrema, oração constante e fuga da ocasião de pecado por todos os meios disponíveis, pelos mais extremos possíveis: 'Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga' (Mc 9, 43.45.47-48).

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA DAS MERCÊS


Na coroa de glórias dadas à Nossa Senhora, a Virgem das Mercês é celebrada em 24 de setembro. Mercês significa 'graças', 'favores', 'bênçãos' mas, acima de tudo, 'misericórdia'. A devoção teve origem na Espanha, durante a dura perseguição e prisão imposta aos cristãos numa Europa então invadida pelos mouros.

Na noite de primeiro para 2 de agosto de 1218, Nossa Senhora se manifestou em sonho para São Pedro Nolasco, para São Raimundo de Peñaforte,  seu confessor, e para o rei Dom Jaime I de Aragão, dando-se a conhecer com o título de Mercês, e pedindo a fundação de uma ordem religiosa para o resgate dos cristãos cativos dos mouros. A ordem religiosa dos Mercedários foi, então, fundada em 10 de agosto de 1218, em Barcelona, na Espanha, tendo São Pedro Nolasco como primeiro diretor geral. A devoção logo se difundiu por toda a Europa e chegou ao Brasil, pelas mãos dos frades mercedários, dando origem a várias confrarias no país. Em 1696, o Papa Inocêncio XII estendeu a festa de Nossa Senhora das Mercês para toda a Igreja estabelecendo a data de 24 de setembro para a sua celebração.


Oração a Nossa Senhora das Mercês

Virgem Maria, Mãe das Mercês,
com humildade acorremos a Vós,
certos de que não nos abandonais
por causa de nossas limitações e faltas.
Animados pelo vosso amor de Mãe,
oferecemo-vos nosso corpo para que o purifiqueis,
nossa alma para que a santifiqueis,
o que somos e o que temos, consagrando tudo a Vós.
Amparai, protegei, bendizei e guardai
sob a vossa maternal bondade a todos
e a cada um dos membros desta família
que se consagra totalmente a Vós.
Ó Maria, Mãe e Senhora nossa das Mercês,
apresentai-nos ao vosso Filho Jesus,
para que, por vosso intermédio
alcancemos, na terra, a sua Graça
e depois a vida eterna.
Amém!

terça-feira, 22 de setembro de 2015

UMA CARTA PROFÉTICA DE SÃO PIO X


Se há um tempo no qual devemos estar vigilantes de uma forma especial é este dos nossos dias, pois o mundo, com espírito diabólico, favorece e ajuda os planos malignos, especialmente aqueles dirigidos contra a Igreja, a fim de provocar sentimentos anti-religiosos e, assim, diminuir o prestígio e a reputação para os homens que a governam, de forma a ressaltar todos os seus defeitos, em todos os níveis da hierarquia, pelo que concluímos com o Apóstolo: Resisti fortes na fé! Permanecei firmes na verdade que só se encontra substancialmente em Jesus Cristo, a quem Deus Pai constituiu pedra angular na construção da Nova Jerusalém - a Igreja Católica - e todo aquele cuja fé esteja fundada em Cristo não será confundido. Fonte da graça para todos os que lhe são fiéis, esta pedra misteriosa converte-se em pedra de escândalo e de ruína para todos os que procuram construir sem colocá-la como base de seus empreendimentos.

Estejais alertas, queridos filhos, e mantendes viva a vossa fé: guardai-vos dos seus inimigos declarados, que deixaram escondidos no passado os segredos dos conchavos mas que, agora, com bandeiras desfraldadas, se esforçam para arrebatar ao povo a sua joia mais valiosa: a fé. E fazem isso usando sutis artimanhas, tentando minar a autoridade da Igreja e dos seus ministros, denunciando-os como perturbadores, passíveis de todas as suspeições e extremistas, até ao ponto em que muitos católicos, ingênuos ou hipócritas, acabam por admitir plenamente todas estas coisas, e creem quando lhes é dito que eles não lutam contra a religião, mas que querem apenas libertá-la dos abusos que nela existem, que querem separar religião e política; que não querem perseguir a Igreja; que há que se saber, dizem eles, que não se pode atuar com certeza absoluta se não se leva em conta o espírito dos tempos. 'Queremos o bem dos povos', assim afirmam, 'pelo que nos empenhamos vivamente pela paz entre todas as nações'.

