Capítulo XCVI
Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - Conselhos Úteis das Santas Almas e a Bem Aventurada Maria dos Anjos - São Pedro Claver, o Apóstolo dos Escravos Negros, e as Almas do Purgatório
Além dos santos pensamentos que a devoção às almas santas sugere, estas às vezes contribuem diretamente para o bem-estar espiritual de seus benfeitores. Na vida da bem-aventurada Maria dos Anjos, do Ordem do Monte Carmelo, diz-se que é quase inacreditável a frequência com que as aparições das almas do Purgatório vinham implorar a sua assistência e depois agradecer pela sua libertação. Muito frequentemente, elas conversavam com a bem-aventurada irmã, dando-lhe conselhos úteis para ela mesma ou para suas irmãs, e revelando coisas relacionadas ao outro mundo. 'Na quarta-feira dentro da Oitava da Assunção' - ela escreveu - 'enquanto rezava as orações da noite, uma das nossas boas irmãs me apareceu. Ela estava vestida de branco, rodeada de glória e esplendor, e era tão bonita que não sei de nada aqui embaixo com que se possa compará-la. Temendo alguma ilusão do demônio, me armei com o Sinal da Cruz; mas ela sorriu e desapareceu logo em seguida. Pedi ao Nosso Senhor que não permitisse que eu fosse enganada pelo demônio. Na noite seguinte, a irmã apareceu novamente, e chamando-me pelo meu nome, disse: Venho da parte de Deus para te avisar que estou gozando da bem-aventurança eterna. Diga à nossa Madre Prioresa que não é o desígnio de Deus revelar-lhe o destino que a espera; diga-lhe que confie em São José e nas almas do Purgatório. Tendo dito isso, desapareceu'.
São Pedro Claver, Apóstolo dos Escravos Negros de Cartago, foi auxiliado pelas almas do Purgatório em seu trabalho apostólico. Ele não abandonou as almas de seus queridos irmãos negros após a morte deles; penitências, orações, missas, indulgências, na medida em que dependia dele, ele aplicava a elas, diz o Padre Fleurian, seu biógrafo. Assim, acontecia frequentemente que aquelas pobres almas aflitas, certas de seu poder junto a Deus, vinham pedir a assistência de suas orações. A fastiosidade e incredulidade de nosso século, diz o mesmo autor, não nos impede de relatar alguns poucos fatos adicionais. Eles podem, talvez, parecer dignos da zombaria dos livres-pensadores, mas não basta saber que Deus é o Senhor desses acontecimentos, e que são, além disso, tão bem autenticados que merecem um lugar em uma história escrita para leitores cristãos?
Um negro doente, a quem ele havia acolhido em seu quarto e colocado em sua própria cama, ouvindo um barulho de gemidos altos durante a noite, temeu e correu até o Padre Claver, que estava ajoelhado em oração. 'Padre!' - exclamou ele - 'que barulho terrível é esse, que me aterroriza e me impede de dormir?' 'Volte, meu filho' - respondeu o santo homem - 'e vá dormir sem medo'. Então, depois de ajudá-lo a se deitar, ele abriu a porta do quarto, disse algumas palavras, e imediatamente os gemidos cessaram.
Vários outros escravos negros estavam ocupados na tarefa de reparar uma casa a alguma distância da cidade, quando um deles saiu para cortar lenha em uma montanha próxima. Ao se aproximar da floresta, ouviu seu nome ser chamado do alto de uma árvore. Ele levantou os olhos na direção de onde vinha a voz, e não vendo ninguém, estava prestes a fugir e se juntar aos seus companheiros, mas foi parado em um caminho estreito por um espectro terrível, que lhe desferiu uma chuva de golpes com um chicote com pedaços de ferro quente, dizendo: 'Por que você não trouxe o seu rosário? Leve-o consigo sempre e reze-o pelas almas no Purgatório'. O fantasma então ordenou que ele pedisse à dona da casa três moedas de ouro que lhe eram devidas e que ele as entregasse ao Padre Claver, para que missas fossem celebradas por sua intenção, após o que desapareceu.
Enquanto isso, o barulho dos golpes e os gritos do homem trouxeram seus companheiros até o local, onde o encontraram mais morto do que vivo, coberto pelas feridas que recebera e incapaz de pronunciar uma palavra. Eles o levaram até a casa, onde a dona confirmou que realmente devia a quantia de dinheiro a um negro que havia falecido algum tempo antes. O Padre Claver, ao ser informado do ocorrido, celebrou as missas solicitadas e deu então um rosário ao homem negro, que passou a usá-lo todos os dias e nunca mais deixou de rezá-lo.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.