quarta-feira, 8 de julho de 2015

A BÍBLIA EXPLICADA (XV)

O que foi a Estrela do Oriente?


A Estrela do Oriente é mencionada no evangelho de São Mateus. Uns magos perguntam em Jerusalém: 'Onde está o Rei dos Judeus que acaba de nascer? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para o adorar' (Mt 2, 2).Os dois capítulos iniciais dos evangelhos de São Mateus e de São Lucas narram algumas cenas da infância de Jesus, pelo que se costumam denominar 'evangelhos da infância'. A estrela aparece no 'evangelho da infância' de São Mateus. Os evangelhos da infância têm um caráter ligeiramente diferente ao do resto do evangelho. Por isso estão cheios de evocações a textos do Antigo Testamento que dão grande significado aos gestos. Neste sentido, a sua historicidade não se pode examinar da mesma maneira que a do resto dos episódios evangélicos. 

Dentro dos evangelhos da infância, há diferenças. O de São Lucas é o primeiro capítulo do evangelho, mas em São Mateus é como que um resumo dos conteúdos de todo o texto. A passagem dos magos (Mt 2, 1-12) mostra que uns gentios, que não pertencem ao povo de Israel descobrem a revelação de Deus através do seu estudo e dos seus conhecimentos humanos (das estrelas), mas não chegam à plenitude da verdade, senão através das Escrituras de Israel. 

No tempo em que foi composto o evangelho, era relativamente normal a crença de que o nascimento de alguém importante ou de algum acontecimento relevante se anunciava com um prodígio no firmamento. Dessa crença participava o mundo pagão (conforme Suetonio, As Guerras Judaicas, 5, 3, 310-312; 6, 3, 289). Além disso, o Livro dos Números (22-24) recolhia um oráculo em que se dizia: 'De Jacó vem uma estrela, em Israel se levantou um cetro' (Nm 24, 17). Esta passagem interpretava-se como um oráculo de salvação sobre o Messias. 

Nestas condições, oferecem o contexto adequado para entender o sinal da estrela. A exegese moderna perguntou que fenômeno natural podia ter ocorrido no firmamento, que fosse interpretado pelos homens daquele tempo como extraordinário. As hipóteses que se deram são sobretudo três: 

(i) Kepler (século XVII) falou de uma estrela nova, uma supernova (trata-se de uma estrela muito distante, que explode de tal modo que, durante umas semanas, emite mais luz e é perceptível da terra); 

(ii) um cometa, pois os cometas seguem um percurso regular, mas elíptico, à volta do sol (na parte mais distante da sua órbita não são perceptíveis a olho nu mas, se estão próximos, podem ser vistos durante algum tempo). Esta descrição coincide também com o que se assinala no relato de Mateus, mas a aparição dos cometas conhecidos que se vêm da terra, não coincide com as datas da estrela; 

(iii) Uma conjunção planetária de Júpiter e Saturno. Kepler chamou também a atenção para este fenômeno periódico que, salvo engano dos cálculos atuais, pode muito bem ter ocorrido nos anos 6 ou 7 antes da nossa era, ou seja, naquele período em que a investigação mostra ter ocorrido o nascimento de Jesus.

A matança dos inocentes é um fato histórico?


A matança dos inocentes pertence, como o episódio da estrela dos magos, ao 'evangelho da infância' de São Mateus. Os magos tinham perguntado pelo rei dos judeus (Mt 2,1) e Herodes – que se sabia rei dos judeus – inventa um estratagema, para averiguar quem poderia ser aquele que ele considera um possível usurpador, pedindo aos magos que o informem quando regressarem. Quando conclui que regressaram por outro caminho, 'irou-se em extremo, e mandou matar, em Belém e em todos os seus arredores, todos os meninos de idade de dois anos para baixo, segundo a data que tinha averiguado dos magos' (Mt 2, 16). 

A passagem evoca outros episódios do Antigo Testamento: também o faraó tinha mandado matar a todos os recém nascidos dos hebreus, como conta o livro do Êxodo, mas salvou-se Moisés, precisamente aquele que depois libertou o povo (Ex 1, 8 - 2, 10). São Mateus diz também, nessa passagem, que, com o martírio destes meninos, cumpria-se um oráculo de Jeremias (Jr 31, 15): o povo de Israel foi desterrado, mas o Senhor tirou-o daí e, num novo êxodo, levou-o à sua terra prometendo-lhe uma nova aliança (Jr 31, 31). Portanto, o sentido da passagem parece claro: por muito que os fortes da terra se empenhem, não se podem opor aos planos que tem Deus para salvar os homens.