Resistais fortes na fé contra aqueles cristãos que, conhecendo apenas superficialmente a ciência da Religião, e ainda menos a praticando, pretendem-se colocar como mestres da Igreja, afirmando que ela deve estar adaptada às exigências dos tempos, sacrificando, assim, algum ponto da integridade de suas sagradas leis; que (afirmam equivocadamente) o direito público da cristandade deve tornar-se submisso aos grandes princípios da era moderna, e manifestar essa submissão aos novos valores; que querem acomodar a moral evangélica, tratada como demasiado severa, aos ditames de normas menos rígidas e mais confortáveis. Finalmente (também sob falsas argumentações) que defendem que a disciplina eclesiástica deve dispensar as prescrições molestas à natureza humana, em nome de leis que exaltem uma maior liberdade e o amor.

Resistais fortes na fé contra todos aqueles que pretendem dirigir e guiar a Igreja em favor dos seus próprios interesses e decisões, julgando os seus ensinamentos e rechaçando as suas censuras e condenações; tudo isso constitui um enorme pecado do orgulho e, para não nos tornarmos vítimas de seu grande castigo, tenhamos a coragem de lutar em nossa sociedade contra todos esses inimigos, expondo a malícia de suas idéias perniciosas e a vileza de suas maquinações, e enfrentando as suas ironias e insultos.

Resistais fortes na fé, especialmente aqueles que se gloriam de verdade do nome de católicos, sobretudo para que não vos deixais seduzir pelos falsos apóstolos que, como Satanás, se disfarçam de anjos de luz, e fingem pesares, medos e preocupações com os males advindos contra a Igreja e os perigos que a cercam e, sob as máscaras de uma caridade fingida e de um amor hipócrita, aceitam as estocadas que levam a Igreja a uma situação de risco e de perigo mortal. Embora seja verdade que certos triunfos da iniquidade moderna podem nos escandalizar e por mesmo à prova a nossa fé na Providência Divina, a própria evolução dos acontecimentos é capaz de serenar a inquietude do nosso coração. As Sagradas Escrituras nos advertem assim: 'Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem as trevas em luz e a luz por trevas, que tomam por amargo o que é doce e por doce, o que é amargo! Ai dos que se julgam sábios aos seus próprios olhos, e que se acham prudentes ao próprio juízo! Ai dos que são valentes para beber vinho e para misturar licores; que por suborno justificam o ímpio, mas que anseiam impor ao justo a sua própria justiça!' E em outra passagem, diz: 'Ai de vós, Assíria, vara da minha cólera e bastão do meu furor! Eu vos enviei contra um povo ímpio, contra um povo objeto de minha cólera, para que este fosse saqueado e reduzido a despojos, para serem calcados aos pés como a lama das ruas; porém, não tivestes as mesmas intenções e não eram estes os pensamentos do vosso coração, e sim, o desejo de somente destruir e exterminar povos em massa'.

Como estes fatos que ora contemplamos na Igreja são iluminados por estas passagens! Meditai-as, queridos filhos, e aceitai tudo o que nos sucede como uma provação e uma expiação; volvei ao Senhor e respondei prontamente ao chamado paternal de sua misericórdia. Que estes santos dias da Quaresma nos sejam dias de profundo recolhimento e, assim, nos possam tornar mais dignos de celebrar, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo, a sua gloriosa Páscoa da Ressurreição!

Cardeal Giuseppe Sarto, Patriarca de Veneza, futuro Papa São Pio X

(Excertos da Carta para meditação dos tempos da Quaresma, de 17 de fevereiro de 1895, tradução do autor do blog)