quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (VI)

P. 12 - Também os membros da Igreja de Cristo, quando atingem idade suficiente, não são obrigados a examinar se estão no caminho certo ou não, assim como aqueles que foram educados em alguma seita separada da verdadeira Igreja?

Não há nada que a Igreja de Cristo possa desejar com mais ardor do que ver seus filhos totalmente instruídos na sua religião e nos fundamentos dela, na medida em que são capazes. Para esse fim, ela ordena estritamente aos seus pastores que sejam diligentes em instruir o povo desde seus primeiros anos, sabendo bem que quanto mais eles conhecerem a sua religião, mais devem se apegar a ela. A verdadeira Igreja de Cristo é obra de Deus, a doutrina que ela ensina contém as verdades de Deus; agora, quanto mais atentamente a verdade é examinada, mais ilustre ela deve parecer; e Deus Todo-Poderoso deu tal testemunho esplêndido da verdade da sua religião que, quanto mais é examinada com sinceridade, mais ela convence e encanta. Aqui, então, está a diferença: quando um membro da Igreja de Cristo considera sua religião, ele não pode ter qualquer motivo razoável para duvidar dela, e quanto mais ele a examina, mais convencido fica da sua verdade. Mas alguém educado em uma religião falsa, se pensar, não pode deixar de perceber os motivos mais fortes para duvidar; e quanto mais ele examina, mais a falsidade dela deve aparecer, pois a falsidade nunca pode suportar a luz de um exame imparcial e isento.

P. 13 -  Mas como se explica vermos tantos homens bons e eruditos em todas as seitas cristãs, algumas das quais devem ser indiscutivelmente falsas, já que se contradizem e se condenam mutuamente?

Para entender isso, devemos observar que a Palavra de Deus declara que Deus deseja 'que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade' (1Tm 2,4). Como consequência desse sincero desejo, Deus nunca deixa de dar a todos ajuda externa e graça interior que Ele considera suficientes para conduzi-los ao conhecimento da verdade, se eles cooperarem com ela; mas se fecharem os olhos à sua luz; se, pela corrupção de seus corações, não atentarem para as suas graças, então permanecem na ignorância; mas sua ignorância é voluntária em sua causa e uma justa punição por sua própria culpa. 

Agora, embora muitos daqueles que são educados em uma religião falsa possam viver boas vidas quanto à honestidade moral aos olhos do mundo, ainda assim podem ser muito culpáveis diante de Deus e, por suas paixões secretas e apegos às coisas desta vida, podem colocar um obstáculo eficaz ao seu plano misericordioso de levá-los ao conhecimento da sua verdade. O orgulhoso fariseu era um homem justo aos olhos do mundo, e ainda assim foi condenado por Deus Todo-Poderoso devido ao orgulho secreto de seu coração. E quanto aos homens de aprendizado que se encontram em uma religião falsa, seu conhecimento não os isenta de orgulho e paixão; ao contrário, a Palavra de Deus nos assegura que 'o conhecimento enfraquece' (1Cor 8,1) e, em geral, onde não há verdadeira humildade e amor a Deus, quanto mais aprendizado há, mais orgulho, auto-suficiência, desejo de glória e obstinação de coração, e consequentemente mais oposição à fé; pois Jesus Cristo, em sua própria palavra, disse aos judeus, cujos corações endurecidos resistiam a todas as evidências da sua doutrina e milagres: 'Como podeis crer, vós que recebeis glória uns dos outros, e a glória que vem de Deus só não buscais?' (Jo 5,44). 

Não há dúvida de que havia muitos eruditos, tanto entre os judeus quanto entre os gentios, quando o Evangelho foi inicialmente pregado pelos apóstolos, e ainda assim, apesar dos inúmeros milagres realizados para provar que ele vinha de Deus, São Paulo nos diz explicitamente que isso era 'para os judeus um tropeço, e para os gentios loucura' (1Cor 1,23); porque, apesar de todo o seu aprendizado, seu orgulho, paixões e preconceitos cegavam suas mentes de tal forma que a luz do Evangelho brilhou sobre eles em vão. Portanto, não é uma surpresa ver eruditos em uma religião falsa, especialmente porque seu aprendizado é geralmente de um tipo mundano, pois a fé é um dom de Deus; e não é o conhecimento da mente, mas a humildade e a sinceridade do coração, que dispõem a alma a receber esse dom dEle; sim, Cristo diz expressamente que 'Deus esconde essas coisas dos sábios e prudentes, e as revela aos pequeninos' (Mt 11,25). Devemos concluir, então, que entre aqueles que são educados em uma religião falsa e separados da Igreja de Cristo, mas que sabem que há uma Igreja que se declara como a única verdadeira Igreja de Cristo, que têm a oportunidade de ouvir falar dela e se familiarizar com aqueles de sua comunhão, é altamente improvável que haja lugar para uma ignorância invencível. Mas ainda que algum deles for encontrado invencivelmente ignorante, seu estado será o mesmo de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de conhecer qualquer outra religião além da falsa em que se encontram.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)