sábado, 11 de julho de 2015

DAS GRAÇAS EXCELSAS DE MARIA (II)

O RETRATO DE MARIA

Traçar o retrato da Virgem Maria - não seria isso uma temeridade sem nome? Como poderemos reproduzir a celeste fisionomia daquela que excede a toda beleza que se possa imaginar? Um dia, num arrojo de seu gênio, Fra Angelico quis representar-lhe na tela os traços incomparáveis. Ele tentou pintar a Anunciação. O ideal cintilava ante o seu espírito mas, na impossibilidade de reproduzi-lo, foi lançar-se aos pés de sua doce Mãe e esta, tocada pelas lágrimas do seu filho amoroso, fez acabar pelos anjos o quadro começado.

Ó doce e terna Mãe, assim como a Fra Angelico, vinde também esboçar o quadro de vossa beleza, para que a vossa fisionomia de Virgem e de Mãe atraia os corações e todas as almas viventes à chama ardente do amor. Nenhum retrato, nenhuma descrição completa nos transmitiu ainda a fisionomia da Santíssima Virgem. Mas, nos escritos dos primeiros doutores e de quase todos os santos, encontram-se palavras autorizadas que, confrontadas entre si, permitir-nos-ão entrever algo deste doce e simpático semblante de nossa Mãe.

Santo Epifânio diz que Maria tinha uma estatura um pouco acima da mediana. A sua face, de forma oval, era de notável fineza e de perfeita simetria em seus traços. São Nicéforo compara a cor do Seu rosto ao frescor do trigo sazonado, apresentando, assim, um cor róseo-pálida.. Os seus dedos eram longos, e tudo em sua pessoa era bem proporcionado e repleto de uma gravidade tão doce e atraente, que nada se podia comparar à sua beleza.

As telas atribuídas a São Lucas, e que datam incontestavelmente dos primeiros tempos do cristianismo, dão-lhe sempre um colorido de uma notável pureza. Nelas, a fronte é elevada, lisa e alva; as sobrancelhas bastante louras e suavemente arqueadas. Santo Epifânio e São Nicéforo, nas expressões que empregaram para indicar a cor dos olhos, indicam o azul-pálido. Os mesmos autores assinalam ainda a doçura e irresistível atração do seu olhar.

Estas representações indicam-na ainda tendo o nariz e a boca moderadamente delicados, os lábios de róseo carregado, as faces coloridas e o maxilar suavemente arredondado. Segundo Santo Epifânio, São Nicéforo e São Gregório Nazianzeno, sua cabeleira era loura, e eles acrescentam que Maria deixava os seus cabelos flutuarem livremente sobre os ombros. As suas vestes, como as que ainda hoje costumam usar as mulheres da Palestina, eram: a túnica de lã branca ou ligeiramente azulada, cinto de estofo simples, enrolado, véu branco, cobrindo-lhe a fronte, flutuando sobre os ombros e descendo até ao solo.

Um cuidadoso asseio fazia sobressair-lhe as vestes mais comuns e distinguia a humilde Virgem em suas maneiras e em suas conversações. Modesto e circunspecto era o seu porte, graves os seus passos e sem pretensões; o seu olhar era doce, firme e límpido e a sua voz afável e atenciosa. Um ligeiro e simpático sorriso, testemunho de sua bondade, aflorava-lhe os lábios. O seu exterior, irradiando benevolência e candura, inspirava a virtude. A sua presença parecia santificar o ambiente e as pessoas, nas quais tendiam irradiar-se a sua beleza, de tal modo que, ao seu aspecto, todos os vãos pensamentos da terra se afastavam, como desaparece o orvalho ao raiar do sol matinal.

As suas palavras eram sempre comedidas, quanto a sua conversação era calma e nobre, excitando ao bem e à virtude. Todos aqueles que tinham a felicidade se de entreter com ela não podiam admirar bastante o esplendor de suas perfeições e de suas inumeráveis graças. O mais belo dos elogios que se lhe pôde dirigir está nesta observação de São Nicéforo:

'Onde acabava a natureza, começava a graça, e o mais elevado grau de beleza que possa ter existido em uma simples criatura era apenas o primeiro grau da graça, pois lhe estava reservado completar esta obra-prima. Deste modo brilhava um quê de divino em suas ações'... e mais, 'a santidade com que Deus cumula a sua alma, transparecia nos seus gestos, em suas palavras, em seu olhar e em todos os seus movimentos'. A modéstia brilhava sobre a sua fronte; a doçura em seus olhos; o pudor em suas faces; a virgindade na alvura nívea do seu colo, de modo que todas as virtudes haviam nela encontrado a sua sede.

