quarta-feira, 1 de março de 2023

PARE DE CORRER ATRÁS DE FALSAS APARIÇÕES!

Pare de correr atrás de fantasmas... das falsas aparições! Particularmente das falsas aparições marianas, ou melhor, aquelas que parecem fazer referência à Nossa Senhora. Os cristãos têm à sua disposição todo o imenso tesouro da Revelação Pública: aquela revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo aos Apóstolos, ratificada nos textos bíblicos e consolidada pela Santa Tradição da Igreja. Um católico não precisa de absolutamente nada mais: todo o depósito da fé cristã e os fundamentos da salvação eterna em Deus estão completamente estabelecidos e assegurados por estas fontes da revelação divina. 

A estas duas fontes - primárias e absolutamente plenas - a Providência Divina instituiu uma terceira via do conhecimento espiritual por meio das chamadas Revelações Privadas. Que se tenha em mente, como premissa fundamental que, uma vez que a Revelação Pública propicia todas as verdades da Fé necessárias à salvação das almas, a crença ou não em qualquer revelação privada não pode ponderar neste contexto e, assim, a salvação eterna independe de um católico acreditar ou não em Revelações Privadas. Qual é a necessidade então destas revelações particulares se as mesmas não podem somar conhecimento ou doutrina alguma àquela já plenamente revelada? 

Ora, Deus sendo Deus, se Deus instituiu esta terceira via das revelações divinas, independentemente da questão do depósito da fé plenamente conhecido, é porque tais eventos são não apenas necessários, mas fundamentais para a consolidação da nossa fé cristã. E essa necessidade pode ser facilmente justificada. A humanidade tem contra si o tempo dos homens. A verdade revelada, ainda que sustentada pela Tradição da Igreja de todos os tempos, tende a ser obscurecida e enevoada pela poeira dos séculos. Quanto mais nos afastamos dos tempos da primeira Vinda do Senhor, mais empalidecidos ficam os fundamentos da doutrina de Jesus Cristo pois, ainda que sendo a Verdade eterna, os seus princípios são expostos e vividos por uma Igreja feita de homens. Assim, as Revelações Privadas - particularmente as aparições marianas - têm um papel primordial de lembrar aos homens de determinadas épocas as verdades imutáveis da Fé e a conservação dos atributos irremovíveis da sã doutrina de Deus. 

Temos, pois, que avaliar sempre a premissa fundamental: qual é a natureza e a justificativa de uma dada aparição? Em relação às aparições divinas de cunho profético, a premissa tem apenas uma dupla variante: ou, ratificando a plena doutrina cristã conhecida, pretende estabelecer um aviso ou uma recomendação expressa à humanidade pecadora em relação a um afastamento de natureza gravíssima dos homens aos desígnios da Providência ou, ratificando a plena doutrina cristã conhecida, propor aos homens de uma dada geração apelos insistentes de oração, penitência e sacrifícios, visando uma menor dissipação das graças divinas aos homens daqueles tempos e um fomento da salvação das almas, em risco gravíssimo de perdas em magnitudes extremas. É neste contexto de tesouro de graças que estão inseridas as extraordinárias manifestações marianas aprovadas formalmente pela Igreja como Lourdes, Fátima ou Guadalupe que devem, portanto, ser objeto de profundo estudo, respeito e zelo espiritual por parte dos fieis.

Esta autenticidade foi outorgada pela Igreja após análise cautelosa e parecer conclusivo e definitivo das aparições. Sem este selo de autoridade hierárquica, qualquer aparição NÃO É VÁLIDA e deve ser objeto de questionamento, uma vez que pode ser fruto de obra humana ou mesmo diabólica (certamente todas aquelas que são mais polêmicas ou sem caracterização de legitimidade formal pela Igreja mesmo após muito tempo). As aparições orquestradas por falsos videntes tendem a incorrer facilmente em falácias doutrinárias incongruentes com a autêntica fé cristã e manifestações de presunção e vanglória, sendo rapidamente descartadas pelos católicos mais zelosos e acompanhadas apenas por crentes muito ignorantes ou tão presunçosos quanto os pseudo-videntes. 