É neste contexto que se deve examinar a historicidade do martírio dos meninos inocentes, do qual só temos esta noticia que nos dá São Mateus. Na lógica da investigação histórica moderna, diz-se que testis unus testis nullus, um só testemunho não serve. No entanto, é fácil pensar que a matança dos meninos em Belém – uma aldeia de poucos habitantes – não foi muito numerosa e por isso não passou aos anais da história. 

O que sim é certo, é que a crueldade que manifesta é coerente com as brutalidades que Flávio Josefo nos conta de Herodes: fez afogar o seu cunhado Aristóbulo quando este alcançou grande popularidade (Antiguidades Judaicas, 15, 54-56); assassinou o seu sogro Hircano II (15, 174-178), um cunhado, Costobar (15, 247-251) e a sua mulher Marianne (15, 222-239); nos últimos anos da sua vida, mandou matar os seus filhos Alexandre e Aristóbulo (16, 130-135), e cinco dias antes da sua própria morte, outro filho, Antipatro (17, 145); finalmente, ordenou que, perante a sua morte, fossem executados alguns notáveis do reino, para que as gentes da Judeia, querendo-o ou não, chorassem a morte de Herodes (17, 173-175).

(Excertos da obra 'Jesus Cristo e a Igreja' - Universidade de Navarra)

terça-feira, 7 de julho de 2015

DAS GRAÇAS EXCELSAS DE MARIA (I)

O ESPÍRITO DE MARIA

Uma das condições da beleza perfeita, da beleza ideal, é a relação e a proporção exata entre as diferenças faculdades do homem, entre o seu corpo e sua alma. Em Maria admiramos uma alma ornada de todas as virtudes e um coração transbordante do mais profundo amor. Resta-nos ver o espírito da Virgem, o espírito mais nobre e mais admirável que jamais houve, depois de Jesus Cristo: inteligência ornada dos conhecimentos mais variados e mais profundos.

Primeiramente, consideremos estas maravilhas interiores; em seguida, contemplaremos, por um instante, a beleza corporal de Maria: beleza única, aliás, pois era o reflexo de uma alma, de um coração e de um espírito acima de tudo o que podemos imaginar. São João Damasceno, no seu primeiro sermão sobre a natividade da bem-aventurada Virgem, chama-a de 'a boa graça da natureza humana'. São Jorge de Nicomedia exclama: 'Ó mais bela e mais agradável de todas as belezas - Ó Virgem santa, ornamento inigualável de toda beleza!' Ricardo de São Vítor louva-a, dizendo que 'o seu rosto é tão angélico quanto a sua alma'. Confirma-o São Gregório Nazianzeno, dizendo que 'em matéria de beleza, ela ultrapassa a todos os outros seres'.

Outro tanto a seu respeito proclamam todos os doutores, enobrecendo-a até, pois dentre eles muitos chegam a dizer que, ao se reunir à sua alma para ser elevado ao céu, o seu corpo era tão belo e tão proporcionado, que não foi necessário corrigi-lo ou reformá-lo, como todos os outros, mas, no estado em que se achava, foi capaz de receber as riquezas da glória e ser revestido da veste da imortalidade. Mas se seu corpo era dotado de tal beleza, qual não era a perfeição do seu espírito?

Seu corpo tão perfeito, único em sua espécie, era digno de um espírito elevado, nobre e transcendente. Encontramos razões poderosíssimas sobre a necessidade de um espírito elevado em Maria, na eleição, no ministério e na ação que a bendita Virgem devia exercer, segundo os desígnios de Deus. Como mais tarde Madalena, antes que ela fizesse a escolha pela melhor parte, que é o retiro e a contemplação, o próprio Céu havia-a escolhido para este fim, destinando-a às obras da mais sublime contemplação que espírito algum jamais havia praticado.

Além do que nos ensinam os santos doutores, não podemos duvidar, desde que cremos ser ela a Mãe de Deus. Disto é preciso deduzir que, pela santificação e pela sua imaculada conceição, Deus lhe deu todos os conhecimentos intelectuais, conformes ao seu estado, e por isso ela devia chegar a este grau eminente de contemplação no qual possuía um conhecimento excelso de si mesma, das criaturas intelectuais, dos mistérios ocultos e das ações morais. As revelações da Divina Mãe foram quase contínuas e também as mais elevadas que tem havido, revelações pelas quais Santo André de Creta a chama: 'fonte de revelações divinas, que não pode ser esgotada'.