'Ela era unigênita de seu pai e de sua Mãe, que era estéril', diz São Pedro Crisólogo, 'para que nós soubéssemos que era menos uma obra da natureza do que uma obra-prima da graça e uma maravilha da mão do Onipotente'. Em uma palavra, os dons da natureza e da graça, que nela resplandeciam, tornaram-na tão divinamente bela, que teria sido até considerada como sendo uma divindade, se a fé não nos tivesse ensinado que ela era uma simples criatura, transfigurada pela graça.

Considerando tanta beleza, exclama, abismado, São João Damasceno: 'Eu Vos saúdo, ó Virgem dulcíssima; a vossa graça extasia e cativa a minha alma. Como descrever a nobreza de vossos traços?Como exprimir a simplicidade de Vossos adornos? Como reavivar algum dos mais débeis raios de vossa beleza? A majestade que ilumina toda a vossa pessoa é igualmente realçada e atenuada pela doçura do vosso olhar. Os vossos colóquios desalteram e trazem ânimo como tudo o que brota de um coração amoroso'

Aliás, convinha à Santíssima Virgem possuir tão excelente beleza, como já o dissemos, pois ela devia comunicar ao seu divino Filho, não somente a natureza corporal, mas também os traços do seu semblante, e isto de um modo muito mais inefável do que o fazem as outras mães aos seus filhos, porque só ela devia cooperar para a formação do corpo do seu Filho.

(Excertos da obra 'Por que amo Maria', pelo Pe. Júlio Maria)

sexta-feira, 10 de julho de 2015

QUANDO O INFERNO É AQUI...


Neste cenário de vileza moral e de heresia, o Crucificado não está presente! Como católico, não há como não sentir uma enorme tristeza e uma grande repugnância ao ver tamanha blasfêmia: o Papa Francisco recebendo em suas mãos uma oferta que é absurdamente afrontosa ao catolicismo. O Crucificado não está presente, como refém de uma ação desdenhosa e de um gesto contemplativo de respeito humano a um energúmeno. 

Este, Bergoglio,  não é o símbolo da Cruz, do Santo Lenho que trouxe a salvação ao mundo! Esta estrovenga, Bergoglio, é o símbolo da doutrina do inferno que matou 150 milhões de criaturas do Senhor! Este presente, Bergoglio, é o símbolo do martelo e dos pregos que transpassaram o Filho do Homem; mais do que símbolo, Bergoglio, é a ferramenta de trabalho deles no mundo, solapando a Igreja de Cristo e refazendo, milhares de vezes, o Calvário e a Crucificação! Mas o Pontífice, mesmo diante desta aberração herética insustentável, cumpre formalmente o seu papel protocolar e recebe passivamente as chaves do inferno. Tristes tempos, ó Pai, tristes tempos! A única certeza que consola é que o Crucificado não estava ali...

DO DESAPEGO DE SI MESMO

O desprendimento mais importante e necessário é o de si mesmo, isto é, da própria vontade. Quem sabe vencer-se a si mesmo, facilmente vencerá a todas as outras dificuldades. A vitória sobre si mesmo era o que São Francisco Xavier recomendava muito particularmente a todos os que aspiravam à perfeição. E o Divino Salvador a impõe como dever a todos os que desejam segui-lo: 'Se alguém quiser seguir-me, abnegue-se a si mesmo' (Mt l6, 24). O compêndio de tudo o que devemos fazer para nos salvar é esta palavra única: abnegação própria.

Nós devemos amar a Deus da maneira que lhe agrada e não como nos apraz. Deus quer que nossa alma esteja vazia de tudo, para que a possa encher com seu amor e uni-la a si. Santa Tereza diz que a oração da união não é outra coisa que a indiferença a mais completa a respeito das coisas do mundo, junto com o desejo de possuir unicamente a Deus. É certo que Deus tanto mais intimamente nos unirá consigo e nos encherá com sua presença, quanto mais completamente renunciarmos às inclinações naturais, por seu amor. Muitos desejam, sim, chegar à união perfeita com Deus, mas não querem suportar as adversidades que Nosso Senhor lhes envia; não querem sofrer nem pobreza, nem injúrias. 

