quarta-feira, 15 de junho de 2022

POR QUE NÃO ALCANÇAMOS O QUE PEDIMOS?


Muitas vezes não alcançamos o que pedimos, diz Santo Agostinho, porque rezamos com o coração mal disposto, porque pedimos coisas más, prejudiciais ou inúteis ou porque nossa oração não tem as devidas qualidades.

1. Rezamos com coração mal disposto quando nos achamos em pecado mortal e nos obstinamos nele. Como pecadores, somos inimigos de Deus, desobedientes, revoltosos. Merecemos que Ele nos ouça e nos atenda, se não queremos arrepender-nos e cessar de ofendê-lo? Com certeza não. Podemos então, sem nos contradizer e nos condenar, dirigir-lhe a oração que Jesus nos ensinou? No Pai Nosso, pedimos que o nome de Deus seja santificado e nós não cessamos de o desonrar; pedimos que o reino de Deus chegue e nós fazemos reinar o pecado em nosso coração. Pedimos que a vontade de Deus seja feita e nós nos opomos a ela, violando os seus mandamentos. Pedimos perdão de nossas dívidas e continuamos a acumular novas dívidas. Pedimos que nos livre do mal e não queremos fugir da ocasião do pecado. Que contradição! Rezemos, pecadores, detestemos o pecado, façamos a vontade de Deus e Deus fará nossa vontade, ouvindo a nossa oração.

2. A segunda causa da ineficácia de nossa oração é que pedimos o que não serve. Se pedimos o que é contrário à glória de Deus ou à nossa salvação, por exemplo, uma saúde de que abusaremos para ofender a Deus e perder a nossa alma; bens terrestres que nos farão esquecer os eternos; riquezas, prazeres, grandezas que não servirão senão para satisfazer nossas paixões; o nascimento ou a saúde de um filho que mais tarde encherá nossos dias de dissabores e desespero; então será bom que Deus nos ouça? Que devemos, pois, pedir? O triunfo sobre o orgulho, a sensualidade, a graça da conversão, se somos pecadores; da perseverança, se somos justos. Peçamos o pão de cada dia, isso é, as coisas necessárias ou úteis à vida, casa, comida, vestimentas, emprego, a remuneração dos nossos labores. Em uma palavra, peçamos o que Jesus nos ensina a pedir no Pai Nosso. É a oração universal e encerra o pedido de tudo quanto é necessário e útil.

3. A última causa da ineficácia da nossa oração é que rezamos mal. Devemos rezar com atenção. São nossas distrações mais ou menos voluntárias e contínuas que estragam nossa oração. A oração é uma elevação de nosso espírito a Deus. O que deve, pois, rezar é principalmente o espírito, o coração e não tanto a boca. Ora, que acontece geralmente? Os lábios proferem palavras e o espírito pensa em mil coisas, mas não em Deus. Então, merecemos a exprobração que Jesus dirigiu aos judeus: 'Este povo honra-me com seus lábios, mas o seu coração está longe de mim'. Rezemos, pois, com mais atenção, coloquemo-nos na presença de Deus, pensemos no que vamos fazer, e, se o demônio da distração vier perturbar-nos, logo que dermos fé, repilamo-lo, voltemos à presença de Deus.

Devemos rezar com confiança. E por que não teríamos confiança? Aquele a quem imploramos não é nosso Deus e nosso Pai? Não nos prometeu conceder tudo quanto pedimos? Um pai, diz Jesus Cristo, embora não seja bom, não dá uma pedra ao filho que lhe pede pão. Com mais poderosa razão vosso Pai do céu, que é bom, vos concederá o que pedirdes. Devemos rezar com humildade. 'A oração do humilde, diz a Escritura, sobe ao céu, penetra as nuvens'. 'Deus' - diz São Tiago - 'ouve a oração do humilde, mas resiste aos soberbos'. Para o vale, a chuva e a fertilidade; para a montanha que ergue a sua cabeça orgulhosa até às nuvens, os raios e a esterilidade. A humildade foi a disposição do pródigo quando, arrependido e envergonhado de sua vida de misérias e torpezas, exclamou: 'Meu pai, pequei, não sou digno de ser chamado vosso filho'. Tal foi a oração de todos os pecadores que se converteram.

4. Enfim, a oração deve ser perseverante. Deus, para nos fazer apreciar seus dons, não quer ordinariamente concedê-los muito facilmente. Quer aliás experimentar a nossa fé e humildade, por isso quer que rezemos com insistência e, às vezes, por muito tempo. Quantas vezes, talvez, tenhamos cessado de rezar quando estávamos a ponto de alcançar o favor almejado. Santa Mônica tinha um filho perdido, escandaloso, Agostinho. A mãe pede a conversão dele um ano, dez anos, quinze anos. Já começava a desanimar, quando o seu diretor, Santo Ambrósio, lhe diz: 'Continua a rezar, não é possível que o filho de tantas orações e lágrimas se perca'. Perto de vinte anos se passam, o filho se converte e vem a ser um dos maiores santos da Igreja.

(Excertos da obra 'O Pequeno Missionário', do Pe. Guilherme Vaessen)