São Lourenço Justiniano diz que 'elas deviam ultrapassar as revelações de todos os santos, tanto quanto maior havia sido o número de graças que Ela havia recebido, e que estava acima das graças que aos santos deviam ser comunicadas'. Ora, é certo que elas requerem um espírito claro, penetrante, firme e elevado acima de tudo o que nós podemos imaginar na mais alta elevação de nosso espírito. Secundariamente, era destinada a fazer companhia ao Filho de Deus, em que estavam ocultos 'todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus', como diz São Paulo.

Daqui se pode dizer que, se não tivesse havido alguma relação ou proporção entre estes dois espíritos, chegar-se-ia à conclusão de que a condição de Nosso Senhor tenha sido desvantajosa, por ter Ele muito tempo necessitado de uma companhia à sua grandeza, e de que a Santíssima Virgem tenha sido até digna de compaixão, desprovida da capacidade necessária quanto à inteligência dos admiráveis segredos que, sem cessar, Ele lhe revelava e que um dia ela deveria comunicar aos discípulos.

Eis mais um terceiro ofício da Mãe de Deus que lhe merecia o dom de um espírito elevado: a sua qualidade de soberana da Igreja: 'Ela havia sido proposta aos apóstolos e discípulos do Salvador', diz muito bem Santo Anselmo, para repetir-lhes e explicar-lhes o que Ele lhes havia ensinado, e o que o Espírito Santo lhes revelava e que evidentemente ela compreendia melhor do que eles'. Eis por que os santos a chamam de 'a mestra dos apóstolos' e Santo Inácio, 'a mestra de nossa religião'. Como poderia ela preencher esta missão tão importante para com a Igreja, se não tivesse recebido de Deus um espírito sublime? Sustentá-lo seria dizer que se pode voar sem ter asas, ver sem ter olhos e ouvir sem ouvidos. 

Finalmente, consideremos os atos de heroicas e extraordinárias virtudes que ela devia praticar. Estes atos são singularmente avantajados e mais facilitados aos espíritos dotados de uma inteligência viva, como se verifica entre os maiores doutores da Igreja. Eles aliaram ao seu eminente espírito e à sua sã doutrina uma virtude não menos extraordinária e imensamente acima daquela que é comum aos homens. 'Livre de tudo o que é criado', diz a venerável Joana de Matel, 'o espírito de Maria se achava sempre pronto a corresponder-lhe. Era uma mesma carne com o Verbo encarnado, como era um mesmo espírito com a Santíssima Trindade. ela se unia a Deus de todo o seu coração e de toda a sua alma, pois nela e em seu seio bendito o Verbo Divino havia tomado a sua humanidade santíssima'.

Digamos, pois, sem receio que Maria, tão magnificamente dotada, em relação ao espírito como quanto ao coração, estava certamente em estado de corresponder aos desígnios adoráveis do Altíssimo, quando foi chamada por Deus à dignidade de Mãe de Deus, criatura privilegiada, prodígio do Seu poder, de Sua sabedoria e de Seu amor. Quem jamais poderia avaliar os transportes inefáveis de amor e reconhecimento que fizeram pulsar de alegria o coração da Virgem, na hora em que a sua alma, contemplando-se a si mesma, considerou o poder e a profundeza de espírito com que a bondade infinita se aprouve em orná-la! Quem de nós poderíamos ficar insensíveis a este espetáculo?

(Excertos da obra 'Por que amo Maria', pelo Pe. Júlio Maria)

segunda-feira, 6 de julho de 2015

22 FRASES DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

1. 'Um indivíduo, vivendo em sociedade, constitui de certo modo uma parte ou um membro desta sociedade. Por isso, aquele que faz algo para o bem ou para o mal de um de seus membros atinge, com isso, toda a sociedade'.

2. 'A humildade faz o homem tornar-se capaz de Deus'.

3. 'É evidente que somente as criaturas intelectuais são, falando propriamente, a imagem de Deus'.

4. 'Toma cuidado com o homem de um só livro'.

5. 'A humildade é o primeiro degrau da escada para a sabedoria'.

6. 'Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir'.

7. 'O fim último do universo é o bem do entendimento, que é a verdade'.

8. 'Uma boa intenção não justifica fazer algo mal'.

9. 'O estudioso é aquele que leva aos demais o que ele compreendeu: a Verdade'.

10. 'Os professores devem ser elevados em suas vidas, de modo que iluminem aos fieis com sua pregação, ilustrem aos estudantes com seus ensinamentos, e defendam a fé mediante suas disputas contra o erro'.