Ora, enquanto não se entregarem sem restrição à vontade de Deus, não chegarão à união perfeita. 'Para se chegar à perfeita conjunção com Deus', diz Santa Catarina de Gênova, 'deve-se passar por tribulações. Estas são os meios de que Deus se serve para nos purificar de todas as más inclinações. As injúrias, o desprezo, as doenças, a pobreza, as tentações, as contrariedades nos são enviadas só para que tenhamos ocasiões bastantes de combater e subjugar as nossas paixões, de tal forma que desapareçam por inteiro. Não basta as adversidades nos parecerem menos desagradáveis, é preciso que o amor divino no-las torne doces e desejáveis, para chegarmos à perfeita união com Deus'. 

Ajunto ainda o que nos recomenda São João da Cruz, para atingirmos essa conjunção íntima e completa com Deus: 'Devemos mortificar cuidadosamente os próprios sentidos e desejos. Quanto aos sentidos, devemos renunciar, por amor de Jesus Cristo, a toda a satisfação que não tem por fim a glória de Deus. Se, por exemplo, sentimos o desejo de ouvir ou ver coisas que não são próprias para nos aproximar de Deus, devemos renunciar a elas incontinenti. Quanto aos desejos, devemos procurar sempre o que é mais penoso, mais desagradável, mais pobre, sem aspirar à outra coisa que a padecer e ser desprezado'.

Numa palavra: Quem ama verdadeiramente a Jesus, expele de seu coração todo o apego aos bens terrenos e procura desprender-se de tudo para unir-se mais perfeitamente com o seu Salvador. Todos os seus desejos só têm a Jesus por objeto, sempre pensa nele, sempre suspira por ele, em todo o lugar e ocasião só a Jesus deseja agradar. Para se chegar, porém, a esse ponto, deve-se tratar de expulsar do coração toda a afeição que não tende para Deus. 

Que deve mais fazer uma alma para se entregar incondicionalmente a Deus? Primeiro, evitar tudo o que possa desagradar a Nosso Senhor e fazer tudo o que lhe é agradável. Segundo, aceitar, em santo abandono, tudo o que lhe enviar sua santa mão, por mais duro e incômodo que seja. Terceiro, preferir, em todas as coisas, a vontade de Deus à própria. Dessa forma sacrifica-se ela por inteiro e sem reserva ao seu Deus e Senhor.

(Santo Afonso Maria de Ligório)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XII)

Heliogábalo, imperador romano, suspeitando de uma traição dos seus generais e cortesãos, concebeu um meio de puni-los de um modo terrível. Fez no maior segredo os preparativos de uma grande festa e convidou a todos para um suntuoso banquete. Num grande salão, os convidados se espalhavam em grande algazarra e alegria, que aumentavam com o vinho, servido com fartura. Ao se aproximar o fim da festa, quando mais expansiva tornou-se a alegria geral, quando as músicas tocavam os acordes mais frenéticos, eis que surgiu a grande surpresa!

Abriu-se o teto do imenso salão, e, do alto, começou a cair uma chuva leve de belas rosas frescas e perfumadas, umedecidas por um óleo de olor inebriante. Diante da novidade extasiante, o prazer chegou ao auge e transformou-se em delírio; todos se levantaram gritando: 'Viva Heliogábalo! Viva o imperador!' E deliciavam-se cada vez mais com a cascata de rosas, agora mais volumosa, tomando-as nas mãos, adornando-se com elas, aspirando o doce perfume delas como se este fosse o próprio hálito da vida, em meio a um frenesi de palmas e de vivas.

Em meio à euforia reinante, o imperador se retirou do salão, junto com os músicos e com todos os que serviam às mesas e aos convivas, sem serem percebidos. Foram fechadas, então, hermeticamente, as portas do salão, enquanto a chuva de rosas continuava copiosa e hipnotizante. Uma vez fechadas todas as portas e janelas, o aroma agradável tornou-se, em pouco tempo, tedioso e asfixiante, efeito que se multiplicava a cada instante. 

