Antes mesmo de conceber as graças mais elevadas da oração, Deus começa absorvendo todas as atividades exteriores da alma. Ocorre um processo inverso. Deus nos faz distrair das criaturas e das nossas ocupações assim como, infelizmente, nossas ocupações e as criaturas habitualmente nos distraem de Deus. Quando o nosso modo de vida não permite esse estado de absorção, Deus busca alguma compensação e age, assim, pelo menos durante a oração. Exemplo é o caso de Santa Catarina de Ricci: nem a santa e nem as suas superioras perceberam o que estava passando com ela, pois tratava-se de uma união completa.
Em seguida, a alma padece de um estado de desconforto. A ação de Deus interfere na ação da alma sem a suprimir inteiramente. E, finalmente, Deus, o senhor absoluto da alma, devolve a ela a posse completa e perfeita das suas faculdades, sem fazê-la excluída da união divina. Produzem-se então obras extraordinárias e desproporcionais às forças humanas, como as fundações criadas por Santa Teresa ou pela Venerável Maria da Encarnação.
A alma totalmente entregue a Deus e ao serviço dos outros vive, ao mesmo tempo e sem esforço, em dois mundos diferentes. Quando nos casos de união total ocorre o êxtase, não se tem mais o uso dos sentidos. Mas que não se confunda levitação ou a rigidez dos membros com êxtase, uma vez que esses fenômenos não são necessários. Pode ocorrer um alheamento quase completo dos sentidos sem que os outros percebam. Pode-se acreditar até mesmo num certo entorpecimento, porque a vida física está diluída e os sentidos encontram-se fragilizados e contidos, de modo que até os mais próximos podem não aperceber de nada.
Este estado pode durar pouco tempo ou, com a recuperação alternada das faculdades, pode durar muito tempo. Mas o ato de união não pode durar indefinidamente na terra; a união é atual e constitui um estado que supõe um ato infundido do amor de Deus. Podemos compará-lo a um riacho subterrâneo ou ao calor de brasas muito vivas sob cinzas. De vez em quando, feixes de chamas emanam desta fornalha mas, se as chamas fossem mantidas continuamente, a própria vida não poderia resistir a elas. São João da Cruz assim o diz expressamente. Porém, a fornalha é fogo vivo e sua irradiação pode ser imensa.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II - A Ação de Deus; tradução do autor do blog)