11. 'A suma felicidade do homem encontra-se na contemplação da verdade'.

12. 'Rogo a Deus como se esperasse tudo d’Ele, mas trabalho como se esperasse tudo de mim'.

13. 'Assim como Cristo aceitou a morte corporal para dar-nos a vida espiritual, assim também suportou a pobreza temporal para dar-nos as riquezas espirituais'.

14 'Três coisas são necessárias à salvação do homem: saber o que se deve crer, saber o que se deve desejar, saber o que se deve fazer'.

15. 'Se o homem reconhecesse o mistério da Santa Missa, no qual Deus dá o seu Corpo e Sangue em sacrifício para os homens, morreria de amor'.

16. 'Toda e qualquer coisa real possui a verdade de sua natureza na medida em que imita o saber de Deus'.

17. 'Para nos criar, Deus nos escolheu; para nos salvar, temos de escolher a Deus'.

18. 'Quem diz verdades, perde amizades'.

19. 'A beleza das ações humanas depende de sua conformidade com a ordem da inteligência'.

20. 'O amigo é melhor que a honra, e o ser amado, melhor que o ser honrado'.

21. 'Rejeitar um único artigo ensinado pela Igreja é suficiente para destruir a fé, do mesmo jeito que um pecado mortal é suficiente para destruir a caridade'.

22. 'Espero nunca ter ensinado nenhuma verdade que não tenha aprendido de Vós. Se, por ignorância, fiz o contrário, revogo tudo e submeto todos meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana'.

domingo, 5 de julho de 2015

OS IRMÃOS E AS IRMÃS DE JESUS

Páginas do Evangelho - Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Na pequena Nazaré, Jesus tinha sido apenas o filho de um carpinteiro, o filho de Maria e José. Ali viveu por cerca de trinta anos, desde o retorno da fuga dos seus pais para o Egito, após a morte de Herodes (Mt 2, 15.23) até o início de sua vida pública, com o batismo no Jordão (Mt 3, 13-17). Ali vivera no anonimato de uma família simples, como uma pessoa comum e os seus conterrâneos não tiveram dele, durante todo este tempo, nenhuma ocorrência extraordinária, nenhuma referência de sua manifestação como o Filho de Deus. E, desde algum tempo, Jesus partira de Nazaré para algum lugar alhures. 

E, certamente, cada vez com maior vigor, chegavam a eles notícias da pregação pública de Jesus por toda a Galileia, as suas parábolas, os seus milagres, os seus feitos extraordinários, a manifestação grandiosa de uma doutrina messiânica que levaria à redenção e à salvação de toda a humanidade. E, mais certamente ainda, tais notícias deveriam produzir neles impulsos de incredulidade e estranheza: 'Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?’ (Mc 6,3). O ceticismo natural daquela gente era imposto por uma dualidade factual: Jesus tinha sido 'uma pessoa normal' entre eles e, agora, em pouco tempo, assumira uma referência profética e messiânica fora de Nazaré, muito além da capacidade de entendimento possível daquelas pessoas que haviam convivido diariamente com Ele durante tantos anos...

E eis que Jesus retorna agora à Nazaré de quase todos os seus dias; quanta expectativa e admiração certamente não deveriam estar aflorando naquela gente, quando Jesus entrou na sinagoga da cidade e começou a pregar as Escrituras. Quanto júbilo de amor e caridade não terá se revestido o Senhor, de modo tão especial, para ensinar a sã doutrina àqueles homens e mulheres de sua terra de predileção? De uma certa forma ali, mais do que em qualquer outro lugar, a dualidade humana e divina de Jesus se manifestava de forma tão sublime e particular mas, contradição das contradições, uma será julgada para anular a outra! Movidos pela incredulidade, pela inveja, pelo arbítrio humano da pura má vontade, aqueles homens se fecharam em suas experiências humanas e negaram o milagre da fé: 'E ficaram escandalizados por causa dele' (Mc 6, 3).