Os convivas buscaram, então, as saídas; primeiro, em gestos sincronizados; depois, no afã de uma fuga alucinada, convertida em seguida em puro desespero, quando se deram conta que as portas haviam sido trancadas. Buscaram quebrar as janelas, mas estas eram altíssimas e protegidas por grades de ferro. Sufocados e em desvario, homens e mulheres que há pouco se confraternizavam de prazer começaram a se confrontar com violência brutal. As rosas que continuavam a cair tornavam-se sentenças de morte, levando todos à embriaguez dos sentidos, à perda da consciência e à morte dolorosa: sufocados, pisoteados, esmagados contra as portas e as paredes do salão, transformado agora em uma masmorra fétida e em uma grande câmara de tortura...

Quantos homens, inebriados pelos prazeres do mundo, estão hipnotizados pela embriaguez dos vícios e enveredam entorpecidos pelo caminho sem volta para a morte da alma?

('Histórias que Ouvi Contar' são crônicas do autor deste blog)

CALENDÁRIO CATÓLICO TRADICIONAL - JULHO/2015

(clique sobre a imagem para vê-la em lightbox)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A BÍBLIA EXPLICADA (XV)

O que foi a Estrela do Oriente?


A Estrela do Oriente é mencionada no evangelho de São Mateus. Uns magos perguntam em Jerusalém: 'Onde está o Rei dos Judeus que acaba de nascer? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para o adorar' (Mt 2, 2).Os dois capítulos iniciais dos evangelhos de São Mateus e de São Lucas narram algumas cenas da infância de Jesus, pelo que se costumam denominar 'evangelhos da infância'. A estrela aparece no 'evangelho da infância' de São Mateus. Os evangelhos da infância têm um caráter ligeiramente diferente ao do resto do evangelho. Por isso estão cheios de evocações a textos do Antigo Testamento que dão grande significado aos gestos. Neste sentido, a sua historicidade não se pode examinar da mesma maneira que a do resto dos episódios evangélicos. 

Dentro dos evangelhos da infância, há diferenças. O de São Lucas é o primeiro capítulo do evangelho, mas em São Mateus é como que um resumo dos conteúdos de todo o texto. A passagem dos magos (Mt 2, 1-12) mostra que uns gentios, que não pertencem ao povo de Israel descobrem a revelação de Deus através do seu estudo e dos seus conhecimentos humanos (das estrelas), mas não chegam à plenitude da verdade, senão através das Escrituras de Israel. 

No tempo em que foi composto o evangelho, era relativamente normal a crença de que o nascimento de alguém importante ou de algum acontecimento relevante se anunciava com um prodígio no firmamento. Dessa crença participava o mundo pagão (conforme Suetonio, As Guerras Judaicas, 5, 3, 310-312; 6, 3, 289). Além disso, o Livro dos Números (22-24) recolhia um oráculo em que se dizia: 'De Jacó vem uma estrela, em Israel se levantou um cetro' (Nm 24, 17). Esta passagem interpretava-se como um oráculo de salvação sobre o Messias. 

Nestas condições, oferecem o contexto adequado para entender o sinal da estrela. A exegese moderna perguntou que fenômeno natural podia ter ocorrido no firmamento, que fosse interpretado pelos homens daquele tempo como extraordinário. As hipóteses que se deram são sobretudo três: 

(i) Kepler (século XVII) falou de uma estrela nova, uma supernova (trata-se de uma estrela muito distante, que explode de tal modo que, durante umas semanas, emite mais luz e é perceptível da terra); 

(ii) um cometa, pois os cometas seguem um percurso regular, mas elíptico, à volta do sol (na parte mais distante da sua órbita não são perceptíveis a olho nu mas, se estão próximos, podem ser vistos durante algum tempo). Esta descrição coincide também com o que se assinala no relato de Mateus, mas a aparição dos cometas conhecidos que se vêm da terra, não coincide com as datas da estrela; 

(iii) Uma conjunção planetária de Júpiter e Saturno. Kepler chamou também a atenção para este fenômeno periódico que, salvo engano dos cálculos atuais, pode muito bem ter ocorrido nos anos 6 ou 7 antes da nossa era, ou seja, naquele período em que a investigação mostra ter ocorrido o nascimento de Jesus.

A matança dos inocentes é um fato histórico?


A matança dos inocentes pertence, como o episódio da estrela dos magos, ao 'evangelho da infância' de São Mateus. Os magos tinham perguntado pelo rei dos judeus (Mt 2,1) e Herodes – que se sabia rei dos judeus – inventa um estratagema, para averiguar quem poderia ser aquele que ele considera um possível usurpador, pedindo aos magos que o informem quando regressarem. Quando conclui que regressaram por outro caminho, 'irou-se em extremo, e mandou matar, em Belém e em todos os seus arredores, todos os meninos de idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos magos' (Mt 2, 16). 