Situação muito mais grave ocorre em casos das aparições de origem diabólica. O demônio é capaz de incorporar aparências celestiais, fazer prodígios e induzir fenômenos extraordinários (mas nunca milagres) e pautar procedimentos aparentemente virtuosos, que enganam facilmente os mais incautos e os crédulos de qualquer coisa. Muitos justificam a 'verdade' das aparições pelos seus aparentes frutos espirituais conhecidos (infelizmente quase sempre presentes nestes casos). São maus católicos; em primeiro lugar, porque desconhecem que as aparições privadas não constituem o depósito da fé cristã, como explicado previamente e, em segundo lugar, porque não interpretam tais 'frutos' como meros artifícios do demônio para atrair ainda mais incautos segundo o modelo de usar um bem individual para multiplicar males muito maiores. Basta refletir sobre o seguinte ponto: o que realmente representaram estes 'frutos' no caso de aparições que posteriormente foram desaprovadas pela Igreja como falsas? 

Essa excessiva e descontrolada credulidade é fruto na verdade de uma espécie de infantilismo espiritual, em que se misturam, em proporções variadas, doses de misticismo, curiosidade, tibieza e relativismo moral. E, fragilizados na Fé, os crédulos de qualquer coisa tendem a buscar e a rebuscar, com ânsias crescentes, novas, inéditas e extraordinárias manifestações divinas a cada semana, como se Deus estivesse de prontidão para atender, com uma chuva de revelações, tal inconsciência coletiva. Inconsciência, sim, porque se alimenta de 'credulices' (credulidades que não passam de tolices) e se refestelam em chamadas sensacionalistas de sites igualmente sensacionalistas que os tem como reféns inermes. 

Cuidado, portanto, muito cuidado com as revelações de caráter particular! A mensagem do Céu é sempre direta, límpida, assertiva e condicional, uma vez que pretende sempre ser ratificada ou não pela contrapartida humana. Impõe, necessariamente, um breve período de tempo - definido e limitado - para uma adequada preparação, amadurecimento e recepção da mensagem dos Céus por parte do(s) vidente(s). Por outro lado, a aferição da autenticidade de uma aparição é trabalho de longo tempo: a Igreja demanda enorme cautela na tratativa da natureza sobrenatural dos eventos analisados (tome-se, como exemplo, em ambos os casos, as aparições de Fátima). Então, é claro que a mensagem profética não pode ser de cunho imediato, mas sempre ancorada num tempo de resposta inerente à maturação espiritual da humanidade pecadora. O Céu sabe disso mais do que ninguém e sustenta aquilo que se sustenta na terra: 'tudo o que ligares na terra será ligado nos céus' (Mt 16,19). O demônio também sabe disso e, por isso, atua sempre com base na inversão destes dois tempos: muitas mensagens por muito tempo (quase como um correio diário), sempre genéricas e repetitivas (de modo que cada um pode 'escolher', dentre muitíssimas, uma mensagem que seja mais interessante ou impactante ao seu gosto pessoal), entranhadas de revelações de curto prazo e que impõem a pronta aceitação da suposta 'aparição'.

Prudência e discernimento são as armas do espírito cristão contra a credulidade excessiva e mórbida em relação às aparições privadas. Não se deem 'pérolas aos porcos' (Mt 7,6), ou seja, não se tome, como princípio absoluto, o bem que pode proceder do mal e nem o bem aparente como corolário do próprio bem. As ações diabólicas sempre utilizam estes meios para camuflar as suas artimanhas e trapaças. Urge, portanto, parar de correr atrás destes fantasmas, pois isso só tem uma consequência: quem corre atrás de fumaça acaba no meio do fogo; o católico que corre sem rumo só tem uma certeza: a de se afastar cada vez mais da Cruz de Cristo!