Mesmo entre os seus familiares mais próximos, os 'irmãos e irmãs de Jesus', houve uma resistência muito além do ceticismo inicial, fruto dessa insustentável condição humana de julgar pelas meras aparências e com base apenas na lógica fria das coisas palpáveis e racionais. Neste contra-senso geral, Nazaré perdeu a primazia da graça e Jesus não pôde ali realizar milagre algum e passou a pregar, então, nos povoados vizinhos. Jesus chegou a se admirar com a cegueira espiritual de sua gente e lançou sobre eles o epíteto que perpassou pelos tempos: 'Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares' (Mc 6, 4). Nos escombros da lógica fria, a fé não pode se erguer grandiosa e nem fincar raízes na terra nua da incredulidade pura e obstinada. Estes são aqueles que Jesus há de nomear mais tarde: 'Nunca vos conheci' (Mt 7, 23). Os que creem, os que realmente se abrem ao milagre da fé, estes são, verdadeiramente, 'os irmãos e as irmãs de Jesus'.

sábado, 4 de julho de 2015

CARTAS A MEU PAI (VI)

Pai:

A.F. me perguntou hoje, ainda muito cedo, como pode uma alma serena e devota caminhar nesse mundo sem se consumir na lama do pecado ou não se desesperar diante da avalanche de tanta maldade. E começou a desfilar uma série de males e misérias humanas, que entorpecem o amor e a caridade, nivelam os homens a bestas enlouquecidas de ódio, que achincalham a religião, a família, os sacramentos, a Igreja, os valores cristãos...

Que tudo isso constitui milhões de novas cruzes, que submetem Jesus Crucificado a uma sempre renovada e interminável agonia crudelíssima, é infelizmente óbvio e terrível. Que os Céus se inclinam até a terra, dilacerados pela dor e pelo sofrimento, também é verdade. Como é verdade que a natureza inteira geme os estertores de tanta loucura humana, no assédio cada vez mais brutal de se acorrentar às hostes diabólicas para perpetrar crimes e horrores ainda mais dantescos.

Mas - respondi a A.F. - mas, no meio de tanta lama e enxofre, o bem persiste. Pode ser por meio de uma palavra, um gesto, uma oração, um não. Mas o bem resiste, sem alarde, sem holofotes, sem manchetes, sem escândalo. O bem persiste em alguma oração em família, num banco de igreja, num gesto anônimo de caridade, num acolhimento sem a contrapartida prévia da gratidão. O bem sopra num confessionário, em tantas santas comunhões, nos joelhos entorpecidos pela resina dos tempos e pela perseverança do amor. O bem existe na paciência dos santos, nas finezas do coração, na fidelidade dos cônjuges, nas famílias que compartilham juntas os fardos da caminhada. O bem existe e se multiplica na aceitação do sofrimento, na entrega profunda aos ditames da santa vontade de Deus, na vida tangida a cada dia pela santificação desta vida...

E, como o lírio entre os abrolhos, a semente de trigo em meio ao joio, é fermento na massa insossa, é sal da terra e luz do mundo. É este bem que deve animar a nossa alma tão desafeta a este oceano de escuridão. Não é o bem meramente a ser buscado; não é a virtude a ser encimada sobre o altar dos louvores humanos; não é a retórica do exemplo, do bom exemplo. O bem que persiste, que existe e que resiste na podridão do mundo é o bem que nasce de um gesto seu de simplesmente querer fazer o bem. É esse bem - infinitamente belo - que ilumina a terra e sustenta os pilares dos Céus, que santifica a cristandade e retém a ira e a sentença do Criador. 

Não tenha os olhos voltados para as trevas que nos cercam; o que adianta poder ver através de uma densa escuridão? Inquietar-se pela mísera condição humana arrastada pela vertigem dos ímpios? O mal está ali, lá, acolá e mais além? Então, temos muito o que fazer, levar a Cristo a muitos lugares, redefinir os horizontes do mal a limites cada vez mais estreitos e limitados. E, para isso, temos de começar aqui e não lá. Sim, aqui, do seu, do meu lugar ... do metro quadrado que me pertence agora como meu lugar no mundo. Nesse metro quadrado, o bem existe, persiste, resiste. Pode ser por meio de um bom pensamento, uma oração silenciosa, um bom dia talvez... de você, de mim, de milhares de homens fieis ao Senhor e, assim, o bem com o bem se faz caminho para um povo santo em marcha para o Pai. Quem nos poderá afastar do amor de Deus? A.F.,meu caro amigo, lembra da semente de mostarda? O que parece ser nada só vai parar, então, quando tiver o tamanho do mundo... E aí o bem triunfará aqui, ali, lá, acolá, mais além e até os confins da terra!

R.

('Cartas a Meu Pai' são textos de minha autoria e pretendem ser uma coletânea de crônicas que retratam a realidade cotidiana da vida humana entranhada com valores espirituais que, desapercebidos pelas pessoas comuns, são de inteira percepção pelo personagem R. As pessoas e os lugares, livremente designados apenas pelas suas iniciais, são absolutamente fictícios).

PRIMEIRO SÁBADO DE JULHO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi  de 1675...

         “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.