A passagem evoca outros episódios do Antigo Testamento: também o faraó tinha mandado matar a todos os recém nascidos dos hebreus, como conta o livro do Êxodo, mas salvou-se Moisés, precisamente aquele que depois libertou o povo (Ex 1, 8 - 2, 10). São Mateus diz também, nessa passagem, que, com o martírio destes meninos, cumpria-se um oráculo de Jeremias (Jr 31, 15): o povo de Israel foi desterrado, mas o Senhor tirou-o daí e, num novo êxodo, levou-o à sua terra prometendo-lhe uma nova aliança (Jr 31, 31). Portanto, o sentido da passagem parece claro: por muito que os fortes da terra se empenhem, não se podem opor aos planos que tem Deus para salvar os homens.

É neste contexto que se deve examinar a historicidade do martírio dos meninos inocentes, do qual só temos esta noticia que nos dá São Mateus. Na lógica da investigação histórica moderna, diz-se que testis unus testis nullus, um só testemunho não serve. No entanto, é fácil pensar que a matança dos meninos em Belém – uma aldeia de poucos habitantes – não foi muito numerosa e por isso não passou aos anais da história. 

O que sim é certo, é que a crueldade que manifesta é coerente com as brutalidades que Flávio Josefo nos conta de Herodes: fez afogar o seu cunhado Aristóbulo quando este alcançou grande popularidade (Antiguidades Judaicas, 15, 54-56); assassinou o seu sogro Hircano II (15, 174-178), um cunhado, Costobar (15, 247-251) e a sua mulher Marianne (15, 222-239); nos últimos anos da sua vida, mandou matar os seus filhos Alexandre e Aristóbulo (16, 130-135), e cinco dias antes da sua própria morte, outro filho, Antipatro (17, 145); finalmente, ordenou que, perante a sua morte, fossem executados alguns notáveis do reino, para que as gentes da Judeia, querendo-o ou não, chorassem a morte de Herodes (17, 173-175).

(Excertos da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)

terça-feira, 7 de julho de 2015

DAS GRAÇAS EXCELSAS DE MARIA (I)

O ESPÍRITO DE MARIA

Uma das condições da beleza perfeita, da beleza ideal, é a relação e a proporção exata entre as diferenças faculdades do homem, entre o seu corpo e sua alma. Em Maria admiramos uma alma ornada de todas as virtudes e um coração transbordante do mais profundo amor. Resta-nos ver o espírito da Virgem, o espírito mais nobre e mais admirável que jamais houve, depois de Jesus Cristo: inteligência ornada dos conhecimentos mais variados e mais profundos.

Primeiramente, consideremos estas maravilhas interiores; em seguida, contemplaremos, por um instante, a beleza corporal de Maria: beleza única, aliás, pois era o reflexo de uma alma, de um coração e de um espírito acima de tudo o que podemos imaginar. São João Damasceno, no seu primeiro sermão sobre a natividade da bem-aventurada Virgem, chama-a de 'a boa graça da natureza humana'. São Jorge de Nicomedia exclama: 'Ó mais bela e mais agradável de todas as belezas - Ó Virgem santa, ornamento inigualável de toda beleza!' Ricardo de São Vítor louva-a, dizendo que 'o seu rosto é tão angélico quanto a sua alma'. Confirma-o São Gregório Nazianzeno, dizendo que 'em matéria de beleza, ela ultrapassa a todos os outros seres'.

Outro tanto a seu respeito proclamam todos os doutores, enobrecendo-a até, pois dentre eles muitos chegam a dizer que, ao se reunir à sua alma para ser elevado ao céu, o seu corpo era tão belo e tão proporcionado, que não foi necessário corrigi-lo ou reformá-lo, como todos os outros, mas, no estado em que se achava, foi capaz de receber as riquezas da glória e ser revestido da veste da imortalidade. Mas se seu corpo era dotado de tal beleza, qual não era a perfeição do seu espírito?

Seu corpo tão perfeito, único em sua espécie, era digno de um espírito elevado, nobre e transcendente. Encontramos razões poderosíssimas sobre a necessidade de um espírito elevado em Maria, na eleição, no ministério e na ação que a bendita Virgem devia exercer, segundo os desígnios de Deus. Como mais tarde Madalena, antes que ela fizesse a escolha pela melhor parte, que é o retiro e a contemplação, o próprio Céu havia-a escolhido para este fim, destinando-a às obras da mais sublime contemplação que espírito algum jamais havia praticado.

Além do que nos ensinam os santos doutores, não podemos duvidar, desde que cremos ser ela a Mãe de Deus. Disto é preciso deduzir que, pela santificação e pela sua imaculada conceição, Deus lhe deu todos os conhecimentos intelectuais, conformes ao seu estado, e por isso ela devia chegar a este grau eminente de contemplação no qual possuía um conhecimento excelso de si mesma, das criaturas intelectuais, dos mistérios ocultos e das ações morais. As revelações da Divina Mãe foram quase contínuas e também as mais elevadas que tem havido, revelações pelas quais Santo André de Creta a chama: 'fonte de revelações divinas, que não pode ser esgotada'.

São Lourenço Justiniano diz que 'elas deviam ultrapassar as revelações de todos os santos, tanto quanto maior havia sido o número de graças que Ela havia recebido, e que estava acima das graças que aos santos deviam ser comunicadas'. Ora, é certo que elas requerem um espírito claro, penetrante, firme e elevado acima de tudo o que nós podemos imaginar na mais alta elevação de nosso espírito. Secundariamente, era destinada a fazer companhia ao Filho de Deus, em que estavam ocultos 'todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus', como diz São Paulo.

Daqui se pode dizer que, se não tivesse havido alguma relação ou proporção entre estes dois espíritos, chegar-se-ia à conclusão de que a condição de Nosso Senhor tenha sido desvantajosa, por ter Ele muito tempo necessitado de uma companhia à sua grandeza, e de que a Santíssima Virgem tenha sido até digna de compaixão, desprovida da capacidade necessária quanto à inteligência dos admiráveis segredos que, sem cessar, Ele lhe revelava e que um dia ela deveria comunicar aos discípulos.

Eis mais um terceiro ofício da Mãe de Deus que lhe merecia o dom de um espírito elevado: a sua qualidade de soberana da Igreja: 'Ela havia sido proposta aos apóstolos e discípulos do Salvador', diz muito bem Santo Anselmo, para repetir-lhes e explicar-lhes o que Ele lhes havia ensinado, e o que o Espírito Santo lhes revelava e que evidentemente ela compreendia melhor do que eles'. Eis por que os santos a chamam de 'a mestra dos apóstolos' e Santo Inácio, 'a mestra de nossa religião'. Como poderia ela preencher esta missão tão importante para com a Igreja, se não tivesse recebido de Deus um espírito sublime? Sustentá-lo seria dizer que se pode voar sem ter asas, ver sem ter olhos e ouvir sem ouvidos. 

Finalmente, consideremos os atos de heroicas e extraordinárias virtudes que ela devia praticar. Estes atos são singularmente avantajados e mais facilitados aos espíritos dotados de uma inteligência viva, como se verifica entre os maiores doutores da Igreja. Eles aliaram ao seu eminente espírito e à sua sã doutrina uma virtude não menos extraordinária e imensamente acima daquela que é comum aos homens. 'Livre de tudo o que é criado', diz a venerável Joana de Matel, 'o espírito de Maria se achava sempre pronto a corresponder-lhe. Era uma mesma carne com o Verbo encarnado, como era um mesmo espírito com a Santíssima Trindade. ela se unia a Deus de todo o seu coração e de toda a sua alma, pois nela e em seu seio bendito o Verbo Divino havia tomado a sua humanidade santíssima'.

Digamos, pois, sem receio que Maria, tão magnificamente dotada, em relação ao espírito como quanto ao coração, estava certamente em estado de corresponder aos desígnios adoráveis do Altíssimo, quando foi chamada por Deus à dignidade de Mãe de Deus, criatura privilegiada, prodígio do Seu poder, de Sua sabedoria e de Seu amor. Quem jamais poderia avaliar os transportes inefáveis de amor e reconhecimento que fizeram pulsar de alegria o coração da Virgem, na hora em que a sua alma, contemplando-se a si mesma, considerou o poder e a profundeza de espírito com que a bondade infinita se aprouve em orná-la! Quem de nós poderíamos ficar insensíveis a este espetáculo?

(Excertos da obra 'Por que amo Maria', pelo Pe. Júlio Maria)